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sexta-feira, 10 de julho de 2020

O problema é a bagunça - Alon Feuerwerker


Brasília vive o vaivém das decisões judiciais e do Executivo sobre abrir ou não abrir (leia). Pode até ser um caso relativamente pouco frequente em âmbito nacional, mas é sintomático de um dos nossos principais problemas no enfrentamento da Covid-19.

O problema é a bagunça. Ninguém sabe exatamente quem manda e qual será a decisão que estará valendo amanhã. Troca-se o planejamento, nos limites do que é possível planejar num quadro como o da pandemia, pela canetada conforme o humor do momento. E tudo sempre abrigado na casamata de uma hipotética “ciência”. [sobre a '´sábia' ciência, recomendamos: Queijo suíço .]

[quanto ao  não se saber quem manda, não pode ser esquecido que a responsabilidade por essa bagunça foi de uma suprema decisão, delegando aos prefeitos e governadores competência para o combate ao coronavírus.
Aliás, a INsegurança jurídica tem sido a tônica nas decisões do STF. Um Brasil com 27 governadores e mais de 5.000 prefeitos tem que ter uma coordenação central e, por óbvio, a cargo do Poder Executivo da União.]

Não deve ser coincidência que os dois países mais afetados, em valores absolutos, sejam as duas nações no momento mais mergulhadas em guerras políticas intermináveis, duas federações em que “federação” parece ter virado sinônimo de fragmentação.

Uma parte da responsabilidade pela desorganização cai na conta da liderança. No fim das contas, o líder sempre é o responsável em última instância. Mas é inegável que certos sistemas políticos têm sido piores que outros para enfrentar esta emergência.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política 



sábado, 2 de novembro de 2019

Memória fraca - Folha de S. Paulo

Julianna Sofia

 [porteiro fantasma]

PGR arquivou às pressas menção a nome do presidente no caso Marielle?

Às 10h49 da última quarta-feira (30), o ministro Sergio Moro (Justiça) enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, ofício pedindo à PGR abertura de uma investigação para apurar as circunstâncias do depoimento do porteiro que cita o presidente Jair Bolsonaro no inquérito do caso Marielle. Àquela altura do dia, o ministro-advogado do presidente da República já tinha tomado conhecimento de informação ainda ignorada: uma notícia fato encaminhada dias antes ao STF pelo Ministério Público do Rio, comunicando a menção a Bolsonaro, fora analisada e engavetada pela Procuradoria-Geral. Horas depois, o próprio Aras viria a público confirmar a decisão, por considerar a oitiva do porteiro um “factoide”.

[convenhamos que não tem, nem tinha,  o menor sentido reter um processo já moroso - apesar da insistência dos 'devotos' da vereadora Marielle para que a investigação de sua morte seja prioridade em um país como mais de 60.000 assassinatos/ano  - pela menção efetuada por um porteiro fantasma (nada se sabe sobre ele, sequer o nome) ao presidente da República - quando a Câmara dos Deputados já comprovou que a menção foi mentirosa - talvez a testemunha tenha sido comprada pelo inimigos do presidente - ao confirmar que  suposta hora do diálogo no condomínio, o presidente Bolsonaro estava em Brasília.

Sem cabimento também as restrições que o MP do Rio está criando  no que concerne a detalhes técnicos da perícia da suposta conversa - ainda que a perícia tenha sido conivente com eventual fraude (hipótese altamente improvável, especialmente por falta de interesse em adulterar o material = já que os contatos indicados pelo porteiro em depoimento à Polícia Civil foram desmentidos pela Câmara dos Deputados) a fraude se tornou desnecessária pelo cumprimento oficial e com fé pública efetuado pela Câmara dos Deputados, afirmando que no dia do assassinato da vereadora Bolsonara estava em Brasília, tendo votado por duas vezes em sessões daquela Casa.

Certo colunista alegou faltar ao porteiro motivos para mentir na tentativa de envolver o presidente Bolsonaro. Faltou questionar que interesse tinha o então presidente da República - na época com processo de candidatura à Presidência da República em crescimento - em se envolver no assassinato da vereadora Marielle?

Mas, da mesma forma que o assassinato de Celso Daniel caminha para a identificação segura do principal mandante, a tentativa contra o presidente Bolsonaro terá os mandantes devidamente identificados. É MERA QUESTÃO DE TEMPO.]

Questionado mais de uma vez, o procurador-(indicado por Bolsonaro)-geral não lembra nem sabe informar quando se deu o arquivamento. Foi amnésico ao dizer que provavelmente na própria quarta (30) ou, quem sabe, no dia anterior —na terça (29) à noite o Jornal Nacional revelara o conteúdo do depoimento com a citação. O lapso cognitivo do PGR é conveniente. Divulgar dia e hora do arquivamento, torna patente o açodamento do ato —ocorrido, quem sabe, entre a revelação do JN e o ofício de Moro do dia seguinte?
Aras o fez sem periciar as gravações registradas na portaria do condomínio do presidente, muito embora seja de pouca valia a perícia duvidosa de 2h25, feita a pedido do MP do Rio (que tinha uma bolsonarista declarada entre as promotoras do caso). A análise, comparável a um queijo suíço, tornou falso o depoimento do porteiro, diz o MP. [quem mostrou, e provou, ser falso o depoimento do porteiro foi a confirmação pela Câmara dos Deputados que no dia e hora citados pelo 'porteiro-fantasma' o presidente Bolsonaro estava naquela Casa, votando.] Aos de memória fraca, vale recordar. Em 9 de outubro, o governador Wilson Witzel confidencia a Bolsonaro a referência a seu nome no inquérito, relata o mito. No dia 16, ele se encontra com Dias Toffoli (STF), que se reúne com promotores do Rio 24 horas depois. No sábado (19), o presidente recebe Aras no Palácio do Alvorada. No mesmo dia, seus advogados lhe fazem uma visita. 
 
Julianna Sofia - Folha de S. Paulo