Prometida no governo Lula, prisão federal em Brasília será concluída
[sendo notório que Lula gosta demais de uma inauguração, sugerimos que ele inaugure o presídio de segurança máxima, em Brasília, de uma forma diferente: logo que expedida a primeira ordem de prisão contra o ex-presidente ele comece a cumprir a pena no presídio.]
União quer entregar o presídio de segurança máxima,
em Brasília, ainda este ano
Da entrada do presídio federal de segurança máxima, em fase final de
construção em Brasília, até chegar às celas que vão abrigar os criminosos
mais perigosos do país são 17 portões de ferro. Grades que ficam para trás
enquanto o interior do cárcere vai se revelando nos detalhes milimetricamente
projetados para tentar garantir a ordem e o isolamento dos detentos.
Por
enquanto, apenas operários e máquinas ocupam o espaço visitado, na semana
passada, pelo GLOBO. Eles fazem as intervenções finais naquela que será a
quinta prisão federal do Brasil. O governo Temer quer inaugurá-la ainda este
ano, encerrando um pacote de cinco presídios da União prometidos no início do
primeiro mandato do ex-presidente Lula para receber lideranças do crime
organizado.
No fim do
segundo governo do petista, Brasília foi escolhida para receber o último dos
presídios. Passados quase dez anos, após licitações frustradas e até falência
de uma empresa contratada, a penitenciária está prestes a ser entregue, ao
custo de aproximadamente R$ 40 milhões. A
arquitetura é semelhante à das quatro prisões federais em funcionamento, que
ficam em Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).
Ao todo, abrigam cerca de 570 presos em 832 vagas. Funcionam com uma reserva
técnica de 30% de ociosidade para receber detentos enviados de forma
emergencial pelos estados, como quando há rebeliões ou massacres.
O quinto
presídio federal fica a menos de 20 quilômetros do Centro de Brasília e da
Praça dos Três Poderes — que reúne o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional
e o Supremo Tribunal Federal. É vizinho do Complexo da Papuda, onde hoje estão
presos famosos da Lava-Jato, como o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o doleiro
Lúcio Funaro e o executivo Ricardo Saud. Passando
de carro ou ônibus na pista em frente à área, é possível ver o presídio
semiacabado, que tem como seu ponto mais alto a caixa d’água. Também se
destacam as quatro torres de vigilância, de onde agentes federais de execução
penal terão visão privilegiada. Mas é por dentro que se tem a dimensão do
cárcere concebido para ser o mais rigoroso do país.
Assim
como nos demais presídios federais, são 208 vagas na unidade de Brasília. As
celas, todas individuais, medem cerca de sete metros quadrados, com cama,
bancada, banco, pia e vaso sanitário. Tudo de concreto, pregado ao chão. Uma
estante do mesmo material corta uma das paredes para que o detento coloque os
poucos objetos permitidos, como até dez fotografias da família e livros do
próprio presídio.
A espessa
porta de metal da cela, de cor preta, só tem duas pequenas aberturas. É por ali
que o preso recebe comida, entrega a roupa suja, faz contato com os agentes.
Ali também ele deposita as duas mãos para trás para serem algemadas antes de a
porta ser aberta.
Celas
individuais medem cerca de sete metros quadrados, com cama, bancada, banco, pia
e vaso sanitário.
Fiação
elétrica e encanamento, exceto o da torneira da pia, são inacessíveis ao preso,
pois ficam isolados numa estrutura arquitetônica paralela à da cela. Se uma
lâmpada queima, por exemplo, será trocada sem que ninguém precise entrar no
local. A água do chuveiro é controlada remotamente. Em horário marcado, a ducha
encravada no teto é ligada para que o preso tome banho.
O detento
do sistema federal tem duas horas de banho de sol. Nas outras 22 ele fica
dentro da cela, exceto se tiver autorização para estudar, frequentar a
biblioteca ou fazer outra atividade. Mas não há relaxamento da segurança nesses
momentos. Na sala de aula, ainda sem mobiliário, uma grade separa professor de
alunos.
Quem não
sai da cela nem por um segundo é o preso que comete uma falha disciplinar grave
e vai para o “castigo” — o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Há 12 celas
de RDD, com aproximadamente 12 metros quadrados, ou seja, quase o dobro do
tamanho do modelo convencional. O espaço é maior porque conta com o solário,
pequeno corredor onde o detento toma o banho de sol.
É
proibido filmar ou fotografar os deslocamentos internos no presídio por
questões de segurança. O penitenciária se divide em quatro vivências, que
funcionam como pequenas prisões. Em cada uma delas, há espaço para 52 detidos,
pátio para visitas de familiares e para banho de sol, além do parlatório, local
onde o preso conversa com o advogado. Um vidro separa os interlocutores, que só
se falam por interfone. As conversas nas quatro penitenciárias federais são
gravadas, por decisão judicial. O mesmo deve ocorrer na unidade de Brasília.
As
visitas de parentes também são monitoradas por vídeo e áudio, embora nem sempre
seja possível captar as conversas. O local do encontro, em que é permitido o
contato físico, é simples: um pátio coberto, com bancos de concreto, e um
agente federal vigiando todos os movimentos.
Salas que
serão ocupadas por equipes de saúde, como enfermeiros, dentistas e psicólogos,
já estão prontas. Assim como espaços administrativos. Faltam mobiliário e
equipamentos de segurança, como esteira de raio-x de pórtico que detecta metal.
O
Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça,
responsável pelas unidades, garante que “praticamente todo o aparelhamento para
o funcionamento da quinta penitenciária Federal em Brasília já foi licitado e,
inclusive, já está sendo entregue.” Os servidores para atuar no local, segundo
o órgão, também estão garantidos.
RESISTENCIA
DIFICULTA INSTALAÇÃO DE OUTRAS UNIDADES
O governo
Temer prometeu criar cinco presídios federais de segurança máxima no início
deste ano como parte do Plano Nacional de Segurança Pública, mas até agora só
conseguiu garantir o terreno de uma unidade, em Charqueadas (RS). Nos demais
locais cotados para recebê-los, uma rejeição da população ou das autoridades
barrou o projeto.
Em
Iranduba, na Região Metropolitana de Manaus, o Ministério Público do estado
divulgou nota para criticar o projeto de instalação de um presídio federal. O
procurador-geral de Justiça do Amazonas, Fábio Monteiro, coloca-se como
“radicalmente contra”:— Fazer
um presídio federal dentro da área que tem a maior entrada de cocaína do país é
surreal. Se o projeto for adiante, vamos usar todos os instrumentos jurídicos
possíveis para impedir.
Itajaí,
em Santa Catarina, é outro município sondado para receber um presídio. Mas lá
também houve reação do Ministério Público Federal, que teme um recrudescimento
da violência. Em Baieux, na Paraíba, a rejeição partiu do governo estadual,
enquanto a prefeitura simpatizava com a ideia. Entre as vantagens listadas a
prefeitos e estados pela União, está a dinamização da economia local, com
abertura de postos de trabalho, já que o presídio precisa de serviços
contratados, como limpeza, lavanderia e manutenção de viaturas.
As
equipes do governo também costumam argumentar que os presídios comandados pela
União têm padrão de excelência, sem registros de rebeliões ou fugas. Mas nem
sempre os argumentos convencem. Até mesmo em virtude de informações recentes de
que a ordem para iniciar uma guerra na favela da Rocinha, no Rio, teria
supostamente partido de dentro de um presídio federal.
Há ainda investigações apontando que detentos ordenaram de dentro do sistema federal a morte de agentes penitenciários. O fato é admitido pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, responsável pelos presídios da União, que em função disso restringiu as visitas íntimas nas unidades federais.
Cada
presídio custa cerca de R$ 40 milhões. O governo continua procurando terrenos
nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte. O Centro-Oeste não está na lista
porque já conta com duas unidades penais federais: a de Campo Grande e a de
Brasília, em fase final de construção. “Visitas
técnicas estão sendo realizadas em vários municípios do país para verificação
das condições e critérios para construção das novas unidades federais”, afirma
o Depen, em nota.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo