Empreendedores do DF ainda têm resistência para empregar transexuais
Das 28 companhias participantes do Fórum de Empresas e Direitos LGBT, nenhuma é nacional
[a composição do Ministério Temer deixa claro que esse pessoal diferente, diverso, tão prestigiado pelo governo petralha, não vai ter proteção especial no Governo Ordem e Progresso'.]
Criar um ambiente de diversidade na empresa ou no serviço público é
um dos principais desafios da cultura corporativa brasileira. Como o
local de trabalho é um espaço social, nele há reproduções de modelos
exigidos e de preconceitos vigentes. Quando a questão é inserir
transexuais e travestis, as dificuldades ganham força. Para a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), as políticas de inclusão
devem agir em quatro eixos: igualdade de formação profissional,
inserção no mercado de trabalho, permanência e ascensão. Eixos ainda
distantes da realidade no Brasil, como mostra a segunda reportagem da
série sobre os desafios para transformar o setor produtivo em um lugar
diverso.
Boa parte das companhias ainda se
fecha para a entrada de transexuais. Se a nacionalidade empresarial for
brasileira, o tema torna-se ainda mais sensível. Prova disso é que, das
28 empresas participantes do Fórum de Empresas e Direitos LGBT,
nenhuma é nacional. Nem mesmo as empresas públicas se interessaram em
participar. São multinacionais como Google, IBM, Carrefour e Facebook
que pretendem inserir em seus quadros minorias e seguir as
determinações das sedes fora do Brasil. A OIT é parceira dessa
iniciativa. São, pelo menos, quatro reuniões por ano, em São Paulo. [se essas empresas estrangeiras desejarem levar os 'diferentes' para suas matrizes, agradecemos e apoiamos.]
Segundo
o secretário executivo do fórum, Reinaldo Bulgarelli, as empresas
estavam interessadas em fazer interlocução e troca de experiências de
inclusão no território brasileiro. “O Fórum não é para tomar um café da
tarde. Ao fazerem parte desse encontro, as companhias firmam
compromissos.” Bulgarelli explica que os trans são prioridade dos
encontros. “Gays e lésbicas sofrem discriminação, mas estão no mercado
de trabalho — a questão aqui é chegar a cargos de direção. Já as
pessoas trans estão totalmente ausentes do ambiente corporativo.”
Bulgarelli
explica que, em nome de um valor corporativo, as empresas tendem a ser
homogêneas e a “homogeneizar” o quadro. “As nacionais não veem muito
valor na diversidade. Mais isso está mergulhado na cultura brasileira,
que não lida bem com o tema. Em outros locais, como Estados Unidos,
países europeus e asiáticos, eles enxergam a diversidade como tema
estratégico para entender melhor os clientes e trazer inovação e
criatividade.”
Paulo Pianês, diretor do
Departamento de Sustentabilidade de uma rede de supermercados, diz que a
multinacional faz parte do fórum e, desde 2010, criou uma série de
ações de inclusão. “Não tenha dúvidas de que é uma vantagem econômica
estimular a diversidade. Somos empresa de varejo, de relações humanas.
Nossos clientes são atendidos por pessoas”, avalia. “Na medida em que
fizemos esse investimento com nossos líderes e funcionários, começamos a
criar uma semente de mudança.”
Inserção escondida
A
dificuldade de inserção da diversidade no Brasil é tamanha que mesmo
as empresas que pretendem inserir trans no mercado de trabalho ainda os
escondem de postos de atendimento ao público — com exceção de
segmentos específicos, como moda e estética, em que são mais aceitos.
“Chegou um caso para nós de uma empresa de marketing com projeto de
inclusão. As vagas de trans eram para atendimento de call center
noturno, de forma que não pudessem ser vistos por ninguém. Isso não é
inclusão”, explica Thaís Faria, oficial de programação da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).
Rita Brum,
consultora da Rhaiz Recursos Humanos, explica que a aparência,
infelizmente, conta muito nas seleções. Mas ela explica que o trabalho
de RH deve ser o de conscientizar o quadro e deixar o ambiente diverso.
“Já tivemos caso em Brasília de uma empresa de call center que teve
agressão dos funcionários contra um trans homem. Os homens não
aceitavam que ele usasse o banheiro masculino e partiram para a
agressão física. Por isso, é importante a formação.”
Transexual,
Ana Paula Benet sempre sentiu o peso do preconceito no ambiente
profissional. “Eu tinha duas opções: ou ia para os nichos que aceitam
trans ou teria que aguentar as dificuldades do mercado de trabalho.
Optei pelo desafio.” Para Ana Paula, o primeiro obstáculo foi conseguir
uma vaga. “Não julgavam pelo meu currículo.”
Fonte: Correio Braziliense