Presidente demitiu general por ‘agir como sindicalista’, mas lidera pressão de policiais
O presidente Jair Bolsonaro, que jogou a reforma da Previdência no
Congresso e foi para o conforto da arquibancada, entrou em campo aos 45
minutos do segundo tempo, não para ajudar, mas para atrapalhar. Em vez
de desestimular pressões corporativas, o presidente liderou a pressão de
policiais. Depois de acusar o general Juarez Cunha de “agir como sindicalista” e
demiti-lo dos Correios, Bolsonaro age como sindicalista e insufla as
reivindicações dos policiais, que querem condições especiais e
equiparação aos militares na Previdência. [os militares sequer estão na reforma da Previdência:
- os das Forças Armadas, cuja 'previdência' é objeto de um projeto de lei, enquanto a reforma é tratada em uma PEC;
- a previdência dos policiais militares será tratada pelos estados.
Pergunta que não quer calar: quantos votos teve o general Juarez? - que Bolsonaro, corretamente, demitiu dos Correios.]
MANIFESTAÇÃO - Passeata em Brasília: Moro virou Super-Homem (Luciano Freire/Futura Press)
[o presidente da República Federativa do Brasil é SINDICALISTA dessa multidão e mais MILHÕES e MILHÕES de brasileiros.]
A profissão de policial é, de fato, desgastante e perigosa num país
conflagrado como o Brasil. E o que falar de médicos e enfermeiros de
hospitais públicos? De lixeiros que carregam peso madrugadas inteiras,
descendo e subindo em caminhões? E de trabalhadores em minas e outros
locais insalubres? [perguntamos: e o que falar dos professores que além dos salários baixos, péssimas condições de trabalho - que inclui até mesmo ser agredidos por alunos?
Oportuno ter presente que os policiais pelos quais Bolsonaro OPINA por um tratamento condizente com a realidade enfrentada no dia a dia, não se restringe aos do Rio e sim de todo o Brasil - policiais federais, tanto os da PF quanto os da PRF.]
Por que os policiais são diferentes? Simples. Eles têm apoio do
presidente, em quem sempre votaram no Rio, foram leais em 2018 e estão
encastelados no seu partido, o PSL. Então, todos têm de dar sua cota de
sacrifício, menos os amigões e a base de Bolsonaro. Ao enviar ao Congresso uma proposta diferenciada para as Forças Armadas,
o governo pôde pelo menos alegar que são condições muito específicas e a
defasagem salarial vem de muitos anos. Na reta final da comissão,
Bolsonaro ainda tentou equiparar as situações, alegando que os policiais
“nunca tiveram privilégios”. Não é bem assim. Que outras categorias se
aposentam aos 50 anos, com salário integral? [até o presente momento, inúmeras categorias se apresentam com paridade e integralidade, até mesmo antes dos 50 anos - por óbvio, vindo a ser a reforma aprovada da forma atual, ocorrerão mudanças.
Somos contrários à inclusão dos policiais legislativos, visto que exercem funções meramente burocráticas, na hora do conflito de verdade, eles chamam a polícia.]
Os policiais federais, rodoviários federais e legislativos estavam, e
estão, no papel deles de pressionar, brigar por condições especiais e
bater em todas as portas. Quem vai à residência oficial do deputado
Rodrigo Maia se depara, já na enorme mesa da sala de jantar, com várias
pastas, separadas por temas. A maioria delas tem o carimbo de categorias
de policiais. Mas Maia, o presidente da comissão, Marcelo Ramos, e o
relator, Samuel Moreira, pensam no macro: se cedessem para uma
categoria, seriam alvo fácil de todas. A reforma viraria pó.
Depois de atuar firmemente a favor da reforma e no fim criticar o
primeiro relatório da comissão, o ministro Paulo Guedes saiu de campo,
parou de dar entrevistas e foi para a arquibancada, de onde Bolsonaro
jamais saiu durante toda a longa e sofrida negociação. O ministro
aguentou firme e só voltou a se manifestar em público ontem, com a
aprovação do relatório na comissão. Mas Bolsonaro fez o oposto. Distante, como se não tivesse nada a ver com isso, o presidente se
recusou a liderar as negociações da reforma, empurrando todo o peso nas
costas de Rodrigo Maia, e ainda continuou cutucando o Congresso e os
políticos, enquanto eles faziam das tripas coração para aprovar algo
fundamental para o País.
A reforma deve ser aprovada na Câmara, ainda em julho, [a ver.] e no Senado, no
segundo semestre. E depois? Como será a relação do presidente com o
Congresso, do qual, aliás, ele fez parte por inexpressivos 28 anos? Além de ter dois projetos rejeitados no Supremo, Bolsonaro já perdeu
três vezes no Senado e retirou os decretos das armas para evitar a
derrota na Câmara. É hora de o presidente recompor suas relações
institucionais, para não enfrentar tempos difíceis pela frente. Mas não
assim, abandonando a reforma da Previdência durante meses e entrando
nela nos últimos dias – e na contramão, a favor do corporativismo que
Guedes atribuíra à Câmara.
Por último, a posse do general Luiz Eduardo Ramos na Secretaria de
Governo e a aprovação da reforma na Comissão Especial definem o destino
do deputado Onyx Lorenzoni no governo. Se seguir o conselho do
presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também do DEM, ele se demite,
antes que seja demitido.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo