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segunda-feira, 22 de maio de 2023

Brasil pouco ganhou com a participação de Lula no G7 [só perdeu - Zelenski gozou a cara do presidente petista.]

Sem sentido: Lula vai ao Japão defender Argentina e fugir de Zelensky

Uma política externa que acumula erros amadores e desnecessários, mesmo considerando-se que o Brasil tem que se equilibrar na questão da guerra

O que o Brasil ganhou com a participação do presidente Lula da Silva como um dos convidados da cúpula do G7

É triste ter que responder que absolutamente nada. Ou talvez uma comprovação, a nível mundial, de que está tudo errado. Até o New York Times, tão pró-Lula que publicou um editorial dizendo que o “futuro do mundo” dependia da eleição presidencial brasileira do ano passado, teve um ataque de sinceridade e o chamou de “aliado próximo” da Rússia.

Mesmo pelos padrões de comprometimento moral e político criados pelo apoio implícito da política externa brasileira à Rússia — revelado, mais uma vez, nas críticas plantadas na imprensa à “narrativa ucraniana”, como se invasão e atrocidades múltiplas fossem fruto de imaginação —, foi um fiasco.

Tentar culpar Volodymyr Zelensky pela reunião que não houve, acusá-lo de fazer “uma proposta de rendição” da Rússia — imaginem um sindicalista que não sabe que quaisquer discussões começam com exigências lá em cima — e dizer que ficou “chateado foram atitudes infantis que não esconderam o verdadeiro ânimo do presidente e da diplomacia brasileira no momento.

E como entender a campanha intensiva que ele tem feito em favor, não da Argentina, mas de seu amigo Alberto Fernández?

A gratidão de Lula ao presidente argentino, que o visitou na época da prisão, é um sentimento compreensível, mas não justifica a falta de noção de usar o palanque global para defender a seguinte posição: “O endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste”.

Tradução: a Argentina não tem culpa nenhuma pelas alucinadas políticas baseadas nas bondades no Estado indutor, defendido pelo presidente no mesmo discurso, e na multiplicação dos benefícios criados pela escola de expectativas irracionais
A dívida  descontrolada, acompanhada pelo trágico empobrecimento da população, foi culpa do malvado FMI. Os sucessivos governos argentinos, coitadinhos, não têm nada a ver com isso.

É necessário reconhecer que o Brasil, sob qualquer governo, tem uma posição obrigatoriamente complexa em relação à guerra da Ucrânia. O imperativo moral é claro, mas os interesses pragmáticos, incluindo a dependência dos fertilizantes russos, não podem ser desprezados.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, está numa situação mais dependente ainda: o petróleo russo, mais barato por causa do boicote europeu, é um dos combustíveis, literalmente, do crescimento acelerado da economia que ele promove.

O que fez Modi? Primeiro, não fugiu da raia. Aceitou a proposta de um encontro bilateral com Zelensky — mesmo com o ucraniano fazendo cara de tempo fechado. E abriu o encontro com um discurso  eloquente, lembrando como os estudantes indianos que fugiram da Ucrânia no início da guerra descreveram a dor e o sofrimento do país invadido. Individualizou a questão, mostrou compaixão e não reclamou da pressão “descabida” por um encontro — o ridículo adjetivo inventado pelo Itamaraty para justificar por que Lula amarelou.  
Modi mudou de posição? Não. Fez papelão? Não.

Diplomatas e assessores do presidente, aparentemente embriagados pelo slogan autoelogioso “o Brasil voltou”, não perceberam que os Estados Unidos e aliados, ao convidarem países como o Brasil e a Índia, queriam criar um ambiente propício a posições mais sensíveis sobre a Ucrânia. Não era preciso necessariamente dar uma grande guinada, apenas aqueles gestos que fazem parte do balé da diplomacia.

Lula estava mais preocupado com a Argentina, a ponto de “achar” espaço na agenda para interceder, de novo, em favor do vizinho num encontro com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva. Diante do desastre de imagem que foi a rejeição a Zelensky, o entorno saiu plantando que Lula havia colocado horários disponíveis para “receber” o presidente ucraniano e não foi correspondido. Alguém acreditou? 

Mestre do jogo de cintura e da política de contato físico, Lula muito provavelmente se sairia bem e tomaria a iniciativa de partir para o abraço — a técnica de inteligência emocional que Zelensky usa com governantes de quem se sente mais próximo, como o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, um substituto sem graça de Boris Johnson, com quem o ucraniano tinha uma intimidade de contar piadas de caserna.

Lula foi mal orientado ou tomou a iniciativa de vetar o encontro bilateral? Em qualquer hipótese, saiu perdendo.

As atenções mundiais se focam onde quer que Zelensky esteja, mas no Japão os holofotes foram maiores por causa dos dramáticos acontecimentos dos últimos dias. Primeiro, os Estados Unidos liberaram aliados europeus para ceder caças F16 à Ucrânia, o objetivo de todos os esforços diplomáticos de Zelensky nos últimos meses. Holanda e Dinamarca já prometeram 45 aviões.

Logo em seguida, e provavelmente para disputar o foco com o ucraniano no Japão, o chefe mercenário russo Ievgueni Prigozhin anunciou a tomada definitiva de Bakhmut. Ainda há focos de resistência, mas a sorte parece selada. Pelo menos Vladimir Putin acredita nisso: elogiou o Grupo Wagner pela conquista, “com apoio da artilharia e da aviação da frente sul” — um acréscimo necessário, considerando-se como Prigozhin tem sapateado na cabeça dos comandantes convencionais.

Militarmente, a queda da cidade quase 100% destruída não tem relevância vital. Sua importância é mais simbólica. Por que tantas vidas ucranianas foram sacrificadas para defender um lugar que não muda o rumo da guerra, contrariando os conselhos dos Estados Unidos?

Essa foi uma posição unânime dos comandantes militares — são eles que decidem questões assim, deixando a Zelensky o papel de trabalhar diplomaticamente pela propagação da causa ucraniana e pelo fornecimento de armamentos — um papel que cumpre muito bem, tendo voltado de Hiroshima coberto de promessas de apoio inquebrantável e mais dinheiro para a defesa do país.

Aviso a quem já se meteu até a colocar a Crimeia num acordo de “paz”: o povo está do lado da resistência — 85% dos ucranianos são contra concessões territoriais “mesmo que por causa disso a guerra dure mais”.

A rejeição inclui 89% da população que fala ucraniano e 76% dos que falam russo (como Zelensky: o presidente precisou aprimorar o ucraniano, que só falava fluentemente, antes da guerra, quando não estava sob tensão, segundo contou sua mulher). Até os “russos” ficam contra a Rússia quando veem o que ela faz.

“Não tem mais um único soldado ucraniano em Bakhmut, pois paramos de fazer prisioneiros”, jactou-se Prigozhin. “O que tem é um grande número de corpos de ucranianos”.

Assumir publicamente crimes de guerra teria sido uma adesão à “narrativa ucraniana”?

Vilma Gryzinski, colunista - Mundialista - VEJA

 


 


quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Contra quem governa o PT? - Percival Puggina

 
O século XX ia apagando as luzes e o Brasil era governado por FHC. O petismo, crescendo em ferrenha oposição, mirava sua cadeira com olhos cobiçosos.  
No Congresso Nacional, o partido oposicionista produzia denúncias, pedidos de CPI e de impeachment como padaria fazem pães. 
Aos cestos. Todas as gavetas do aparelho de estado eram suspeitas! Foram oito anos disso e pouco importava se os impeachments eram recusados e as denúncias arquivadas (o PGR, Geraldo Brindeiro, ganhou o apelido de Arquivador Geral da República). O que contava era o barulho na mídia e a consequente destruição da imagem do adversário.

Em contraposição, o PT se apresentava como estuário da virtude nacional. No leque ideológico, só havia pecado a leste do PT, que cumpria, com furores de Torquemada, o papel de grande inquisidor, também, das heresias políticas desalinhadas da beata esquerda tupiniquim. Do alto de minhas surradas tamancas, eu ousava dizer que não era bem assim.

O petismo anunciava que Lula levaria para o Palácio da Alvorada seus hábitos à dura vida de sindicalista e aquela moderação de costumes que o santo de Assis foi buscar entre os pássaros.  
Ele teria aprendido na enciclopédia das ruas o que Rui Barbosa escrutinou nos corredores das bibliotecas. 
Para comandar, ele enrijecera o pulso nos tornos da Villares.

Infelizmente não tenho a imagem, mas ela foi um símbolo da atividade oposicionista durante a gestão do “príncipe dos sociólogos brasileiros” (os tucanos também tinham seus delírios). Nos últimos dias antes da eleição de 2002, o PT estendeu no plenário da Câmara dos Deputados um cordel que ia de lado a lado, diante da mesa dos trabalhos. Nela, como bandeirolas de cordel em festa do interior, cartazes mostravam os nomes de todas as CPIs solicitadas em oito anos. Escândalos que ficaram sepultados. Os meios de comunicação exibiram e Lula foi eleito.

Enfim, a moral seria restabelecida.
O PT tinha a chave de todas as gavetas, acesso a todos os dados, comandaria o aparelho de informação do Estado, nada restaria oculto.
Os pecados seriam proclamados desde as cumeeiras. Um mar de lama inundaria o Lago Paranoá.
Sentei e esperei. Passaram-se os dias, as semanas, os meses, os anos.
E nada! Senhores, estou afirmando: nada! Coisa alguma. Lhufas!
O que relato aqui aos mais moços e aos mais esquecidos diz muito sobre a relação entre Lula e FHC, entre tucanos e petistas. Explica apoios e abraços.

Agora, compare com a conduta do PT durante o governo de Bolsonaro. 
O partido que perdera a eleição de 2018 sob o peso das próprias culpas expostas pela Lava Jato adotou uma conduta discreta se cotejada com suas encenações contra FHC. 
Exceção feita à CPI do Circo, a verdadeira oposição a Bolsonaro, ferrenha, duríssima, ficou por conta da mídia e do crescente ativismo judicial via STF/TSE.
 
Compare o que escrevi acima quando FHC saiu e Lula entrou com o que está acontecendo agora que Bolsonaro saiu para Lula entrar. 
Foram quatro semanas em guerra! O petismo só fala em cadeia, cerceamento de liberdades, combate sem tréguas às demais posições ideológicas, expurgos e em tornar inelegíveis seus adversários potenciais. 
Passa pente fino em cartões de crédito, telefones celulares, furunga gavetas, vasculha lixeiras.
 
A favor de quem o PT governa sabemos todos. E contra quem o faz? Quem é realmente adversário para o petismo raiz de volta ao poder? É você, meu caro leitor. É você através dos que são censurados, multados, presos, tornados sem voz por decisões judiciais que uma vez iniciadas não mais irão cessar. 
São aqueles de quem, por não subscreverem a cartilha, o ministro Haddad diz que não compra coisa alguma.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Como Se Tornar um Tirano - Revista OESTE

 Ana Paula Henkel

Para começar, você deve ser, ou pelo menos apresentar-se, como uma das pessoas “comuns” da vida. Um professor ou sindicalista, por exemplo, serviriam muito bem 

Cartaz da série "Como Se Tornar Um Tirano", da Netflix | Foto: Divulgação/Netflix

Cartaz da série "Como Se Tornar Um Tirano", da Netflix | Foto: Divulgação/Netflix 

Não, o título deste artigo não tem nada a ver com o atual cenário no Brasil. Como Se Tornar um Tirano é uma série da Netflix para a TV que apresenta um, digamos, “manual para o poder absoluto”. Muito da série é pura ironia, mas ela é tragicamente baseada nas táticas e estratégias reais usadas por Josef Stalin, Mao Zedong, Adolf Hitler, Muammar Gaddafi, Kim Il-sung e Saddam Hussein. (Não, eu não pensei em ninguém no Brasil, mas se você pensou, cuidado com a polícia do pensamento!) De acordo com a série, se você tem a ambição de ser o “dono de algum país”, a história te dá todas as dicas. Não fiquem chocados se, estranhamente, tudo parecer familiar demais com o que vivemos e a política a que estamos sujeitos.

Bem, vamos lá. De acordo com Como Se Tornar um Tirano, se você quer ser um ditador, primeiro você precisa ser um tipo específico de pessoa. 
 
Para começar, você deve ser, ou pelo menos apresentar-se, como uma das pessoas “comuns” da vida. 
Hitler foi soldado, Mussolini era filho de ferreiro, Saddam Hussein foi criado por um tio depois da morte do pai e abandono pela mãe, e Muammar Gaddafi veio de uma família humilde e seu pai ganhava uma escassa subsistência como pastor de cabras e camelos. 
Você precisa ser uma pessoa “comum” que retrate o velho ditado “Um homem que compartilha seus sonhos pode realizá-los”. Portanto, um professor ou sindicalista, por exemplo, serviriam muito bem.
 
A partir desse ponto, a série revela outras páginas do “manual” para se tornar um tirano de sucesso e cada episódio escolhe um princípio-chave de um ditador da história para ilustrar as regras despóticas de engajamento. 
Por exemplo: como tomar o poder (Hitler), como esmagar seus rivais (Saddam Hussein), como reinar através do medo (Idi Amin, de Uganda) e assim por diante. A série é sombriamente sarcástica, aliás, define tirania não como “governo de um governante cruel e opressor”, mas como um “governo para pessoas que querem resultados” e que não necessariamente se importam com a forma como esses resultados são obtidos. Mas, repito, para deixar claro para o novo Ministério da Verdade no Brasil: fatos parecidos com o atual cenário político são mera coincidência.

O aspirante a tirano deve acreditar em si mesmo com uma autoestima inabalável. A série afirma que “uma crença megalomaníaca em suas habilidades convence os outros delas”. Portanto, seja o poder místico de usar sal grosso para lavar áreas antes habitadas pelo inimigo, ou o poder de acabar com a democracia para salvar a democracia, se você estiver convencido disso, pode ter certeza de que muitos outros também concordarão com você se você souber persuadi-los.

 No entanto, nosso suposto ditador precisa de mais uma qualidade de caráter: o dom da fala, ou, na verdade, a capacidade mais importante de atrair a atenção. O bigode de Hitler era sua característica definidora, aquilo era inequivocamente “o cara”. Mas uma barba branca também pode servir. Ou uma careca lustrosa, por exemplo. Nada tão específico. Há boas variedades por aí. A série revela que os ditadores têm em comum a habilidade de serem publicitários natos para encontrar o que completará a identidade visual marcante. A imagem detalhadamente pensada sob o manto da falsa naturalidade é o pontapé para o início da descrição das táticas que os tiranos normalmente usam para chegar ao poder e consolidar seu domínio sobre ele.

Bem, a primeira delas é: aumentar a indignação. Mostre às pessoas que os inimigos delas são seus inimigos! A genialidade do tirano está em entender e explorar a natureza do ressentimento que existe no coração das pessoas — verdadeiro ou não —, e, então, se apresentar como o meio de se vingar das pessoas de que elas ressentem. Desumanizar oponentes ajuda bastante. Afinal, para ser um tirano que se preze, você precisa acusar outros de serem tiranos.

Doutrine a juventude. Os ditadores não querem jovens educados e estudiosos. Eles querem que os jovens sejam educados apenas o suficiente para produzir — seja dinheiro, agitação civil ou caos

Compre lealdade. Já se estabeleça no poder com isso em prática desde o início. O futuro pode ser incerto, mas a maneira mais eficiente de permanecer no poder é comprar a lealdade de seus aliados políticos e de seus rivais políticos também. E de onde vem o dinheiro para isso? Da cleptocracia, é claro. Roubar os recursos da nação roubos sempre disfarçados de bondade — é questão sine qua non. 
 Afinal, não é barato manter luxos, esmagar dissidentes e inimigos, comprar a imprensa, ajudar companheiros e aspirantes a ditadores, comprar juízes, políticos etc. Toda a bondade de uma tirania pelo povo e para o povo custa caro.

Alguns tiranos, de acordo com a série, têm a fama de ritualmente humilhar todos em seu gabinete, conselho de ministros e pessoas próximas. Isso os mantém com medo e subjugados. Mas, se houver brigas públicas, escolha um bode expiatório: ganhe a confiança e o apoio das massas culpando um grupo pelos males do país e diga que sem você eles não podem revidar ou se proteger. Por exemplo, no início dos anos 1970, Idi Amin acusou 100 mil asiáticos (principalmente indianos que possuíam a maioria das grandes lojas e negócios) de “traição econômica e cultural” e os expulsou de Uganda. Atualmente, os novos tiranos usam a tática de acusar os adversários daquilo que os verdadeiros tiranos da história eram. Certo grupo é “fascista” costuma funcionar para as bases covardes que repetem como papagaios o que o tirano profana.

O passado e o futuro
Reescreva a história
. Esse ponto é crucial! Orwell disse: “Aquele que controla o passado controla o futuro”. Hitler ordenou que o alto comando nazista destruísse os memoriais da Primeira Guerra Mundial na Europa ocupada, em uma tentativa de apagar as memórias da derrota da Alemanha. Stalin modificou uma foto sua com Lenin, e a foto adulterada mostra Stalin sentado mais perto de Lenin do que realmente era, parecendo maior do que na foto original e sem as marcas que a varíola infantil deixou em seu rosto. 
 
Estátuas de homens corajosos? Livros inspiradores? História? Deus me livre. Aliás, use “Deus” sempre que necessário e sem moderação, mesmo você achando religião um porre de chatice. Eu sei, o deus é você, mas eles não precisam saber disso, só te obedecer.
Corrompa tudo, até a ciência: o Terceiro Reich controlava rigidamente quais áreas da ciência poderiam ser estudadas e debatidas, rejeitando a física quântica e encorajando a ‘física ariana’. Na verdade, Francisco Franco dissolveu o conselho de pesquisa científica da Espanha, e Stalin apoiou Trofim Lysenko, um biólogo agrícola que fez coisas como expor grãos de alimentos ao frio extremo, acreditando que isso ajudaria as futuras gerações de grãos a se tornarem resistentes ao frio. 
 
Aliado a isso, censure tudo. Gente chata e perigosa que questiona tudo, que tem perguntas demais. Se até Sherlock Holmes foi banido da União Soviética, talvez porque o Estado não quisesse arriscar que seus cidadãos olhassem para alguém que pensasse criticamente, o que são contas de cientistas e jornalistas em redes sociais derrubadas? Nada. Perturbou? Arranca o passaporte e bloqueia as contas bancárias. Como você acha que os Reichs se sustentam? Com dinheiro dado em árvores?

Nós contra eles
A série mostra para você, aspirante a ditador, outro ponto importante em sua caminhada à glória tirânica. Elimine a confiança do ser humano e entre eles. Quebrar os laços de confiança dentro da sociedade em geral é uma ótima maneira de unificar a própria base de apoio. 
Os ditadores entendem que as pessoas se entregam voluntariamente ao poder do Estado, porque tudo e todos são suspeitos. Se Stalin pudesse rotular até mesmo os heróis da revolução russa como traidores no Grande Terror (1936-1938), no qual 750 mil pessoas foram mortas, que confiança sobreviveria no restante da população? A lógica do líder soviético era: “Se você matar cem pessoas e apenas cinco delas forem inimigas do povo, não é uma proporção ruim”. O “nós contra eles” é outra preciosidade, se agarre nisso. Negros contra brancos, mulheres contra homens, filhos contra pais. Divida para conquistar e mostre a todos que só você pode salvar as pessoas do mal, inclusive, delas mesmas.

E, por falar em filhos, doutrine a juventude. Os ditadores não querem jovens educados e estudiosos. Eles querem que os jovens sejam educados apenas o suficiente para produzir — seja dinheiro, agitação civil ou caos — para os propósitos do ditador e seus comparsas. É por isso que toda ditadura trabalha horas extras para destruir instituições de ensino de dentro para fora. Essa semente é minuciosamente levada para o seio familiar e ali germinará mais divisão. Pais e filhos, então, encontrarão a resposta para os problemas em… você! Bingo!

As ditaduras se modificam ao longo do tempo, mas as táticas apenas se travestem sem perder a sua essência. E essa é básica, mas eficiente. Deixe as pessoas com fome. A fome e a pobreza são talvez as ferramentas mais cruéis no arsenal de um ditador, mas a lógica é simples. Pessoas famintas e ignorantes não serão capazes de lutar contra você.    A China e a União Soviética testemunharam fomes terríveis nos regimes de Mao e Stalin. 
Kim Jong Il também presidiu a fome na Coreia do Norte, enquanto vivia em um luxo fantástico. 
Sem água e sem comida, o povo sofrido vai mendigar e aceitar qualquer esmola que você ofereça. Assim, eles não perturbarão suas viagens de jatinhos, suas compras de relógios caros, seus vinhos portugueses premiados e seus passeios para fora do seu caótico país.
Agora, se essas são as qualidades que podem definir um tirano em potencial, existem algumas que são mais importantes que outras para atrair seguidores firmes e leais. 
Depois de estabelecer a promessa de que você pode criar um mundo melhor para todos, não se preocupe se isso jamais acontecer, não é necessário ter sucesso. Essa coisa de “mundo melhor” é historinha pra boi dormir, mas a promessa deve permanecer perene e a crença de que você está cada vez mais perto da entrega deve ser inquestionável. Mas atente-se: esta promessa por si só não é suficiente. O bom tirano também deve ser visto como o único homem que pode cumprir essa missão. Ele deve, portanto, ser reconhecido não apenas como a fonte de toda sabedoria, mas também como a fonte de toda virtude. Um culto à personalidade bondosa e sem defeitos é essencial, e, para isso, não esqueça jamais de plantar inúmeras $emente$ na imprensa para que suas mentiras sejam repetidas com a roupa da verdade até que elas virem verdade. Depois ajoelhe (coloque uma toalhinha para não ficar desconfortável) e agradeça a Joseph Goebbels pela graça concedida.

De vez em quando, um inimigo externo também ajuda. Saddam Hussein escolheu o Irã; Kim Il-sung, a Coreia do Sul; Hitler, a França e a Alemanha; e Stalin, a maior parte do resto do mundo.  

Mas ficou na dúvida ou não tem ninguém por perto? Seus problemas acabaram. Mire o “imperialismo estadunidense”, a “CIA”, os “ianques” e está tudo certo. Afinal, essa coisa de Land of free, home of the brave” (Terra da liberdade, lar dos bravos) pode ser um problemão pra você se criar asas no seu quintal.

Medo útil
Finalmente, os tiranos precisam estar preparados para o pior. Não tanto o seu desfecho, mas o fato de que sempre haverá críticos e até rebeldes. Gente chata, eu sei. Então, você precisa garantir que não saiam do controle. É aqui que o uso do medo é útil. Como dizem os livros concisamente, assim como a série da Netflix, “o melhor amigo de todo ditador é uma polícia secreta implacável”.  
Use o poder do Estado para silenciar seus oponentes e aqueles que estão preocupados com a liberdade e essa bobagem de “império das leis”. 
O que manteve a América unida desde a Guerra Civil não foi a Constituição ou a Declaração de Direitos (Bill of Rights). “Leis”Relaxa, isso não vai te ameaçar. A União Soviética também possuía “leis de direitos” que garantiam a “liberdade de expressão e direitos iguais”. Esqueça isso. 
Os bolcheviques assassinaram seus adversários políticos, enviaram seus dissidentes aos gulags, e Lavrentiy Beria, o chefe da polícia secreta mais implacável no reinado de terror de Joseph Stalin na Rússia e na Europa Oriental, se gabava de poder provar uma conduta criminosa contra qualquer pessoa, até mesmo um inocente: “Mostre-me o homem e eu lhe mostrarei o crime”. Aprendeu?

Eu não poderia encerrar esse artigo sobre essa boa série da Netflix sem algumas frases e conclusões da própria série sobre os pontos que ligam ditadores de todas as cores às páginas da história:

“Não basta ser um líder, é preciso também ter uma iconografia”;

“Mostre que seus inimigos também são inimigos do povo”;

“Os ditadores em potencial costumam ser extremamente narcisistas. Eles se mostram como pessoas comuns, mas são muito diferentes das pessoas comuns”;

“O ser humano adora ser governado”;

“Uma boa maneira de permanecer no poder é dar propinas e oportunidades à sua colisão, fazendo com que ela se torne corrupta”;

“O melhor amigo de um ditador é um agente corrupto, eficaz e implacável”.

Bem, segundo a série, se você já fez tudo isso, você está pronto para ser um ditador. Mas o sucesso cria suas próprias demandas. Quando você alcança o topo da árvore, pode ser chato ficar sozinho
Os tiranos nunca estão sozinhos, mas precisam se divertir, e, para isso, há o ritual de humilhação daqueles ao seu redor. Lance pérolas!  
Isso geralmente é o suficiente para transformar as pessoas em porcos! 
Dê a seus aliados e apoiadores oportunidades de serem corruptos. Primeiro, é divertido vê-los lutando pelas migalhas que você jogou em sua direção, mas o mais importante é que, quando mordiscarem, eles permanecerão leais. Dali em diante você poderá fazer gestos de degolar pescoço e até dar tapinhas na cara das pessoas. Tudo em público, lógico! Que graça teria se não fosse na frente de todo mundo?
 
A série Como Se Tornar um Tirano vem cheia de ironia, mas não deixa de ser um material informativo para aqueles que se perguntam como os déspotas conseguiram obter o controle dos países, mesmo em um século em que a democracia se consolidou. 
 Série muito interessante para ser vista, mas mais interessante ainda é perceber o quanto os espectadores se encontram ali, diante de si mesmos, de seus governantes e de seu país.

E, o mais importante, o que eles fazem ou farão diante da fina ironia que mostra duras verdades.

Leia também “As lições de 1940 para 2023”

Ana Paula Henkel, colunista  - Revista Oeste


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Lula e a democracia - Ricardo Velez

?Dizia o ex-ministro Delfim Netto, dia destes, que “Lula não é marxista”. Me lembro de alguém que perguntou, décadas atrás, ao Lula, se era comunista. Ele respondeu, rápido: “Sou sindicalista”. Acho que falou a verdade pela metade
Ele é um sindicalista de corte getuliano, num contexto de sindicato único e rígida representação corporativista, com fortes tendências caudilhistas, estatizantes e orçamentívoras. 
Mas, um sindicalista que paquera o comunismo. A maior prova, a criação do Foro de São Paulo, em 1990, iniciativa que Lula desenvolveu junto com Fidel Castro, com a finalidade de dar sobrevida ao comunismo na América Latina, depois da queda do Muro de Berlim. 

Chegado ao poder, Lula governou o Brasil como líder sindical, abrindo as comportas para os gastos dos sindicatos sem controle do TCU. Foi um líder e um presidente “camarada”, amigo dos sindicatos arregimentados à sombra do estatismo. Justamente por essa sua fidelidade ao modelito getuliano de sindicatos pelegos, Lula é simpático a todos aqueles que tentam governar no contexto patrimonialista, na América Latina e alhures, gerindo o Estado como bem de família ou da patota. 

Ao longo dos seus dois mandatos, Lula foi um colega camarada do ditador da Venezuela, Hugo Chávez Frias. Até chegou a declarar que “havia muita democracia na Venezuela”. E estabeleceu relações de camaradagem com o casal Kirchner da Argentina, com o líder cocalero que virou presidente da Bolívia, Evo Morales, com o presidente e ex-guerrilheiro tupamaro Pepe Mujica do Uruguai, com o presidente Rafael Correa do Equador e com o bispo e presidente Lugo, do Paraguai

Longe de condenar as FARC como terroristas, foi simpático a elas. Junto com Fidel Castro, como já foi frisado, antes de chegar à Presidência da República, Lula tinha criado o Foro de São Paulo em 1990. Fora do contexto latino-americano, cultivou relações amigáveis com o regime dos Aiatolás do Irã, com o populista presidente turco Erdogan, com o presidente francês Sarkozy e com o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasongo

Obama prestigiou Lula quando naquela cúpula do G-20, em Londres, em 2009, trocou um aperto de mãos com o presidente brasileiro, olhou para o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, e disse, apontando para Lula: "Esse é o cara! Eu adoro esse cara!". Em seguida, enquanto Lula cumprimentava Rudd, Obama disse, novamente apontando para Lula : "Esse é o político mais popular da Terra". Rudd aproveitou a deixa e disse: "O mais popular político de longo mandato". "É porque ele é boa pinta", acrescentou Obama [cf. Globo.com 02/04/09]. Todo esse capital político começou a ruir quando Obama, diante dos malfeitos do Mensalão, viu que Lula e o seu governo, em que pese a liderança carismática e as reformas em prol dos menos favorecidos, passaram a se assemelhar à quadrilha de Tammany Hall, a sociedade política formada por membros do Partido Democrata na cidade de Nova Iorque, que propunha, entre 1854 e 1934, profundas reformas sociais, mas que também atuava como quadrilha acusada de corrupção e abuso de poder. A respeito, escreveu Obama na sua obra intitulada: Uma terra prometida: “Constava também que (o presidente Lula) tinha os escrúpulos de um chefão do Tammany Hall, e circulavam boatos de clientelismo governamental, negócios por baixo do pano e propinas na casa dos bilhões” [Obama, Uma terra prometida. Tradução de Berilo Vargas, Cássio de Arantes Leite, Denise Bottmann e Jorio Dauster. 1ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, p. 353]. 

Recentemente, o ex-presidente Lula comparou os 16 anos de Ortega na Nicarágua, à longa permanência da líder conservadora Angela Merkel à frente da Chancelaria da Alemanha e minimizou a repressão, em Cuba, do governo contra os opositores ao regime da Ilha, que reivindicavam mudanças e maior abertura política. Para os jornalistas Marcelo Godoy e Pedro Venceslau, do Estadão, “As declarações de Luíz Inácio Lula da Silva sobre a reeleição do ditador Daniel Ortega, na Nicarágua, e as ações da polícia cubana para debelar protestos da oposição na Ilha trazem para o PT uma ‘vidraça’ extra nas eleições de 2022. Além das explicações sobre os escândalos de corrupção, Lula poderá ser alvo de ‘pedradas’ pelas posições a respeito de regimes autocratas latino-americanos [Marcelo Godoy e Pedro Venceslau, “Negacionismo de Lula sobre ditaduras impõe ‘vidraça extra’ ao PT nas eleições”. O Estado de S. Paulo, 24-11-2021, p. A12].

Nem todo mundo, no arraial da esquerda, fechou com o ponto de vista de Lula acerca de Ortega na Nicarágua. Para o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), o louvor a Ortega é questionável. A respeito das declarações do ex-presidente, frisou: “Não tenho acompanhado essa questão do Lula, mas vemos com preocupação o continuísmo dele (Ortega), da família. Temos uma visão crítica” [in: Marcelo Godoy e Pedro Venceslau, “Negacionismo de Lula sobre ditaduras impõe ‘vidraça extra’ ao PT nas eleições”, art. cit.]. Já para Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), ex-chanceler do governo de Miguel Temer, não é conveniente comparar “uma tirania corrupta e sanguinária de Ortega com o governo democrático de Merkel”. “A questão democrática – frisou ainda o ex-chanceler – não comporta ambiguidades; é uma questão de princípio, e o princípio tem de ser universal, não vale só aqui no Brasil. Alguém com a ressonância mundial que o Lula tem, quando trata desse tema, deve fazê-lo com uma responsabilidade que vai além do companheirismo interior do PT”.

Os jornalistas Marcelo Godoy e Pedro Venceslau frisam que “para Aloysio (Ferreira Nunes), a responsabilidade de Lula é maior em razão do momento, pois é a defesa da democracia e das instituições que une a oposição a Bolsonaro. Para ele, o petista precisa dialogar mais (com) outras correntes democráticas a respeito desse tema”, lembrando que o momento na América do Sul é de ascensão de forças de extrema-direita. 
Do lado do governo, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Augusto Heleno, publicou no Twitter que Lula “debocha da inteligência da população e do regime democrático”. Já a deputada Joyce Hasselmann (PSDB-SP), segundo os jornalistas do Estadão, ironizou com as seguintes palavras: “Imagino o desespero do PT quando Lula resolve comentar sobre os seus velhos amigos”.

Antes das declarações laudatórias de Lula, contam os jornalistas Godoy e Venceslau, “o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, divulgara nota na qual celebrava a vitória de Ortega e classificava a eleição no país como ‘uma grande manifestação popular e democrática’. Diante da repercussão negativa, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que a nota não havia sido submetida à direção partidária. O documento foi suprimido do site do PT, como se o tema estivesse superado”. A assessoria do ex-presidente Lula, por sua vez, declarou ser “falso e de má-fé afirmar que Lula teria apoiado ‘ditaduras de esquerda’ ou igualado a primeira-ministra Ângela Merkel ao presidente Daniel Ortega”. Segundo a assessoria, “Lula reafirmou a alternância no poder”, considerando errado e antidemocrático “prender opositores para impedir que disputem eleições”, sendo que “a autodeterminação dos povos deve ser respeitada”.

Para os jornalistas Godoy e Venceslau, ficou clara “a impressão, para a maioria dos que leram a entrevista, de que a ambiguidade petista em relação às ditaduras esquerdistas está viva”. E, para terminar, os jornalistas do Estadão citaram as palavras do historiador Alberto Aggio, docente da Universidade Estadual Paulista e especialista em história da América Latina: “Dizer que foi preso quando estava virtualmente eleito é uma artimanha, em vez de tratar da defesa da democracia como princípio universal”.

O mínimo que podemos dizer é que falta clareza a Lula nesta pré-campanha. As dúvidas talvez se desfizessem se o pré-candidato petista à presidência se submetesse, com coragem, ao teste das ruas, fazendo uma caminhada em pleno dia pela Avenida Paulista.

*       Publicado originalmente no site do autor.

**    Ricardo Velez é Ex-Ministro da Educação do Brasil (2019). Formado em filosofia (licenciatura, mestrado e doutorado), pesquisa a história das ideias filosóficas e políticas no Brasil e na América Latina.


sexta-feira, 5 de julho de 2019

Bolsonaro, o sindicalista

Presidente demitiu general por ‘agir como sindicalista’, mas lidera pressão de policiais

O presidente Jair Bolsonaro, que jogou a reforma da Previdência no Congresso e foi para o conforto da arquibancada, entrou em campo aos 45 minutos do segundo tempo, não para ajudar, mas para atrapalhar. Em vez de desestimular pressões corporativas, o presidente liderou a pressão de policiais. Depois de acusar o general Juarez Cunha de “agir como sindicalista” e demiti-lo dos Correios, Bolsonaro age como sindicalista e insufla as reivindicações dos policiais, que querem condições especiais e equiparação aos militares na Previdência. [os militares sequer estão na reforma da Previdência:
 - os das Forças Armadas, cuja 'previdência' é objeto de um projeto de lei, enquanto a reforma é tratada em uma PEC;
- a previdência dos policiais militares será tratada pelos estados.
Pergunta que não quer calar: quantos votos teve o general Juarez? - que Bolsonaro, corretamente, demitiu dos Correios.]
MANIFESTAÇÃO - Passeata em Brasília: Moro virou Super-Homem (Luciano Freire/Futura Press)
[o presidente da República Federativa do Brasil é SINDICALISTA dessa multidão e mais MILHÕES e MILHÕES de brasileiros.] 

A profissão de policial é, de fato, desgastante e perigosa num país conflagrado como o Brasil. E o que falar de médicos e enfermeiros de hospitais públicos? De lixeiros que carregam peso madrugadas inteiras, descendo e subindo em caminhões? E de trabalhadores em minas e outros locais insalubres? [perguntamos: e o que falar dos professores que além dos salários baixos, péssimas condições de trabalho - que inclui até mesmo ser agredidos por alunos?
Oportuno ter presente que os policiais pelos quais Bolsonaro OPINA por um tratamento condizente com a realidade enfrentada no dia a dia, não se restringe aos do Rio e sim de todo o Brasil - policiais federais, tanto os da PF quanto os da PRF.]

Por que os policiais são diferentes? Simples. Eles têm apoio do presidente, em quem sempre votaram no Rio, foram leais em 2018 e estão encastelados no seu partido, o PSL. Então, todos têm de dar sua cota de sacrifício, menos os amigões e a base de Bolsonaro. Ao enviar ao Congresso uma proposta diferenciada para as Forças Armadas, o governo pôde pelo menos alegar que são condições muito específicas e a defasagem salarial vem de muitos anos. Na reta final da comissão, Bolsonaro ainda tentou equiparar as situações, alegando que os policiais “nunca tiveram privilégios”. Não é bem assim. Que outras categorias se aposentam aos 50 anos, com salário integral? [até o presente momento, inúmeras categorias se apresentam com paridade e integralidade, até mesmo antes dos 50 anos - por óbvio, vindo a ser a reforma aprovada da forma atual, ocorrerão mudanças.
 
Somos contrários à inclusão dos policiais legislativos, visto que exercem funções meramente burocráticas, na hora do conflito de verdade, eles chamam a polícia.]

Os policiais federais, rodoviários federais e legislativos estavam, e estão, no papel deles de pressionar, brigar por condições especiais e bater em todas as portas. Quem vai à residência oficial do deputado Rodrigo Maia se depara, já na enorme mesa da sala de jantar, com várias pastas, separadas por temas. A maioria delas tem o carimbo de categorias de policiais. Mas Maia, o presidente da comissão, Marcelo Ramos, e o relator, Samuel Moreira, pensam no macro: se cedessem para uma categoria, seriam alvo fácil de todas. A reforma viraria pó.

Depois de atuar firmemente a favor da reforma e no fim criticar o primeiro relatório da comissão, o ministro Paulo Guedes saiu de campo, parou de dar entrevistas e foi para a arquibancada, de onde Bolsonaro jamais saiu durante toda a longa e sofrida negociação. O ministro aguentou firme e só voltou a se manifestar em público ontem, com a aprovação do relatório na comissão. Mas Bolsonaro fez o oposto. Distante, como se não tivesse nada a ver com isso, o presidente se recusou a liderar as negociações da reforma, empurrando todo o peso nas costas de Rodrigo Maia, e ainda continuou cutucando o Congresso e os políticos, enquanto eles faziam das tripas coração para aprovar algo fundamental para o País.

A reforma deve ser aprovada na Câmara, ainda em julho, [a ver.] e no Senado, no segundo semestre. E depois? Como será a relação do presidente com o Congresso, do qual, aliás, ele fez parte por inexpressivos 28 anos? Além de ter dois projetos rejeitados no Supremo, Bolsonaro já perdeu três vezes no Senado e retirou os decretos das armas para evitar a derrota na Câmara. É hora de o presidente recompor suas relações institucionais, para não enfrentar tempos difíceis pela frente. Mas não assim, abandonando a reforma da Previdência durante meses e entrando nela nos últimos dias – e na contramão, a favor do corporativismo que Guedes atribuíra à Câmara.

Por último, a posse do general Luiz Eduardo Ramos na Secretaria de Governo e a aprovação da reforma na Comissão Especial definem o destino do deputado Onyx Lorenzoni no governo. Se seguir o conselho do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também do DEM, ele se demite, antes que seja demitido.
 
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
 
 

domingo, 16 de junho de 2019

Silêncio profano

Presidente do Sindicato Rural de Rio Maria (PA) foi assassinado no final da tarde de terça-feira passada 

 

O presidente do Sindicato Rural de Rio Maria (PA), Carlos Cabral Pereira, foi assassinado no final da tarde de terça-feira passada, abatido com um tiro na cabeça quando voltava de moto para casa. Cabral é o terceiro sindicalista morto na cidade desde 1985. Todos perderam a vida em razão de questões fundiárias. Ele próprio já havia sido objeto de um atentado, em 1991, quando foi alvejado na perna. Rio Maria fica na região conhecida como Bico do Papagaio, que abrange o norte do Tocantins, o leste do Pará e o sudoeste do Maranhão, onde se acumulam histórias de violência no campo.

Apesar de ser parte de uma estatística macabra que comove o Brasil desde 1988, quando o seringueiro e sindicalista Chico Mendes foi assassinado em Xapuri, no Acre, a morte de Cabral quase passou despercebida. Dos poderes constituídos, apenas o Ministério Público Federal se manifestou. Por dever de ofício, anunciou que vai acompanhar as investigações da morte do sindicalista. Não se ouviu uma palavra sequer do presidente da República ou de seus ministros da Justiça, da Agricultura e dos Direitos Humanos. [na semana passada morreram assassinados mais de 500 pessoas - fato que,  infelizmente, é rotina no Brasil;
o número elevado de mortes impede que o presidente da República e seus ministros se manifestem - por uma questão da tão decantada igualdade, teria que haver uma manifestação por cada morte ocorrida.] 

De Jair Bolsonaro não devia se esperar qualquer manifestação mesmo. O presidente defende um campo armado para que os proprietários possam defender suas terras a bala. [o direito à propriedade é garantido pela Constituição e os proprietários podem e devem defender suas propriedade de invasores usando os meios necessários e eficazes.] Mas por que as ministras Damares Alves e Tereza Cristina não se manifestaram? Damares é ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Tereza chefia a pasta da Agricultura. Também nada se ouviu de Sergio Moro. Talvez porque o ex-juiz estivesse no meio do seu inferno particular, que começou a arder no domingo com as revelações de seus diálogos com o procurador Deltan Dallagnol.

O Estado brasileiro sempre se manifestou em assassinatos de outros sindicalistas, líderes e ativistas rurais e religiosos, como o padre Josino Tavares e a irmã Dorothy Stang. O governo mudou, o Estado mudou, tem outro caráter. Mas o que se verificou agora, com a morte de Carlos Cabral, é que ONGs também mudaram, assim como os partidos políticos que sempre se posicionaram a favor do sindicalismo rural e, obviamente, contra a violência no campo.

O PT praticamente ignorou o assassinato. Apenas o senador Paulo Rocha (PT-PA) foi à tribuna falar. Talvez porque seja paraense como o sindicalista morto. Mesmo assim, ele se referiu a dois fatos ocorridos no seu estado no mesmo dia. Em primeiro lugar, segundo o portal Senado Notícias, Rocha fez referência a uma ordem de despejo contra 212 famílias que ocupam fazendas em Eldorado dos Carajás. Só depois referiuse ao sindicalista morto. Talvez o silêncio do PT deva-se ao fato de Cabral ter apoiado Bolsonaro na eleição do ano passado.

De ONGs que apoiam trabalhadores rurais também pouco se ouviu nestes últimos dias. Pode ser que estas organizações não tenham dado a atenção que o caso merecia porque Carlos Cabral estava envolvido em uma ocupação ilegal das terras indígenas dos apyterewa, que também estão invadidas por outros grupos. Mas era uma ocupação coletiva, feita por trabalhadores sem espaço para plantar. Sua morte pode estar ligada a esta invasão.

Apesar de liderar trabalhadores sem-terra, somente o MST regional se manifestou lamentando a morte de Carlos Cabral em nota assinada pela “coordenação estadual” da organização no Pará. Não aparece nenhum nome para se associar ao do ruralista morto. Da mesma forma, nenhuma palavra se ouviu de João Pedro Stedile, o líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Outros tempos, outra orientação política. Sete ruralistas foram assassinados na região de Rio Maria desde o início do ano por questões fundiárias. [questões fundiárias  é uma denominação que na maior parte das vezes disfarça a resistência de um proprietário aos invasores de sua terra.] O silêncio em torno dessas mortes é quase profano.
 


domingo, 19 de maio de 2019

A recessão e a ameaça

Sem as reformas, mais cedo ou mais tarde estarão todos, em Brasília ou no Twitter, brigando apenas pelos escombros de um país falido

Na terça-feira, dia 14, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pela manutenção da taxa Selic em 6,5%, fez um alerta grave: a retomada da atividade econômica parou. Para piorar a situação, é possível que o Produto Interno Bruto do primeiro trimestre de 2019 tenha recuado na comparação com o último trimestre de 2018 – o aviso que constava da ata foi reforçado pelo dado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, divulgado um dia depois do texto do Copom e que apontou retração de 0,68%. Se o recuo for confirmado pelo IBGE em 30 de maio, seria o primeiro desde o quarto trimestre de 2016 e, se houver nova retração neste segundo trimestre de 2019, estaríamos mais uma vez em recessão.
Antes da divulgação da ata do Copom e do IBC-Br, o mercado financeiro já havia reduzido mais uma vez suas expectativas para o crescimento da economia brasileira em 2019. O mais recente Relatório Focus, divulgado às segundas-feiras e que registra as previsões de dezenas de instituições financeiras, estima um crescimento de 1,45% para o PIB deste ano – é a 11.ª redução seguida na previsão, que superava os 2,5% em janeiro deste ano, durante os primeiros dias do governo Bolsonaro. Os números preocupantes da economia nacional não deixam muitas dúvidas sobre qual é a grande ameaça para o Brasil de hoje. Não são os tuítes agressivos e desbocados do filósofo Olavo de Carvalho; nem a sanha da ala militar do governo, que busca ampliar sua influência (que já não é pequena) avançando sobre pastas como o MEC e o Itamaraty, como no caso recente das mudanças na Apex; nem a incontinência verbal dos filhos de Jair Bolsonaro; nem mesmo a esquerda, que mantém seu poder de mobilização – seria ingenuidade pensar o contrário –, mas não consegue esconder o fato de que seus protestos usam plataformas relevantes, a exemplo da educação, como mero pretexto para retomar o “Lula livre”. Todos esses elementos servem, sim, para causar e alimentar instabilidade, mas nada será tão fatal para o país quanto a paralisação total da economia.

Para tentar destravar a atividade econômica e estimular a geração de emprego, Bolsonaro tem feito o possível, como no caso da MP da Liberdade Econômica. As mudanças que o governo quer implantar nas normas de segurança do trabalho, se forem bem feitas, também podem tirar cargas desnecessárias das costas do setor produtivo, especialmente do microempresário. Mas o Executivo só pode agir por conta própria até certo ponto. As grandes mudanças dependem do Congresso, e não é segredo para ninguém que os investidores internos e externos continuam esperando o desfecho das reformas, especialmente a previdenciária.

No Legislativo, podemos até apontar a fraqueza de um PSL que, embora tenha a maior bancada na Câmara, não consegue se impor como bloco político coeso em defesa das plataformas de Bolsonaro. Mas o grande risco atende pelo nome de Centrão, aquele bloco difuso de legendas cuja única ideologia é o “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e que tem número suficiente para bloquear o programa econômico de Bolsonaro e Paulo Guedes. Insatisfeito por não ver sua sede de cargos saciada pelo Planalto, o Centrão já fez uma demonstração de força – talvez “chantagem” seja uma palavra mais adequada – durante a tramitação da MP da reforma que mudava a estrutura do governo. O grupo impôs derrotas a Bolsonaro, forçando o retorno de alguns ministérios que tinham sido extintos e incluindo no texto mudanças que dificultam o combate à corrupção, em evidente retaliação contra o ministro Sergio Moro.

E o Centrão já deu mostras de que pode repetir a dose, impedindo o enxugamento do Estado, a pauta de privatizações e as reformas. Em 1.º de maio, o deputado e líder sindical Paulinho da Força (SD-SP) disse para quem quisesse ouvir que o objetivo era desidratar a reforma da Previdência de forma a impedir a reeleição de Bolsonaro em 2022 – em outras palavras, a reforma não poderia ser tão boa a ponto de gerar um crescimento econômico que rendesse dividendos eleitorais ao presidente. Por mais que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tivesse rapidamente afirmado que a opinião de Paulinho não é majoritária no Centrão, só a tramitação da reforma na Comissão Especial e no plenário mostrará quem tem razão – e o sindicalista nem precisa convencer a maioria dos colegas; basta que traga para seu lado deputados suficientes para negar ao governo os votos de que ele necessita. E talvez nem seja preciso esperar tanto: a notícia, divulgada na tarde de sexta-feira, de que os deputados pretendem enviar um projeto alternativo de reforma da Previdência já entrega o jogo do Centrão.

É preciso trazer à luz a irresponsabilidade de quem se mostra disposto a sacrificar o país em nome dos próprios interesses. E o governo tem um desafio hercúleo, o de não abrir mão de seus princípios enquanto supera suas dificuldades de articulação e aprende a negociar com quem parece só entender a linguagem do fisiologismo – pois negociar é preciso, pelo simples fato de que hoje o governo não tem 308 votos na Câmara, nem 49 no Senado. Certo é que, sem as reformas, mais cedo ou mais tarde estarão todos, em Brasília ou no Twitter, brigando apenas pelos escombros de um país falido e pelas mentes de dezenas de milhões de desempregados que terão preocupações muito mais urgentes que qualquer guerra cultural que porventura esteja em curso.


Editorial - Gazeta do Povo

 


segunda-feira, 25 de março de 2019

Bolsonaro quer reforma?

Amadorismo na política e corporativismo militar são riscos à aprovação da proposta

Poucos presidentes na história recente do Brasil tiveram a oportunidade de, com uma única ação, definir o sucesso de seu governo e ter quatro anos de relativa tranquilidade econômica e política. Mas Jair Bolsonaro não enxerga a reforma da Previdência como prioridade. E aí reside um risco enorme não só à aprovação da medida, mas ao êxito de seu quadriênio presidencial. Na transmissão ao vivo que fez do Chile na última quinta-feira, Bolsonaro explicitou exatamente o que pensa do assunto: por ele, não gostaria de fazer reforma nenhuma. Mais: o presidente da República voltou a agir como um sindicalista, se referindo aos militares como “nós” e defendendo a forma excepcionalíssima com que as Forças Armadas foram tratadas na discussão da reforma. [comentário 1: o 'nós' é normal entre os militares - quem foi, ou é militar, sempre será;
o lema da PE -  Uma vez PE! Sempre PE! - vale para qualquer uma das Forças, seja singular ou auxiliar.]

A má vontade com que encaminha o projeto se traduz no desastre da articulação política. Nem o PSL, a colcha de retalhos em forma de partido à qual hoje o presidente é filiado, tem manifestado apoio firme à reforma. Insistindo no discurso vazio de que não cederá à velha política para negociar, Bolsonaro corre o risco de perder o principal interlocutor pró-reforma hoje, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ainda que tenha procurado reduzir o tom nas últimas entrevistas, o presidente da Câmara deixou claro o que pensa do governo: um deserto de ideias mais preocupado com o Twitter que em resolver os problemas do País, como desemprego e pobreza. E ele está correto no diagnóstico.

Isso fica evidente quando um dos assessores diretos do presidente, Filipe Martins, faz no mesmo Twitter uma série de posts com pretensão de alta filosofia política em que identifica uma suposta ala “anti-establishment” no governo, que seria a chave para, com base em mecanismos próprios de democracia direta, promover uma mobilização popular permanente via redes sociais capaz de pressionar o Congresso a aprovar as agendas do governo, entre elas a reforma.Trata-se de um diagnóstico absolutamente descolado da realidade, típico de alguém que nunca acompanhou os meandros do Legislativo e ignora as diferentes realidades sociais de um país complexo como o Brasil, no qual a militância virtual é uma ínfima e irrelevante fração. [comentário 2: a Venezuela se f ... foi com a tal democracia direta - primeiro passo para o governo plebiscitário.
o nosso presidente precisa dizer a esse seu assessor que a hora é oportuna para reformas, os diagnósticos de outros problemas e soluções ficam para depois e serão feitos por quem de direito - o que não inclui o Martins.]


Mas Bolsonaro está preso a essa quimera. Três meses depois de empossado segue acreditando que o discurso ideológico de Foro de São Paulo para cá, ideologia de gênero para lá será capaz de lhe garantir governança. A ponto de chegar ao ridículo, sem ter ninguém que o alerte para tal, de repetir essas platitudes em plena Casa Branca. E desdenha dos índices que mostram rápido derretimento de sua popularidade no mundo real, aquele em que as pessoas precisam de emprego e a economia continua travada. Além de viver a ilusão de que é possível governar a partir das redes sociais, o presidente dá corda ao corporativismo militar. Por mais que as Forças Armadas estejam com suas carreiras e seus soldos defasados, fazer essa reestruturação concomitantemente com a inclusão dos militares na reforma foi um tiro no pé.

Como defender um discurso de que a reforma foca em privilégios se o ganho com o aperto no Benefício de Prestação Continuada, que atinge os mais pobres, responderá por uma fatia bem maior do sacrifício que exigido dos poderosos militares? Não há como, e isso ficou patente no semblante derrotado dos outrora confiantes técnicos do Ministério da Economia, que viram o esforço de narrativa virtuosa da reforma ir por terra. Com o amadorismo na política e o corporativismo renitente de Bolsonaro, a reforma corre risco. Mas não parece haver humildade nem sabedoria da cúpula do governo, com exceção da “ilha” Paulo Guedes, para mudar o rumo e salvar o único projeto capaz de definir o sucesso da administração.

domingo, 14 de maio de 2017

Wanderléa

Não sei o que está sendo investigado do Maluf. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia

Há dias li a notícia de uma investigação envolvendo o Paulo Maluf e fui tomado por uma emoção parecida com a que senti ao descobrir que a Wanderléa está viva, ainda cantando e bonitinha como nos tempos da Jovem Guarda, lembra? 

[- Atualizando, sobre PAULO MALUF: Depois de ser duas vezes candidato à Presidência, prefeito de São Paulo outras duas, governador do Estado paulista e quatro vezes deputado federal, Paulo Maluf (PP-SP) - nome civil: PAULO SALIM MALUF - , aos 84 anos, diz preferir o último posto. "Vou cumprir este mandato de deputado federal em 2018, aos 87 anos. Se estiver com boa saúde, não preciso fazer campanha para deputado. É só dizer que sou candidato que estou eleito. Executivo não tem mais", diz. 
E completa: "(Ser) deputado é tranquilo: trabalho terça, quarta e quinta metade do tempo. Faço de conta que estou trabalhando."

- Atualizando sobre Wanderléa:  nasceu em junho 1946, 70 anos, a eterna Ternurinha, estreou na carreira aos 7 e que lançou seu primeiro álbum aos 17.
Wanderléa fez 70 anos e celebra o passado, reflete sobre tragédias pessoais e faz projeções para o futuro
"Eu só queria mesmo era ser livre. Acredito que com o meu jeito eu tenha contribuído para a soltura e para a autoestima da mulher brasileira", diz ela.]

Uma sensação de surpresa seguida de nostalgia e, confesso, até um certo enternecimento.

O velho Maluf, que o mundo parecia ter esquecido, ainda vivo, ativo — e solto. Deu saudade do tempo em que ele era uma espécie de corrupto oficial do Brasil, o suspeito de sempre, que inocentava toda a classe política nacional pelo contraste.  Ninguém era tão corrupto quanto ele. E como sua corrupção mais do que provada nunca deu cadeia e tornou-se até folclórica, ele também representava a tolerância histórica, o deixapralaísmo e o roubamasfazismo do brasileiro com a corrupção, até virem os tempos de Moro.

E houve uma reversão: antes Maluf inocentava os outros políticos porque nenhum conseguiria concentrar tanta corrupção quanto ele, hoje é tanta a corrupção revelada e generalizada que Maluf, pelo contraste, parece um amador.  Não sei o que está sendo investigado do Maluf, agora. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia. Parece que a investigação atual nada tem a ver com a inquisição de Curitiba.

Espantosamente, a operação Lava-Jato não se interessou pelo passado e pelas contas do Maluf, que deve estar se sentindo desprezado. E, decididamente, ultrapassado.

Cabelos
Planejando o assassinato de Júlio César, na peça de Shakespeare, os conspiradores discutem se devem ou não incluir Cícero no grupo. Um deles opina que os cabelos brancos de Cícero “nos trarão uma boa opinião, e comprarão a voz dos homens a nosso favor”.
Pensei no Lula, que deve a respeitabilidade que lhe permitiu ser eleito em 2002 em parte à sua barba branca, diferente da barba negra sindicalista que assustava tanta gente.

Há quem diga que foi a carta apaziguadora aos brasileiros que elegeu Lula pela primeira vez, outros dizem que foi o fastio com o governo Fernando Henrique. Eu sustento que foi a barba branca. Se deixarem o Lula ser candidato de novo em 2018, ele precisará, acima de qualquer outro requisito, de ainda mais cabelos brancos como os de Cícero.

Fonte: Luis Fernando Veríssimo - Transcrito do Blog do Noblat - O Globo