Exército e governo, tudo a ver
Quando se quer demitir alguém, qualquer fato ou coleção de fatos serve. E
se os fatos em estado puro não prestam, é sempre possível distorcê-los
ao gosto do dono da caneta. Foi o que fez “o nosso presidente”, como o chama seu porta-voz, o
general Rego Barros. Ou o “capitão”, como insiste em chamá-lo o demitido
ministro Gustavo Bebianno. A verdadeira, ou as verdadeiras razões do presidente Jair Bolsonaro para
despachar aquele que foi seu faz tudo desde o início da campanha do ano
passado, essas permanecem ocultas.
É claro que Bebianno não foi demitido porque iria receber no Palácio do
Planalto um diretor da Rede Globo, por mais que Bolsonaro a trate como
inimiga do seu governo. [as sucessivas reportagens da Rede Globo (bem como as 'manchetes' e 'chamadas') sempre destacam trechos que podem ser interpretados como falhas do governo Bolsonaro é uma prova eloquente de que isenta ou a favor do governo do nosso presidente a Globo não é.
Os diálogos deixam claro que Bebianno tinha prazer, fazia questão, em agir em desacordo com as determinações do presidente da República, que apesar de muitos discordarem, é Jair Bolsonaro.]
Nem porque teria vazado para o site Antagonista o que já fora publicado
pelo jornal Folha de S. Paulo. Muito menos porque viajaria à Amazônia na
companhia de mais dois ministros. Para quem, como diz Bolsonaro, nada tem a ver com o escândalo das falsas
candidaturas do PSL, a menção que ele faz ao episódio pode ser uma
pista razoável da causa de saída de Bebianno. Melhor dizendo: de uma das causas, mas não a determinante. Carlos
envenenou o pai com a suspeita de que Bebianno vazara informações sobre
as ligações da família com milicianos no Rio.
Envenenara-o também com a suspeita de que Bebianno queria derrubar
Flávio com os rolos de Queiroz para pôr no lugar o seu suplente, o
empresário Paulo Marinho, amigo do ex-ministro. Doses tão reforçadas de veneno injetadas num cérebro tão pouco
privilegiado como o do capitão produziram lá o seu efeito, admita-se.
Mas ainda parece faltarem mais coisas. Quem ganhou com a deposição de Bebianno – fora Carlos, o paranoico, o
protetor número um do pai ao invés de limitar-se a ser o protegido
número um por ele?
Com certeza, a ala militar do governo ganhou. Sim, ela mesma, que nos
últimos dias pareceu ter ficado ao lado de Bebianno com receio de que a
saída precoce dele desgastasse o governo. A demissão de Bebianno reforçou a turma da caserna com a ascensão de
mais um general de pijama ao posto de ministro. Agora são 8 os ministros
que um dia vestiram farda. Nunca antes na história do país tantos militares ocuparam funções antes
destinadas a civis. Nos três últimos governos militares do ciclo de 64
foram apenas sete ministros.
Está tudo muito bom, está tudo muito bem para os que sonhavam com o
retorno ao poder desta vez por meio do voto, mas o futuro a Deus
pertence. E se ele não for róseo para o governo… [morte desejada, vida alcançada - vale o mesmo para o insucesso e sucesso;
fácil perceber que todos os rolos havidos até agora envolvem civis, os militares não se envolvem nessas pendengas - vale lembrar que os filhos do nosso presidente, causadores da maioria dos rolos, são civis.]
Se não for será um desastre para as Forças Armadas, principalmente para o
Exército, que ajudaram um ex-capitão sem brilho a se eleger e, em
seguida, a governar. Não dá para separar mais o Exército do governo como disse desejar o
general Vilas Bôas que o comandou até há pouco. Villas Bôas, hoje, serve
no Palácio do Planalto e obedece ao capitão. A jogada dos generais foi arriscada. A imagem do Exército está
indissoluvelmente atada à do governo Bolsonaro. Para o bem ou para o
mal. Tomara que seja para o bem.
Brasil acima de tudo. O Deus de cada um acima de todos.
[o brado acima sofreu uma leve adaptação, mas, mesmo assim preferimos:
BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
O Tudo abrange o todos.]
Blog do Noblat - Revista VEJA