O espírito revolucionário no Palácio do Planalto
Exército
de robôs faria operação clandestina de defesa
O governo deveria fazer uma revolução
apoiada por robôs. É o que sugere um documento obtido no Palácio do Planalto
pelos repórteres Valmar Hupsel Filho e Ricardo Galhardo, aparentemente
produzido pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Ontem, ao
reconhecê-lo, a presidente preferiu qualificar como “não oficial”.
Desde os
manuscritos em papiro, sabe-se que papel
aceita tudo — inclusive estas linhas. Nesse
documento “não discutido pelo governo”,
segundo a presidente, escreveram-se mais
de 1.500 palavras, para a reflexão de Dilma Rousseff nas 48 horas seguintes
ao desfile de multidões nas ruas de 160 cidades, na noite de domingo, e ao
panelaço que se estendeu na noite de segunda-feira. Ele contém um receituário de pílulas para a presidente atônita com o ruído
das ruas, num país em que não
existe crise institucional — apenas um governo sem
rumo e com menos de três meses de mandato realizado.
Sugere aspirinas de obviedades: “Não
adianta falar que a inflação está sob controle, quando o eleitor vê o preço da
gasolina subir 20% de novembro para cá ou a sua conta de luz saltar em 33%.” Ou ainda: “É preciso aceitar a mágoa desses eleitores (insatisfeitos),
reconquistá-los.” Seu grande momento é a proposta de
meios para reversão da crítica coletiva a Dilma, a Lula
e ao Partido dos Trabalhadores. No texto — por sinal, mal escrito —, propõe-se a
criação de um autêntico exército de robôs para uma operação clandestina de
defesa, em regime de prontidão
permanente, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Atuaria
de forma oculta, ardilosa, em missões típicas de sapadores: “A
guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser
disparada por soldados fora dele.” Argumenta-se que o crescimento da insatisfação se
deu no período pós-eleitoral. Em confissão, lembra-se nesse documento “não oficial”, que “a partir de novembro, as redes sociais
pró-Dilma foram murchando até serem quase extintas”.
“Principal vetor de
propagação do projeto dilmista nas redes, o site Muda Mais acabou” — acrescenta. “Os robôs que
atuaram na campanha foram desligados e a movimentação dos candidatos do PT foi
encerrada.” Em contrapartida,
“a tática do PSDB foi exatamente a
oposta”. Alega-se: “Cerca de 50 robôs
usados na campanha de Aécio continuaram a operar mesmo depois da derrota de
outubro. Isso significou um fluxo contínuo de material anti-Dilma, alimentando
os aecistas e insistindo na tese do maior escândalo de corrupção da História,
do envolvimento pessoal de Dilma e Lula com a corrupção na Petrobras e na tese
do estelionato eleitoral. Tudo com suporte avassalador da mídia tradicional.” [quem mais fornece material anti-Dilma e anti-PT é a própria
‘neurônio solitário’ e a petralhada; Dilma e o PT são insuperáveis na
capacidade de produzir o que não presta.]
“Em estimativas iniciais” — continua —, “a manutenção dos robôs do PSDB, a geração de conteúdo nos sites
pró-impeachment e o pagamento pelo envio de WhatsApp significaram um gasto de quase
R$ 10 milhões entre novembro e março. Deu resultado. Em fevereiro as
mensagens/textos/vídeos oposicionistas conseguiram a capacidade de atingir 80
milhões de brasileiros. As páginas do Planalto mais as do PT, 22 milhões. Ou
seja, se fosse uma partida de futebol, estamos entrando em campo perdendo de 8
a 2.” [a necessidade do impeachment da ainda
presidente é alimentada pela sua notória incomPTencia e a desonestidade que tão
bem caracteriza a petralhada.
Dilma renunciasse, com Temer
assumindo, os pedidos de impeachment seriam retirados, mesmo Michel Temer tendo
sido beneficiado pela campanha mentirosa e nojenta feita pela cabeça da sua
chapa.]
Conclui: “De um lado, Dilma e Lula são acusados pela
corrupção na Petrobras e por todos os males que afetam o país. Do outro,
a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender
o ajuste na economia. Não é uma goleada. É uma derrota por W.O..”
Em meio à crise, alguém
no Palácio do Planalto produziu e levou à presidente um documento “não oficial” propondo-lhe
enfrentar os protestos nas ruas liderando uma revolução com um exército
clandestino de robôs. Dilma não
deveria perder a chance de mandar imprimir uma placa e deixá-la à vista na sua
sala de trabalho: “Errar é humano, mas,
para se produzir um monstruoso erro, é preciso um computador.” Depois, pode cair na gargalhada.
Fonte: José Casado – O Globo