O
que Havana simboliza para Lula é muito semelhante ao que a Terra Santa
representa para os cristãos. Tais destinos são peregrinações, coisas de
devoção.
Nos séculos XI e XII, os cristãos promoveram sucessivas
cruzadas para libertar Jerusalém do domínio sarraceno.
O solitário apoio
ao regime cubano significa algo semelhante: proteção do sagrado
comunismo frente a permanente ameaça capitalista.
A conta é paga pelos
trabalhadores e pagadores de impostos brasileiros.
Como temos
um presidente itinerante, que não esquenta lugar, verdadeiro papa-léguas
em lua de mel, lá foi Lula a Havana encontrar-se com seu passado
quando, em 2009, pelas barbas do profeta Fidel, decidiu regalar-lhe um
porto zero quilômetro, da grife Odebrecht.
A fé
política é um desastre quando substitui a fé em Deus. Nessa condição
missionária, Lula (e os governos de esquerda) sempre ofereceram e
continuarão oferecendo incondicional proteção diplomática a seus irmãos
de fé política.
O Brasil esquerdista, por exemplo, desaprova quaisquer
manifestações de colegiados internacionais em relação às violações de
direitos humanos sempre em curso naquele legendário país.
O Brasil
esquerdista faz negócios que desagradam os brasileiros, mas são
festejados entre os beneficiados como uma alvorada sobre as ruinas do
apocalipse.
Só os fiéis
dessa igrejinha política não sabiam que o empréstimo para construção do
Porto de Mariel seria pendurado num prego. O país não tem dólares para
pagar. Sua balança comercial é permanentemente deficitária. Para cada
três ou quatro dólares que importa, exporta um dólar.
Na excelente
instalação paga pelo Brasil, a maior obra de infraestrutura em Cuba,
quase não há o que exportar. Metade da área está vazia.
Enquanto
Cuba for um país comunista, inimigo dos Estados Unidos, será visto pelos
norte-americanos exatamente conforme seus dirigentes políticos afirmam
de si mesmos ao longo de 63 anos, em todas as suas manifestações.
É
conversa fiada afirmar que Cuba voltaria a ser a Pérola do Caribe, como
efetivamente era no começo do século passado, se acabasse o bloqueio.
Que bloqueio é esse que não impediu o Brasil de levar um porto inteiro
para lá?
Bloqueio que não impede Cuba de importar da China, Espanha,
Rússia, Brasil, México, Itália e Estados Unidos (sim, os próprios EUA
são o 7º país que mais exporta para lá).
O problema é que, com medo de
calote, alguns só vendem mediante pagamento à vista e nenhum investidor
sensato vai colocar dinheiro naquele formato de Estado.
O governo
Lula assinou um contrato que previa, na falta de meios, ser ressarcido
em charutos.
Ou seja, Lula II sabia o que estava fazendo em 2009, mas
delirou com a ideia de criar, na Cuba comunista, um porto fervilhante de
oportunidades e negócios que, impenitentes, só aparecem em regimes
econômicos capitalistas.
O estado
cubano e seu regime são uma lição ao mundo.
As elites comunistas
preferem seu povo enfrentando desnecessárias privações a reconhecer os
próprios erros.
Passadas seis décadas, esse discurso que inculpa os EUA
não tem um fiapo que o mantenha no ar.
Em 2019, o parlamento da Ilha
aprovou uma nova Constituição (produto da experiência de 60 anos!) cujo
artigo 5º acaba com o futuro da Castro&Castro Cia Ltda, cujo CEO,
hoje é o senhor Díaz-Canel.
O Partido
Comunista de Cuba, único, martiano, fidelista e marxista-leninista, a
vanguarda organizada da nação cubana, sustentada em seu caráter
democrático e em sua permanente ligação com o povo, é a força motriz
dirigente superior da sociedade e do Estado.
Sabe quando um país assim pagará ao Brasil os US$ 261 milhões que deve? Vai um charuto aí, leitor?
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.