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terça-feira, 19 de setembro de 2023

A peregrinação de Lula - Percival Puggina

        O que Havana simboliza para Lula é muito semelhante ao que a Terra Santa representa para os cristãos. Tais destinos são peregrinações, coisas de devoção. 
Nos séculos XI e XII, os cristãos promoveram sucessivas cruzadas para libertar Jerusalém do domínio sarraceno. 
O solitário apoio ao regime cubano significa algo semelhante: proteção do sagrado comunismo frente a permanente ameaça capitalista. 
A conta é paga pelos trabalhadores e pagadores de impostos brasileiros.

Como temos um presidente itinerante, que não esquenta lugar, verdadeiro papa-léguas em lua de mel, lá foi Lula a Havana encontrar-se com seu passado quando, em 2009, pelas barbas do profeta Fidel, decidiu regalar-lhe um porto zero quilômetro, da grife Odebrecht.

A fé política é um desastre quando substitui a fé em Deus. Nessa condição missionária, Lula (e os governos de esquerda) sempre ofereceram e continuarão oferecendo incondicional proteção diplomática a seus irmãos de fé política. 
O Brasil esquerdista, por exemplo, desaprova quaisquer manifestações de colegiados internacionais em relação às violações de direitos humanos sempre em curso naquele legendário país. 
O Brasil esquerdista faz negócios que desagradam os brasileiros, mas são festejados entre os beneficiados como uma alvorada sobre as ruinas do apocalipse.
 
Só os fiéis dessa igrejinha política não sabiam que o empréstimo para construção do Porto de Mariel seria pendurado num prego. O país não tem dólares para pagar. Sua balança comercial é permanentemente deficitária. Para cada três ou quatro dólares que importa, exporta um dólar. 
Na excelente instalação paga pelo Brasil, a maior obra de infraestrutura em Cuba, quase não há o que exportar. Metade da área está vazia.
 
Enquanto Cuba for um país comunista, inimigo dos Estados Unidos, será visto pelos norte-americanos exatamente conforme seus dirigentes políticos afirmam de si mesmos ao longo de 63 anos, em todas as suas manifestações. 
É conversa fiada afirmar que Cuba voltaria a ser a Pérola do Caribe, como efetivamente era no começo do século passado, se acabasse o bloqueio. Que bloqueio é esse que não impediu o Brasil de levar um porto inteiro para lá? 
Bloqueio que não impede Cuba de importar da China, Espanha, Rússia, Brasil, México, Itália e Estados Unidos (sim, os próprios EUA são o 7º país que mais exporta para lá).  
O problema é que, com medo de calote, alguns só vendem mediante pagamento à vista e nenhum investidor sensato vai colocar dinheiro naquele formato de Estado.
 
O governo Lula assinou um contrato que previa, na falta de meios, ser ressarcido em charutos. 
Ou seja, Lula II sabia o que estava fazendo em 2009, mas delirou com a ideia de criar, na Cuba comunista, um porto fervilhante de oportunidades e negócios que, impenitentes, só aparecem em regimes econômicos capitalistas.
 
O estado cubano e seu regime são uma lição ao mundo.  
As elites comunistas preferem seu povo enfrentando desnecessárias privações a reconhecer os próprios erros. 
Passadas seis décadas, esse discurso que inculpa os EUA não tem um fiapo que o mantenha no ar. 
Em 2019, o parlamento da Ilha aprovou uma nova Constituição (produto da experiência de 60 anos!) cujo artigo 5º acaba com o futuro da Castro&Castro Cia Ltda, cujo CEO, hoje é o senhor Díaz-Canel.

O Partido Comunista de Cuba, único, martiano, fidelista e marxista-leninista, a vanguarda organizada da nação cubana, sustentada em seu caráter democrático e em sua permanente ligação com o povo, é a força motriz dirigente superior da sociedade e do Estado.

Sabe quando um país assim pagará ao Brasil os US$ 261 milhões que deve? Vai um charuto aí, leitor?

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


sábado, 22 de maio de 2021

O dia em que Israel começou a morrer - O Globo

José Eduardo Agualusa

Vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gazagritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas 
 
[Qual a surpresa? são caças de última geração de um dos mais poderosos exércitos do mundo contra civis desarmados = misseis x estilingue.
Israel tem indiscutivelmente o direito de se defender de qualquer força militar que o ataque - mas se defender matando civis desarmados? , matando crianças e mulheres indefesas? derrubando prédios residenciais? Esse conceito de defesa é bem estranho?]

“Lançar uma bomba é mais uma confirmação do que uma refutação”, escreveu Jorge Luís Borges. “É como dar razão ao adversário, mas de um modo terrível”. A frase de Borges se instala na minha cabeça enquanto, na segurança do meu escritório, vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gaza gritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas.

Vivi num país em guerra civil, escutando justificações para atos injustificáveis. Os argumentos de quem comete esses crimes são sempre os mesmos: 1) ele começou primeiro. 2) ele fez pior. Eu, que durante todos esses anos de guerra civil nunca apoiei nem um lado nem outro — estive sempre do lado das crianças mortas —, passava horas me esforçando por mostrar o óbvio: 1) não interessa quem começou. 2) se, para combater um inimigo, você tiver de executar crimes idênticos, é porque já se transformou nele.

Dois inimigos podem não concordar em nada, mas estão de acordo no fundamental: em fazer a guerra. Ora, não há nada que aproxime tanto quanto a partilha da crueldade. É por isso que antigos combatentes gostam de se reencontrar e conviver, depois que a guerra termina. Estive — como jornalista — em alguns destes convívios. Ouvi muitos ex-militares recordando com saudade o tempo das lutas. Não raras vezes, tais convívios terminam por estender-se também aos antigos inimigos. No fim, acabam todos à mesma mesa, comendo e bebendo, recordando com alegria como se matavam uns aos outros.

Os pacifistas, esses sim, são o inimigo eterno dos beligerantes. Sem surpresa, quando uma guerra deflagra, aqueles que se opõe a ela costumam ser os primeiros a enfrentar o pelotão de fuzilamento. Para as partes em confronto, o pacifista é muito pior do que o inimigo, porque é inimigo da própria guerra.

Assim, estou consciente da pouca utilidade de argumentar contra uma guerra enquanto ela decorre. Não consigo, contudo, permanecer em silêncio diante daquilo que está ocorrendo na Faixa de Gaza. Primeiro, em razão da desigualdade de meios — que é, como quem diz, da desigualdade de mortos. Depois, porque quanto mais olho para Israel, nos dias de hoje, mais eu vejo a África do Sul do tempo do apartheid. Também os bôeresdescendentes de huguenotes holandeses e franceses expulsos da Europa — acreditavam na ideia de que Deus lhes oferecera o extremo sul da África como refúgio e terra santa.  
Armados dessa crença, expulsaram os povos nativos das suas terras, inventaram uma língua e um desígnio, alteraram a toponímia dos lugares, e criaram uma democracia onde só eles tinham direitos.  
O apartheid acabou caindo, e os descendentes desses bôeres estão agora expiando os pecados dos pais.

A 19 de julho de 2018, o Knesset aprovou uma lei consagrando Israel como uma “nação judaica”, e o hebreu como única língua oficial; isto, num país que tem 20% de cidadãos árabes. Foi nesse dia que Israel começou a morrer. Regimes assentes no ódio e em políticas de apartheid e exclusão dificilmente perduram. O ódio é fraca argamassa.

José Eduardo Agualusa, colunista - O Globo - Cultura

 

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Fanfarronadas têm um preço

A capitã do navio de africanos expôs o risco político do radicalismo xenófobo de Matteo Salvini

[os governantes tem como dever primeiro defender os seus governados e a capitã fez um ato que para ele pode ter sido exibicionismo, fanfarronice, bravata, mas, de fato foi um ATO DE GUERRA e a embarcação agiu como os piratas da Somália.

Ainda que desesperadora a situação dos 40 africanos, a capitã poderia ter escolhido outro porto, outro país; próximo ao porto invadido a brava capitã dispunha de portos em outros países que abrigam refugiados - qual a razão dela escolher o de um país que está dando preferência a cuidas dos seus naturais.

Aqui mesmo no Brasil, cada emprego que é dado a um venezuelano é um emprego a menos para um brasileiro.]

O retumbante Matteo Salvini, ministro do Interior da Itália, aprendeu uma lição. Quando o barco Sea Watch 3 entrou à força no porto de Lampedusa com 40 refugiados líbios, ele anunciou a prisão da capitã Carola Rackete com a teatralidade do radicalismo fanfarrão. A entrada do navio no porto teria sido um "ato de guerra" praticado por uma embarcação "pirata".

Os 40 africanos que haviam sido resgatados pelo Sea Watch em alto-mar seriam mais um lote de desesperados e Carola Rackete, mais uma ativista dessas ONGs que azucrinam os poderes estabelecidos. Nunca se sabe quando o vento da história sopra em cima de um poderoso da ocasião. O vento soprou em cima de Salvini.

O Sea Watch tem a bandeira holandesa e Carola Rackete é alemã. O ministro das Relações Exteriores de Berlim, Heiko Maas, pediu a libertação da marinheira: "Quem salva vidas não pode ser chamado de criminoso" —exatamente o que achou a juíza que ordenou sua soltura nesta terça (2). O governo da França classificou o ato de "histeria" e o presidente italiano recomendou que se baixasse a bola. Duas vaquinhas internacionais arrecadaram mais de 1 milhão de euros para ajudar a ONG do Sea Watch. [independentemente da bandeira do navio e da nacionalidade da comandante, o Sea Watch desrespeitou a soberania de um país, invadiu um porto. Com certeza esse um milhão de euros seria bem mais útil ajudando ao refugiados, do que ser doado a mais uma ONG.]

Os refugiados não precisam ficar na Itália e não era razoável que 40 pessoas ficassem à deriva no Mediterrâneo. As leis italianas pretendem conter o êxodo de refugiados africanos, na defesa dos interesses do país, e quando a marinheira desceu no cais de Lampedusa, populares chamaram-na de "vendida". Um deles gritou que ela devia ser estuprada pelos negros que transportou. Coisa dos tempos de hoje. No século passado os europeus fizeram coisas piores e em 1944 o governo italiano colou cartazes mostrando um soldado simiesco com o uniforme americano saqueando obras de arte. Deixar barcos em alto mar, chamando os tripulantes de piratas metidos em atos de guerra, é um triste retorno, e Salvini percorreu-o.

Isso era o que acontecia em 1947. O governo inglês capturava navios com judeus que seguiam para a Palestina. Depois, quando a saga do navio Exodus (com Paul Newman no papel principal) tornou-se um marco na vida de Israel, tiraram o corpo fora. Por trás do Sea Watch e das ONGs há uma rede de apoios e cumplicidades. A tripulação do barco tinha jovens franceses, holandeses e espanhóis. Nada de novo: havia uma rede clandestina e multinacional por trás de navios como o Exodus. (Nela militava Samy Cohn, que se tornou banqueiro e morreu no Brasil.) Há diferenças entre os refugiados judeus de 1947 querendo ir para a Terra Santa e os africanos de hoje querendo entrar na Europa, mas o ministro alemão que defendeu a libertação de Carola Rackete foi ao essencial: "Quem salva vidas não pode ser chamado de criminoso". Os líbios do Sea Watch poderiam ter morrido no Mediterrâneo e, segundo a capitã, ameaçavam jogar-se ao mar, como faziam os africanos dos navios negreiros do século 19. Calcula-se que neste ano 600 africanos afogaram-se no Mediterrâneo.

As falas de Salvini, repudiadas na terça pela juíza, foram uma fanfarronice demagógica. O ministro tinha motivos para saber que a marinheira, uma "fora da lei", segundo ele, não ficaria muito tempo presa. Sendo alemã, poderia ser deportada. Sabia também que os africanos não ficarão em Lampedusa. Jogou para sua plateia, mas subestimou a reação de outros países e das próprias instituições italianas. Nos dias de hoje, isso é comum.
Elio Gaspari, jornalista - O Globo e Folha de S. Paulo


sábado, 13 de abril de 2019

Rumo ao segundo Israel? Netanyahu rompe com o consenso sionista que se estendia da esquerda à direita


A reeleição de um líder político deve, normalmente, ser examinada sob o registro da continuidade. A regra não se aplica ao triunfo de Binyamin Netanyahu nas eleições gerais israelenses. Na campanha, o primeiro-ministro prometeu anexar as colônias israelenses na Cisjordânia e declarou que "Israel não é um Estado de todos os seus cidadãos". À luz do "Deus de Trump" (apud Ernesto Araújo), Netanyahu avançou os sinais vermelhos sempre respeitados pela corrente principal do sionismo. Nesse passo, ameaça levantar a âncora que prende Israel à rocha da democracia.

A maior vitória militar de Israel trouxe com ela um desafio de natureza existencial. Depois da Guerra dos Seis Dias (1967), o Estado judeu converteu-se em potência ocupante dos territórios palestinos (Jerusalém Oriental, Cisjordânia, faixa de Gaza). O rápido crescimento demográfico palestino descortinou a perspectiva de configuração de uma maioria populacional árabe no conjunto geopolítico Israel/Palestina. O exercício da soberania sobre uma maioria destituída de direitos políticos terminaria por corroer os fundamentos democráticos de Israel. O Estado judeu teria que escolher entre a democracia e a ocupação.

Os Acordos de Oslo (1993) surgiram como solução para o dilema. A paz pela partilha da Terra Santa em dois Estados não só atenderia à demanda nacional palestina como protegeria o caráter judeu e democrático de Israel. O fracasso dos acordos de paz recolocou o dilema. Netanyahu oferece, agora, sua própria solução: a ocupação permanente, a renúncia à democracia, a refundação de Israel como Estado baseado na discriminação étnica oficial. A falência dos Acordos de Oslo foi obra conjunta dos fundamentalistas palestinos do Hamas e da direita israelense polarizada pelo Likud. Mas Ariel Sharon, o "falcão" do Likud, conservou a porta aberta para a solução dos dois Estados ao promover a retirada israelense da faixa de Gaza (2005).

Sharon reconhecia, por meio do desengajamento, que só um Estado, uma nacionalidade e uma cidadania para os palestinos assegurariam a sobrevivência do Israel democrático fundado em 1948. Netanyahu rompe, hoje, com o consenso sionista que se estendia da esquerda à direita. Depois de anos de sabotagem tácita da retomada de negociações de paz, a prometida anexação de extensas áreas da Cisjordânia equivale a uma sentença de morte para a solução dos dois Estados. Sob o amparo de Trump, que acaba de reconhecer a soberania israelense sobre o território sírio das colinas de Golã, o chefe de governo de Israel ameaça inviabilizar um futuro Estado palestino.

Israel não é um, mas dois. Historicamente, é o Estado-nação do povo judeu. Legalmente, é um Estado de todos os seus cidadãos. A alma histórica expressa-se na Lei do Retorno: a concessão de cidadania a qualquer judeu que imigrar para Israel. A alma legal exprime-se na Corte Suprema, que não distingue os direitos de cidadãos judeus dos direitos de cidadãos não judeus. As duas almas convivem em perene tensão, formando as faces paradoxais do Estado judeu. Netanyahu almeja eliminar a tensão pela supressão do princípio da igualdade perante a lei.

O conceito de que "Israel não é um Estado de todos os seus cidadãos" abre a fresta por onde podem passar iniciativas já em curso legislativo como a remoção da cidadania de não judeus "desleais" ao Estado. No limite, a ruptura do princípio da igualdade legal propiciaria a retirada em massa da cidadania dos árabes israelenses, uma violação flagrante dos direitos humanos. A ideia escandalosa circula entre correntes supremacistas judaicas, como o Otzma Yehudit (Poder Judaico), que transitam dos subterrâneos para as cercanias do governo israelense.

Netanyahu é um refundador pós-sionista. O Israel que ele pretende reinventar renega os valores básicos do Estado proclamado por Ben Gurion em 1948.

Por: Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de diversas obras e doutor pela USP - Folha de S. Paulo

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Bolsonaro e Israel, uma relação político-religiosa arriscada para o Brasil

Ao anunciar a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, o presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu às expectativas das influentes igrejas evangélicas, sua base de sustentação, correndo o risco de uma ruptura com uma política de mais de meio século do Itamaraty.   Seguindo os passos do presidente americano Donald Trump, de quem já se disse um admirador, o futuro chefe do Executivo brasileiro corre o risco de isolar o país diplomaticamente, expondo-o a represálias comerciais de parte dos países árabes, grandes importadores de carne do Brasil.
"O Brasil tem uma posição histórica naquilo que a gente chama de solução de dois Estados [para Israel e a Palestina] e esta decisão pode jogar todos esses esforços no lixo", avalia Guilherme Casaroões, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

A anexação de Jerusalém oriental por Israel, após a guerra de 1967, nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, para a qual o estatuto da cidade santa deve ser negociado pelas duas partes e as embaixadas não devem se instalar ali enquanto não se cheguar a um acordo.  O governo brasileiro sempre seguiu essa diretriz, mas o posicionamento de Jair Bolsonaro poderia colocá-la em xeque.  "É motivo de respeitar uma nação soberana", declarou o presidente eleito em entrevista à TV Bandeirantes na segunda-feira.

Na terça-feira, ele parecia hesitar, ao declarar que a transferência "ainda não foi decidida", lançando dúvidas sobre sua determinação sobre uma medida tão polêmica.  A transferência da embaixada teria, antes de mais nada, uma motivação religiosa para Jair Bolsonaro, eleito em 28 de outubro com 55% dos votos, em parte graças ao apoio ativo das igrejas evangélicas neopentecostais, que reúnem milhões de fiéis.
"Os evangélicos mais conservadores não colocam em questão, não relativizam nenhuma atitude de Israel. Qualquer decisão, qualquer medida, há um pressuposto que tem a legitimidade para fazer, como povo escolhido", que deve ser defendido custe o que custar, independentemente da atitude de seus dirigentes, explica Ronilson Pacheco, teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
"É uma leitura extremamente literal da Bíblia, sem fazer qualquer reflexão de contexto, de história", acrescentou.

Os neopentecostais brasileiros seguem os preceitos do sionismo cristão, corrente segundo a qual o retorno dos judeus à terra santa e a criação do Estado de Israel, em 1948, segue uma profecia bíblica que anuncia o retorno do Messias.  "Nos templos, há muitos símbolos litúrgicos do judaísmo, como o candelabro ou a estrela de Davi, e alguns pastores até usam o kipá ", acrescenta Ronilson Pacheco.

O próprio Jair Bolsonaro, casado com uma evangélica, foi a Israel em 2016 para ser batizado por um pastor nas águas do rio Jordão.
Mas a religião não é a única motivação para Bolsonaro transferir a embaixada para Jerusalém, um anúncio que agradou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
"Tem um valor simbólico para ele, pela relação dele com a comunidade evangélica, e também casa com uma revisão da tradição da política externa brasileira, mais globalista, multilateralista", explicou Monica Herz, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Para ela, o mimetismo com Donald Trump se aproxima a "um alinhamento com o governo americano, coisa que não fizemos nem durante a ditadura militar".  Ex-paraquedista do Exército, Jair Bolsonaro é conhecido justamente pela nostalgia do regime militar, que comandou o País entre 1964 e 1985.  A aproximação com Israel também se deve ao fascínio do presidente pela tecnologia de ponta do Exército israelense.

Um de seus filhos, o senador Flavio Bolsonaro, e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, devem visitar o país em breve para comprar drones de ataque, que poderão ser usados pelas forças de ordem na luta contra os narcotraficantes.
Mas para Guilherme Casarões, "o Brasil teria condições de se aproximar dos EUA e de Israel independentemente de transferir a embaixada" de Tel Aviv para Jerusalém.
Membro da comissão de Relações Exteriores do Congresso, o senador Ricardo Ferraço, considerou recentemente que Bolsonaro fez esta promessa de forma precipitada, sem medir as consequências.
A Câmara de Comércio árabe-brasileira declarou sua preocupação, enquanto o Brasil é o primeiro produtor do mundo de carne halal (cujo consumo é permitido aos muçulmanos). O chefe da representação palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, declarou à AFP esperar que o deslocamento da embaixada não passe de um "anúncio de campanha".


 

segunda-feira, 4 de junho de 2018

"Gaza é a maior prisão a céu aberto"

Sacerdote brasileiro conta sobre rotina de atender à minoria cristã em Gaza

Padre Mário da Silva: "Gaza é a maior prisão a céu aberto"

Cerca de 1,9 milhão de pessoas, muçulmanas na maioria, travam uma luta diária por sobrevivência na Faixa de Gaza, um dos locais mais pobres e violentos do mundo. Além da miséria, do desemprego e das condições insalubres, enfrentam o medo dos tiros e das bombas disparadas por forças israelenses no interminável conflito com o Hamas — o movimento islâmico que governa o território palestino desde 2007.

Com as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas do enclave palestino controladas por Israel, a população é proibida de sair. “É por esse motivo que dizemos que Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo”, disse, em entrevista ao Correio, o padre brasileiro Mário da Silva, 39 anos. Desde 2012, ele está à frente da Paróquia da Sagrada Família, refúgio para os 980 cristãos que vivem em Gaza — 138 católicos e 842 ortodoxos.

Embora desenvolva projetos sociais tanto para cristãos quanto para muçulmanos, o sacerdote brasileiro admite o medo da violência, e revela ter sido alvo de agressões pelo fato de liderar uma minoria religiosa. “Muitas foram as situações difíceis em meus seis anos aqui, como quando entraram na igreja, atearam fogo ao meu carro e colocaram uma bomba em frente ao templo, que foi todo pichado”, recorda Silva.
 
O padre Mário, nasceu no Piauí, em 13 de abril de 1979. Em São Paulo, teve contato com a diocese de Santo Amaro, que passou a ser sua nova casa e o lugar onde cresceria. Hoje, pertence ao Instituto do Verbo Encarnado, congregação religiosa fundada na Argentina, em 1984, pelo padre Carlos Miguel Buela. “Temos como desejo do nosso fundador querer ir aos lugares difíceis, onde nem todos os sacerdotes querem ir. Por isso, a presença sacerdotal é escassa”, explica Silva, ordenado em 7 de setembro de 2005 e enviado para a Argentina, a Itália e, por fim, o Brasil. Foi durante um novo trabalho na Itália que ele se ofereceu para missionar na Terra Santa, na Paróquia da Sagrada Família de Gaza, o que se concretizaria em 2012.

Além dos ataques israelenses contra palestinos, como são as condições de vida em Gaza? Quais as dificuldades enfrentadas pela população no dia a dia?
Todas as pessoas que vivem na Faixa de Gaza sofrem um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo. O que significa isso? As pessoas não podem deixar o território nem por automóvel (ou qualquer veículo terrestre), nem por barcos, nem por avião. E não apenas isso: as mercadorias não podem entrar aqui sem permissão especial, assim como as pessoas são impedidas de entrar na cidade sem permissão especial. É por esse motivo que dizemos que Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo. A maior dificuldade que encontramos é a falta de liberdade para ir e vir.

Como é a qualidade dos serviços disponíveis à população?
Esse grande bloqueio traz consigo outras grandes dificuldades. Por exemplo: temos somente 3 ou 4 horas de eletricidade por dia. Tudo que entra aqui deve ter permissão. A água fornecida à população escasseia e, quando chega, não é potável. Segundo um estudo da ONU, 90% da água da Faixa de Gaza é contaminada pelo esgoto ou pela água do mar: a água que se bebe deve ser comprada, mas nem todos têm dinheiro para isso.
(...)


MATÉRIA COMPLETA, Correio Braziliense
 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Papa Francisco pede que 'status quo' de Jerusalém seja respeitado



Representante diplomático da ONU sugeriu negociação entre israelenses e palestinos



Diante da expectativa de que o presidente americano, Donald Trump, anuncie nesta quarta-feira o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, o Papa Francisco apelou que o "status quo" da cidade sagrada seja respeitado. A intenção do republicano, que deve ocorrer por meio da transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv, gerou preocupação entre líderes da comunidade internacional. Durante a audiência semanal, o pontífice pediu que se impusesse "a sabedoria e a prudência" para evitar conflitos na região.


 Papa Francisco pediu respeito ao 'status quo' de Jerusalém - MUNIR UZ ZAMAN / AFP




"Rezo a Deus para que sua identidade seja preservada e fortalecida em benefício da Terra Santa, Oriente Médio e todo o mundo. E que a sabedoria e a prudência prevaleçam para evitar novos elementos de tensão em um contexto global já abalado por muitos conflitos cruéis", destacou o papa.

Apesar da decisão de Trump, a recolocação de Jerusalém como parte de Israel na política externa americana deve demorar: só a construção do prédio pode levar quatro anos. Líder maior da Igreja Católica no mundo, o Papa Francisco destacou que o diálogo só viria por meio do "reconhecimento dos direitos de todas as pessoas da região".

O prazo para decidir se iria transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém venceu na última segunda-feira. O presidente poderia, então, assinar ou não uma dispensa que adiaria por mais seis meses a transferência da representação diplomática, como tem feito todo presidente dos EUA desde que o Congresso aprovou uma lei sobre a questão em 1995. A mudança por si só já representaria um reconhecimento americano de que a cidade sagrada é a capital de Israel. Isso reverteria 70 anos de consenso internacional, o que muitos indicam que atrapalharia o processo de paz.


Segundo fontes do governo americano, o presidente deve reconhecer nesta quarta-feira Jerusalém como capital de Israel, ordenando a funcionários que comecem a planejar a mudança da representação diplomática. A medida frustraria o sonho palestino de ver a cidade como capital de um futuro Estado e promete acirrar os ânimos na região: facções palestinas já convocaram "três dias de cólera" em reação.  Trump foi advertido sobre as perigosas consequências da decisão sobre o processo de paz, a segurança e a estabilidade na região. Facções palestinas na Cisjordânia convocaram nesta terça-feira três dias de protestos contra a possível decisão de Trump.

Os Estados Unidos pediram nesta terça-feira a seus funcionários que evitem ir à Cidade Velha de Jerusalém por causa das manifestações, segundo o Departamento de Estado.
Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o Exército de Israel, tomou quase 6 mil quilômetros quadrados da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e de mais de 20 aldeias no leste da cidade. As forças governamentais israelenses também conquistaram as Colinas de Golã da Síria, e o Monte Sinai e a Faixa de Gaza do Egito. Hoje, o governo israelense reclama toda Jerusalém como sua capital indivisível, enquanto os palestinos pedem que a porção oriental da cidade seja a capital do seu desejado Estado.

AFP