Somente em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24 mil
O procurador de Justiça Leonardo Azeredo dos Santos, que se queixou em
uma reunião com colegas de receber o 'mizerê' de R$ 24 mil por mês,
ganha, na verdade, bem mais que o reclamado, segundo dados do portal da
transparência do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Isso, devido
a indenizações e outras remunerações que se somam ao salário. Somente
em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24
mil. Nesses sete meses, a média recebida por ele foi de R$ 68.275,34.
As informações que constam no portal da transparência do MPMG mostram
que o rendimento líquido total do procurador é, realmente, um pouco
abaixo de R$ 24 mil. Mesmo assim, outros valores se somam ao salário. Em
julho, por exemplo, que é o último mês com os dados disponíveis para
consulta, Leonardo recebeu indenização de R$ 9.008,30, e remunerações
retroativas/temporárias, de R$ 32.341,19. Ao todo, o valor recebido,
incluindo o salário, foi de R$ 65.152,99.
Em janeiro, ainda segundo os dados que constam no setor de
transparência do MPMG, os valores foram ainda mais alto. Além do
rendimento líquido total, de R$ 23,803,50, o procurador recebeu
indenização de R$ 42.256,59, e o valor de R$ 21.755,21, relativo de
outras remunerações retroativas/temporárias. Os procuradores ainda têm
outros benefícios, como o auxílio-alimentação, de R$ 1,1 mil, e o
auxílio-saúde, valor equivalente a 10% do subsídio.
Mesmo assim, o salário mensal de aproximadamente R$ 24 mil vem provocando indignação entre os procuradores. Em
um áudio publicado no site do Ministério do Público do estado, alguns
integrantes expuseram opiniões sobre a atual remuneração, com direito a
desabafo e apelo. “Um salário relativamente baixo, sobretudo para
quem tem filhos. Como o cara vai viver com 24 mil reais?”, questionou
Leonardo Azeredo dos Santos, em reunião extraordinária da câmara de
procuradores que debatia o orçamento do Ministério Público para 2020.
Na
hipótese de Minas Gerais assinar o acordo de recuperação fiscal, o
Estado corre risco de ficar impedido de realizar reajustes salariais,
assim como fez o estado do Rio de Janeiro. Esse acordo, se confirmado,
afetará também o Ministério Público. Em um
áudio de uma hora e quarenta minutos, divulgado no site do Ministério
Público de Minas Gerais (MPMG), pode-se ouvir, aos 31 minutos de
reprodução, o momento em que Leonardo solicita direito de palavra e
desabafa diante do procurador-geral de Justiça, Antônio Sérgio Tonet, e
de outros colegas. No discurso, ele diz estar baixando “seu estilo de
vida” para sobreviver.
“Quero saber se nós, no
ano que vem, vamos continuar nessa situação ou se vossa excelência já
planeja alguma coisa, dentro da sua criatividade, para melhorar nossa
situação. Ou se vamos ficar nesse mizerê. Quem é que vai querer ser
promotor, se não vamos mais ter aumento, ninguém vai querer fazer
concurso nenhum?", disse Leonardo Azeredo. O membro do Ministério
Público ainda revelou que vem usando remédios controlados e
antidepressivos para aguentar a situação atual e que já reduziu seu
“estilo de vida” para conseguir arcar com as contas.
“Estou
fazendo a minha parte. Estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de
crédito e estou passando a gastar R$ 8 (mil), para poder viver com os
meus R$ 24 mil. Agora, eu e vários outros já estamos vivendo à base de
comprimidos, à base de antidepressivo. Estou falando desse jeito aqui
com dois comprimidos sertralina por dia, tomo dois ansiolíticos por dia e
ainda estou falando desse jeito. Imagine se eu não tomasse? Ia ser pior
que o ‘Ronaldinho’. Vamos ficar desse jeito? Nós vamos baixar mais a
crista? Nós vamos virar pedinte, quase?”, conclui.
Em
nota, o MPMG confirma que na sessão "houve manifestação de cunho
pessoal de um dos integrantes do colegiado sobre a política
remuneratória da instituição". Afirma, porém, "que não há nenhum projeto
em andamento sobre a adoção de benefícios pecuniários para a carreira
de membros (procuradores e promotores de Justiça) ou de servidores, em
vista da grave crise financeira vivenciada pelo estado e da necessidade
de observação da Lei de Responsabilidade Fiscal para gastos com
pessoal".
O texto informa ainda que o órgão
"vem tomando medidas de austeridade para aumentar a eficiência
administrativa e reduzir os gastos, principalmente com pessoal". Segundo
a nota, as medidas têm se mostrado eficiente para manter o Ministério
Público dentro do limite legal de 2% da Receita Corrente Líquida.
Política/Economia - Correio Braziliense