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sábado, 8 de fevereiro de 2020

As duas faces da ansiedade - Como lidar com o mal que afeta 300 milhões de pessoas em todo o mundo- IstoÉ

Como separar o lado ruim e o lado bom desse mal que afeta cerca de trezentos milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, são quase dezenove milhões de ansiosos graves

Vêm de dois poetas duas das mais amplas e contundentes definições de ansiedade, enfermidade psíquica e emocional que afeta atualmente cerca de trezentos milhões de pessoas em todo o planeta. O francês Charles Baudelaire, no século XIX, escreveu: “parece-me que eu sempre estaria bem, lá aonde não estou”. Cerca de cem anos depois, o italiano Giorgio Caproni foi definitivo: “sossega, aonde você vai? Um fato está dado: você jamais chegará aonde já está”. Como Baudelaire e Caproni, estima-se que, no Brasil, pelo menos dezenove milhões de seus habitantes sintam, deitados no sofá de suas casas num pleno domingão ou em meio a agitação da rua, de uma hora para outra e como vindo do nada, excessiva sudorese nas mãos, taquicardia, falta de ar, medo de não conseguir executar determinada tarefa e, muito mais angustiante, a enlouquecedora sensação de morte. Sintam o desassossego de não se sentirem bem em nenhum local, supondo em vão que estariam bem em outro lugar. Isso é ansiedade.


Há, no entanto, uma boa notícia para os portadores dessa psicopatologia, causada pelo inadequado funcionamento da rede de neurotransmissores que compõem o cérebro (sobretudo o ácido gama aminobutírico) ou por fatores externos. Claro que a morte de um parente, o desemprego ou uma separação conjugal podem desencadear ansiedade. Mas também ela se modernizou: o uso excessivo de redes sociais, internet e celulares são dedos exteriores a apertar os gatilhos endógenos. Diante do alarme dado pela venda anual de um milhão de doses de ansiolíticos em todo o País, médicos, cientistas, universidades e instituições, seguindo o ritmo de pesquisas de países desenvolvidos, passaram a estudar cada vez mais a doença. E, agora, já se sabe que, da mesma forma que existe o bom e o ruim colesterol em nosso organismo, há igualmente uma parte da ansiedade que é saudável. Ou seja: a ansiedade tem, sim, duas faces. O vital para quem dela padece é saber jogar fora a porção negativa e ficar somente com a boa.

“A ansiedade só se torna uma enfermidade quando é desproporcional ao estímulo” Francine Mendonça, neurologista

Efeito paralisante
Antes de se entrar na questão de como se faz essa difícil separação, convém explicar que a ansiedade, até um limite, é totalmente necessária para qualquer pessoa se mover, fazer coisas, crescer profissionalmente, namorar, casar, ter filhos e tudo o mais que possa almejar na vida. Tem-se, então, que ansiedade zero não existe, é a própria morte. Ultrapassada, porém, essa fronteira, ela nos paralisa. É como se déssemos a velocidade de duzentos quilômetros por hora a um carro que só aguenta setenta. “A ansiedade nos prepara para enfrentarmos situações como, por exemplo, uma entrevista de emprego”, diz a neurologista Francine Mendonça. “Sentir ansiedade, em princípio, é uma reação fisiológica normal. Mas se torna enfermidade quando é desproporcional ao estímulo”. O especialista Marcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, alerta: “A ansiedade além do limite pode levar a demais transtornos como pânico, fobias e depressão”.


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Ainda na trilha das dicas para deixar no lixo a parte ruim da ansiedade, vale frisar a importância de nos libertarmos de estimulos estressantes, nos campos visual e psicológico, como o uso compulsivo e abusivo de games, internet, redes sociais e celulares. Eis aí três instrumentos vitais para a moderna civilização, mas que precisam ser dominados pelos usuários – o que se vê amiúde é justamente o contrário, ou seja, é a tecnologia dominando o homem. Tanto é assim que a “Classificação Internacional das Doenças” (CID 11) e o “Diagnostic and statistical manual for mental disorders”, duas bíblias da psiquiatria mundial, já incluíram tal mania no rol das enfermidades mentais. Quando tais fatores exógenos causam a ansiedade, muitas vezes combinados com elementos constitucionais endógenos e orgânicos, trata-se do chamado prazer negativo. Como ilustração citemos o fumante ou o alcoolista: ficam ansiosos para fumar o próximo cigarro ou beber o próximo copo, embora saibam que isso não mais lhes dará prazer — simplesmente lhes aliviará a dor psíquica de ter a nicotina ou o álcool circulando no organismo.
Finalmente, outra razão para que os portadores de temperamento ansioso procurem separar as duas faces desse funcionamento emocional é para evitar cair em depressão. Ansiedade e depressão caminham de mãos dadas, basta a primeira cochilar para a segunda atacar. 

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Transfere para o corpo aquilo que não consegue resolver”, diz o psiquiatra Wimer Bottura Jr., presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. “Atualmente as possibilidades de escolha na vida são tantas que se tornam uma fonte inesgotável de ansiedade”. Na verdade, desde que o mundo é mundo cada época teve o seu mal característico, e, a rigor, a ansiedade acompanha o homem desde os tempos em que ele precisava caçar para se alimentar. Talvez tenhamos herdado essa ansiedade de nossos ancestrais e ela seja o medo da morte em nosso inconsciente. Mas um coisa é fato: existe uma ansiedade moderna, com suas vantagens e desvantagens, um lado bom e um lado ruim. Não resta dúvida, portanto, que, nos valendo dos diversos métodos que podem atenuá-la, é importante coloca-lá a nosso serviço. E jamais ficarmos a sua mercê.

Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA

 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Procurador que reclamou de salário de R$ 24 mil recebe, em média, R$ 68 mil - CB

Somente em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24 mil

O procurador de Justiça Leonardo Azeredo dos Santos, que se queixou em uma reunião com colegas de receber o 'mizerê' de R$ 24 mil por mês, ganha, na verdade, bem mais que o reclamado, segundo dados do portal da transparência do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Isso, devido a indenizações e outras remunerações que se somam ao salário. Somente em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24 mil. Nesses sete meses, a média recebida por ele foi de R$ 68.275,34.

As informações que constam no portal da transparência do MPMG mostram que o rendimento líquido total do procurador é, realmente, um pouco abaixo de R$ 24 mil. Mesmo assim, outros valores se somam ao salário. Em julho, por exemplo, que é o último mês com os dados disponíveis para consulta, Leonardo recebeu indenização de R$ 9.008,30, e remunerações retroativas/temporárias, de R$ 32.341,19. Ao todo, o valor recebido, incluindo o salário, foi de R$ 65.152,99. 

Em janeiro, ainda segundo os dados que constam no setor de transparência do MPMG, os valores foram ainda mais alto. Além do rendimento líquido total, de R$ 23,803,50, o procurador recebeu indenização de R$ 42.256,59, e o valor de R$ 21.755,21, relativo de outras remunerações retroativas/temporárias. Os procuradores ainda têm outros benefícios, como o auxílio-alimentação, de R$ 1,1 mil, e o auxílio-saúde, valor equivalente a 10% do subsídio.

Insatisfação
Mesmo assim, o salário mensal de aproximadamente R$ 24 mil vem provocando indignação entre os procuradores. Em um áudio publicado no site do Ministério do Público do estado, alguns integrantes expuseram opiniões sobre a atual remuneração, com direito a desabafo e apelo. “Um salário relativamente baixo, sobretudo para quem tem filhos. Como o cara vai viver com 24 mil reais?”, questionou Leonardo Azeredo dos Santos, em reunião extraordinária da câmara de procuradores que debatia o orçamento do Ministério Público para 2020.

Na hipótese de Minas Gerais assinar o acordo de recuperação fiscal, o Estado corre risco de ficar impedido de realizar reajustes salariais, assim como fez o estado do Rio de Janeiro. Esse acordo, se confirmado, afetará também o Ministério Público. Em um áudio de uma hora e quarenta minutos, divulgado no site do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pode-se ouvir, aos 31 minutos de reprodução, o momento em que Leonardo solicita direito de palavra e desabafa diante do procurador-geral de Justiça, Antônio Sérgio Tonet, e de outros colegas. No discurso, ele diz estar baixando “seu estilo de vida” para sobreviver. 

“Quero saber se nós, no ano que vem, vamos continuar nessa situação ou se vossa excelência já planeja alguma coisa, dentro da sua criatividade, para melhorar nossa situação. Ou se vamos ficar nesse mizerê. Quem é que vai querer ser promotor, se não vamos mais ter aumento, ninguém vai querer fazer concurso nenhum?", disse Leonardo Azeredo. O membro do Ministério Público ainda revelou que vem usando remédios controlados e antidepressivos para aguentar a situação atual e que já reduziu seu “estilo de vida” para conseguir arcar com as contas.

“Estou fazendo a minha parte. Estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e estou passando a gastar R$ 8 (mil), para poder viver com os meus R$ 24 mil. Agora, eu e vários outros já estamos vivendo à base de comprimidos, à base de antidepressivo. Estou falando desse jeito aqui com dois comprimidos sertralina por dia, tomo dois ansiolíticos por dia e ainda estou falando desse jeito. Imagine se eu não tomasse? Ia ser pior que o ‘Ronaldinho’. Vamos ficar desse jeito? Nós vamos baixar mais a crista? Nós vamos virar pedinte, quase?”, conclui.

Resposta do MP
Em nota, o MPMG confirma que na sessão "houve manifestação de cunho pessoal de um dos integrantes do colegiado sobre a política remuneratória da instituição". Afirma, porém, "que não há nenhum projeto em andamento sobre a adoção de benefícios pecuniários para a carreira de membros (procuradores e promotores de Justiça) ou de servidores, em vista da grave crise financeira vivenciada pelo estado e da necessidade de observação da Lei de Responsabilidade Fiscal para gastos com pessoal".

O texto informa ainda que o órgão "vem tomando medidas de austeridade para aumentar a eficiência administrativa e reduzir os gastos, principalmente com pessoal". Segundo a nota, as medidas têm se mostrado eficiente para manter o Ministério Público dentro do limite legal de 2% da Receita Corrente Líquida.

Política/Economia - Correio Braziliense
 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Luiz Fernando (Beira-Mar): esse cara sou eu!

Conheci Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho Beira-Mar, em um presídio federal de segurança máxima. Não foi uma longa conversa, mas deu tempo de ouvir alguns relatos sobre outros presídios em que já havia cumprido pena, sobre sua vida na prisão, a relação com agentes penitenciários e diretores, sobre seus estudos e cursos, sobre um livro que estaria escrevendo e dificuldades com editoras para publicação e até um dossiê que estaria enviando para a corte interamericana de direitos humanos, relatando problemas envolvendo sua condição e com sua família.

Era minha primeira vez, na condição de conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), que inspecionava um presídio federal de segurança máxima.[1] Segundo informações do Ministério da Justiça, “cada Penitenciária Federal possui capacidade para abrigar 208 presos em celas individuais. Atualmente estão em funcionamento quatro Penitenciárias Federais - Catanduvas/PR, Campo Grande/MS, Mossoró/RN e Porto Velho/RO. A quinta penitenciária federal já está construção e será localizada em Brasília/DF”.
 
No presídio que inspecionei, estavam custodiados os presos das milícias do Rio de Janeiro, líderes de uma das facções do presídio de Pedrinhas (MA), os militares condenados pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli, inclusive o Tenente-Coronel Cláudio Luiz Oliveira, condenado a 36 anos de prisão pela prática dos crimes de homicídio qualificado e formação de quadrilha.[2] Além de outros presos que não tive oportunidade de entrevistar e o mais famoso de todos: Luiz Fernando da Costa.

Em companhia de outros conselheiros do CNPCP e de uma equipe do Depen (Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça), chegamos ao presídio pela manhã e fomos muito bem recebidos pelo Diretor e pessoal da administração, que fica em prédio separado, mas dentro do mesmo complexo de prédios. O acesso ao prédio em que se localizam as celas é altamente restrito e controlado por câmaras e scanners de alta precisão. Na verdade, são dois equipamentos a que se submete para ter acesso às celas. Um primeiro, que permite o acesso à enfermaria e área de monitoramento do presídio e um segundo para se ter acesso às galerias.

As celas são individuais e devem medir em torno de 6 metros quadrados (3m x 2m). Conta com uma cama, bancada, banco e prateleira de cimento. O vaso sanitário fica ao fundo e protegidos por uma parede de mais ou menos 1 metro de altura. As portas das celas são de chapa de ferro e contam com duas pequenas aberturas, sendo uma na altura da cabeça e outra na altura da cintura ou mais abaixo. A primeira serve para a conversa com o preso e entrega da refeição. A segunda serve para que o preso ponha as mãos para ser algemado quando é levado para o banho de sol e depois ter as algemas retiradas quando do retorno.

Dessa forma, os agentes sempre terão o preso algemado ao abrir a cela e sempre trabalham em duplas. Os presos ficam isolados por 22 horas do dia e saem para o banco de sol por 2 horas. Todos eles, segundo informações do chefe da enfermaria, vivem à base de ansiolíticos.

Pois bem, já estava de saída da última galeria de celas quando avistei Luiz Fernando conversando com uma diretora do Depen. Não sabia que ele estava naquele presídio e não o reconheci de imediato. Ele estava sentado em uma cadeira e algemado. O pequeno espaço em que se encontrava era protegido por grades e tinha um acesso interno para a galeria de celas em que estava preso. Tinha uma boa aparência, simpático e de sorriso fácil. Quando me aproximei, relatava ao pessoal do Depen severas críticas ao Diretor e agentes penitenciários do presídio anterior, mas ressaltou a lealdade e honestidade do Diretor e agentes do atual presídio.

Relatou também sobre pressões que estaria sofrendo sua família e que estaria concluindo um dossiê sobre todos esses problemas e também sobre o que teria sofrido no presídio anterior. Contou também que estava lendo muito e que havia terminado de concluir um curso de Teologia à distância. Disse que estava bem de saúde fazendo atividades físicas, que não havia problemas com as visitas e que era respeitado e também respeitava as ordens da casa.

Perguntei-lhe como se sentia o “bandido” mais famoso do Brasil? Ele soltou uma boa gargalhada e respondeu mais ou menos assim:
- Doutor, eu estou nessa vida há muito tempo. Cometi umas bobagens no Rio de Janeiro e depois precisei sair para a fronteira. Lá, o esquema era muito perigoso. Nossa atividade era de risco e envolvia drogas, armas e carros. É claro que nessa atividade havia desentendimentos, extorsão e conflitos de interesses. Logo, se matava e se morria muito. Agora, doutor, igual a mim, naquela época, existiam várias pessoas, inclusive policiais que participavam do esquema. Pior do que eu, existiam muito mais pessoas naquela atividade.

 O problema é que o Estado Brasileiro precisava, para se afirmar como eficiente e garantidor da lei, de um grande bandido nacional para condenar a 300 anos de cadeia e mantê-lo preso como exemplo dessa eficiência. O problema é que minha prisão e condenação não acabou com o tráfico, com a violência e criminalidade. Pronto! Estou condenado, isolado em uma penitenciária de segurança máxima e todos esses os problemas se agravaram. Na verdade, eu já nem sei por quais crimes fui condenado e por quais motivos tive minha pena agravada em presídios, pois basta que um agente penitenciário me acuse para que seja certa a condenação. Por fim, doutor, o sistema precisa desse grande bandido nacional e esse cara sou eu!

Não tinha como contiuar essa conversa. O tempo da inspeção estava no limite e também precisava conhecer melhor a história de “Fernandinho Beira-Mar” para prosseguir. Conversamos ainda mais um pouco sobre seus processos judiciais, mas relatou que tinha bom advogado e que estava tranquilo quanto ao seu futuro. Prometeu enviar o citado dossiê ao CNPCP, mas esse documento não me chegou às mãos.

Enfim, nos despedimos cordialmente e agradeci pela conversa. Aquele era o último dia de inspeção e logo mais à noite embarquei de volta para casa. Este relato que faço agora é fruto de anotações e lembranças, mas é impossível retratar a realidade de um presídio federal e, muito menos, o que deve sentir e pensar “o grande bandido nacional” em suas 22 horas diárias de isolamento e o peso da condenação em 300 anos de reclusão. Os meandros de sua mente e de suas lembranças, conforme me relatou o próprio Luiz Fernando, serão expostos quando do lançamento de seu livro de memórias. Não me adiantou o conteúdo dessas memórias, mas observou que precisa oferecer às pessoas o outro lado da história oficial.


[1] O Depen é responsável pelo Sistema Penitenciário Federal, cujos principais objetivos são isolamento das lideranças do crime organizado, cumprimento rigoroso da Lei de Execução Penal e custódia de: presos condenados e provisórios sujeitos ao regime disciplinar diferenciado; líderes de organizações criminosas; presos responsáveis pela prática reiterada de crimes violentos; presos responsáveis por ato de fuga ou grave indisciplina no sistema prisional de origem; presos de alta periculosidade e que possam comprometer a ordem e segurança pública; réus colaboradores presos ou delatores premiados.
Fonte: Justiça. Gov

[2] Esta conversa será objeto de outro texto, em breve.



Juiz de Direito (Ba).
Juiz de Direito (Ba), membro da coordenação estadual da Associação Juízes para a Democracia (AJD). 
 
Fonte: JusBrasil
 
 
 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Por que Marcos Valério tira o sono do PT



Empresário condenado a 37 anos de cadeia negocia acordo de delação premiada: vejam por que Lula, Okamotto e Palocci estão tomando ansiolíticos

Há muita gente que tira o sono do governo, dos petistas como um todo e de Lula em particular. Um deles retorna do passado. Trata-se do empresário Marcos Valério, que foi apontado como operador do mensalão e que amarga uma condenação de 37 anos, a mais dura pena pelo escândalo, o que, convenham, é uma piada. Os agentes políticos daquela tramoia estão soltos. José Dirceu voltou à cadeia, sim, mas por causa do petrolão.

Pois é… VEJA já havia informado que Valério estava propenso a fazer um acordo de delação premiada. Agora, Marcelo Leonardo, seu advogado, confirma a possibilidade e diz que já está negociando os termos. Afirmou ele ao Globo: “Estive em Curitiba para tratar de outros casos, e os procuradores perguntaram se o Marcos Valério teria interesse em colaborar. Fui encontrá-lo em Belo Horizonte, e ele disse que está disposto, desde que o Ministério Público faça um acordo com todos os benefícios que a lei da delação permite. Eu e os procuradores ficamos de voltar a nos encontrar talvez já na próxima semana”.

A Lei 12.850, que trata da formação da organização criminosa e que define as condições do que lá é chamado de “colaboração premiada”, estabelece, no Parágrafo 5º do Artigo 4º: “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos”.

Convenham: para quem amarga 37 anos, trata-se de um benefício considerável — desde, é evidente, que a colaboração traga elementos novos, que elucidem o crime cometido e contribuam para a investigação.  Valério já tentou antes um acordo com o Ministério Público. Por alguma razão, a coisa não prosperou. Leiam, abaixo, uma síntese do que ele afirmou ao MP em depoimento dado em dezembro de 2012:
1 – O esquema do mensalão pagou as despesas pessoais de Lula em 2003;
2 – dinheiro foi depositado na conta de seu carregador de malas, Freud Godoy (aquele do escândalo do aloprados);
3 – Lula participou pessoalmente das operações de “empréstimos” fraudulentos dos bancos Rural e BMG ao PT;
4 – os “empréstimos foram acertados dentro do Palácio do Planalto;
5 – Valério diz que é o PT quem paga seus advogados (R$ 4 milhões);
6 – Paulo Okamotto, que hoje preside o Instituto Lula, o ameaçou pessoalmente de morte;
7 – Lula e Palocci negociaram com o então presidente da Portugal Telecom a transferência de recursos ilegais para o PT;
8 – Luiz Marinho, agora prefeito de São Bernardo, foi quem negociou as facilidades para o BMG nos empréstimos consignados;
9 – o dinheiro que pagou chantagistas que ameaçavam envolver Lula no assassinato de Celso Daniel foi intermediado pelo pecuarista José Carlos Bumlai;
10 – o senador Humberto Costa (PT-PE) também recebeu dinheiro do esquema.

Hoje já se sabe que José Carlos Bumlai foi uma espécie de laranja de um empréstimo do Banco Schahin para o PT e que o dinheiro teria sido usado para pagar pessoas que ameaçavam envolver Lula e Gilberto Carvalho no assassinato do prefeito de Santo André. Agora preso, Bumlai admite, sim, a condição de laranja. E o dinheiro foi mesmo para aquela cidade.

Reportagem da VEJA
Reportagem da VEJA de setembro de 2012 revelara o que a revista chamou de conversas que Valério mantinha com seus interlocutores. Boa parte bate com o conteúdo do que ele afirmou depois ao Ministério Público. Leiam trechos da reportagem.

“O CAIXA DO PT FOI DE R$ 350 MILHÕES”
A acusação do Ministério Público Federal sustenta que o mensalão foi abastecido com R$ 55 milhões de reais tomados por empréstimo por Marcos Valério junto aos bancos Rural e BMG, que se somaram a R$ 74 milhões desviados da Visanet, fundo abastecido com dinheiro público e controlado pelo Banco do Brasil. Segundo Marcos Valério, esse valor é subestimado. Ele conta que o caixa real do mensalão era o triplo do descoberto pela polícia e denunciado pelo MP. (…) “Da SM P&B vão achar só os R$ 55 milhões, mas o caixa era muito maior. O caixa do PT foi de R$ 350 milhões, com dinheiro de outras empresas que nada tinham a ver com a SMP&B nem com a DNA”.

LULA ERA O CHEFE DO ESQUEMA, COM JOSÉ DIRCEU
Lula teria se empenhado pessoalmente na coleta de dinheiro para a engrenagem clandestina, cujos contribuintes tinham algum interesse no governo federal. Tudo corria por fora, sem registros formais, sem deixar nenhum rastro. Muitos empresários, relata Marcos Valério, se reuniam com o presidente, combinavam a contribuição e em seguida despejavam dinheiro no cofre secreto petista. O controle dessa contabilidade cabia ao então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, que é réu no processo do mensalão e começa a ser julgado nos próximos dias pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa. O papel de Delúbio era, além de ajudar na administração da captação, definir o nome dos políticos que deveriam receber os pagamentos determinados pela cúpula do PT, com o aval do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, acusado no processo como o chefe da quadrilha do mensalão: “Dirceu era o braço direito do Lula, um braço que comandava”.
(…)
VALÉRIO SE ENCONTROU COM LULA NO PALÁCIO DO PLANALTO VÁRIAS VEZES
A narrativa de Valério coloca Lula não apenas como sabedor do que se passava, mas no comando da operação. Valério não esconde que se encontrou com Lula diversas vezes no Palácio do Planalto. Ele faz outra revelação: “Do Zé ao Lula era só descer a escada. Isso se faz sem marcar. Ele dizia vamos lá embaixo, vamos”. O Zé é o ex-ministro José Dirceu, cujo gabinete ficava no 4º andar do Palácio do Planalto, um andar acima do gabinete presidencial. (…) Marcos Valério reafirma que Dirceu não pode nem deve ser absolvido pelo Supremo Tribunal, mas faz uma sombria ressalva. Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”, disse, na semana passada, em Belo Horizonte. Indagado, o ex-presidente não respondeu.
(…)
PAULO OKAMOTTO, ESCALADO PARA SILENCIAR VALÉRIO, TERIA AGREDIDO FISICAMENTE A MULHER DO PUBLICITÁRIO
“Eu não falo com todo mundo no PT. O meu contato com o PT era o Paulo Okamotto”, disse Valério em uma conversa reservada dias atrás. É o próprio Valério quem explica a missão de Okamotto: “O papel dele era tentar me acalmar”. O empresário conta que conheceu o Japonês, como o petista é chamado, no ápice do escândalo. Valério diz que, na véspera de seu primeiro depoimento à CPI que investigava o mensalão, Okamotto o procurou. “A conversa foi na casa de uma funcionária minha. Era para dizer o que eu não devia falar na CPI”, relembra. O pedido era óbvio. Okamotto queria evitar que Valério implicasse Lula no escândalo. Deu certo durante muito tempo. Em troca do silêncio de Valério, o PT, por intermédio de Okamotto, prometia dinheiro e proteção. A relação se tornaria duradoura, mas nunca foi pacífica.

Em momentos de dificuldade, Okamotto era sempre procurado. Quando Valério foi preso pela primeira vez, sua mulher viajou a São Paulo com a filha para falar com Okamotto. Renilda Santiago queria que o assessor de Lula desse um jeito de tirar seu marido da cadeia. Disse que ele estava preso injustamente e que o PT precisava resolver a situação. A reação de Okamotto causa revolta em Valério até hoje. “Ele deu um safanão na minha esposa. Ela foi correndo para o banheiro, chorando.”

O PT PROMETEU A VALÉRIO QUE RETARDARIA AO MÁXIMO O JULGAMENTO NO STF
O empresário jura que nunca recebeu nada do PT. Já a promessa de proteção, segundo Valério, girava em torno de um esforço que o partido faria para retardar o julgamento do mensalão no Supremo e, em último caso, tentar amenizar a sua pena. “Prometeram não exatamente absolver, mas diziam: ‘Vamos segurar, vamos isso, vamos aquilo’… Amenizar”, conta. Por muito tempo, Marcos Valério acreditou que daria certo. Procurado, Okamotto não se pronunciou.

“O DELÚBIO DORMIA NO PALÁCIO DA ALVORADA”
Nos tempos em que gozava da intimidade do poder em Brasília, Marcos Valério diz guardar muitas lembranças. Algumas revelam a desenvoltura com que personagens centrais do mensalão transitavam no coração do governo Lula antes da eclosão do maior escândalo de corrupção da história política do país. Valério lembra das vezes em que Delúbio Soares, seu interlocutor frequente até a descoberta do esquema, participava de animados encontros à noite no Palácio da Alvorada, que não raro servia de pernoite para o ex-tesoureiro petista. “O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com Lula à noite. 

Alguma vez isso ficou registrado lá dentro? Quando você quer encontrar (alguém), você encontra, e sem registro.” O operador do mensalão deixa transparecer que ele próprio foi a uma dessas reuniões noturnas no Alvorada. Sobre sua aproximação com o PT, Valério conta que, diferentemente do que os petistas dizem há sete anos, ele conheceu Delúbio durante a campanha de 2002. Quem apresentou a ele o petista foi Cristiano Paz, seu ex-sócio, que intermediava uma doação à campanha de Lula.
(…)
EMPRÉSTIMOS DO RURAL FORAM FEITOS COM AVAL DE LULA E DIRCEU
“O banco ia emprestar dinheiro para uma agência quebrada?” Os ministros do STF já consideraram fraudulentos os empréstimos concedidos pelo Banco Rural às agências de publicidade que abasteceram o mensalão. Para Valério, a decisão do Rural de liberar o dinheiro — com garantias fajutas e José Genoino e Delúbio Soares como fiadores — não foi um favor a ele, mas ao governo Lula. “Você acha que chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: ‘Me empresta aí 30 milhões de reais pra eu dar pro PT’? O que um dono de banco ia responder?” Valério se lembra sempre de José Augusto Dumont, então presidente do Rural. “O Zé Augusto, que não era bobo, falou assim: ‘Pra você eu não empresto’. Eu respondi: ‘Vai lá e conversa com o Delúbio’. ” A partir daí a solução foi encaminhada. Os empréstimos, diz Valério, não existiriam sem o aval de Lula e Dirceu. “Se você é um banqueiro, você nega um pedido do presidente da República?”

Concluo
Dá para entender por que deve ter aumentado muito o consumo de remédio para dormir depois que Valério passou a negociar a delação premiada?

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Guerra síria também se alimenta de anfetaminas

Desde 2013 dispararam a produção e o consumo de estimulantes - Combatentes usam drogas para suportar o desgaste no campo de batalha

Depois de quatro anos de guerra, a Síria se tornou centro produtor e mercado consumidor para o lucrativo negócio do contrabando. Com as forças de segurança sobrecarregadas pelo esforço bélico e pelo menos 40% do território fora do controle do Estado, os senhores da guerra lucram com o comércio de armas e, desde 2013, também com as drogas. Uma anfetamina, popularmente conhecida como Captagon (sua antiga marca comercial), tornou-se a primeira em vendas entre as substâncias ilegais. Sua produção, assim como seu consumo, aumentou vertiginosamente no país, onde os combatentes apelam a esse estimulante para resistir ao desgaste no campo de batalha.

"Em pleno fronte, um comprimido de Captagon permite aguentar até 48 horas sem comer nem dormir nem sentir frio", relata via Skype, do Norte da Síria, Abu Mazen, combatente de seus trinta e tantos anos de uma facção rebelde. "Em um confronto em Alepo meu companheiro foi ferido na perna e não sentiu nada por uma hora", diz o miliciano. Alguns soldados afirmam que, entre as forças regulares sírias, também há o consumo. "É menos habitual, mas às vezes aqueles que perderam um companheiro ou não conseguem administrar o estresse recorrem ao Captagon", diz Elias, ex-membro da Defesa Nacional Síria.

A cobiçada pílula é vendida por 12 a 55 reais a unidade, nada acessível para a paupérrima economia síria. Produzida no Ocidente nos anos sessenta, era usada como remédio para tratamento de hiperatividade e de depressão. Foi proibida nos anos oitenta por gerar dependência. Desapareceu do mercado europeu para ressurgir no Oriente Médio. Os países do Golfo se tornaram seus principais consumidores. A polícia saudita apreende 55 milhões de comprimidos por ano, cerca de 10% do total das vendas, segundo relatórios do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).

O ano de 2013 é um divisor de águas no tráfico de Captagon. A Síria emerge como exportador regional de uma variação da substância, barata e fácil de fabricar, o que fez cair em cerca de 90% a produção libanesa. As porosas fronteiras com o Líbano e com a Turquia são as rotas preferidas para sua exportação para o Golfo. "Em agosto de 2013 realizamos uma importante operação antidrogas em Bekaa (região de fronteira com a Síria), apreendendo 5 milhões de comprimidos de Captagon produzidos na Síria e escondidos em um caminhão. Vale 100 milhões de dólares (270 milhões de reais) no mercado", diz o general Ghassan Chamseddine, diretor da Unidade Antidrogas das Forças de Segurança Interior libanesas. "Antes de 2013, eram interceptadas pequenas quantidades, de 50.000 unidades. Mas nossa luta na época se concentrava no tráfico de cocaína trazida de países da América Latina e na exportação de haxixe para o Norte da África e para a Europa", acrescenta.

Os senhores da guerra diversificaram suas receitas obtidas com a venda ilegal de petróleo, fazendo do narcotráfico uma importante fonte de financiamento para compensar a desvalorização da libra síria e o encarecimento das armas. Segundo dados do jornal norte-americano Christian Science Monitor, o preço do popular rifle de assalto russo AK-47 passou de cerca de 2.000 reais para mais de 4.500 reais desde o início do conflito, em março de 2011.

O consumo de anfetaminas e antidepressivos se estende também à população civil, exasperada por uma guerra sem fim. "Há boatos sobre o consumo de Captagon, mas normalmente se trata de antidepressivos ou ansiolíticos, como o Prozac. O consumo aumentou muito em Damasco, refúgio da maioria dos deslocados, portadores de graves traumas psicológicos", afirmou em novembro um voluntário de uma ONG local em Damasco.

Fonte: El País