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domingo, 4 de junho de 2017

A economia reage - PIB, investimentos e confiança dos empresários mostram que a crise política não freou a recuperação

O pesadelo acabou. Depois de encolher por oito trimestres consecutivos, o PIB, enfim, deu sinais de vida. 


 RECORDE Super-safra impulsionou desempenho do setor agropecuário, que teve melhor resultado em 20 anos (Crédito: AFP photo)

Na quinta-feira 1º, o IBGE informou que o País cresceu 1% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto trimestre do ano passado. Além de indicar a saída da recessão, o resultado trouxe um alento adicional: a economia foi capaz de resistir à crise política que se instalou em Brasília nas últimas semanas. Se, em um primeiro momento, a delação de Joesley Batista assinalava uma nova era de incertezas, não foi preciso muito tempo para a desconfiança se desfazer. Passado o susto, a Bolsa voltou a subir, o dólar se desvalorizou e uma leva de indicadores mostrou que a recuperação era mais consistente do que os derrotistas imaginavam. Em uma das principais demonstrações de descolamento do caos, o Banco Central decidiu seguir o ritmo de corte da taxa básica de juros, a Selic, e reduzi-la em 1 ponto. O temor inicial deu lugar a um sentimento comum: é preciso blindar a agenda econômica dos colapsos da política brasileira, tendo em vista que eles provavelmente não serão resolvidos a curto prazo.


Nos últimos meses, o noticiário econômico deu ao mercado financeiro muito pouco do que se queixar. A inflação teve consecutivas quedas e a previsão é de que chegue ao final do ano abaixo dos 4%. A taxa básica de juros, a Selic, deve baixar para um dígito, 8,5%. Até o desemprego, a pior herança da crise econômica gerada pelos governos anteriores, começou a dar sinais de arrefecimento: em abril, o País voltou a contratar e abriu quase 60 mil vagas. Por motivos como esses, os índices de confiança de consumidores e empresários voltaram aos mesmos patamares do final de 2014, quando a crise econômica ainda não havia estourado.

Descolamento
É consenso entre o empresariado que a economia brasileira está mais robusta. “As contas externas estão equilibradas, temos um nível de reserva significativo. Isso evita que a histeria de curto prazo se torne crise”, afirma Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central.


Agora, o crescimento de 1% no primeiro trimestre também anima o mercado já que, tecnicamente, o resultado tira o Brasil da recessão. O setor de destaque foi o agropecuário, que teve seu melhor resultado em 20 anos, impulsionado pela safra-recorde de 233,1 milhões de toneladas. Para que os próximos resultados sigam a mesma trilha, é importante que outros setores também melhorem o seu desempenho.

É o caso da indústria, que já cresceu 0,9% nos primeiros três meses do ano. O setor de serviços, que representa mais de mais de 70% do PIB, teve variação e puxou o resultado total para baixo. Entre as empresas, o plano de investimentos para 2017 já foi iniciado. Segundo um levantamento realizado junto a 45 empresas pelo jornal Valor Econômico, os aportes previstos para este ano totalizam R$ 117,5 bilhões. Para Antônio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da Raia Drogasil, o cenário é de normalidade e o otimismo em relação à retomada econômica continua o mesmo. Presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), ele conta que a expectativa é que o setor cresça de 1,5% a 2,5% nos meses de maio e junho, impulsionado pelo saque das contas inativas do FGTS.

Entre empresários, economistas e trabalhadores, o sentimento é o mesmo: a economia vai decolar, ainda que, para isso, precise deixar a política para trás. Diante da possibilidade de uma segunda troca de comando no governo em apenas um ano, empresários e investidores viveram o início de um déjà-vu. Mas, no lugar do abatimento, veio a reação. “Houve um primeiro momento de cautela e temor de que a crise pudesse desencadear a retomada do quadro recessivo anterior, mas em 72 horas isso já tinha sido superado”, afirma Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza. “Existem alguns aspectos no País, a começar pelos 14 milhões de desempregados, que não podem permitir esse tipo de comportamento”. Especialistas concordam: a economia precisa amadurecer para além dos abalos políticos. “A estabilidade macroeconômica não pode ser sacrificada por crises”, diz Carlos Langoni.
Equipe econômica do governo Michel Temer tem se esforçado para mostrar que continua trabalhando na agenda de reformas
 
Reformas
O empresariado brasileiro parece estar cansado de fazer suposições sobre a governabilidade do País e os desígnios da Lava Jato. “O mercado trabalha com a hipótese mais sensata: a de que o Congresso também terá maturidade de seguir a agenda positiva tocada pelo Ministério da Fazenda, independentemente de quem estiver no poder”, diz Marco Maciel, economista-chefe da Bloomberg Intelligence para a América Latina. Para ele, o mais importante é que a agenda de reformas não pare.


A equipe econômica do governo tem se empenhado para mostrar que segue trabalhando. A primeira das quatro votações previstas para a reforma trabalhista no Senado deve acontecer na próxima semana, no dia 6. O setor do varejo, que ainda sofre com os impactos da crise, é um dos mais interessados na sua aprovação. Ela, afinal, regulamenta o trabalho intermitente e deve facilitar o regime de contratação. A reforma da previdência, essencial para que o governo consiga realizar o ajuste fiscal, ainda não tem data para votação, mas o governo já retomou os esforços para obter os votos necessários. Segundo o relator da reforma na Câmara, o deputado Arthur Maia (PPS-BA), o projeto tem hoje o apoio de mais de 280 dos 308 deputados necessários. “Se continuar a aprovação das reformas, o clima acalma, o câmbio melhora mais um pouquinho. Se parar, a situação vai se deteriorar”, diz o economista Samuel Pessoa, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV).

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