Desde sua eleição, o governo foi confrontado por três movimentos corporativos. Cedeu em dois e é provável que a Procuradoria-Geral da República cederá no terceiro
Bolsonaro não gosta de 'ativismo', mas recuou quando foi confrontado por servidores
Quem se encantou pela franquia Bolsonaro achando que se
livraria das
bandeiras do corporativismo petista, não sabia o tamanho do ativismo do andar de cima. O presidente anunciou que "vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil". Todos, não. Desde sua eleição, o governo foi confrontado por três movimentos corporativos. Cedeu em dois e é provável que a Procuradoria-Geral da República cederá no terceiro. Em todos os casos mobilizaram-se servidores do andar de cima, gente com salários mensais que vão de R$ 20 mil a sabe-se lá quanto.
bandeiras do corporativismo petista, não sabia o tamanho do ativismo do andar de cima. O presidente anunciou que "vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil". Todos, não. Desde sua eleição, o governo foi confrontado por três movimentos corporativos. Cedeu em dois e é provável que a Procuradoria-Geral da República cederá no terceiro. Em todos os casos mobilizaram-se servidores do andar de cima, gente com salários mensais que vão de R$ 20 mil a sabe-se lá quanto.
A primeira rebelião veio
dos procuradores da Fazenda Nacional. Paulo Guedes queria colocar um
diretor do BNDES na cadeira de procurador-geral. A corporação
rebelou-se, avisando que centenas de procuradores abandonariam seus
cargos em comissão, pois o procurador-geral deveria ser escolhido no
quadro da instituição. Ganharam.
O segundo confronto
deu-se com os auditores da Receita Federal. A Agência Nacional de
Aviação queria que eles cumprissem a norma da revista ao entrarem em
áreas restritas dos aeroportos. Os descontentes mostraram seu desagrado
apurrinhando a vida de milhares de passageiros, obrigando-os a esperas
de até quatro horas nas filas das alfândegas. Resolveram inspecionar
todas as malas desses supostos contrabandistas. No dia seguinte, três
ministérios foram acionados e o governo cedeu.
A
terceira rebelião veio dos procuradores da República. Até a última
terça-feira, 192 doutores devolveram 325 funções não remuneradas. Eles
apresentam reivindicações técnicas, nas quais está embutida uma questão
salarial, escondida nos penduricalhos de uma categoria que ganha, no
barato, R$ 25 mil líquidos. Por trás dessa rebelião está o painel da
sucessão da procuradora-geral, Raquel Dodge. A batalha ainda não
terminou. Até hoje, magistrados e procuradores ganharam todas.
Ativismo do andar de cima é outra coisa.
Nos EUA mexe-se na 'Bosta Seca'
Oito
em cada dez magistrados brasileiros querem importar o instituto
saxônico do "plea bargain" sem que exista sequer tradução consolidada
dessas palavras para o português. O ministro Sergio Moro fala em
"solução negociada". Trata-se de aceitar que um réu reconheça sua culpa,
negocie um acordo com o Ministério Público e obtenha alguma leniência
do juiz.
Muito bonito na teoria, mas a prática será
outra. O Brasil importou o mecanismo da delação premiada e criou o
monstrinho da doutrina da "Bosta Seca". Em 2015, quando o doleiro
Alberto Youssef disse numa audiência em Curitiba que um outro réu
mentira em sua delação e ofereceu-se para uma acareação, um procurador
disse que "esse é o tipo de coisa que quanto mais mexe, pior fica". Em
seguida, ouviu-se: "É igual a bosta seca: mexeu, fede".
(...)
A privacidade de Moro
Em Brasília, o ministro Sergio Moro foi do noviciado ao folclore em menos de dois meses.
Quando
lhe perguntaram se, dias antes da edição do decreto que facilitou a
posse de armas, encontrou-se com hierarcas da indústria Taurus, deu a
seguinte resposta:
"O direito à privacidade, no
sentido estrito, conduz à pretensão do indivíduo de não ser foco de
observação de terceiros, de não ter os seus assuntos, informações
pessoais e características expostas a terceiros ou ao público em geral."
Madame
Natasha intrigou-se com a vontade de Moro de ficar fora das vistas do
"público em geral". Mandava melhor Armando Falcão, seu antecessor de
1974 a 1979, com o famoso bordão "nada a declarar".
Faltou
sorte a Moro. Na mesma semana a Alta Corte do Reino Unido julgou o caso
dos endinheirados proprietários de um prédio vizinho ao museu Tate, que
reclamavam porque binóculos colocados no terraço devassavam suas casas.
O juiz Anthony Mann mandou-os passear e sugeriu que fechassem as
cortinas ou baixassem as persianas.
O limite de Guedes
Guedes pode muito, mas não deve mexer com o agronegócio sem combinar com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
A lealdade do pessoal que sustenta a doutora tem uma solidez que não existe na turma do papelório.
Lula em casa
Cresceu
a ala de comissários petistas interessados em sondar magistrados para
saber como seria recebido um pedido da defesa para que ele fosse
transferido para o regime de prisão domiciliar.