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domingo, 23 de junho de 2019

Em vez dos militares

O verdadeiro combate à corrupção só pode ser feito por gente honesta

Ainda sem saber o que liga o Exército ao bolsonarismo, estamos sob um teste novo do nosso futuro democrático e das perspectivas do país. As consequências que o Poder Judiciário der às transgressões de Sergio Moro vão indicar a determinação de sustentar o Estado de Direito ou a capitulação a um vale tudo irremediável, escancarando o país, ainda mais, ao que nele haja de pior. [Sergio Moro não cometeu nenhuma transgressão, ao contrário foi vítima de uma invasão ilegal = criminosa = do seu celular.
Tentar acusar a vítima é quando não existe forma de defender o acusador e a percepção de que,  a cada hora,  o escândalo pretendido com a invasão dos celulares e divulgação de supostas conversas encolhe.
Até a defesa de Lula, que num primeiro momento tentou usar as 'conversas' para favorecer o presidiário, agora declara que elas não contam no habeas corpus a favor do petista preso por corrupção, lavagem de dinheiro, etc.]

Já era tempo de se vislumbrarem alguns sinais nos níveis de responsabilidade legal e moral na aplicação de Justiça e dos direitos civis. Ali não se ouve, não se vê, não se fala e, sobretudo, não se age a respeito da conduta de Moro na Lava Jato. Não fugiu a esse imobilismo o requerido à Polícia Federal pela procuradora-geral Raquel Dodge: a investigação pedida é sobre a obtenção das gravações e sua divulgação. Os alvos verdadeiros são o jornalista Glenn Greenwald e o site The Intercept Brasil. [até agora o único crime que comprovadamente ocorreu foi a invasão dos celulares; 
na fila como um possível segundo crime está a possibilidade das conversas terem sido fraudadas = o que caracteriza um segundo crime.
A procuradora-geral tem o DEVER se requisitar investigação sobre crimes.]

A Polícia Federal é um departamento sob controle de Moro no Ministério da Justiça (nome cada vez mais impróprio). A primeira nomeação de peso desse novo ministro, na PF, foi para a seção do Crime Organizado. Até poderia vir a calhar. Não bastando, porém, que o principal interessado seja o próprio ministro, seu nomeado foi um dos delegados da Lava Jato que fizeram propaganda, pela internet, para Aécio Neves na campanha de 2014. Pretendente a novo mandado, Raquel Dodge deixa bem claro o limite de sua iniciativa quando, em relatório ao Supremo, opina contra habeas corpus para Lula. [acerta mais uma vez a procuradora-geral: ladrão condenado tem que permanecer preso e Lula é um ladrão condenado, com sentença confirmada por todas as instâncias do Poder Judiciário;
por uma questão de legalidade, o presidiário petista tem o direito de após cumprir um sexto da pena da primeira condenação, pleitear progressão de regime - poderá até ser exitoso, desde que o TRF -  4 não confirme a segunda condenação.
Confirmada,  o tempo para atingir um sexto da pena do criminoso petista dobra.]

Não se ocupa da questão Lula, propriamente, mas do intercâmbio de transgressões de Moro e Dallagnol. Tem “manifesta preocupação com a circunstância” de que as mensagens “tenham sido obtidas de maneira criminosa”. Dá essa “circunstância” como decisiva, mas vai além. Considera que “a autenticidade não foi analisada e muito menos confirmada”, logo, as gravações não têm validade processual. Mas, nesse caso, a afirmação de “maneira criminosa” de obtê-las também não é válida: “não foi analisada e muito menos confirmada”. E quem informou que a obtenção foi criminosa? Ou o que, mais do que admissível probabilidade, prova essa “circunstância”? [invadir celular ou qualquer meio de comunicação sem autorização judicial é crime.]

A autenticidade das vozes e dos diálogos de Moro e Dallagnol, no entanto, foi reconhecida por ambos. De imediato. Bastou-lhes ouvi-los, para que saíssem só pela tangente, “não tem nada de mais”, “isso é normal”, “não houve ilegalidade”. Nenhum dos dois negou serem sua voz e suas palavras nem negou o diálogo. Haveria, portanto, muito mais a ser pedido por Raquel Dodge. Mesmo na exótica situação de fazê-lo ao gravado Moro. Não há como ter dúvida honesta sobre a autenticidade das gravações. Além disso, o site The Intercept, sua seção Brasil e Greenwald fazem jornalismo sério. Dúvida e honestidade de propósitos e métodos voltam-se para os setores que vão dar, ou negar, as consequências apropriadas ao embuste praticado em nome da Lava Jato.

O verdadeiro combate à corrupção só pode ser feito por gente honesta, a Lava Jato não precisa das outras. Nem a população precisa de mais gente a enganá-la e explorá-la. Este é um momento de decisões graves —o que é sempre perigoso no Brasil.

GUERRA ELEITORAL
São dois os beneficiados pela tensão bélica no Oriente Médio. Donald Trump começa uma campanha difícil e Binyamin Netanyahu vai para a repetição eleitoral, por lhe faltarem na eleição anterior os votos e apoios para formar novo governo. O ambiente de guerra é historicamente favorável aos candidatos de linha-dura. E não consta que o Irã tivesse algo a ganhar com ataques a navios estrangeiros e o risco que daí lhe adviria.