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quarta-feira, 1 de março de 2017

Jucá, Geddel, Yunes, Padilha... Presidente Temer, o senhor sr igual ao que Itamar foi, sabíamos ser impossível, mas, por favor, não seja igual ao Sarney

Parecia escalação de técnico doido, mas houve método na maluquice, se vai dar certo, é outra questão

[presidente Temer! sabíamos que o senhor seria centenas de vezes melhor que a escarrada Dilma e graças a Deus está sendo;

esperávamos que seu desempenho chegasse próximo ao do Itamar - infelizmente não aconteceu;

mas, por favor, não seja igual ao Sarney - infelizmente, é do Sarney que seu desempenho e estilo de governar, inclusive na escolha de auxiliares, está quase igual.

Corrija,  enquanto é tempo.]

Michel Temer é um político experiente, frio, e conhece o lado do avesso de Brasília.
Em maio do ano passado, quando fritava a presidente Dilma Rousseff e o comissariado petista, circulou a notícia de que formaria um governo de notáveis. Era lorota, e foi logo desmentida.  Formou-se um governo de pessoas experientes, mas não se definiu o que vinha a ser “experiência”.

José Yunes, o amigo do peito de Temer, foi para sua assessoria especial; Romero Jucá, presidente do PMDB, para o Ministério do Planejamento; o espaçoso Geddel Vieira Lima, para a coordenação política; e Eliseu Padilha para a chefia da Casa Civil.  Em menos de um ano, três experientes integrantes dessa equipe foram para o espaço, todos metidos em situações escandalosas.

O pacote que o operador Lúcio Funaro levou ao escritório de Yunes ainda fará uma longa carreira no anedotário político nacional. Por enquanto, a versão de Yunes é uma daquelas mantas de chumbo que os dentistas jogam em cima das pessoas para protegê-las das emissões dos raios X. Nunca na história deste país um presidente perdeu tantos colaboradores em tão pouco tempo por motivos tão pouco louváveis.

O chefe da Casa Civil de Temer orgulhou-se de ter negociado o Ministério da Saúde trocando o médico Raul Cutait pelo deputado Ricardo Barros.  Esse tipo de escalação do governo pode ter parecido coisa de doido, mas nela havia dois métodos.  O primeiro, ostensivo, era a busca de uma retumbante maioria parlamentar. O segundo, implícito, era a blindagem dessa mesma maioria diante dos maus ventos da operação Lava-Jato.

Como?  Ninguém pode saber, mas o caminho se faz andando.  Nesse tipo de caminhada, convida-se o ex-ministro Carlos Velloso para o Ministério da Justiça, e nomeia-se o deputado Osmar Serraglio, campeão da doutrina de uma anistia para o doutor Eduardo Cunha. Quando Temer nomeou Jucá e Geddel, mandou um sinal para a lista de penitentes que sofrem à espera da divulgação de novas listas da Lava-Jato. Como diz o ilustre governador Pezão, quando se refere ao seu padrinho Sérgio Cabral, todos devem ter o direito de se defender.

A ida de Yunes para o Planalto foi outro sinal. Padilha sabia que mandara levar um pacote ao escritório do amigo, o operador Lúcio Funaro sabia que o entregara, e o deputado Eduardo Cunha acha que sabe a história toda, tanto que levantou o véu da carga numa pergunta que encaminhou ao juiz Sérgio Moro, para que a fizesse a Temer.  A escolha dos experientes fracassou apenas no aspecto da longevidade. Foi bem-sucedida como sinalização, coroada pela nomeação de Osmar Serraglio.

Agrupados, os penitentes rezam, à espera da divulgação das colaborações da Odebrecht.
A Lava-Jato está ferindo a oligarquia política e empresarial do século XX da mesma maneira que o fim do tráfico negreiro feriu (mas não matou) a do XIX.  Os barões do caixa dois do tráfico resistiram por mais de 30 anos.  Os marqueses do caixa dois das empreiteiras sabem que não podem durar tanto, mas a esperança é sempre a última que morre.

Primeiro nomeamos Jucá e Geddel; depois, Serraglio. Mais um pouco, soltamos Eduardo Cunha. Adiante, definimos que o TSE só tem lâmina para Dilma Rousseff. Com sorte, tiramos Lula do páreo de 2018.
Se der, deu.

Fonte: Elio Gaspari - O Globo