Demissão de general? Bobagem. Se o presidente Jair Bolsonaro mandasse
embora qualquer militar empregado no governo haveria choro e ranger de
dentes, sim, mas nada muito além disso. Os demais não pediriam demissão.
Tudo pela estabilidade do país! A quebra do sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e de mais 88
ex-funcionários do seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio? Flávio
que se arranje, com a ajuda discreta do pai. O que vier a acontecer com
ele é jogo jogado. Tsunami de verdade, capaz de demolir e de afogar tudo que encontre pelo
caminho, é o que anunciou, ontem, em Brasília o ministro Paulo Guedes,
da Economia, e reforçou em Nova Iorque o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ).
O deputado disse para uma plateia de empresários americanos e
brasileiros que as amarras impostas pelo teto de gastos em combinação
com a falta de crescimento econômico, pode levar o Brasil em breve a um ”
colapso social”. Maia mostrou-se preocupado com o possível retorno do país ao mapa da
fome. “Voltamos a fazer a campanha contra a fome no final do ano passado
e ninguém deu bola para isso”, observou. “Além do ambiente mais
radical, temos agora uma sociedade mais sofrida”.
Defendeu a revisão do teto de gastos após a aprovação da reforma da
Previdência que, segundo ele, será insuficiente para ressuscitar a
economia brasileira. E a aprovação de um projeto de crédito de R$ 240
bilhões para o pagamento de despesas correntes. Guedes foi mais apocalíptico do que Maia. “Estamos à beira de um abismo
fiscal. Vamos nos endividar para pagar Bolsa Família, BPC, Plano Safra e
as aposentadorias do regime geral, INSS. Estamos nos endividando para
pagar despesas correntes”, disse a parlamentares.
E previu: “Se o Congresso não aprovar o projeto de crédito suplementar,
será necessário travar os pagamentos do governo”. Sem o crédito, os
pagamentos de subsídios param em junho, de benefícios assistenciais em
agosto e, do Bolsa Família, em setembro. Queixou-se de que, como ministro da Economia, manda muito pouco. Afirmou
que é Bolsonaro quem decide onde são feitos cortes orçamentários. É ele
quem indica as prioridades do governo. “O poder está em quem sanciona
as leis”, ensinou.
Está claro que Guedes encontrou uma situação pior do que imaginara. O
que vendeu como receita para resolver o nó das contas públicas tinha
mais a ver com mágica. Para completar, Bolsonaro, o dono da caneta, não
sabe o que faz, o que diz e para onde vai. Um governo medíocre, sem projeto a não ser o de sobreviver, sem apoio no
Congresso, em guerra permanente com os partidos, refém de um presidente
que se diz eleito por milagre, e ameaçado de ter de suspender seus
pagamentos por falta de dinheiro…
Quer tsunami maior do que o que se avizinha?
Ministros desautorizam Bolsonaro
Quem pode, pode
O ministro Paulo Guedes, da Economia, queixa-se de mandar pouco. Quem
manda de fato, segundo ele, é o presidente Jair Bolsonaro. Porque é ele
quem sanciona as leis.
Engana-me que eu gosto!
No último domingo, em entrevista à Radio Bandeirantes, Bolsonaro disse
que havia pedido a Guedes que corrigisse a tabela do Imposto de Renda
para 2020 aplicando a inflação. As faixas do imposto não são atualizadas
desde 2015. Guedes respondeu ontem que a correção não deve acontecer no momento em
que governo fala em corte de gastos e insiste na necessidade da reforma
da Previdência. O reajuste custaria de 50 bilhões a 60 bilhões de reais.
O porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, saiu a campo
para salvar a face de Bolsonaro. Explicou que a equipe econômica ainda
realiza estudos para avaliar o reajuste, mas que não há prazo para o
anúncio das mudanças. Foi a segunda vez em uma semana que um ministro desautoriza o
presidente. Bolsonaro revelou que prometera ao ex-juiz Sérgio Moro uma
vaga no Supremo Tribunal Federal para que ele aceitasse ser ministro da
Justiça. Moro desmentiu Bolsonaro.
Ficou tudo por isso mesmo. Segue o baile.
Nas asas da FAB
País rico é outra coisa
Para falarem a respeito da crise que assola o Brasil, voaram a Nova
Iorque cabeças coroadas da República. Poderiam tê-lo feito em voos
comerciais. Mas para não perderem a majestade foram de jatinho.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voou em um jatinho da
Força Aérea Brasileira (FAB) e ofereceu carona ao ministro Dias Toffoli,
presidente do Supremo Tribunal Federal. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), voou em outro jatinho
da FAB acompanhado de um seleto grupo de senadores. Quem pagará a conta?
Adivinhe!