Num exemplo da baixa representatividade feminina na política, a lista de pré-candidatos à Presidência só tem homens. Único nome ventilado entre as mulheres é o da senadora Simone Tebet, que ainda não se lançou como concorrente
Às portas de mais uma eleição presidencial, somente homens aparecem como pré-candidatos à corrida pelo Palácio do Planalto.
Entre as mulheres, o nome mais ventilado é o da senadora Simone Tebet
(MDB-MS), que ainda não se lançou como postulante ao cargo. A dominação
masculina no pleito é um fenômeno antigo, e a única que conseguiu furar
essa bolha foi Dilma Rousseff, que, no entanto, acabou apeada do poder
no início do seu segundo mandato.
Desde o período da
redemocratização do país, sete mulheres se candidataram à Presidência da
República. A pioneira foi a advogada Lívia Maria Ledo Pio de Abreu, que
concorreu ao posto pelo Partido Nacionalista em 1989 — Fernando Collor
de Mello acabou eleito, vencendo outros 24 concorrentes. As outras
candidatas foram Thereza Ruiz (1998), Ana Maria Rangel (2006), Heloísa
Helena (2006), Marina Silva (2010 e 2014), Luciana Genro (2014) e Dilma
(2010 e 2014).
Sobre o impeachment de Dilma, o especialista destacou que tentaram fixar nela a imagem de alguém que não teve competência no cargo. “O fato é que Dilma era gerente e ex-técnica e não tinha articulação dentro do Congresso, o que a impedia de prosseguir com as políticas públicas necessárias”, avaliou.
Conforme destacou Stefson, no presidencialismo de
coalizão — quando o presidente da República faz negociações com
parlamentares —, se não houver contato entre o chefe do Executivo e o
Congresso, não é possível administrar a máquina pública. “Dilma fez uma
excelente administração, mas foi barrada por não saber fazer
articulação”, avaliou.
Em patamares globais, o Brasil está na posição 142 no ranking de mulheres nos parlamentos nacionais, conforme indica a plataforma IPU Parline.
Das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, por exemplo, 77 são ocupadas
por deputadas. Isso representa 15% da composição parlamentar. No caso do
Senado, das 81 vagas, 14 são preenchidas por senadoras (17,2%).
Nesse
ranking, o primeiro lugar é ocupado por Ruanda, na África, onde o
percentual de mulheres no parlamento é de 61,2% (Câmara inferior ou
única). Isto é, dos 80 assentos no parlamento ruandês, 49 são ocupados
por representantes do sexo feminino. [A pobreza da economia de Ruanda não mostra nenhuma vantagem do predomínio feminino em sua Câmara. Sem contar que o genocídio de 1994 matou a maior parte dos homens, levando as mulheres a representar 70% da população. Seu Índice de Desenvolvimento Humano - IDH é um dos piores do mundo.]
A doutora em ciência
política Carolina Botelho explicou que a falta de representatividade
feminina na política reflete o que ocorre na coletividade. “São várias
camadas de resposta para essa questão. Vivemos em uma sociedade que não
tem incentivo a mulheres em vários campos, entre os quais, a política.”
De acordo com a especialista, a população não enxerga pautas femininas
com a importância devida. “Tem uma formação na nossa sociedade de não
olhar mulheres como grupo a ser atendido em suas demandas para gerar
incentivo para que elas sejam reconhecidas”, frisou.
Carolina
Botelho criticou a forma como as cotas para mulheres são estabelecidas
na política brasileira — partidos são obrigados a lançar, no mínimo, 30%
de candidaturas femininas. Segundo sustentou, não adianta criar
políticas que estabelecem cotas para mulheres se não se dá condições
para que elas tenham poder na estrutura política.
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