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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Dentro do ataúde, a mulher grita



Para quem uma mulher se veste? Para si mesma, o que inclui os homens e as outras mulheres. Mas evitemos generalizações: isso não se aplica a todas as mulheres, claro, somente àquelas que veem alguma graça na vida, que catam uma felicidade mínima aqui, outra ali, em instantes do cotidiano.

As mulheres e os homens mais próximos da presidente têm problemas com a lei: Erenice Guerra é investigada na Zelotes, Lula e Mercadante serão presos, Gim Argello acaba de ser preso, José Eduardo Cardozo será processado, Fernando Pimentel será cassado e ela mesma não se sente muito bem com os últimos gestos de Rodrigo Janot que finalmente descobriu que Eduardo Cunha não é o único nem o mais grave de todos os gravíssimos casos de polícia debaixo do nariz do Procurador-Geral. Entretanto, isso nem é o pior para a governante durona diluída em crimes que vê pelas costas os partidos governistas se afastando de certo caixão que carregaram até a beirada da sepultura.

Dentro do ataúde, a mulher grita. Grita denunciando o vice-presidente por exercer as funções políticas e institucionais dele; acusando talvez mais de 2/3 dos brasileiros de golpistas que ela vitimou; queixando-se de um golpe do Congresso obediente ao rito que o próprio governo encomendou no Supremo Tribunal Federal ao custo de uma interpretação malandra da Constituição e da fraude ao regimento interno da Câmara resultando no prolongamento inútil do transe do país.Ainda se debatendo em delinquências diárias no interior do esquife, repete, sempre aos gritos a lhe deformar as feições desgraciosas e os modos democráticos ausentes, que foi eleita-pelo-voto-popular como se não soubéssemos que só conseguiu isso fazendo o diabo: com fraudes, extorsão, propinas. E como se o voto que não imunizou Collor quando sofreu impeachment e que não impediu o PT de pedir o afastamento de Itamar Franco e FHC, pudesse imunizá-la contra a lei.

A escalada de crimes para preservar o poder mantém o governo nessa putrefação pública que poderia ser evitada se – e aqui, creio, reside a desgraça de Dilma Rousseff do ponto de vista pessoal – um dos homens ou das mulheres próximas da presidente tivesse, não digo honestidade que já é demais, mas alguma temperança para fazê-la saber que há limites para a falta de limites. Mas a insanidade mal calculada e a parvoíce eficiente não a fazem burra: Dilma sabe que sabemos que ela sabe que termina domingo no Congresso (detestado pela mulherzinha de alma tirana na crença de que poderia e mesmo tinha o direito de governar sozinha) e, mais tarde, na cadeia – a mais sórdida mentira já havida num Brasil que terá visto de tudo quando os poderosos mentores e patronos dela ainda livres forem para cadeia porque, ricos ou pobres de origem, não são nem elite nem povo, mas escória.

No próximo domingo, a irascível czarina da roubalheira vestirá a mortalha do impeachment. Para quem? Será obrigada legalmente a fazê-lo por e para homens e mulheres indignados num país destruído que terá dado o primeiro passo para se refazer, ainda zonzo com a nova ordem que ele mesmo inaugura.

Fonte: Valentina de Botas – Coluna do Augusto Nunes - VEJA


Seis gravações escancaram a conspiração forjada pelo PT para impedir que fosse esclarecido o assassinato de Celso Daniel



Há uma semana, a reportagem de capa de VEJA expôs o estreito parentesco que vincula o Petrolão, o Mensalão e o assassinato de Celso Daniel, alvo da 27ª fase da Lava Jato, batizada de Carbono 14. Os três escândalos pertencem à mesma linhagem político-policial. Foram praticados pelo mesmo clã. Somados, demonstram que a transformação do PT em organização fora da lei, pronta para submeter a máquina federal a seus desígnios e eternizar-se no poder, começou a definir-se em janeiro de 2002.

O acervo de provas materiais das delinquências que balizaram o caminho da perdição é tão portentoso que milhões de brasileiros ainda não foram devidamente apresentados a preciosidades descobertas no início do século. Uma delas é o lote de áudios que registram conversas de altíssimo teor explosivo gravadas por investigadores da Polícia Federal incumbidos de esclarecer o assassinato de Celso Daniel. Esse grampo é avô do que mostra as safadezas tramadas por Lula e seus devotos, divulgado pelo juiz Sérgio Moro.

Se fosse só prefeito, Celso Daniel já teria brilho suficiente para figurar na constelação das estrelas nacionais do PT. Uma das maiores cidades do país, Santo André é a primeira letra do ABC, berço político de Lula e do partido. Mas em janeiro de 2002 ele já cruzara as fronteiras da administração municipal para coordenar a montagem do programa de governo de Lula, novamente candidato à Presidência. Quando foi sequestrado numa esquina de São Paulo, Celso Daniel ocupava o mesmo cargo que transformaria Antônio Palocci em ministro da Fazenda.

Foi um crime político, berraram em coro os Altos Companheiros assim que o corpo foi encontrado numa estrada de terra perto da capital. A comissão de frente escalada pelo PT para o cortejo fúnebre, liderada por José Dirceu, Aloízio Mercadante e Luiz Eduardo Greenhalgh, caprichou no visual. O olhar colérico, o figurino de quem não tivera tempo nem cabeça para combinar o paletó com a gravata, o choro dos órfãos de pai e mãe, os cabelos cuidadosamente desalinhados – os sinais de sofrimento se acotovelavam da cabeça aos sapatos.

Até então, a única versão na praça se amparava no que tinha contado o empresário Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, ex-assessor de Celso Daniel. Segundo o relato, os dois voltavam do jantar num restaurante em São Paulo quando o carro blindado foi interceptado numa esquina por bandidos que, estranhamente, levaram só o prefeito e nem tocaram na testemunha. O depoimento de Sombra pareceu tão verossímil quanto uma nevasca no Nordeste. Mas a comissão de frente monitorada por Lula não tinha tempo a perder com possíveis contradições no samba-enredo.  

Embora mal ajambrada, a letra não destoava do refrão que, naquele momento, interessava ao PT: Celso Daniel fora assassinado por motivos políticos. Dirceu e Mercadante lembraram que panfletos atribuídos a uma misteriosa organização ultradireitista haviam prometido a execução de dirigentes do partido.  Toninho do PT, prefeito de Campinas, fora abatido a tiros em setembro de 2001. Celso Daniel era a segunda vítima. Grávido de ira com a reprise da tragédia, Greenhalgh acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de ter ignorado os apelos para que adotasse meia dúzia de medidas preventivas.

Em pouco tempo, a polícia paulista prendeu alguns prontuários ambulantes, que assumiram a autoria do assassinato, e deu o caso por encerrado. Paradoxalmente, o PT endossou sem ressalvas a tese do crime comum. A família de Celso Daniel discordou do desfecho conveniente. O Ministério Público achou a conclusão apressada e seguiu investigando a história muito mal contada. Logo emergiram evidências de que o crime tivera motivações políticas, sim. Só que os bandidos eram ligados ao PT.

Ainda no início do último mandato de Celso Daniel, empresários da área de transportes e pelo menos um secretário municipal haviam concebido, com a concordância da autorização do prefeito, o embrião  do que o Brasil contemplaria, em escala extraordinariamente ampliada, com a descoberta do Mensalão. Praticando extorsões ou desviando dinheiro público, a quadrilha infiltrada na administração de Santo André supria campanhas do PT. Em 2001, ao constatar que os quadrilheiros estavam embolsando boa parte do dinheiro, Celso Daniel avisou que denunciaria a irregularidade ao comando do partido. Foi para tratar desse assunto que Sombra, um dos pecadores, convidou o prefeito para um jantar em São Paulo.

Entre o fim de janeiro e meados de março de 2002, investigadores da PF encarregados de esclarecer o assassinato gravaram muitas horas de conversas telefônicas entre cinco protagonistas da história de horror: Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, Ivone Santana, namorada da vítima (que já se havia separado de Miriam Belchior), Klinger Luiz de Oliveira, secretário de Serviços Municipais, Gilberto Carvalho, secretário de Governo de Santo André, e Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do PT para causas especialmente cabeludas. As 42 fitas resultantes da escuta foram encaminhadas ao juiz João Carlos da Rocha Mattos.

Em março de 2003, pouco depois do início do primeiro mandato presidencial de Lula, o magistrado alegou que as gravações haviam sido feitas sem autorização judicial e ordenou que fossem destruídas. A queima de arquivo malogrou: incontáveis cópias dos áudios garantiram a eternidade dos registros telefônicos. Em outubro de 2005, quando cumpria a pena de prisão imposta ao juiz que prosperou como vendedor de sentenças, Rocha Mattos revelou a VEJA que os diálogos mais comprometedores envolviam  Gilberto Carvalho, secretário-particular de Lula de janeiro de 2003 a dezembro de 2010 e chefe da Secretaria Geral da Presidência no primeiro mandato de Dilma Rousseff . 
 “Ele comandava todas as conversas”, disse Rocha Mattos. “Dava orientações de como as pessoas deviam proceder e mostrava preocupação com as buscas da polícia no apartamento de Celso Daniel”. Em abril de 2011, já em liberdade, Rocha Mattos reiterou a acusação. “A apuração do caso do Celso começou no fim do governo FHC”, afirmou. “A pedido do PT, a PF entrou no caso. Mas, quando o Lula assumiu, a PF virou, obviamente. Daí, ela, a PF, adulterou as fitas, eu não sei quem fez isso lá. A PF apagou as fitas, tem trechos com conversas não transcritas. O que eles fizeram foi abafar o caso, porque era muito desgastante, mais que o Mensalão. O que aconteceu foi que o dinheiro das companhias de ônibus, arrecadados para o PT, não estava chegando integralmente a Celso Daniel. Quando ele descobriu isso, a situação dele ficou muito difícil. Agentes da PF manipularam as fitas de Celso Daniel. A PF fez um filtro nas fitas para tirar o que talvez fosse mais grave envolvendo Gilberto Carvalho”.

As seis gravações escancaram a sórdida conjura dos grampeados dispostos a tudo para enterrar na vala dos crimes comuns um homicídio repleto de digitais do PT. A história do prefeito sequestrado, torturado e morto é um caso de polícia e uma coisa da política. As conversas também revelam a alma repulsiva do bando. Celso Daniel aparece nas gravações como um entulho a remover. Não merece uma única lágrima, um mísero lamento. Os comparsas se dedicam em tempo integral à missão de livrar Sombra da cadeia e acalmar o parceiro que ameaça afundar atirando. Ouça as vozes dos assassinos de fatos combinando o que fazer para impedir o esclarecimento do crime hediondo. Passados mais de 14 anos, a reaparição do fantasma avisa que a tramoia fracassou. Enquanto não for exumada toda a verdade sobre esse capítulo da história universal da infâmia, todos os meliantes sobreviventes serão assombrados pelo prefeito proibido de descansar em paz.

Com a queima das provas sonoras, Rocha Mattos virou sócio do clube de magistrados para os quais uma irregularidade processual é muito mais grave que qualquer delito. Nessa escola de doutores, aprende-se que quem arromba a porta do vizinho que está matando a mãe e evita a consumação do crime deve ser preso por invasão de domicílio. Como as gravações das conversas entre Lula e seus devotos foram autorizadas pelo juiz Sérgio Moro, o ministro Teori Zavascki anda à caça de outro pretexto semelhante para declarar inexistente o palavrório que estarreceu o país.

Se seguir o exemplo do juiz ladrão, Teori não tardará a constatar que errou feioe errou para nada. Milhares, milhões de cópias em circulação nas redes sociais informam que a verdade já não pode ser destruída. Graças à escuta promovida pela Lava Jato, foi abortada uma conspiração contra o Estado de Direito comandada por Lula e apoiada por Dilma. O resto é firula bacharelesca, conversa fiada. O essencial é que há culpados a punir. O que importa é que o castigo virá.



Dilma, entre lapsos de razão e de loucura



Lapsos de razão ainda visitam Dilma, mas fogem depressa
Presidente convoca alguns jornalistas para denunciar, de novo, golpe fantasma;
às vezes, sugere que vai respeitar o resultado negativo, mas logo a loucura volta a visitá-la

Continua tudo um despropósito, embora ela dê sinais de conformismo aqui e ali, quando a razão lembra de visitá-la, ainda que por lapsos: “Eu vou oferecer um processo de diálogo e vou respeitar não só os meus 54 milhões de votos, mas também os dos outros”. Se Dilma usasse o idioma como as pessoas fazem habitualmente, isso quereria dizer que ela reconheceria tanto a vitória como a derrota. [Dilma a única coisa que você tem a oferecer e será aceita pelos brasileiros é tua renúncia;
Só vão lamentar o beneficio da tua ausência os milhares de petistas analfabetos e incompetentes e que estarão desempregados no dia seguinte ao que você cair ou for jogada fora.]

Mas será? Em seguida, a razão foge, a doida volta a se apoderar do discurso: “Não há dúvida de que quem defende a interrupção do meu mandato sem prova é golpista”. Pois é. O erro dos malucos quase sempre é o de pressuposto. A prova do crime existe. Existe o corpo, presidente!

Ah, sim: Dilma falou em diálogo um dia depois de seu homem forte na área política, Jaques Wagner, ter afirmado que, caso a Câmara barre o avanço do impeachment, os “companheiros” vão exigir a renúncia de Michel Temer, como se isso fosse possível. O vice, aliás, foi chamado de golpista, mais uma vez, dentro do Palácio. De novo, crime de improbidade.

Tudo indica que Dilma começa a se dar conta de que a batalha por seu mandato está perdida, ainda que as forças pró-impeachment não consigam os 342 votos no domingo. Se perder, perde; se não perder, não ganha porque não conseguirá governar. Ah, sim: Dilma disse que dorme bem. Pode ser um sinal de alienação da realidade ou de que, de fato, não mente para si mesma ao menos quando diz estar em curso um golpe. Afinal, se uma pessoa normal acredita, de verdade, que forças adversárias conspiram contra ela no silêncio da noite, a primeira coisa que se vai é o sono.

Há também a possibilidade de que ela não seja uma pessoa normal.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo