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domingo, 26 de dezembro de 2021

A insatisfação do privilégio a policiais - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Bolsonaro desafiou os servidores

Presidente plantou humilhações e colheu mobilização

Com o ativismo em favor dos agentes federais, Bolsonaro mobilizou o desgosto

Só um inimigo de Bolsonaro seria capaz de propor que, às vésperas do fim do ano, ele entrasse em campo para obter um reajuste salarial dos policiais federais, e só deles.  
Colheu a devolução de mais de 500 cargos de confiança da Receita Federal e uma ameaça de greve. 
O presidente que prometeu acabar com o ativismo, fabricou-o mobilizando contra o governo funcionários concursados, nada a ver com a cumbuca de nomeações dos políticos amigos.
 
O que o Planalto pode dizer a um servidor cuja categoria tem um pleito funcional e chegou em casa tendo que explicar à família que ficou de fora da generosidade presidencial?
O estilo Bolsonaro de gestão já encrencou com o Inep, o Iphan, o Inmetro e a Anvisa. Cada encrenca deixou cicatrizes, até que explodiu a crise da Receita.

O doutor Paulo Guedes, parceiro da manobra, talvez possa contar ao capitão o que é o “efeito do túnel”, descrito pelo economista Albert Hirschman (1915-2012). Ele celebrizou-se explicando de maneira simples problemas que seus colegas expõem de forma complicada.

O “efeito do túnel” relaciona-se com a distribuição de renda. Se duas fileiras de carros estão engarrafadas num túnel e ambas se movem lentamente, os motoristas aceitam o contratempo. Se uma fileira começa a andar mais rápido, quem está parado acha que o jogo está trapaceado. Bolsonaro gosta de arriscar, mas mesmo sabendo-se que Hirschman talvez não seja flor do orquidário de Guedes, pouco custaria ao doutor pela universidade de Chicago explicá-lo ao capitão.

Os servidores públicos, como todos os trabalhadores, perderam renda. Com o ativismo em favor dos policiais, Bolsonaro mobilizou a insatisfação.

(.....)

Teste da terceira via
Pelo menos sete postulantes estão na pista buscando o pódio como candidato da terceira via: nem Lula, nem Bolsonaro.
Essa manobra parte do “pode ser uma boa”, mas até agora não tem rumo.

Aqui vai um teste para quem sonha com a terceira via:

Diga quem são os candidatos.
Diga quais são as ideias que ele defendem, além do nem-nem.
Quem não conseguir passar nesse teste não deve se preocupar. O problema não é dele. É dos candidatos.
 
(.....)
 
Recordar é viver
Nos anos 80 do século passado, quando o governo do general João Figueiredo agonizava, o general Golbery do Couto e Silva, que se demitira da chefia do Gabinete Civil, saiu-se com esta: “Você pode ir para todos os guichês de uma rodoviária, pedindo desconto na passagem. Vão negar, mas se uma vendedora aceitar o pedido, fará uma pergunta e você deverá respondê-la: Para onde o senhor quer ir?”

Figueiredo não sabia. Bolsonaro acha que sabe. 
 
 
 
Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari - MATÉRIA COMPLETA 
 
 

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