Folha de S. Paulo - O Globo
Bolsonaro desafiou os servidores
Presidente plantou humilhações e colheu mobilização
Com o ativismo em favor dos agentes federais, Bolsonaro mobilizou o desgosto
O doutor Paulo Guedes, parceiro da manobra, talvez possa contar ao capitão o que é o “efeito do túnel”, descrito pelo economista Albert Hirschman (1915-2012). Ele celebrizou-se explicando de maneira simples problemas que seus colegas expõem de forma complicada.
O “efeito do túnel” relaciona-se com a distribuição de renda. Se duas fileiras de carros estão engarrafadas num túnel e ambas se movem lentamente, os motoristas aceitam o contratempo. Se uma fileira começa a andar mais rápido, quem está parado acha que o jogo está trapaceado. Bolsonaro gosta de arriscar, mas mesmo sabendo-se que Hirschman talvez não seja flor do orquidário de Guedes, pouco custaria ao doutor pela universidade de Chicago explicá-lo ao capitão.
Os servidores públicos, como todos os trabalhadores, perderam renda. Com o ativismo em favor dos policiais, Bolsonaro mobilizou a insatisfação.
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Pelo menos sete postulantes estão na pista buscando o pódio como candidato da terceira via: nem Lula, nem Bolsonaro.
Essa manobra parte do “pode ser uma boa”, mas até agora não tem rumo.
Aqui vai um teste para quem sonha com a terceira via:
Diga quem são os candidatos.
Diga quais são as ideias que ele defendem, além do nem-nem.
Quem não conseguir passar nesse teste não deve se preocupar. O problema não é dele. É dos candidatos.
Nos anos 80 do século passado, quando o governo do general João Figueiredo agonizava, o general Golbery do Couto e Silva, que se demitira da chefia do Gabinete Civil, saiu-se com esta: “Você pode ir para todos os guichês de uma rodoviária, pedindo desconto na passagem. Vão negar, mas se uma vendedora aceitar o pedido, fará uma pergunta e você deverá respondê-la: Para onde o senhor quer ir?”
Figueiredo não sabia. Bolsonaro acha que sabe.