Bem, se a JBS nunca deu uma contribuição que não fosse propina, então praticamente todos os partidos estão sob suspeição. Não basta derrubar Temer; é preciso fechar o Congresso
Se alguém me dissesse que o grupo JBS
celebrou um acordo de delação com o Grupo Globo, não com a Procuradoria
Geral da República, eu acabaria acreditando. Afinal, os tais documentos a
que revista teve acesso para anunciar, na capa, um novo fim do mundo (o
dito-cujo já acabou umas cinco vezes) deveriam ter sido enviados à PGR,
selecionados, analisados etc. E depois se tornaria público o que é
consistente. Mas quê… Uma longa reportagem empresta detalhes à tese
absurda, estúpida, mas que é do agrado do Ministério Público Federal, de
que só a JBS repassou a políticos R$ 1,1 bilhão entre 2006 e 2014. Sim,
entende-se que era tudo propina.
Sabem o que isso significa? Que a imprensa não está aprendendo nada com a crise.
Que o Ministério Público não está aprendendo nada com a crise. Que os brasileiros, na média, não estão aprendendo nada com a crise. Quem lê o jogo logo constata que o país é hoje refém de mistificadores e vigaristas.
Vamos ver. Desde que Ricardo Saud, um
dos ex-canalhas da ex-gangue do ex-bandido Joesley Batista anunciou que
havia pagado propina a 1.829 candidatos eleitos — e há, claro!, os
não-eleitos —, pensei: “Quer dizer que nunca houve uma doação em que o
recebedor não estivesse praticando corrupção passiva? Se é assim, então
os crimes de Joesley e seus ex-vagabundos morais não são apenas 245,
como o confessado. Só de corrupção passiva, convenham, há um mínimo de
1.829 imputações.”
Ocorre que, na média, jornalista não
quer pensar mais nada. Se alguém da “Forca Tarefa” — sim, escrevi
“forca” mesmo… —, então deve ser verdade. Espero que as pessoas empenhadas em
barrar a denúncia mixuruca de Rodrigo Janot contra Michel Temer tenham
feito o devido uso pragmático da reportagem de “Época”. O que está lá é
uma advertência do que virá se o presidente cair. Ninguém, a não ser
algum santo escolhido depois de um reality show no Projac, terá
condições de assumir a Presidência da República. O que se faz, naquela
reportagem, notem bem, é demonizar todo o processo político.
Ainda que aquele volume de
“transferência” fosse verdadeiro, não se distinguem doações legais de
ilegais; caixa dois com contrapartida de caixa dois sem contrapartida;
caixa um sem contrapartida de caixa um com contrapartida. O que “Época”
publica é, na verdade, parte do arranjo feito pela holding moral
“J&J“: Joesley e Janot. Infelizmente, a maioria dos jornalistas e
colunistas — em especial “os” e “as” que tentam aparentar independência —
são intelectualmente dependentes da Lava Jato e não têm coragem de
apontar a fraude. Como temem o alarido e não querem ser xingados nas
redes sociais pelas hostes da ignorância militante, então fazem a
análise do acochambramento.
Tornada pública na antevéspera da
votação da Câmara que vai decidir se a denúncia feita por Janot contra
Temer será ou não enviada ao Supremo, cumpriria que até os deputados de
oposição — cujos partidos estão na lista — pensassem um pouquinho, não é
mesmo? É claro que mais esse vazamento foi feito de olho no calendário,
para influenciar os votos: afinal, é também uma reportagem anti-Temer.
Ocorre que ninguém escapa ali.
Mais: levar aquela estrovenga a sério
corresponde a comprar uma versão que a investigação, depois, não
consegue sustentar. Vale a pena deixar que o processo político seja
pautado por bandidos? A resposta, obviamente, é “não”.
Mais: Vejam o caso de Sérgio Machado. A
Polícia Federal procurou evidências de que suas vítimas estavam tentando
obstruir a Lava Jato e nada encontrou. Era uma ficção na qual só os
procuradores e Sérgio Moro acreditaram. As delações feitas pela penca de
diretores da Odebrecht já começam a dar problema. Ainda voltarei a esse
assunto. Vem muita confusão por aí. E, acreditem, serão a própria
Polícia Federal e as áreas salubres da Justiça a evidenciar o desastre
provocado por Rodrigo Janot e seus fanáticos.
Ele tinha tudo para conduzir a operação
para um lugar seguro e para fazer dela uma referência no combate à
corrupção. Em vez de pensar como homem de Estado, dotado de um
formidável poder, preferiu ser o gendarme de quarteirão, alimentando
tentações golpistas. O que traz as páginas de Época é expressão desse delírio. Creio que a reportagem tenha ajudado Temer a ganhar mais alguns votos.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo