Não é preciso crer em Deus para defender a inviolabilidade da vida humana. Basta crer na particularidade do homem. E eu creio
As que já são mães e vão às ruas em defesa do aborto estão deixando claro que seus respectivos filhos são apenas abortos que ou esqueceram de acontecer
Útero-seco é toda mulher, mãe ou não, fértil ou não, que acredita que tal órgão lhe confere especial competência para marchar em favor da morte
Quero ainda
falar daquelas senhoras (ler posts anteriores) que resolveram
interromper uma passeata contra Eduardo Cunha e em defesa do aborto para
comer alguma coisinha num bar-café, tomar um drinque e me hostilizar.
Segundo a mais agressiva delas, gente como eu “deveria ser proibida de
entrar num bar”. O que leva aquelas senhoras, a maioria na casa dos 50,
todas tentando fugir da velhice – os esforços eram visíveis e
malsucedidos –, a marchar em favor da morte? Há coisas que fogem à minha
compreensão. Que diabo de solidão essencial as condena a uma militância
tão amarga?
Querem ver?
Embora eu seja, obviamente, contrário à eutanásia, entendo, sim os
argumentos daqueles que defendem tal prática. E poderia até me
compadecer de quem enfrentou a dor e acabou fazendo essa escolha – e há a
possibilidade de que tenha atendido a um pedido do ente querido que se
foi. Os dramas individuais pertencem a uma teia de relações bem mais
ampla, bem mais complexa, do que as demandas políticas. Mas não posso
aceitar, não sem um enorme espanto, que alguém se mobilize, como já vi
em países europeus, para ir a uma marcha em defesa da eutanásia. O que
leva alguém a sair da cama por isso?
O mesmo vale
para o aborto. Transformar num monstro a mulher que abortou de forma
volitiva seria um erro estúpido. Aliás, eis uma questão que o papa
Francisco não está sabendo – e não está!!! – tratar com o devido
cuidado. Ele não é, assim, um mestre da filosofia e da teologia,
infelizmente… Em termos puramente religiosos, poder-se-ia dizer que se
acolhe a pecadora, mas não o pecado.
Mas tiremos a
religião da conversa: acolhe-se o humano, com todas as suas falhas, mas
não a escolha que ele fez como um norte de civilização. “Ah, mas
mulheres morrem em decorrência de abortos malfeitos…” É verdade. O
número é brutalmente inferior àquele que as feminázis propagavam. Até
quando as desmoralizei com dados oficiais sobre o número total de óbitos
de mulheres no Brasil, elas anunciavam que 200 mil morriam por ano em
decorrência do aborto.
Atenção! O
número é ligeiramente superior a… mil. É muito? É, sim! [só que se trata de um número fácil de ser reduzido; proíba-se o aborto, e quem desobedecer receba uma punição rigorosa e o número de mulheres vítimas do aborto cairá a zero ou próximo de.] A eventual
legalização do aborto – e, pois, sua possível multiplicação – certamente
acabaria levando a um número maior de ocorrências fatais em razão dos
riscos associados à interrupção da gravidez e às péssimas condições da
saúde pública no Brasil. É moralmente doloso que essas senhoras se
dediquem à luta para que o serviço público de saúde pratique abortos em
série, mas não para que ele ofereça um atendimento pré-natal decente.
Entre a vida e a morte, escolheram a morte.
Ademais, não
falo do “pecado”. Não é preciso crer em Deus para defender a
inviolabilidade da vida humana. Basta crer na particularidade do homem. E
eu creio. Sou católico, sim. Mas, antes disso, sou um humanista. Não
quero impor a minha religião a ninguém. Eu apenas combato os que
escolheram racionalizar os caminhos da morte em vez de tornar mais
viáveis os da vida.
Sim, eu dei
combate àquelas senhoras e à moça barbuda que estava com elas – ela
própria, também, uma sobrevivente da tese que defendia, certo? – porque
se tratava de uma questão política e porque fui alvo da sua
intolerância. Mas, reitero, depois de desmoralizá-las, depois de dizer
que elas poderiam ao menos tentar matar quem pode correr, senti uma
profunda pena, compaixão mesmo.
Volto, pois,
ao ponto: em que dores sem cura está a alma de quem sai de casa para
marchar em favor da morte e depois dá um tempinho para tomar uma
cerveja?
Eu até me desculpo com elas. Merecem, antes de mais nada, as minhas orações. Que consigam sair do poço da amargura!
Leia também: Útero-seco é toda mulher, mãe ou não, fértil ou
não...
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/utero-seco-e-toda-mulher-mae-ou-nao-fertil-ou-nao-que-acredita-que-tal-orgao-lhe-confere-especial-competencia-para-marchar-em-favor-da-morte/