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domingo, 24 de setembro de 2023

No auge da militância, tolerância com trans desaba no Reino Unido - Gazeta do Povo

Cidadania Digital   -   Madeleine Lacsko

Nos últimos quatro anos, justamente no auge da militância, a tolerância com as pessoas trans desabou no Reino Unido. É o que mostra a pesquisa British Social Attitudes, feita periodicamente nos últimos 40 anos pelo governo britânico. Em todas as demais questões pesquisadas, que envolvem sempre a pauta de costumes, houve avanço da visão liberal.

É uma pesquisa interessante porque não tem relação com o que a pessoa pratica ou acredita ser melhor para a própria vida. O governo levanta periodicamente qual a tolerância para que outras pessoas tenham determinado comportamento, sob o ponto de vista exclusivo da avaliação moral. A pesquisa faz algumas afirmações e pergunta se o entrevistado concorda totalmente, discorda totalmente ou nenhuma das duas coisas. A primeira amostragem é de 1983, mas nem todas as perguntas começaram a ser feitas naquela época. A pesquisa ganhou mais nuances, então alguns temas começam a ser medidos depois.

    O repertório militante é apenas uma desculpa para promover no mercado determinado grupo e inviabilizar a concorrência.  Na questão da formação de família houve uma mudança grande entre a década de 1980 e esta década de 2020. As perguntas sobre o tema são, por exemplo:

Não há problema em um casal viver junto sem a intenção de se casar.

Em 1994, 64% concordavam com isso, número que subiu para 81% agora. Os que discordavam caíram de 19% para 8%.

Pessoas que desejam ter filhos devem obrigatoriamente se casar.

Em 1983, 70% pensavam assim e o número caiu para 24%. Os que eram contrários cresceram de 17% para 45%. Triplicaram os que não têm opinião formada, de 10% para 30%.

    A violência das campanhas que fingem defender direitos de pessoas trans ficou conhecida no mundo todo.  Também cresceu exponencialmente a tolerância com sexo antes do casamento e relações entre pessoas do mesmo sexo nos últimos quarenta anos, com uma pequena queda de 2019 para cá.

No gráfico, a linha roxa define quem acha não haver nenhum problema com sexo antes do casamento. A cor de rosa é dos que consideram não haver nenhum problema com relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

A importância dada à fidelidade no casamento, no entanto, permanece quase inabalada entre os britânicos nos últimos 40 anos.  Em 1983, 58% dos britânicos diziam considerar sempre errado o sexo de uma pessoa casada fora do casamento. Hoje, o índice é de 57%.

Um dado interessante do compilado das pesquisas é que a moral pública não muda do dia para a noite. Também quando vemos os recortes por idade, fica claro que cada geração acaba mantendo boa parte de seus conceitos morais ao longo da vida. Obviamente existem mudanças. O mundo muda e nós também aprendemos com a vida. O que não há ali é mudança radical. Aliás, há uma única: a visão sobre pessoas transgênero.

    A perseguição à escritora J. K. Rowling, criadora de Harry Potter, é um marco.  A discussão pública sobre o tema começa em 2004 no Reino Unido. Há um debate legal acerca do reconhecimento. Em 2005, passa uma lei que permite a mudança dos documentos das pessoas que se identificam com o outro sexo e comprovadamente têm disforia de gênero.

De 2016 até 2019, a visão sobre transexuais quase não mudou no Reino Unido. As perguntas feitas sobre o tema eram autodescritivas e divididas em três níveis diferentes.

O nível de preconceito auto-descrito em relação a pessoas que são transgênero.


“Muito preconceito” ficou sempre em torno de 2% ou 3%. Agora saltou para 6%.

“Um pouco de preconceito” era em torno de 12% a 5% e saltou agora para 27%.

“Nenhum preconceito” ficava em torno de 82% a 83% e agora caiu para 64%.

Qual a grande mudança que aconteceu em 2019? Foi a tal história da autodeclaração, que causa polêmica no mundo todo. 
Até 2019, só se reconhecia como transgênero a pessoa que tinha o diagnóstico de disforia de gênero e realmente fazia esforços para ser reconhecida como de outro sexo. Além disso, era um tema relacionado exclusivamente a pessoas maiores de idade.
É importante notar que, antes dessa época, nem no Reino Unido e nem no Brasil havia tanta popularidade nos tratamentos cirúrgicos.  
Claro que havia pessoas que recorriam e a história mais famosa por aqui é a de Roberta Close. 
Mas havia também casos como o de Rogéria, que jamais desejou um tratamento cirúrgico mas se apresentava socialmente como figura feminina.

    Basta carimbar uma mulher como transfóbica para que se justifique a destruição dela.

A autodeclaração passou a questão a uma outra realidade. Basta alguém dizer que é de outro sexo para ser reconhecido como sendo uma pessoa trans. É precisamente esse ponto que incendiou a opinião pública. No Reino Unido ainda tem o adicional de baixar a idade para 16 anos. A violência das campanhas que fingem defender direitos de pessoas trans ficou conhecida no mundo todo. A perseguição à escritora J. K. Rowling, criadora de Harry Potter, é um marco. Basta carimbar uma mulher como transfóbica para que se justifique a destruição dela.

Eu sou uma das pessoas que enxerga nesse tipo de militância um fenômeno de mercado e concorrência desleal completamente desconectado com causas. O repertório militante é apenas uma desculpa para promover no mercado determinado grupo e inviabilizar a concorrência.

A lógica do melhor produto deixa de valer e é substituída por julgamentos morais sumários, promovidos pelos canceladores. Este é, aliás, o pano de fundo de todos os casos que conto no meu livro, Cancelando o Cancelamento, publicado pela LVM Editora.

Se havia dúvidas quanto ao efeito da militância sobre a causa, agora não há mais. Tudo o que fizeram fingindo que defendiam o direito das pessoas trans só serviu para aumentar o preconceito.

 Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - Cidadania Digital


domingo, 30 de julho de 2023

O Olimpo pede mais proteção - Nikolas Ferreira

Gazeta do Povo - VOZES

Uma história digna de virar HQ foi o estopim para que na última sexta-feira o governo Lula apresentasse um novo conjunto de leis chamado ''Pacote da Democracia'', que assim como o PL da Censura, tem o claro objetivo de inibir e criminalizar a direita.  
Dentre as propostas, está o aumento de penas e sanções, para quem organizar, liderar ou financiar movimentos antidemocráticos e para crimes que atentem contra a integridade física, contra a vida ou a liberdade do Presidente da República, do Vice-Presidente, dos Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, dos Ministros do STF e do PGR.

Mas afinal, o que será classificado como ''movimentos antidemocráticos''? Quem não confiar nas urnas eletrônicas? 
Quem criticar os ministros do STF? 
Quem estiver usando uma camisa do Brasil ou portando uma bandeira? Quem ousar fazer oposição ao atual governo? 
Para a tirania, a definição de ataques à democracia irá se resumir a uma frase: aquilo que quiserem. A esquerda tem o incrível dom de fazer valer a máxima do "acuse-os do que você faz, chame-os do que você é". Reclamam de um ilusório discurso hostil, mas na realidade são eles que estão defendendo o fim de uma corrente política contrária ao que defendem. Condenam hipotéticas agressões, mas possuem uma militância conhecida por ser nociva contra seus antagonistas.

Lula por exemplo, não perdeu tempo ao condenar e classificar como “animais selvagens” os supostos agressores de Alexandre de Moraes, antecipando até mesmo o resultado das investigações. 
Postura bem diferente daquela notada quando o ex-vereador Maninho do PT feriu gravemente um empresário em frente ao Instituto Lula. Além de não haver culpabilização, o petista fez um discurso no ano passado elogiando o ato cometido pelo seu aliado, que poderia ter ceifado a vida de um inocente. Não tratavam como ataques às instituições e ao Estado Democrático de Direito no Brasil quando o ministro Flávio Dino falou em golpe nas eleições que disputou e duvidava das urnas eletrônicas, quando um militante comunista recomendou odiar, xingar, cuspir e pegar pelos cabelos um ministro do STF, ou quando Lula dizia que nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada. Algum deles foi multado, censurado ou preso? 
 
A resposta é não. Mas a balança não foi a mesma com relação aos inúmeros inocentes do 08/01, que foram ou permanecem presos até hoje, aos políticos multados e inelegíveis, aos jornalistas perseguidos ou aos ativistas de direita que foram censurados. 
A preocupação não é pelo que é dito ou feito e sim por quem.

    Para a tirania, a definição de ataques à democracia irá se resumir a uma frase: aquilo que quiserem

Por que não investem em melhorias nas apurações criminais para que os que realmente atentarem contra a democracia sejam justamente responsabilizados? Simples. O foco não é fazer justiça e sim desumanizar e perseguir oposicionistas e ir lapidando uma ditadura. 
Hoje, para um cidadão comum que atenta contra a vida de alguém, a pena é de 6 a 20 anos. Se esse ''alguém'' for um político ou um ministro do STF por exemplo, querem que a punição seja de 20 a 40 anos.

O brasileiro convive diariamente com a impunidade e praticamente implora por mais rigidez e cumprimento das leis para inibir a criminalidade e não vê nada evoluindo para que isso aconteça. 
Agora, assiste uma classe política dizendo que a sua vida vale menos do que a dos autodenominados ''deuses''.

Analisando de forma simples nosso atual cenário, não me impressiona que o parlamento israelense tenha aprovado uma reforma que impõe limites à atuação do Judiciário com a extinção do "princípio da razoabilidade", que possibilitava à Suprema Corte a revisão de decisões tomadas pelo legislativo e executivo.

Por aqui, sempre acham uma forma de promover a segregação de pessoas
Se querem revisar penas, que seja em favor de todos. 
Se querem punir criminosos, que não atinjam inocentes
Se querem defender a democracia, que haja liberdade. 
Seguimos em busca de coerência, enquanto o Olimpo pede mais proteção.
 
Nikolas Ferreira,  deputado federal -coluna Gazeta do Povo - VOZES
 
 
 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Não se governa um país com sede de vingança, diz Estadão, sobre Lula

Jornal fez críticas ao presidente e ao PT

  Cristyan Costa
 
O presidente Lula, durante anúncio de novos valores de bolsas de estudo, em Brasília - 16/02/2023 | Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo publicado nesta terça-feira, 21, afirmou que o presidente Lula “governa com o fígado”. No texto, a publicação critica uma resolução da legenda “eivada de ressentimentos e mentiras” que, entre outros tópicos, classifica o impeachment de Dilma Rousseff como “golpe”.

“Quem lê aquele documento sai com a nítida impressão de que o Brasil tem uma dívida praticamente impagável com os petistas, sobretudo com a sra. Dilma Rousseff e com o presidente Lula da Silva”, diz o editorial. “O único objetivo parece ser reescrever a história recente do país para lavar a alma da militância depois de uma série de reveses políticos e judiciais sofridos.”

Adiante, o Estadão observa que o PT vive em um “universo paralelo” ao sustentar a tese segundo a qual antes do processo de destituição da petista o Brasil vivia paz social e prosperidade econômica. “O partido, nessa visão mendaz da história, teria sido vítima de ‘falsas denúncias’ de corrupção à época dos escândalos do mensalão e do petrolão”, exemplificou o jornal, no editorial.

“Petistas fanáticos jamais aceitariam o fato, de resto incontestável, de que o impeachment de Dilma foi conduzido estritamente segundo a Constituiçãosalvo quando, em seu desfecho, preservou os direitos políticos de Dilma em vez de cassá-los, numa maracutaia típica daqueles tempos esquisitos”, constatou o Estadão. “Os fiéis da seita lulopetista igualmente ofendem-se quando se demonstram os inúmeros crimes de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro cometidos pela patota.”

Por fim, o Estadão diz que os “ressentimentos de Lula da Silva e a sede de vingança que parece animar as lideranças petistas são genuínos ou nada mais que tática para manter a militância mobilizada a despeito de certas decisões impopulares que o governo logo terá de tomar, pouco importa”. “O fato é que não é assim que se governa um país”, disse o jornal, ao defender uma reaproximação de Lula com a “frente ampla” que o elegeu.

Leia também: “O fim do consórcio de imprensa”, reportagem publicada na Edição 150 da Revista Oeste

 

terça-feira, 5 de julho de 2022

Sexo, gênero e militância - José Luiz Martins

Sendo muito sincero, pouco me importa se você mantém relações sexuais com homens ou com mulheres, desde que sejam adultos e a relação seja consensual. [e não queira convencer que você está certo - cada um no seu quadrado.]

Também não tenho o menor interesse se você se veste como homem, como mulher ou como um esquimó. Isso é uma questão sua e não vou me intrometer. No máximo, posso dar risada, se eu achar engraçado - e não venha censurar o bom humor alheio. Não é nada contra você, todos temos nossos aspectos risíveis - admita os seus.

Viva como bem entender e conte com meu total apoio contra quem quiser se meter no seu modo de vida. Não é porque você não se parece comigo, que vou te atacar. Pelo contrário: a diversidade costuma ser bastante enriquecedora.

Só não queira entortar a verdade para fazer política barata. Em primeiro lugar, crianças não estão prontas para a sexualidade
Apresentar o sexo para elas, seja hétero, homo ou bissexual, é muito complexo e pode fazer uma confusão danada na cabeça delas. Respeite o ritmo das crianças e espere alguns anos. 
 
Outra coisa: não é porque você matava aulas na escola, que a biologia não existe. 
 O fato de você ignorar algo não faz com que isso deixe de existir. 
Um dos meus maiores aprendizados como deficiente físico foi entender e aceitar meu corpo como ele é. 
Uso próteses e muletas para potencializar meu desempenho físico, não para tentar me transformar em algo que não sou, nem nunca serei.
 
Finalmente, não se faça de vítima. Todos nós temos nossas diferenças - com todas as vantagens e desvantagens que isso traz. Porém reduzir-se a um único aspecto de sua vida apenas empobrece a alma
Somos mais que nossos hábitos sexuais. A menos que você transe 24 horas por dia, você é um monte de outras coisas além do sexo.

Uma coisa é lutar contra o preconceito - e conte com meu apoio, eu tenho bastante experiência nisso, pode acreditar. Outra, completamente diferente, é depender de aprovação alheia pra viver. Boa sorte.

Texto publicado sem título pelo autor em sua página no Facebook.           .

 José Luiz Martins

 

sábado, 5 de março de 2022

O Fim da Beleza vira alvo de esquerdistas radicais, mas já foi visto por mais de 1 milhão - Cristina Graeml - VOZES

Gazeta do Povo

O Fim da Beleza, documentário recém-lançado da Brasil Paralelo, é o mais novo alvo das milícias digitais travestidas de "censores do bem". Depois de um dia inteiro de ataques nas redes sociais, sem querer a militância trouxe à tona, de novo, a hipocrisia do discurso da esquerda, que acusa os outros do que ela própria faz.

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Quem é retrógrado e autoritário? Quem se propõe a valorizar o que é belo e construir um pensamento crítico acerca da poluição visual das cidades, por exemplo, ou da feiúra hoje tratada como arte? Ou quem sequer aceita o debate e tenta até impedir que ele exista?

Ao promover mais uma uma campanha de cancelamento contra quem pensa diferente, a militância de extrema esquerda deixa claro que é ela quem adora tirania e censura.

A vítima da vez foi uma trilogia que propõe um novo olhar sobre o que estamos vendo e o que nos está sendo empurrado como arte. Aparentemente a esquerda não quer assistir, nem discutir o assunto, mas também não quer permitir que os outros assistam ou discutam.

Prefere propor o banimento do filme para que as pessoas fiquem presas à ideia de que bonito é o só o que os ditos “progressistas” criam ou apreciam.

Brasil Paralelo e “O Fim da Beleza”
O Fim da Beleza
é uma série documental de três episódios, que estão disponíveis de graça no YouTube da Brasil Paralelo, como todos os outros filmes da produtora, que surgiu em 2016 se propondo a ampliar o acesso à cultura e tratar de temas ignorados pela maior parte dos cineastas e produtores de filmes nacionais.

A linha condutora dos roteiros é conservadora, pautada em valores que são os mesmos da maior parte dos brasileiros, conforme já ficou provado em pesquisas. Não à toa as dezenas de documentários já lançados nesses 5 anos de atuação da empresa tiveram milhões de visualizações. O público tem aprovado a qualidade do material produzido e provado que existe demanda por conteúdo que fuja do massacre midiático imposto pela esquerda.

Campanhas de cancelamento e censura
Desde que surgiu a Brasil Paralelo vem sendo alvo de críticas e campanhas de difamação promovidas pela militância de esquerda, que não aceita ver produções questionando o “politicamente correto”, levando o público a reflexões que não vinham sendo feitas nas últimas décadas, onde um pensamento único dominou o meio artístico e acadêmico.

Nessa trilogia, especificamente, a Brasil Paralelo convida o público a questionar o lado estético da arte contemporânea e até a arquitetura das cidades, levantando um debate sobre o que é belo, afinal, nesses tempos em que museus exibem telas em branco ou com qualquer rabisco, sem moldura ou assinatura.

A série de documentários mostra obras de arte consagradas contrastando com a feiúra e o vazio criativo explicitados em performances com gente nua, disponível até para ser tocada pelo público (incluindo crianças), como se isso fosse uma grande expressão artística.[RELEMBRE: 'queermuseu' é uma aberração com apologia à pedofilia, à zoofilia, vilipendio à religião e consiste de tudo mais que for reprovável, repugnante.]

É claro que os “inteligentinhos”, como bem definiu o filósofo e escritor Luís Felipe Pondé (um dos entrevistados, aliás, no documentário o Fim da Beleza), não gostaram de ver a “arte” que eles tanto valorizam questionada.  Partiram para o ataque, chamando a Brasil Paralelo de "produtora de extrema direita" e lançando uma campanha contra a exibição do documentário.

Acontece que a triologia já estava lançada e fazendo muito sucesso. Somados, os três episódios já tinham ultrapassado a marca de um milhão de visualizações no YouTube quando a esquerda descobriu o filme.  E só descobriu, porque a produtora lançou um convite para estudantes organizarem exibições do documentário nas universidades e, assim, promoverem um debate saudável e necessário sobre um tema sobre o qual professores não costumam se debruçar. Muitos, de fato, fizeram sessões de cinema seguidas de discussões sobre arte e beleza.


Tentativa de censura na UFPR
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), um grupo de alunos ousou agendar a exibição do primeiro episódio do filme para uma sala da faculdade de Direito. Tão logo souberam do evento, professores e alunos de esquerda começaram a pressionar a coordenação do curso de Direito e até a reitoria, para tentar impedir que a sessão de cinema ocorresse, alegando ser incompatível com um espaço de universidade pública.

Um perfil no Twitter, criado só para difamar e lançar campanhas de ódio contra os fundadores da Brasil Paralelo, foi pela mesma linha e propôs censura ao filme.

“O Fim da Beleza da BP [Brasil Paralelo] tem uma exibição marcada amanhã [dia 3] na faculdade de direito (sic) da @UFPR. É inadmissível este tipo de conteúdo sendo propagado em universidades PÚBLICAS. Conto com vocês para compartilhar e pressionar para impedir essa exibição. Os perfis são @DireitoUFPR e @UFPR”

Publicação do perfil Brasil para lerdos, no Twitter

A partir desse perfil, universitários e jornalistas militantes de esquerda fomentaram a campanha de censura, sugerindo inclusive que todas as produções da Brasil Paralelo fossem consideradas criminosas.  Agiram, mais uma vez, como um verdadeiro gabinete de ódio ou milícia digital, expressões que tanto usam para adjetivar os outros.

Os adeptos da cultura do “cancelamento” foram rápidos. Uma das  primeiras respostas ao post propondo censura sugeriu que marcassem o perfil do reitor da UFPR, para aumentar a pressão. No comentário seguinte o reitor já estava sendo marcado e cobrado. “É aceitável a propagação desse tipo de conteúdo dentro da Universidade Pública, senhor reitor?”, perguntou um militante, sem especificar o que há de errado com o filme.

Provavelmente nem sabia. É típico da esquerda falar do que não sabe, atacar um conteúdo só porque não gosta de quem produziu. Fingem que lutam contra a censura e promovem campanhas de censura; fingem defender a liberdade e tentam impedir a livre expressão do pensamento e o livre acesso a produções culturais sempre que o viés for diferente daquelas ideologias que defendem.

Este parece ser, aliás, o modus operandi da esquerda. Por que não criticaram o conteúdo, apresentando falhas, trazendo uma contra-argumentação? Quando não conseguem debater com argumentos tentam desqualificar o interlocutor.

Tentativa de criminalizar a produção de conteúdo conservador
Vários perfis, inclusive de jornalistas de esquerda, entraram na campanha de difamação do documentário, aparentemente sem sequer assistir. Teve militante de redação, que se diz liberal, promovendo enquete no Twitter para tentar associar o trabalho da Brasil Paralelo a crime. “Você seria a favor da proibição legal de documentários da Brasil Paralelo? E acha que produzi-los e veiculá-los deveria ser crime?”, perguntou o militante sem a menor vergonha de revelar-se autoritário. Tomou uma lavada! Quase 90% dos que responderam disseram NÃO.

O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, também não se rendeu à pressão. Ele defendeu a liberdade de expressão dos estudantes e o direito de usarem as dependências da universidade para exibir o filme.

Tiro saiu pela culatra
O Fim da Beleza
nada mais é do que uma retrospectiva de cem anos de manifestações artísticas, desde o fim da Primeira Guerra Mundial, quando as máquinas da revolução industrial começaram a inspirar até a arquiteura e as formas artísticas foram deixando de se inspirar no homem e na natureza para seguir o maquinário industrial.

Professores, críticos de arte, arquitetos, filósofos e psicólogos entrevistados defendem que a decadência estética interferiu negativamente na sociedade, mudando nosso jeito de ver a beleza. É uma tese até que pode ser contestada, mas por que precisaria ser abolida do debate? Este não foi o primeiro documentário da Brasil Paralelo que sofreu campanha de difamação por pessoas que claramente sequer conheciam o conteúdo.

A turma que sempre exige empatia, respeito às diferenças, que se diz contra a censura, mas ataca a liberdade de expressão dos outros, já tinha promovido ataques de ódio e desinformação contra a produtora de filmes na época do documentário de estreia - 1964, Brasil Entre Armas e Livros.  O filme aborda o período do regime militar no Brasil, apresentando depoimentos e documentos inéditos levantados até no exterior, que trazem novos elementos para entender aqueles anos da história política brasileira.

Aqui vale um parênteses: jornais que difamaram a empresa Brasil Paralelo e o filme 1964, antes mesmo do lançamento, foram condenados pela Justiça a se retratar, abrindo espaço para direito de resposta. Tiveram que admitir que tinham falado mal do filme sem sequer conhecer o conteúdo e que os artigos publicados não condiziam com a realidade.

Liberdade de expressão
Não adianta quererem cancelar pessoas e produções só por serem conservadoras.
Ser conservador não é crime. Ainda que na pandemia a gente tenha visto até as redes sociais entrarem na onda da censura, impedindo médicos, cientistas, parlamentares e jornalistas conservadores e questionadores de falar, a liberdade de expressão está garantida na Constituição brasileira.

Quase todos que tiveram vídeo derrubado ou perfil bloqueado, e entraram na Justiça, conseguiram resgatar o acesso a posts apagados e contas banidas. No caso específico da tentativa de censura ao filme O Fim da Beleza, o feitiço virou contra o feiticeiro, como diz o ditado popular.

A sessão de cinema na Universidade Federal do Paraná foi mantida. O documentário foi assistido por um grupo pequeno de estudantes, como estava previsto, mas agora tem muito mais visibilidade, graças à repercussão feita pelos militantes raivosos que queriam, porque queriam censurar.  A Brasil Paralelo inclusive aproveitou que os fãs dos documentários da produtora estavam contestando os difamadores nas redes sociais e escancarou a hipocrisia. Primeiro compartilhou o post de um seguidor que fez um apanhado de fotos de “performances artísticas” bastante questionáveis, exibidas dentro de universidades federais.

“O Fim da Beleza” nas universidades não pode, mas…”, diz a legenda para o repost de fotos dos “artistas” nus se acariciando em público ou em poses obscenas para causar constrangimento a quem assistia. No texto, junto da publicação, o perfil da Brasil Paralelo publicou um resumo do ataque que sofreu.

"Quando criticados (nunca censurados) por suas "performances artísticas", alegam que as universidades são território de livre expressão. Mesmo o corpo humano é exposto e explorado publicamente. Nossa primeira produção de 2022 aborda um problema silencioso, pouco discutido no país, mas que afeta todos nós."

Post da Brasil Paralelo no Instagram.

"Viajamos pela Europa, EUA e Brasil para entrevistar grandes especialistas no assunto. Para o documentário O Fim Da Beleza ganhar vida, não investimos apenas dinheiro. Nossa equipe também investiu incontáveis horas de trabalho para chegar no cerne da questão e explicá-lo de modo simples. Debates, análises e investigações…"

"O longo processo criativo resultou na trilogia disponibilizada gratuitamente. Em poucos dias, a exibição voluntária de O Fim da Beleza em escolas e universidades começou a ocorrer. Ao compreenderem a profundidade da questão, alunos e professores enxergaram a necessidade de discutir o conteúdo dos episódios."

"Mesmo com todo esse esforço, há quem queira censurar o documentário. Não querem o livre debate em universidades. Influenciadores se manifestaram contra nossa liberdade de expressão. Universitários pediram boicote. Parecem estar fazendo de tudo para que apenas um lado do debate seja ouvido."

"Por que não nos deixam introduzir novas ideias no debate público? Após anos batalhando pela liberdade de expressão, não podemos aceitar a censura. O Fim da Beleza precisa circular livremente. Ajude-nos assistindo e divulgando o documentário."

A produtora também compartilhou no Instagram uma reportagem do jornal Folha de São Paulo que alimentava a polêmica. E escreveu: “O Fim da Beleza, mais novo documentário da Brasil Paralelo, segue incomodando quem estava acostumado a um discurso único, hegemônico, nas universidades”.

"Bastou confirmarmos a exibição do filme na Universidade Federal do Paraná e os censores de Twitter já começaram a se mobilizar, ganhando mesmo destaque na grande imprensa. Ironicamente, um filme que critica o autoritarismo está sofrendo tentativa de censura. É um documentário com a presença de acadêmicos nacionais e internacionais, de reputação consolidada e com extensa bibliografia."

"Logicamente estamos abertos a críticas, mas a universidade brasileira precisa aprender a dialogar em vez de tentar proibir. Eles podem defender um mictório como arte, crianças tocando em um homem nu como arte, mas não podemos defender as obras de Florença, Veneza e Michelangelo?"

Post da Brasil Paralelo no Instagram.

Para finalizar, vale dizer que o documentário O Fim da Beleza parte de uma pergunta: “Se a beleza está nos olhos de quem vê, como estamos enxergando o mundo”?

É uma boa provocação. Olhe ao seu redor, pense nas pichações, chamadas por muitos de “arte urbana”. Pense no que se vê nas bienais de arte e no que se produziu antes, por gerações passadas, que deixaram um legado de muita beleza para a humanidade.

Ao me deparar com notícia a notícia de que estavam querendo calar uma reflexão profunda como essa, sobre a morte do belo, lembrei da famosa frase de um de nossos maiores poetas e compositores. Vinícius de Moraes não foi cancelado ao dizer: “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.

E como sua obra sobrevive até hoje, acho que continua valendo o recado que, penso eu, ele quis passar: olhe e aprecie o que é belo, porque a beleza é inspiradora.

Se ainda não tiver assistido, assista ao documentário O Fim da Beleza. Não se deixe manipular. Comente só depois de assistir. Se não gostar do que viu, argumente. Assim você não paga o mico de ficar dando uma de rebelde sem causa, como esses que tentaram censurar o filme e acabaram virando motivo de chacota.

Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Professora é acusada de fazer militância em escola de MS

Berenice Leite - Revista Oeste

Questões de interpretação de texto culpam o presidente Jair Bolsonaro pelas mortes por covid-19 no Brasil  

O Ministério público do estado de Mato Grosso do Sul (MPE-MS), recebeu uma denúncia contra a professora Janete Mianutti, da escola Marechal Deodoro da Fonseca em Aquidauana-MS. Em uma prova de língua portuguesa, a docente teria usado textos que atacam o presidente da república Jair Bolsonaro, acusando-o de ser o responsável pela pandemia no Brasil.

Segundo Rafael Tavares, coordenador do Movimento Endireita MS e autor da denúncia, em outro trecho da prova, o texto sugere que o Brasil é um problema para o mundo, no combate a Covid-19 e aponta o presidente como inimigo global número 1.

Na avaliação, após a introdução dos textos, a professora faz duas perguntas:
– Quem é o inimigo global número 1?
– Por que o Brasil é visto como um problema mundial?
Para Tavares, está clara a intenção da professora em forçar os alunos a culparem Bolsonaro, sobre as mortes de Covid-19.
“Ela coloca a narrativa na prova e manipula os alunos a concordar com o texto. Isso é doutrinação clara em sala de aula”.
O coordenador do Direita Minas usou suas redes sociais para mostrar as provas que embasam sua acusação e o perfil da professora onde ela declara apoio à um candidato do PT.
 
A oeste, entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado (SEC), para saber se a professora continua dando aula normalmente e se alguma medida será tomada, após conhecimento sobre o caso. Por nota, a SEC informou que está ciente do ocorrido e monitora o caso para a possível abertura de uma sindicância a fim de esclarecer o ocorrido. Caso a denúncia se confirme, poderá ser aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). [detalhe: A SEC está enrolando;não tem o que monitorar, O QUE DEVE SER FEITO,  POR SER DE PRAXE, é abrir a sindicância, constatado o fato e professora ser punida administrativamente. 
Para a punição deve ser aberto processo administrativo, podendo o  senhor Rafael Tavares apresentar o resultado da sindicância ao MP, solicitando sua anexação à denúncia, buscando punir na área penal a infratora.] 
 
Uma vez aberto, o processo resulta no afastamento temporário do servidor pelo período de duração da sindicância. O MPE tem até 30 dias para aceitar ou não a denúncia.
 
Revista Oeste

quarta-feira, 30 de junho de 2021

NUNCA SUBESTIME O LIMITE DA MILITÂNCIA EM DEFENDER TUDO O QUE NÃO PRESTA - Antes de tudo, arme-se

Felipe Fiamenghi

O que mais ouvi, nos últimos dias, foram bobagens sobre esse vagabundo: “Era satanista”; “Se escondia graças a bruxaria e poderes ocultos”; “Era um mateiro experiente que estava dando ‘baile’ na policia”, etc…

Hoje, a foto do defunto barbeado mostrou que o “capeta” que o escondia era de carne e osso. Esse, afinal, sempre foi o propósito da maioria das “lendas”: atribuir às bestas os atos atrozes da humanidade numa tentativa hipócrita e até inocente de negar a capacidade humana de cometer tais barbáries. A policia, tão menosprezada e diminuída, é quem lida diariamente com estes indivíduos. Gente tão ruim que faz com que histórias sobrenaturais sejam criadas.

São eles, os homens por baixo da farda, que exorcizam os demônios da sociedade.  Lázaro, por definição, apesar da divulgação errônea e midiática da imprensa, não era um “Serial Killer”. O que não o deixa menos perigoso. Ao contrário, aliás. O criminoso era um psicopata, sem empatia, remorso ou escrúpulos, que não matava por fantasias, rituais ou alucinações (como um serial Killer), mas por total e completo desprezo à vida alheia.

Quem hoje “chora” a sua morte, que chama de desastrosa a ação da policia, é tão ou mais psicopata do que o mesmo, pois não consegue ter empatia por suas vítimas, nem qualquer senso de preservação de sociedade, já que, vivo, seria um risco constante para qualquer um que cruzasse o seu caminho.  Eu sou um cara cético, que não costuma acreditar no “sobrenatural”. Não importa, porém, a sua crença; se acha que o mesmo era protegido pelo oculto, por forças malignas ou magia negra. Não teve reza forte ou mandinga que parasse o chumbo no seu lombo.

Portanto, ficam as lições:

1 – RESPEITE A POLICIA. É ela a fronteira entre você e um Lázaro.
2 – Não menospreze a maldade humana. O que muitas vezes achamos que, pela crueldade, só poderia ser obra de um demônio, pode ser feito por seu vizinho.
3 – Nunca subestime o limite da militância em defender tudo o que não presta. Não choraram a morte de nenhuma vítima, mas estão se debulhando em lágrimas pelo vagabundo.
4 – ARME-SE! O Estado é incapaz de te proteger, uma viatura não atinge 1045Km/h e, para cada Lázaro, existem muitos cúmplices. VOCÊ É RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA DA SUA FAMÍLIA! Na dúvida, releia o item 2.

“Antes de tudo, arme-se.”


 Reproduzido do Diário do Brasil, em 29/06/2021 - MAQUIAVEL, Nicolau

 

sábado, 9 de janeiro de 2021

Fachin manipula a Constituição para impor agenda de esquerda

André Uliano

Um dos maiores desafios que as democracias enfrentam é o de evitar que grupos que alcançam o poder para um exercício temporário, acabem por se perpetuar no comando político da nação. 
Um dos mecanismos que a ciência política já diagnosticou que são comumente usados para esse fim são as Supremas Cortes.  
Composta por pessoas com mandatos vitalícios e sem responsabilidade política, o aparelhamento de órgãos judiciais é atualmente a menina dos olhos dos grupos autoritários. [não pode ser olvidado que são as Supremas Cortes que decidem, via decisão colegiada ou monocrática, os limites dos poderes que possuem.
Está se tornando regra que qualquer movimento contrário ao establishment, que ofereça algum perigo aos que controlam  os poderes estabelecidos, é um risco para a democracia. E, para combater tal risco, vale até violar os direitos dos opositores - direitos que são conferidos pela própria democracia - o que constitui o maior de todos os riscos à democracia. 
O incidente ocorrido no dia seis passado em Washington  se tornou um golpe - manter as instituições sob controle, justifica qualquer coisa, até chamar a reunião de algumas centenas de pessoas de 'golpe' contra a democracia.]

Em toda a América Latina, o forte movimento de erosão democrática que marcou os primeiros quinze anos do século na região foi fortemente marcado pelo aparelhamento das Supremas Cortes. O Brasil, a meu ver, ainda que não tenha chegado aos níveis de deterioração de países como Venezuela, não ficou totalmente livre desse movimento. Aliás, o fato foi de algum modo reconhecido por um dos ministros do Tribunal. Recentemente, o Ministro Marco Aurélio de Mello reconheceu que o STF se tornou um tribunal de boicote ao Presidente Jair Bolsonaro. Disse ele: “o STF está sendo utilizado pelos partidos de oposição para fustigar o governo. Isso não é sadio. Não sei qual será o limite”. Muitos observadores atentos veem no STF não um tribunal de controle jurídico, mas uma militância de boicote político.  
Os indícios desse fenômeno são inúmeros: decisões que esvaziam atribuições da União e do Presidente, perseguição a apoiadores, críticas públicas inoportunas e de caráter político-ideológico, duplo padrão de tratamento etc.

O fenômeno voltou a ocorrer nos últimos dias. O ministro Fachin, historicamente bastante próximo de grupos que hoje ocupam a oposição, proferiu monocraticamente - apesar da fragilidade da fundamentação e da ausência de precedentes no mesmo sentido - decisão que, sem embasamento sólido na Constituição, substancialmente impõe uma das agendas políticas da oposição no tocante a armas de fogo.

Conforme noticiou a Gazeta do Povo, “o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a resolução sancionada pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) que reduziu a tarifa de importação de revólveres e pistolas de 20% para zero (...).  
A decisão foi tomada após análise de um pedido feito pelo PSB”. [partidecos insignificantes em termos de votos e bancada, sem noção, sem programa, usam o Supremo para 'governar' - impedindo o Poder Executivo de realizar o que não fariam se governo fossem.
O Joãozinho Doria usou o Supremo para impedir que insumos para uma futura vacinação contra a covid-19, comprados com dinheiro público, sejam utilizados pelo Governo Federal para execução de um plano de vacinação que o mesmo ministro (cuja amplitude dos seus conhecimento de Medicina é desconhecida) também atendendo a um pedido de um partideco,  determinou fosse apresentado em tempo recorde  pelo governo Bolsonaro. 
A decisão impede que maior números de prioritários - especialmente o pessoal da saúde - sejam beneficiados em todo o território nacional.
Só que a conta da compra das seringas e agulhas fatalmente será apresentada ao Governo Federal.]

O que chama atenção na decisão não é tanto seu potencial de ofender direitos fundamentais básicos, mas o grau de minúcia que o ministro acredita poder determinar a partir de princípios abstratos. De fato, parece no mínimo extravagante que alguém acredite que a Constituição teria fixado implicitamente, por meio de seus princípios, a alíquota de importação de um bem.

 Como salientou acertadamente o jurista Cláudio Ari Mello, na obra “Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais” (p. 277), essa visão do direito de que tudo está nos princípios constitucionais (facilmente manipuláveis pelo STF) resulta na “conversão da constituição em uma espécie de Alcorão, onde se encontram preceitos normativos para todas as ações da vida política, social e privada”. Do jeito que a coisa vai, corremos o risco de que, em breve, Fachin diga o tipo de roupa, a cor do carro e o penteado que a constituição permite que o Presidente da República e seus apoiadores usem.

O ministro, além de tudo, afronta flagrantemente a Constituição que outorga claramente ao Presidente da República a fixação de alíquotas de importação, em seu art. 153, inciso I e § 1º, desde que “atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei”. Frise-se: em lei, não na cabeça de quaisquer dos ministros.

Para “fundamentar” seu voto, Fachin tentou afirmar que as políticas desarmamentistas decorreriam dos princípios constitucionais. A opinião, no entanto, não conta com argumento sólido. Fachin confunde a leitura defendida pela agenda de esquerda, que em matéria de segurança pública colheu péssimos resultados, com a Constituição. Tal confusão é descabida e tem efeitos negativos. É de se lembrar que o tema das políticas de armas foi bastante debatido durante a última eleição e a agenda imposta pelo ministro foi derrotada na urnas. Ademais, no caso, nem se está falando em relaxamento de requisitos para aquisição, posse ou porte de armas (o que também encontraria, de per se, óbice na Constituição), mas simplesmente da redução de alíquotas aplicáveis à sua importação.

Creio que posturas como a do ministro acabam por transformar a Constituição em uma “camisa de força” sobre a democracia, em que o único resultado legítimo das deliberações políticas seria aquele alinhado com a agenda política preferida por ministros do STF. Mas nossa Constituição, definitivamente, não é uma “camisa de força”. Ela impõe limites, sem dúvida. Contudo, deixa margem para acomodação, experimentalismo, alternância e aprendizado. [o que mais assusta é que a cada decisão em prol da 'democracia' - a deles, não a do povo, referendada por quase 60.000.000 de votos - incita ao cabo de guerra que está  em curso e que poderá ser rompido quando o alvo, ou alvos, das medidas 'democráticas' decidir não cumprir o determinado. A corda irá se romper, como sempre do lado mais fraco e qual será o lado mais fraco?]

Atenta à pluralidade de nossa sociedade, nossa Constituição não elegeu expressamente uma política concreta quanto ao acesso a armas. Como em outros pontos, nossa Constituição foi compromissória nesse tocante. Ela não impôs a paulatina restrição de armas com um de seus princípios, de modo que qualquer medida que possa ter por impacto ampliar a circulação de pistolas e revólveres seria inconstitucional. Isso não está previsto em lugar algum da Constituição. Essa previsão simplesmente não existe. Dos princípios abstratos e vagos invocados pelo ministro (basicamente, vida, segurança e proteção do mercado interno) não decorre necessariamente qualquer política desarmamentista.

 Pelo contrário, a Constituição previu o direito à segurança, e deixou para cada geração, por meio da democracia representativa, decidir como pretende concretizar esse direito. Uma das formas é a permissão controlada à posse de armas.  Inúmeros países que preveem em suas constituições o direito à segurança e o garantem de modo muito mais efetivo do que o Brasil – como Suíça, Noruega, Canadá, Nova Zelândia e, na América Latina, o Uruguaipermitem de modo bastante amplo o acesso a armas de fogo. Inexiste a correlação negativa alegada pelo ministro entre “acesso a armas” e “direitos fundamentais à vida e segurança”. Pelo contrário. Inúmeros dados apontam no sentido oposto.

 O ministro também tenta, sem sucesso, criar uma dicotomia entre “segurança pública” e “autodefesa(segurança privada), dando a entender que viabilizar os mecanismos para a última ocorreria necessariamente em detrimento da primeira. É algo completamente desprovido de fundamento. Como quase todo direito fundamental, a segurança possui um aspecto privado (o direito de se defender) e outro social (o dever do Estado de organizar um aparato para proteger esse direito). Entre as duas perspectivas não existe contradição, mas complementariedade.

Aliás, a Constituição aponta nesse sentido, uma vez que prevê a segurança como direito individual no art. 5º: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. E depois, em outro dispositivo, no art. 144, trata da segurança pública, onde deixa expresso: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”.

O voto ainda invoca inúmeros dispositivos e tratados de direitos humanos, tentando de modo falacioso concluir que daquelas previsões vagas e abstratas decorreria necessariamente a ideologia desarmamentista. Para perceber a falácia, basta ver os dispositivos citados e perceber que vários dos países que são signatários daqueles acordos possuem legislações pouco restritivas quanto a armas. O ministro, na verdade, tenta transformar suas opiniões subjetivas em comandos constitucionais, o que caso imposto por meio do Judiciário seria apenas mais um lamentável e triste caso de ativismo antidemocrático, afrontoso à divisão e harmonia dos Poderes.

Acredito que por qualquer ângulo que se examine a questão, é absolutamente inegável que princípios como vida, segurança e proteção do mercado interno, não resolvem logicamente a questão tratada no julgamento. A Constituição, nitidamente, deixa margem de discricionariedade quanto à forma de concretizar esses princípios. E como bem pontuou a Gazeta do Povo em recente editorial: “É a sociedade, por meio de seus representantes eleitos, que define quais as melhores políticas de segurança pública (incluída, aí, a questão da posse e porte de armas), e não o Poder Judiciário.”

Por fim, vale salientar que Fachin não simplesmente votou pela inconstitucionalidade. O que já seria equivocado, como vimos acima. Mas ele foi além e derrubou a lei monocraticamente.  
Já escrevemos sobre o abuso atual no tocante às decisões monocráticas. Esse tipo de decisão existe para dois fins: 
a) urgência em vista de risco de dano irreversível a direito provável, ou seja, casos extraordinários que não podem aguardar a instrução processual; 
b) casos em que a jurisprudência é consolidada, não havendo por que consumir a pauta do órgão colegiado.
No caso concreto, nenhum desses requisitos está presente. O fundamento constitucional invocado é frágil, não conta com precedentes do colegiado para situações com similitude demonstrada, tampouco há demonstração de urgência.

Logo, tendo em vista que o Presidente exerceu poder que a Constituição expressamente lhe concede;
que o fundamento jurídico invocado por Fachin é frágil e inconsistente; 
que inexiste precedente que dê suporte juridicamente sólido à decisão; 
que ela impõe uma agenda política derrotada e restringe excessivamente o campo de atuação e deliberação dos órgãos representativos: cremos que se trata de decisão fortemente equivocada e que invade a atribuição de outros Poderes. O Brasil precisa debater com urgência os limites da atuação judicial e dos ministros monocraticamente, sob o risco de nosso regime democrático converter-se em uma clara e irreversível juristocracia.

André Uliano, Procurador da República. Mestre em Economia e pós-graduado em Direito. Professor de Direito Constitucional. Gazeta do Povo - Vozes