O Estado de S.Paulo
De líder na proteção do meio ambiente, o Brasil virou alvo de chacota mundial
Definitivamente, não se pode dizer que 2019, primeiro ano do governo
Jair Bolsonaro, tenha sido positivo para a imagem do Brasil no exterior.
O presidente atribui o mau momento à mídia, às esquerdas, a uma espécie
de propaganda negativa sistemática. Mas será que é isso mesmo? Na sexta-feira, em Madri, a Conferência do Clima da ONU (COP) conferiu
ao Brasil o prêmio “Fóssil Colossal”, que, como o próprio nome diz, é
uma ironia com os piores desempenhos na proteção do meio ambiente. É
dramático, porque o Brasil despencou de um extremo a outro: de líder
mundial de proteção para alvo de chacota. [Conferência que o Brasil declinou de sediar - atenção!!! não dispensou o encargo de sediar a COP 25 no governo Bolsonaro e sim no governo Temer.
A tal conferência é tão importante que até agora não conseguiu decidir o que comunicar que decidiu.
Conservar e respeitar o meio ambiente é importante - no mínimo, por ser nele que nossos descendentes irão viver.
Só que sob a liderança atual, que nada lidera, é difícil de chegar a algum caminho útil.
Conservar o meio ambiente não consiste apenas em receber títulos que nada valem e/ou ser incluído por revistas entre os cientistas.
Isso é mera perfumaria.]
No mesmo dia, a prestigiada revista Nature incluiu o professor Ricardo
Galvão entre os cientistas do ano. E quem vem a ser? O presidente do
Inpe que foi demitido e humilhado publicamente depois de Bolsonaro
achincalhar os dados do instituto sobre desmatamento. E, veja bem, os
novos dados coletados pelo próprio governo confirmaram depois o quanto o
Inpe estava certo. Em meio a essa sucessão de vexames, o presidente bateu boca num dia com a
ativista adolescente Greta Thunberg – a quem chamou de “pirralha” – e
no dia seguinte ela surgiu, toda poderosa, como personagem do ano e da
capa da revista Time. O presidente bem poderia ter passado sem mais
essa.
Apesar de tudo, os dados que estão para ser consolidados vão confirmar
que, em 2019, o Brasil manteve o desempenho nas importações e só perdeu
um pouco nas exportações. E por questões pontuais: a má performance da
Argentina, um dos maiores parceiros, e a epidemia do rebanho suíno da
China, que reduziu muito a necessidade de soja para alimentar os porcos.
Descontados esses infortúnios, o desempenho é considerado bom, estável,
e pronto a crescer.
E, afinal, o que é melhor para o Brasil? Os Estados Unidos e a China –
as duas maiores potências – manterem o clima de beligerância e os
ataques mútuos, ou efetivarem o acordo de paz? Há controvérsias, mas parece prevalecer a avaliação de que é muito
melhor para todo o mundo, literalmente, e para o Brasil,
particularmente, que os dois gigantes se entendam, porque isso garante
equilíbrio mundial, estabilidade, segurança e estanca a previsão de
queda do crescimento global.
Quanto mais economia, desenvolvimento, comércio, melhor, muito melhor do
que vantagens eventuais que a agricultura brasileira possa ter com a
guerra. Ok. Se a China deixa de comprar produtos agrícolas
norte-americanos, a tendência é de que desvie o foco para os
brasileiros. Mas isso é pontual, residual, restrito a um único setor. Ainda no cenário internacional, o Brasil perdeu e os EUA ganharam com o
excesso de reverência de Bolsonaro a Donald Trump. E, no regional, o
pedido de refúgio do ex-presidente boliviano Evo Morales vai
consolidando a Argentina como o novo polo da esquerda sul-americana,
depois que a Venezuela virou pó. A Argentina polo da esquerda e o Brasil
da direita não é um cenário tranquilizador. [O Brasil segue a tendência mundial da esquerda desaparecer; implodir;
lamentamos pelos 'hermanos', já conseguem se ferrar sozinhos, imagine agora que pretendem se destacar como polo da esquerda = o destino que os aguarda, lamentavelmente, é o da Venezuela piorado.]
Apesar disso, Bolsonaro e Fernández têm trocado recados apaziguadores e
promessas de pragmatismo nas relações comerciais e diplomáticas em
termos mais abrangentes. Espera-se que sim, mas lembrando que Bolsonaro é
Bolsonaro e que o kirchnerismo é o kirchnerismo.
Por fim, 2019 registrou ataques de Bolsonaro a Macron, sua mulher,
Fernández, Bachelet, Greta, Leonardo Di Caprio, ONGs e aos povos do
Chile e do Paraguai (ao enaltecer Pinochet e Stroessner), além de ter
gerado temores, no mundo desenvolvido e nos nossos parceiros
tradicionais, sobre as políticas indigenista, ambiental, cultural,
educacional e de direitos humanos. Aos olhos do mundo, o Brasil anda
para trás.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo