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quarta-feira, 10 de maio de 2023

O lítio é o novo petróleo - Dagomir Marquezi

Revista Oeste

Livre da burocracia (por enquanto), o Brasil aproveita o boom de um dos minerais mais importantes do nosso tempo

Ilustração: Shutterstock

O mundo do século 21 está ficando cada vez mais parecido com o do século 16. A busca por matérias-primas em lugares distantes voltou a entrar na agenda das grandes potências. Só que, no lugar de caravelas em busca de especiarias, prata e ouro, hoje temos executivos em jatinhos à procura de lítio e outros minerais raros.

O lítio é fundamental para a fabricação de baterias para carros elétricos e celulares
— entre muitas outras aplicações, como veremos adiante. As exigências de acordos internacionais por uma economia “limpa” estão transformando esse mineral numa estrela dos mercados e um símbolo de poder. Temos cada vez mais fontes de energia alternativas, como a solar e a eólica. Mas o sol se põe, e o vento não dura para sempre. [exceto se o mundo passar a engarrafar o vento, como bem profetizou a genial Dilma e foi estupidamente ignorada.] Nessa hora, é preciso ter baterias para armazenar essa energia. E baterias são feitas, entre outros elementos, de lítio.

Essa corrida pelo lítio leva a duas estradas para os países que possuem reservas. Uma é a do nacionalismo esquerdista, na linha de “o lítio é nosso”. O Chile acabou de escolher esse caminho. O presidente Gabriel Boric anunciou, no dia 27 de abril, que vai aumentar a participação do Estado chileno nas empresas de extração Albemarle e Sociedad Química y Minera de Chile, até obter a maioria das ações. O que, na prática, significa estatizar. Empresa chilena Albemarle e Sociedad Quimica y Minera de Chile | Foto: Divulgação

O Brasil — ainda na administração Jair Bolsonaro — foi no sentido contrário. O então ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, criou o Decreto 11.120, de 5 de julho de 2022. Antes desse decreto, a extração de lítio era tão burocratizada que dependia de aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, a ultracontroladora CNEN.

O artigo único do Decreto 11.120 era claro até para leigos em juridiquês: “Ficam permitidas as operações de comércio exterior de minerais e minérios de lítio, de produtos químicos orgânicos e inorgânicos, incluídas as suas composições, fabricados à base de lítio, de lítio metálico e das ligas de lítio e de seus derivados”.

“Este é o grande momento mundial do lítio” — declarou o ex-ministro Sachsida a Oeste. “O Brasil tinha uma legislação que vinha da década de 1970. Como ministro das Minas e Energia, levei um projeto de lei ao então presidente Jair Bolsonaro para desburocratizar a exploração. Em três meses, os investimentos chegaram a US$ 1 bilhão, numa das regiões mais pobres do Brasil, o Vale do Jequitinhonha (nordeste do Estado de Minas Gerais)”
 
De “vale da miséria” a “vale do lítio”
Como não poderia deixar de ser, o Decreto 11.120 despertou a ira de esquerdistas. Foi acusado de “liberar geral” para a invasão de empresas estrangeiras que querem “nossas riquezas”.

Pode haver um retrocesso no Decreto 11.120 no atual governo petista? “Não consigo acreditar”, disse Adolfo Sachsida a Oeste. “Podem surgir nacionalistas de plantão, do tipo ‘o lítio é nosso’. Mas não consigo acreditar que teremos um retrocesso. O decreto gerou uma competição no setor.”

O Serviço Geológico do Brasil aposta que, se continuar no atual caminho, o país pode chegar a produzir 5% do mercado mundial de lítio nos próximos dez anos

O principal ator nessa competição por enquanto é a empresa Sigma Lithium, que tem sede em Vancouver, no Canadá. Sua CEO, Ana Cabral-Gardner, mostrou para a revista Exame que, com a entrada de capitais e a aceleração da produção, o Vale do Jequitinhonha está deixando de ser o “vale da miséria” para virar o “vale do lítio”.
Segundo Cabral-Gardner, o preço do minério puro está por volta de US$ 100 a tonelada. Processado, esse preço aumenta 80 vezes, para US$ 8 mil. Segundo ela, essa nova riqueza está permitindo a instalação de “barraginhas”, para provocar pequenos represamentos de água que vão beneficiar os criadores e agricultores locais. Segundo ela, 75% dos royalties, calculados sobre os US$ 8 mil por tonelada, ficam nos municípios do vale.

O Chile de Gabriel Boric garantiu que os contratos atuais de exploração seriam respeitados. Mas, enquanto a esquerda estiver no poder, a tendência é essa — estatizar, nacionalizar, controlar, burocratizar. Como a América do Sul concentra as maiores reservas de lítio do mundo, fica a tentação natural para o petismo criar alguma coisa como uma “Litiobras”.
 
Uma Opep do lítio?
A revista Time lembrou que essa mentalidade estatizante não se limita ao Chile. “A Bolívia, que detém 21% dos recursos globais — a maior fatia de todos os países —, sempre manteve seu lítio nas mãos do Estado e, no ano passado, introduziu restrições à tecnologia de extração semelhantes às que o Chile está propondo agora. Das reservas, 54% estão localizados no chamado “triângulo do lítio”, que engloba a região a noroeste da Argentina, o norte do Chile e o sul da Bolívia. O presidente boliviano Luis Arce está propondo inclusive uma aliança regional do lítio. Ou, nas palavras de Arce, “um tipo de Opep do lítio”.

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ficou famosa por chantagear o restante do mundo como forma de manipulação de preço. Hoje a Opep detém a produção de 40% do petróleo mundial, e, quando deseja, provoca escassez de produção, para forçar o aumento de preços. O que derruba a economia global e fortalece empresas estatais ligadas a regimes ditatoriais.
Ilustração: Shutterstock


Teremos uma Opep do lítio? O artigo da Time coloca essa possibilidade em dúvida. “Para começar, o lítio não é petróleo. Embora a demanda deva explodir de 23.500 toneladas em 2010 para até 4 milhões de toneladas em 2030, por enquanto o lítio ainda é comercializado como um produto químico especializado, em vez de uma commodity importante. Isso torna mais difícil definir ou manipular um preço padronizado. Em segundo lugar, a janela na qual a América Latina pode exercer influência significativa no mercado global de lítio pode estar se fechando. Embora a região represente um terço da produção global em 2022, espera-se que essa participação diminua nas próximas décadas.”

Possuir reservas gigantescas de lítio é uma coisa; extrair e refinar esse lítio é outra. Onde entra a mão do Estado, os recursos tendem a diminuir. Como disse Daniel Jimenez, ex-executivo da empresa chilena SQM e atual consultor da iLiMarkets: “Nessas condições, não acho que nenhuma empresa sensata colocará seu próprio dinheiro em tal exploração”. Querendo o monopólio estatal, o regime esquerdista chileno pode ter dado um empurrão na indústria de refino do lítio — na Austrália e na Argentina, que, segundo a agência Reuters, não impuseram tantas regulações à sua própria produção. 

O peso da China
Temos outro problema sério. A China comanda os mercados de processamento e refino desses minerais e controla cerca de 77% da capacidade mundial de fabricação de baterias para veículos elétricos.
Para evitar essa perigosa dependência da China, o governo norte-americano criou o Mineral Security Partnership (“Parceria de Segurança Mineral”), em parceria com governos de países aliados, como Austrália, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Suécia e Reino Unido. O Brasil não está na lista. O acordo para manter abertas as cadeias de suprimentos inclui outros minerais críticos, como cobalto, níquel, gálio e 17 minerais raros.Mina de extração de lítio na China | Foto: Reprodução/Xinhua

Cullen Hendrix, da Escola de Estudos Internacionais Korbel, da Universidade de Denver, escreveu para a Foreing Policy, em novembro do ano passado, que os chineses estão em “posições de liderança na refinação e na fundição global de alumínio (66,6% da capacidade global), refino de lítio e cobalto (80% e 66%, respectivamente) e produção e refino de grafite (cerca de 80%)”.

O mundo vai se render à China? Essa situação vai levar a conflito internacional, como nos tempos de Vasco da Gama? Cullen Hendrix, em seu artigo para a Foreing Policy, aponta três razões para otimismo; e outras três para pessimismo. 
Fontes de energia renováveis não consomem minerais em base constante. Eles não precisam ser alimentados desses minerais raros o tempo todo, como um navio precisa de óleo diesel sem parar. Fica mais difícil que países produtores usem de chantagem, como os árabes, no embargo de petróleo de 1973, ou como a Rússia usou seu gás para tentar subjugar a Europa na invasão da Ucrânia.
Minerais críticos não estão em poder de estatais tanto quanto o petróleo. De 66% a 80% das reservas de gás e petróleo são controladas por empresas estatais. Em contraste, todos os seis maiores produtores de lítio (representando dois terços do mercado global) são empresas privadas. Metade dos maiores produtores de cobalto está em mãos da iniciativa privada. Isso impede que se tornem instrumentos nas mãos de ditadores.
A maioria dos minerais críticos pode ser reciclada. Óleo diesel queima para sempre. O cobre (por exemplo) pode ser reciclado indefinidamente, sem perda de funcionalidade.
No lado mais negativo da questão, tanto os EUA quanto a China dependem de matérias-primas que não estão em seus territórios. Isso pode levar a agravamentos de conflitos por fornecedores, especialmente na África e na América Latina.
O mercado de minerais críticos é muito pequeno, o que o torna, segundo Hendrix, muito mais vulnerável a manipulações estratégicas. A soma total de exportação de cobalto em 2020 foi menos de US$ 5 bilhões. Para efeito de comparação, só a Apple teve um lucro de mais de US$ 90 bilhões em 2022. Os preços do níquel na Bolsa de Londres, por exemplo, dobraram temporariamente em março, por manipulação de mercado.
Minerais críticos estão concentrados em poucos países, geralmente governados por ditaduras brutais e instáveis. O Congo tem 60% da produção global de cobalto. Outro país africano, a Guiné, com apenas 14 milhões de habitantes, tem um quarto das reservas globais de bauxita e metade das exportações. Essa situação torna esses países vulneráveis a influências externas. A China está cada vez mais presente na África, reciclando velhas práticas colonialistas de influência e dominação. A Rússia usa a brutalidade do grupo de mercenários Wagner para ampliar sua influência em países miseráveis da África.Produção de baterias de lítio para carros elétricos | Foto: Shutterstock
 
Remédios psiquiátricos, graxas e usinas nucleares
A fama do lítio está ligada a baterias, como as que movimentam os carros elétricos. Mas o mineral tem muitos outros usos:
- os sais de lítio produzem graxas lubrificantes de alta qualidade;
- o óxido de lítio melhora as propriedades de vidros e cerâmicas, usados desde fogões elétricos até telescópios;
- o lítio é usado em remédios psiquiátricos, para controlar oscilações no humor, transtornos bipolares e depressão;
- é utilizado na metalurgia, para aperfeiçoar ligas como alumínio e cobre;
pela sua capacidade de absorver nêutrons, é usado na blindagem de reatores nucleares, além de combustível para reatores de fusão;
- usado em fogos de artifício;
- o lítio possibilita a fabricação de ligas leves para a indústria aeronáutica, em combinação com o alumínio;
- o hidróxido de lítio é usado no tratamento de água, controlando sua alcalinidade e acidez;
- o brometo de lítio é usado em sistemas de ar-condicionado.

Segundo o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), a Bolívia tem as maiores reservas de lítio do mundo, com 21 milhões de toneladas métricas. Logo abaixo vêm Argentina (com 20 milhões), EUA (12 milhões), Chile (11 milhões), Austrália (7,9 milhões) e China (6,8 milhões). Segundo esse levantamento, o Brasil está em 16°, com 730 mil toneladas métricas. O Serviço Geológico do Brasil aposta que, se continuar no atual caminho, o país pode chegar a produzir 5% do mercado mundial nos próximos dez anos. Atualmente, nossa participação é de 1,5%.

Calcula-se que a liberação da produção, através do Decreto 11.120, tenha o potencial de viabilizar mais de R$ 15 bilhões em investimentos até 2030, segundo a revista Forbes. Outras empresas estão presentes no mercado, como a nacional Companhia Brasileira de Lítio e a norte-americana Atlas Lithium Corporation.

Não há tempo a perder com retrocessos
. Baterias de lítio podem ser superadas num futuro razoavelmente próximo por baterias de sódio — e a China está muito à frente nas pesquisas nesse sentido
Baterias de sódio são basicamente alimentadas de sal, um dos elementos mais abundantes da natureza. Poderão custar, segundo reportagem do New York Times, de 1% a 3% do preço do lítio. Ou o Brasil aproveita a atual onda do lítio, ou poderá ficar para trás antes mesmo de ter ido para a frente.Ilustração: Shutterstock

Leia também “Tragédia das chuvas: a vida depois da catástrofe”
 
 

sábado, 7 de maio de 2022

Pela democracia - Carlos Alberto Sardenberg

Pouco antes da invasão da Ucrânia, mas com o ambiente geopolítico já bastante tenso, setores da esquerda e da direita sustentavam que era tudo culpa dos Estados Unidos. A tese: como líder da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, os EUA teriam levado essa aliança militar a avançar sobre o leste europeu, como que ocupando países que haviam estado na órbita soviética. Esse movimento seria uma ameaça à integridade territorial da Rússia, aqui vista como a sucessora da União Soviética.

Lula partilha dessa tese, conforme deixou claro na entrevista à revista Time. Para ele, o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, também é responsável pela guerra por não ter adiado a discussão sobre a entrada na OTAN. Ou seja, Putin é responsável pela invasão, mas …. e cabe um monte de coisa nessa adversativa, cujo final é jogar a culpa nos EUA, na União Europeia e em Zelensky.

Um festival de equívocos. Começa que a Rússia não é a sucessora da União Soviética. Esta tinha uma doutrina, partilhada por partidos comunistas de muitos países. Deu errado, é verdade, mas o regime funcionou por quase 50 anos.

A Rússia de hoje é o que? Uma ditadura, como na era soviética, mas sem nenhuma doutrina a não ser a reverência a Putin e o assalto ao Estado promovido por ele e seus aliados. Putin fala nos valores da Grande Rússia, em oposição aos “valores decadentes” do Ocidente.

Os valores do Ocidente são a democracia, a liberdade individual, a liberdade de imprensa e o capitalismo com predominância do empreendedor privado. E não estão decadentes, como se viu com a formidável reação ocidental à invasão e às barbaridades praticadas por Putin. [foram proferidos excelentes discursos, repletos de promessas, o ex-comediante que preside a Ucrânia discursou em uns cem parlamentos e ucranianos continuam morrendo, sem perspectivas da guerra cessar -  pelo menos,  enquanto Zelensky presidir a Ucrânia - e a guerra ucraniana tem tudo para se somar a outras que ocorrem pelo mundo  há vários anos e pouco chamam atenção.]

A população da Ucrânia praticou esses valores com a eleição de Zelensky e a decisão, também tomada no voto, de entrar na União Europeia e na OTAN. Exatamente como fizeram outros países do Leste. Não foi a aliança militar que avançou  sobre o Leste. Os países que escaparam da órbita soviética tomaram decisões soberanas de se juntarem ao lado ocidental.

Reparem: a OTAN não deu um tiro sequer quando da queda do muro de Berlim. E não fez qualquer ameaça aos países ex-soviéticos.

Essas nações fizeram aquele movimento por dois motivos principais. Primeiro, partilhar do progresso e do desenvolvimento econômico e social da União Europeia. Segundo, obter a proteção da OTAN justamente contra as ameaças do imperialismo russo.

Como se vê agora, tinham  toda razão. A Ucrânia deu azar. Levou tempo para se livrar de uma ditadura, de modo que o governo democrático de Zelensky não teve prazo para consolidar a aliança com o Ocidente. Putin antecipou a invasão.

Hoje, quem está ao lado de Putin? Ditadores já estabelecidos no poder e aspirantes a ditador, como o presidente Bolsonaro.

E por que a esquerda, se não apoia Putin, é tão tolerante com ele, a ponto de achar que a vítima, a Ucrânia, também é responsável pela guerra? Trata-se de uma posição infantil anti-EUA e anti-Europa ocidental, como se ainda fosse tempo da guerra fria.

Cobram de Zelensky que abra mão da União Europeia e da OTAN – ou seja que derrube decisões tomadas pela população.

Cobram de Zelensky uma abertura às negociações. Mas quem não negocia é Putin, cuja exigência é transformar a Ucrânia em um satélite russo. A resistência das tropas e da população ucranianas mostra bem que essa não é uma opção.

Não se sabe como terminará a guerra. A Rússia limitou suas operações e a Ucrânia, ao contrário, reforçou sua capacidade de resistência com armas recebidas de países da OTAN. Já não se considera impossível que as tropas ucranianas ponham as russas em retirada.[sic]

De todo modo, não se trata de uma disputa entre capitalismo e socialismo. Nem se trata, por exemplo, de uma guerra por petróleo.

São valores que estão em jogo. Ditaduras de um lado, democracias de outro. [resta óbvio que o articulista considera que a Rússia está do lado das ditaduras - por ser, segundo seu entendimento, Putin um ditador; só lamentamos que Biden - certamente na visão do ilustre Sardenberg, um democrata - tenha como único objetivo a instalação de uma ditadura mundial, que terá além da nociva esquerda tudo que não presta no mundo atual e a destruição dos VALORES que os conservadores cultuam há séculos.

Putin, com todos os seus defeitos, é mais conservador que Biden.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 7 de maio de 2022

 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Ativista trans estupra mulher, confessa e continua nos holofotes. Qual o limite? - Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

O respeito à dignidade humana é a linha divisória entre militância e radicalismo autoritário.

Muita gente nos movimentos identitários está surpresa com a crueldade de algumas pessoas que usam a causa para justificar a própria perversidade. Quem já foi alvo dos movimentos não vê a menor surpresa. Todo grupo que se julga moralmente superior tende a criar tiranetes, lideranças cruéis que jamais revêem atitudes ou posicionamentos porque se consideram necessariamente boas. A era da hiperconectividade, a partir de 2010, reforçou esse processo em que falar é mais importante que as atitudes e frutos.

Minha dúvida ainda é qual o limite que um ativista precisa cruzar para que seu grupo o reconheça como radical ou agressivo?
Confessar um estupro com orgulho
 supostamente seria suficiente para alguém deixar de ser linha de frente de movimentos que lutam por paz e igualdade. Não foi. É uma história real, ocorrida de 2016 a 2018 nos Estados Unidos.

Trata-se de um drama humano tratado à luz das teorias identitárias e não da ciência. Uma pessoa que passou por abusos terríveis na infância tenta superar seus traumas negando a própria individualidade. Coloca na identidade de grupo, negra e trans, o motivo e a solução de todos os problemas individuais. Só que esses problemas e suas potenciais consequências continuam latentes e vão fazer uma reviravolta perversa quando a ativista chega ao topo do poder.

Cherno Biko chegou a ser retratada pela revista Time como uma das vozes mais importantes em defesa de mulheres e trans negras vítimas de violência. Ela é co-fundadora do movimento Black Lives Matter, que surgiu em 2014. A história de vida da ativista trans é bem pesada. Ela diz ter sido estuprada por um familiar desde os três anos de idade. A violência persistiu durante mais seis anos. Como muitas vítimas de estupro na infância, ela conta ter tentado sufocar essas memórias. Foi aí que encontrou o ativismo.

Abraçou a causa da violência contra mulheres negras e trans, começou a se destacar e ganhou muito espaço na mídia. O episódio 115 da série Glee, Transitioning, é sobre ela. Esteve em vários documentários importantes, inclusive um que ganhou o Emmy. Desfilou por alguns dos programas de TV mais importantes dos Estados Unidos e acabou fazendo do ativismo uma profissão. Palestrante e consultora, focava principalmente na violência sexual contra mulheres.

Até então, ninguém sabia que a ativista trans Cherno Biko jamais havia tido uma relação sexual consentida, havia sido apenas estuprada. Ela resolveu escrever um texto público com um desabafo em 24 de julho de 2016. Neste mesmo texto, contou que sua primeira experiência sexual consentida foi estuprando um homem trans. Esperava ter filhos negros e não binários. Instalou-se o escândalo, mas não acabou a militância.

No campo progressista, qualquer pergunta sobre transexualidade rende imediatamente o cancelamento por motivo de transfobia. Disforia de gênero existe, é algo que a ciência explica e precisamos acolher essas pessoas na sociedade. Ocorre que isso é muito diferente de, por exemplo, chamar de transfóbicos os homens e mulheres lésbicas que não querem ter relações sexuais com pessoas que tenham órgão sexual masculino. Vira algo místico, dissociado da ciência. Sexualidade humana é desejo e as pessoas têm diversas preferências, não pode se impor uma preferência a alguém.

Estávamos, no caso concreto, diante de uma confissão pública de estupro com o objetivo de fazer bebês negros e não binários, algo extremamente grave. Só que essa pessoa tinha, além da fama e poder, uma carta na manga: quem a contraria é cancelado imediatamente pela militância. No caso falamos de militância trans e da fundadora do Black Lives Matter. Se você acha que, a partir desse momento, passou a haver um caso de polícia, engana-se. A ativista trans continuou brilhando.

Como a pessoa estuprada nasceu mulher, mas dizia se identificar como homem branco e era parte do movimento identitário, não havia dado queixa do estupro por concluir que era culpada. Depois que o caso veio à tona, declarou que adquiriu os privilégios do patriarcado ao se tornar homem, tendo superioridade física e anatômica quando se compara com Cherno Biko. Surgiram outras denúncias de estupro. No meio dessa discussão pública, a ativista foi chamada para discursar na Marcha das Mulheres em Washington.

Várias organizações de defesa das mulheres e organizações conservadoras questionaram duramente a irresponsabilidade de deixar alguém que confessou publicamente estupro e estava sendo acusada por outros à frente de luta contra a violência sexual. Não estivéssemos vivendo uma distopia, seria óbvio. Aqui não se trata nem de apurar os fatos para ver se a pessoa realmente tinha feito isso, ela própria havia confessado. Disse ainda que não via como estupro o estupro que cometeu.

“À medida que comecei a aprender mais sobre consentimento, descobri que, segundo a lei [do Estado de Nova York], é impossível para uma pessoa mentalmente instável dar consentimento. Lutei com essa ideia porque ela não deixa espaço para vários graus de doença mental ou para pessoas que sofrem de doença mental, mas nunca foram diagnosticadas como eu.”, declarou a ativista Cherno Biko. Foi questão de dias para que passasse a vítima do caso, mostrando como o racismo, a transfobia e o capacitismo faziam com que o julgamento fosse mais pesado que de um homem branco cis. O mais impressionante é que colou.

Após a confissão pública de estupro, além de ser convidada para falar na Marcha das Mulheres de Washington, a ativista continuava sendo membro do Conselho Consultivo de Mulheres Jovens da cidade de Nova Iorque. A atuação da militância trans começava a ter um problema real ao distribuir justiça por critério identitário, sem sequer levar em conta as ações das pessoas. Na cidade, uma lei pune com multa de até US$ 250 mil quem se referir de maneira pejorativa a uma pessoa trans.

Essa lei aparentemente bem intencionada acabou inibindo o registro de outros estupros, aqueles que não foram confessados pela ativista trans. Havia a possibilidade de que ela considerasse pejorativa uma referência ao próprio órgão sexual pelo nome, o que seria inevitável para prestar uma queixa dessa natureza. Assim, ela poderia processar a vítima por nomear seu órgão sexual na denúncia de estupro, com possibilidade de receber uma polpuda indenização.

Na época, a ativista trans Cherno Biko era uma das estrelas do debate nacional sobre o uso de banheiros femininos nas escolas, banheiros únicos e a possibilidade de manter trans em presídios femininos. E continuou sendo referência mesmo depois de confessar publicamente um estupro. Se isso não foi suficiente para a militância identitária repensar seus métodos, eu não sei o que seria. Espero que algo traga um despertar.

Diante desse tipo de aberração, muitas pessoas tendem a focar no conteúdo. Por não verem credibilidade em quem age diferente do que prega, muitos invalidam a causa em si. É um erro grotesco dizer que não há pessoas trans ou que o racismo já foi superado quando vemos casos do tipo. Pode ser tentador, mas é incorreto pensar que todas as pessoas envolvidas nessas causas se comportam assim. Há grupos sectários reunidos em torno de diversos temas e o problema não está no tema em si, mas no contexto.

Sempre houve radicais e intolerantes em todo tipo de grupo, a diferença é o efeito que eles causam em uma sociedade hiperconectada como ficou a nossa. A militância que parte de ideias místicas tem grande probabilidade de se converter em um grupo autoritário. Na esquerda há o conceito de Woke, aquele grupo que já passou por um "acordar" para as estruturas injustas. Na direita há o conceito de "Red Pill", aqueles que enxergam tramas porque estão fora da Matrix. É uma forma concreta de negar dignidade a quem não faz parte do grupo.

A linha de corte entre grupos democráticos e autoritários é o respeito à dignidade do outro, principalmente do adversário. Um estupro é o exemplo lapidar de desconsideração da dignidade alheia. Muitos grupos cunham termos próprios para operacionalizar esse processo. Quem fala aqueles termos é ouvido, já que é Woke ou Redpillado. Quem não domina o vocabulário é ouvido só para que se ache um erro a corrigir naquela fala ou postura, ainda que imaginário.

Muito tempo atrás, alguém deu a dica de olhar os frutos. Pouco importa o que a pessoa diz, como aparece, quem fala dela. Olhem os frutos. É o contexto, não o conteúdo. Gostamos de ter razão, criamos afeição para quem diz exatamente o que pensamos. Como hoje há muitos jeitos de falar o tempo todo, multiplicam-se as oportunidades para liderar um grupo em torno de uma causa. Temos colhido diversos tipos de frutos envenenados. Não é possível continuar dando espaço de liderança a pessoas que deixam um rastro de destruição por onde passam. Atualmente, isso é um esporte mundial.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

'Time' inclui Bolsonaro na lista de 100 mais influentes do mundo em 2020

 G 1 e VEJA

Presidente brasileiro aparece na categoria 'Líderes' e tem números negativos de seu mandato destacados por publicação. 

 O presidente Jair Bolsonaro é um dos brasileiros  na lista de 100 pessoas mais influentes do mundo em 2020 elaborada pela revista 'Time'. Os eleitos foram divulgados na noite desta quarta-feira (23).

Na categoria "Líderes", o perfil de Bolsonaro informa números negativos de seu mandato, como os 137 mil mortos pelo coronavírus no Brasil, a "pior recessão em 40 anos" e os "mais de 29 mil incêndios na floresta amazônica apenas em agosto", mas também o apoio de 37% dos brasileiros. 

O editor de internacional da revista, Dan Stewart, que escreveu o perfil do presidente brasileiro, atribui o percentual de apoio a Bolsonaro, o maior desde que ele assumiu o cargo no início do ano passado, à ajuda emergencial paga aos mais pobres durante a pandemia e aos seus seguidores fervorosos. [deve ter sido complicado para o editor de internacional da revista Time,  ter que colocar o nome do presidente Bolsonaro na lista dos mais influentes do mundo - se percebe que o citado e grande parte da mídia não gostaram do destaque recebido merecidamente pelo presidente do Brasil.

Alguns órgãos chegam a chamar os apoiadores do presidente Bolsonaro - entre os quais estamos desde o primeiro momento, condição da qual nos orgulhamos  - de fervorosos, adoradores, etc.]

Bolsonaro foi citado ao lado de nomes como dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden.

A lista dos 100 mais influentes é publicada pela revista “Time” desde 2004. Bolsonaro também havia sido incluído na lista dos cem mais influentes em 2019. Dilma Rousseff foi citada em 2011 e 2012, e o ex-presidente Lula, em 2004 e 2010. 

 G 1 e VEJA



domingo, 15 de dezembro de 2019

‘Fóssil colossal’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

De líder na proteção do meio ambiente, o Brasil virou alvo de chacota mundial

Definitivamente, não se pode dizer que 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, tenha sido positivo para a imagem do Brasil no exterior. O presidente atribui o mau momento à mídia, às esquerdas, a uma espécie de propaganda negativa sistemática. Mas será que é isso mesmo?  Na sexta-feira, em Madri, a Conferência do Clima da ONU (COP) conferiu ao Brasil o prêmio “Fóssil Colossal”, que, como o próprio nome diz, é uma ironia com os piores desempenhos na proteção do meio ambiente. É dramático, porque o Brasil despencou de um extremo a outro: de líder mundial de proteção para alvo de chacota. [Conferência que o Brasil declinou de sediar - atenção!!! não dispensou o encargo de sediar a COP 25 no governo Bolsonaro e sim no governo Temer.
A tal conferência é tão importante que até agora não conseguiu decidir o que comunicar que decidiu.
Conservar e respeitar o meio ambiente é importante - no mínimo, por ser nele que nossos descendentes irão viver.
Só que sob a liderança atual, que nada lidera, é difícil de chegar a algum caminho útil.
Conservar o meio ambiente não consiste apenas em receber títulos que nada valem e/ou  ser incluído por revistas entre os cientistas.
Isso é mera perfumaria.]

No mesmo dia, a prestigiada revista Nature incluiu o professor Ricardo Galvão entre os cientistas do ano. E quem vem a ser? O presidente do Inpe que foi demitido e humilhado publicamente depois de Bolsonaro achincalhar os dados do instituto sobre desmatamento. E, veja bem, os novos dados coletados pelo próprio governo confirmaram depois o quanto o Inpe estava certo.  Em meio a essa sucessão de vexames, o presidente bateu boca num dia com a ativista adolescente Greta Thunberg – a quem chamou de “pirralha” – e no dia seguinte ela surgiu, toda poderosa, como personagem do ano e da capa da revista Time. O presidente bem poderia ter passado sem mais essa.


Apesar de tudo, os dados que estão para ser consolidados vão confirmar que, em 2019, o Brasil manteve o desempenho nas importações e só perdeu um pouco nas exportações. E por questões pontuais: a má performance da Argentina, um dos maiores parceiros, e a epidemia do rebanho suíno da China, que reduziu muito a necessidade de soja para alimentar os porcos. Descontados esses infortúnios, o desempenho é considerado bom, estável, e pronto a crescer.

E, afinal, o que é melhor para o Brasil? Os Estados Unidos e a China as duas maiores potências manterem o clima de beligerância e os ataques mútuos, ou efetivarem o acordo de paz?  Há controvérsias, mas parece prevalecer a avaliação de que é muito melhor para todo o mundo, literalmente, e para o Brasil, particularmente, que os dois gigantes se entendam, porque isso garante equilíbrio mundial, estabilidade, segurança e estanca a previsão de queda do crescimento global.

Quanto mais economia, desenvolvimento, comércio, melhor, muito melhor do que vantagens eventuais que a agricultura brasileira possa ter com a guerra. Ok. Se a China deixa de comprar produtos agrícolas norte-americanos, a tendência é de que desvie o foco para os brasileiros. Mas isso é pontual, residual, restrito a um único setor.  Ainda no cenário internacional, o Brasil perdeu e os EUA ganharam com o excesso de reverência de Bolsonaro a Donald Trump. E, no regional, o pedido de refúgio do ex-presidente boliviano Evo Morales vai consolidando a Argentina como o novo polo da esquerda sul-americana, depois que a Venezuela virou pó. A Argentina polo da esquerda e o Brasil da direita não é um cenário tranquilizador. [O Brasil segue a tendência mundial da esquerda desaparecer; implodir;
lamentamos pelos 'hermanos', já conseguem se ferrar sozinhos, imagine agora que pretendem se destacar como polo da esquerda = o destino que os aguarda, lamentavelmente, é o da Venezuela piorado.]

Apesar disso, Bolsonaro e Fernández têm trocado recados apaziguadores e promessas de pragmatismo nas relações comerciais e diplomáticas em termos mais abrangentes. Espera-se que sim, mas lembrando que Bolsonaro é Bolsonaro e que o kirchnerismo é o kirchnerismo.


Por fim, 2019 registrou ataques de Bolsonaro a Macron, sua mulher, Fernández, Bachelet, Greta, Leonardo Di Caprio, ONGs e aos povos do Chile e do Paraguai (ao enaltecer Pinochet e Stroessner), além de ter gerado temores, no mundo desenvolvido e nos nossos parceiros tradicionais, sobre as políticas indigenista, ambiental, cultural, educacional e de direitos humanos. Aos olhos do mundo, o Brasil anda para trás.

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo


sábado, 14 de dezembro de 2019

O candidato a candidato eterno - IstoÉ

Jair Messias Bolsonaro vive com uma ideia fixa na cabeça: se reeleger como presidente. Opa! Mas ele não acabou de ser colocado na cadeira do Planalto para governar? Sim. E daí? Isso pouco importa. Não conta. Ele prefere ser o eterno candidato levantando bandeiras esquizofrênicas a tratar das questiúnculas chatas do dia a dia do posto que ocupa. Não interessam os problemas de desemprego, da baixa produtividade nas indústrias, da falência dos hospitais públicos, da precariedade na educação e na saúde, do desmantelo nas relações externas. Não ocupem o “Mito” com esses assuntos laterais. Para que governar se é tão mais legal ficar agitando as massas com bobajadas como o golden shower e a volta do AI-5? Isso sim é que vale a atenção e o tempo de quem está no cargo mais alto da República. [o que mais incomoda, é que gostem ou não, a economia indo bem - já apresenta melhoras - só DEUS impede a reeleição do presidente Bolsonaro.
A economia é essencial, já que ela aplaina o caminho para outras reformas, necessárias, essenciais, para a volta do Brasil ao lugar de destaque.]

Com o estilo paspalhão autoritário, a predileção dele são os holofotes. O protagonismo que a cadeira de mandatário lhe dá. Dias atrás, para não perder o hábito, veio de novo a escolher adversários, afrontando na base da covardia, que é a sua especialidade. A menina Greta Thunberg, ativista ambiental de apenas 16 anos, que se transformou em ícone da causa, indicada ao Nobel da Paz e Personalidade do Ano pela revista Time, foi tratada pejorativamente por Messias como a “pirralha” inconveniente. [após o nome do condenado Lula ter sido cogitado para o Nobel da Paz, e por outras indicações recentes, o Nobel da Paz se apequena, perde importância, valor.] Tudo porque Greta reclamou do descaso com a Amazônia. Tocou no ponto fraco de Bolsonaro. Ele tem verdadeira ojeriza pela temática da preservação. Já brigou com alemães e franceses em torno do assunto. Despachou para casa o presidente do INPE por ter divulgado dados recordes de queimada, que lhe contrariaram. Atacou o ator Leonardo Di Caprio, os índios, a ONU, o escambau. Não topa com a ideia. E, naturalmente, passou a mão na cabeça de grileiros que devastaram as florestas e ocuparam ilegalmente a terra. Concedeu a eles, por meio daquela que já é chamada como a MP dos grileiros, o direito a posse após o crime ambiental que cometeram. Eis o autêntico Bolsonaro.

Na condição de Messias acredita ser o emissário da boa nova e o comandante a guiar o seu povo para uma era de radicalismo e perseguições, conveniente somente a ele mesmo. Logo, eventuais críticos ou adversários precisam ser abatidos. Luciano Huck apareceu como alternativa? Destrói a reputação dele com infâmias sobre um jatinho financiado (de mais a mais, legalmente) pelo BNDES. [legalmente e moralmente nem sempre são sinônimos; 
o BNDES, um banco social, ao financiar um jatinho - luxo, ostentação -  age da mesma forma quando financiou ditadores africanos sanguinários.] O governador de São Paulo, idem. Mesmo os mais próximos assessores que ousam contrariá-lo ou alertá-lo para o mal dessa cruzada são sumariamente dispensados do convívio. 

Bolsonaro acredita piamente que só ele está certo, com sua pauta enviesada de costumes e retrocessos. Não concede a ideia democrática do debate – ainda mais com uma “pirralha” como a Greta, onde já se viu? Ele é o “mito” – e segue a ventilar suas asneiras. Está no caminho errado [sic] se pensa angariar maior popularidade assim. Já torrou além de 20% do capital de apoio com o qual contava quando assumiu.

Segundo pesquisa recentemente divulgada da “Folha de S. Paulo”, desabou de 65% para 43% o seu índice de aprovação. É a pior taxa da história de um presidente eleito democraticamente em primeiro ano de mandato. E não é só. Quase 50% dos brasileiros não confiam nas declarações do presidente. [superior, no mesmo período, à de FHC e do presidiário, em liberdade temporária, petista.] Não acreditam minimamente no que ele diz. É nisso que dá ficar mentindo e difamando dia sim, outro também. Mas Bolsonaro não se rende às evidências. Já se sabe: ele faz pouco caso de fatos. Foi desmentido em público, de novo, pela Controladoria-Geral da União (CGU), que disse inexistir o documento ao qual se referiu para tratar do laranjal do PSL. Esse é o sujeito que teima em se apresentar mais como candidato a reeleição do que como governante de direito. Caberia na atual conjuntura a surrada pergunta: você compraria um carro usado de uma pessoa assim? Os riscos do bolsonarismo incendiário e sem noção estão por todos os lados. A escalada de seu tom belicoso pode trazer consequências imprevisíveis. Viver sob a tutela de um candidato que não desce do palanque é como perder tempo esperando pela entrega de promessas jamais cumpridas. Bolsonaro tem sido a negação completa do estadista clássico. O pseudochefe da Nação que controla um exército Brancaleone de aloprados a trombetear delírios.

Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Greta, a “pirralha” - Nas entrelinhas



“Bolsonaro não é o primeiro chefe de Estado a se sentir incomodado com a jovem, que desagrada muita gente com seu discurso apocalíptico e já foi até chamada de “histérica” pelo presidente Donald Trump”

[essa Greta é um chuvisco de verão, sua fama, seu ativismo logo será esquecido pela imprensa - ou já esqueceram que as manchas de óleo nas costas brasileiras foram convenientemente esquecidas.

Perceberam que não conseguiriam derrubar o presidente Bolsonaro, então esqueceram.  

Igual aos 'diálogos do interpePTação  - agora estão restritos a Polícia - apropriadamente, já que furto, invasão, etc é caso de POLÍCIA. ] 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a chamar de “pirralha” a ativista sueca Greta Thunberg, ao receber homenagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, tentando ridicularizar a adolescente de 16 anos. Segundo ele, a jovem deu um “showzinho” na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP25), realizada em Madri. No mesmo dia, porém, Greta foi eleita a personalidade do ano pela revista Time, por inspirar movimentos estudantis de todo o Ocidente na luta contra o aquecimento global e em defesa da natureza. Ela é a mais jovem contemplada com o título.

“Tem até uma pirralha que tudo o que ela fala a nossa imprensa, oh, nossa imprensa, pelo amor de Deus, dá um destaque enorme. Ela está agora fazendo seu showzinho lá na COP25”, disse Bolsonaro. Em Madri, pouco antes, Greta havia acusado líderes políticos e empresariais de preferirem cuidar de suas próprias imagens a tomar medidas agressivas na luta contra as mudanças climáticas. Disse também que as ambiciosas metas de redução de emissões são uma “enganação” e que “nada está sendo feito” para evitar uma catástrofe climática.

Greta Thunberg, nascida em 3 de janeiro de 2003, é um ponto fora da curva. Filha e neta de artistas, sua mãe é a cantora de ópera Malena Ernman, que representou a Suécia no Festival Eurovisão da Canção de 2009. Seu pai é o ator Svante Thunberg, filho do ator e diretor Olof Thunberg e da atriz Mona Andersson. A jovem tem síndrome de Asperger, TDAH, transtorno obsessivo-compulsivo e mutismo seletivo. Greta, porém, conseguiu ultrapassar esse problema, partindo do princípio de que “ser diferente é um superpoder”, dependendo das circunstâncias.

Greta era mesmo uma “pirralha” quando percebeu, com 8 anos de idade, que as mudanças climáticas existiam e ficou imaginando o motivo de isso não ser manchete em todos os canais, como acontece com as guerras. Em agosto de 2018, Greta Thunberg resolveu abandonar as aulas para protestar, próxima ao parlamento sueco, exigindo mais ações para mitigar as mudanças climáticas por parte dos políticos de seu país. Estudantes de outras comunidades se organizaram para protestos semelhantes.

Mais tarde, numa conferência em Londres, disse que não foi à escola para se tornar uma cientista do clima, como alguns sugeriram, porque a ciência chegou aos seus objetivos e somente restaram a negação, a ignorância e a inatividade. Terraplanistas e autoridades que negam o aquecimento global, como o presidente Donald Trump, parecem dar razão à menina, que ganhou notoriedade por uma abordagem igualmente radical na narrativa em defesa do meio ambiente.

Craque do marketing
Seu protesto solitário defronte ao parlamento da Suécia deu origem a um movimento global intitulado Fridays for Future (Sextas pelo Futuro), que culminou em uma greve escolar global no dia 15 de março, com protestos em mais de 100 países. “Vocês roubaram os meus sonhos e infância. Estamos no início de uma extinção em massa, e a única coisa que vocês falam é sobre dinheiro e o conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como se atrevem?”, disse, em memorável discurso na ONU, em setembro passado.

Bolsonaro não é o primeiro chefe de Estado a se sentir incomodado com a jovem, que desagrada muita gente com seu discurso meio exagerado e apocalíptico. Foi até chamada de “histérica” pelo presidente Donald Trump. Em termos de marketing político, porém, é uma tremenda roubada brigar com Greta. Ela é craque em chamar a atenção da mídia, sobretudo porque transformou seu principal hobby numa arma política: navegar de barco à vela.

Greta Thunberg cruzou o Atlântico num veleiro para comparecer à ONU, em Nova York. Foram duas semanas de travessia marítima, partindo do emblemático Porto de Plymouth, no Reino Unido. A jovem se recusa a viajar de avião por causa das emissões de carbono geradas pela queima de combustível. Veleja num barco “sustentável”, com painéis solares e turbinas que produzem eletricidade, cedidos por ninguém menos do que Pierre Casiraghi, filho da princesa Caroline de Mônaco.

Sua chegada a Nova York é um “case” de comunicação nas redes sociais e na mídia tradicional. Tão logo pôde, disparou no Twitter: “Nós atracamos na costa de Coney Island — passando pela alfândega e imigração”. Horas depois, publicou uma foto já no rio Hudson, com Manhattan no horizonte. Mais cartão-postal, impossível. Por essas e outras, é uma fria polemizar com Greta Thunberg. É uma briga na qual já se entra derrotado na opinião pública internacional.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense




segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Olha que Escândalo, que aliás estávamos esperando!...

LISTA DO BNDES

Uma das primeiras providências do Temer ao assumir o governo foi colocar a Maria Sílvia na presidência do BNDES.
 
Nos 11 meses em que ficou à frente do BNDES, Maria Sílvia acrescentou ao seu festejado currículo (CSN e Sec Finanças da Prefeitura do Rio) mais um show de competência e implantou uma série de medidas profiláticas, mormente relativas à fiscalização das obras que estavam sendo tocadas por empresas brasileiras no exterior em países como Venezuela, Angola e Cuba, com aporte financeiro do BNDES.


Pois bem, sem nenhum aviso prévio, a Maria Sílvia, considerada pela revista Time como a única mulher em uma lista dos 12 mais poderosos executivos do mundo, pediu as contas alegando motivos pessoais. 


Hoje ela revelou a lista abaixo.
Alguma dúvida?

Lúcio Wandeck


Luiz Baginski UOL <lcbaginskif@uol.com.br - 28/09/2018
Olhe só onde está o dinheiro de Educação e da Saúde !!!
BOMBA ! GLOBO Não divulga relação DA LISTA DO BNDES !!!
Em retaliação a Ex Presidente Maria Silvia Bastos Marques do BNDES divulga
lista dos 15 maiores devedores do banco.*

1°. *Rede Globo*
2°. *JBS Friboi*
3°. *Grupo Odebrecht*
4°. *Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).*
5°. *Governo da Venezuela*.
6°. *Rede Record*
7°. *Governo Angola*
8°. *Governo Cuba*
9°. *Governo Uruguai*
10°. *Petrobras*
11°. *Empresa OI Telecomunicaões.*
12°. *MCJ Pavimentações.*
13°. *Banco Bolívia Popular*
14°. *Governo Republica Popular da China*.
15°. *Industria Petroquímica do Irã. 



*Fonte do Jornal Correio de Brasília.*

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Como funciona o maior grupo de propagação de ódio na internet brasileira, que lucra com misoginia, racismo e homofobia



Além de apostar em conteúdos que geram indignação, eles costumam mirar em personalidades com fama na rede 

Além da superfície de imagens fofas e curtidas, a internet cultiva o ódio. Rede narcísica, estimula um novo personagem: o troll. É aquele usuário que provoca e enfurece outras pessoas, com comentários injustos, ignorantes e, muitas vezes, criminosos. O objetivo do troll é provocar a ira dos outros internautas — e, se possível, ganhar algum dinheiro de modo fácil. Os trolls se alimentam da atenção que atraem e se valem de qualquer coisa para tal. Talvez, por isso, esta reportagem possa não ser uma boa ideia, exceto pelo fato de que precisamos falar sobre esse novo Kevin.

É um monstrinho digital à moda do personagem da escritora americana Lionel Shriver. O Kevin, de Shriver, é aquela criança mimada que aprende que a violência é um método aceitável e simples para obter o que quer. O Kevin digital o emula nas redes sociais e, principalmente, em fóruns privados de discussão. A  internet nasceu como pátria do livre fluxo de informações. Se você não sabe como enrolar o cabo do fone de ouvido para que caiba na caixinha original, alguém na internet explica. Se quer descobrir qual a razão para tomar cloreto de magnésio, surgirá quem prometa equilíbrio e vigor a cada colherada. Se você disser, no entanto, que está sofrendo com a depressão, haverá quem tentará incitá-lo a se matar. Os psicólogos definem tal comportamento como efeito de desinibição on-line, no qual fatores como anonimato, invisibilidade, solidão e falta de autoridade eliminam os costumes que a sociedade construiu milenarmente. Por meio de telefones celulares inteligentes, tal desinibição está se infiltrando no dia a dia de todos.

No mundo digital, troll era inicialmente o método de pesca em que ladrões on-line usam iscas — uma foto fofa ou promessa de riqueza — para encontrar vítimas. A palavra se origina de um mito escandinavo que vive nas profundezas. Passou a simbolizar também os monstros que se escondem na escuridão da rede e ameaçam as pessoas. Os trolladores da internet têm um tipo de manifesto, em que afirmam que agem para o “lulz”, a zoeira, numa tradução livre. O que os trolls fazem na busca do “lulz” vai de brincadeiras inteligentes — como os memes da tomada de três pinos — a assédio e ameaças violentas. Abusam do doxxing — a publicação de dados pessoais, tais como números de carteira de identidade, CPF, telefones e contas bancárias — e de trotes como pedir uma dezena de pizzas no endereço de uma vítima ou ligar para a polícia denunciando supostas plantações caseiras de maconha.

Os trolls estão transformando as mídias sociais e painéis de comentários em um gigante recreio de adolescentes malcriados, repetindo epítetos raciais e misóginos, definiu uma reportagem recente da revista Time. Uma pesquisa que a publicação cita mostrou que 7 em cada 10 jovens sofreram algum tipo de assédio por meio da internet. Um terço das mulheres já se disse perseguida on-line. Um estudo de 2014 publicado no periódico de psicologia Personality and Individual Differences constatou que 5% dos usuários da internet que se identificaram como trolladores obtiveram pontuação extremamente alta em traços obscuros de personalidade: narcisismo, psicopatia, maquiavelismo e, principalmente, sadismo. E não pense que isso não ocorre em sua vizinhança.

Ao atender o telefone, o analista de sistemas Ricardo Wagner Arouxa, de 28 anos, achou que seu pai havia morrido. A caminho do trabalho, no bairro carioca da Tijuca, recebeu a ligação desesperada de sua mãe. Naquele dia, 27 de dezembro de 2017, seu pai se recuperava de um cateterismo realizado após sofrer o terceiro infarto. Pensou no pior ao perceber a mãe aos prantos. Ela demorou a recuperar-se para explicar o motivo da aflição: a Polícia Civil havia invadido a casa da família em Pilares para o cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Estavam prestes a arrombar a porta da residência quando ela voltava do hospital, ainda sem o marido, que fora mantido internado. Quando Arouxa conseguiu chegar em casa, a polícia já havia recolhido seus computadores, celulares e discos rígidos — até hoje não devolvidos.

Além de apostar em conteúdos que gerem indignação, como ataques racistas, os grupos de ódio costumam mirar em personalidades com fama na internet, como a advogada Janaína Paschoal
A razão da operação policial seria uma ameaça de bomba, supostamente feita por Arouxa. Os alvos seriam a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro e o advogado Rodrigo Mondengo. Ambos haviam processado Arouxa. A pendenga, que tramita em segredo de Justiça, só não tomou proporções maiores porque o analista de sistemas colabora há um ano com as investigações sobre imputações falsas de crime, em inquérito da Delegacia de Repressão de Crimes de Informática da Polícia Civil do Rio.

De anônimo, Arouxa quase se tornou réu da acusação de terrorismo. Na realidade, ele sofria por ter se tornado um dos alvos da maior quadrilha de crimes de ódio da internet brasileira, que hoje se articula por meio de fórum de discussão que tenta se manter anônimo. Chamado Dogolachan, o fórum foi criado por Marcelo Valle Silveira Mello a primeira pessoa condenada por racismo na internet no Brasil — e Emerson Eduardo Rodrigues. A Polícia Federal considera Mello e Rodrigues os grandes articuladores da maior rede de ódio que atua há ao menos uma década no Brasil, usando ferramentas digitais. Eles chegaram a ser presos na Operação Intolerância, em 2012, mas se livraram porque havia, naquela altura, vácuo na legislação brasileira para crimes cometidos na internet. Antes do Marco Civil da Internet (2014) e da Lei Antiterrorismo (2016), os ataques reiterados articulados pelo grupo só podiam ser enquadrados em crimes contra a honra ou injúria racial, por exemplo.

Integrantes do Dogolachan registraram o portal Rio de Nojeira, que publicava textos de cunho racista, machista e homofóbico, no nome de Ricardo Wagner Arouxa, utilizando seus dados pessoais. Quem chegava ao registro da página, feito propositalmente de forma pública, tinha acesso a informações privadas do carioca, como seu telefone e endereço. Arouxa também era o nome usado por um dos supostos redatores do Rio de Nojeira, deixando sempre rastros de ódio na tentativa de incriminar outros desafetos do grupo.

O primeiro post de notoriedade do Rio de Nojeira fazia ataques racistas a alunos da Unicarioca, faculdade localizada no Rio Comprido, região central do Rio, onde Ricardo estudava. “Quando foi que a Unicarioca deixou de pertencer à elite branca e passou a ser infestada por favelados, mulatos, negros cotistas?”, questionavam os autores. Segundo especialistas e investigadores ouvidos pela reportagem, o Rio de Nojeira faz parte de uma longa linhagem de páginas usadas pelo grupo criminoso para propagar discurso de ódio.
O primeiro site do grupo a ganhar os holofotes foi o Blog do Silvio Koerich, que se apropriou do nome de um empresário catarinense. Até março de 2012, a página havia sido alvo de 69.729 denúncias à Polícia Federal. O site compartilhava textos e fotos com conteúdo discriminatório e fazia apologia de crimes como violência sexual e pedofilia. Um dos artigos de maior repercussão buscava “ensinar a prática de estupros corretivos” em lésbicas. Outros blogs do gênero, como o Homem de Bem, tiveram trajetória parecida até serem tirados do ar. O modus operandi dos integrantes da quadrilha é criar sites e fazer postagens propositalmente absurdas, provocando repercussão, aquela história de “lulz”. Além de apostarem em conteúdo que gere indignação, como apologia da pedofilia ou ataques racistas, também elegem como alvo personalidades com fama na internet —  da blogueira feminista Lola Aronovich, à esquerda, até a advogada Janaína Paschoal, ícone do antipetismo, à direita. A ousadia é demonstrada em pequenos detalhes: Marcelo Mello trabalhava em uma prestadora de serviços para a Justiça Federal e diversas vezes usou a rede Wi-Fi do Conselho da Justiça Federal para realizar os ataques.

A zoeira, no entanto, não era a única aspiração dos líderes da quadrilha. Eles queriam mesmo é ganhar dinheiro. Em 2012, quando a Polícia Federal prendeu Emerson Rodrigues e Marcelo Mello na Operação Intolerância, uma das constatações foi que, já naquela época, a quadrilha se preparava para implantar um sofisticado mecanismo de captação de recursos por meio dos sites que mantinham. Quando leitores indignados acessassem os sites para se deliciar ou denunciar os absurdos publicados, seus computadores seriam utilizados involuntariamente para a mineração de criptomoedas, como o bitcoin. A mineração é um complexo processamento de verificação de dados que exige cada vez mais computadores e energia elétrica para gerar algum valor transformável em dinheiro. Também há indícios de que os criminosos captavam recursos por meio de publicidade. “Eles tentavam fazer com que o site bombasse para ter lucro”, afirmou o delegado da PF Flúvio Cardinelle, responsável pela operação e uma das maiores autoridades em crimes virtuais do país. Após deixarem a prisão, esse mecanismo foi implantado.

Já em liberdade, com o primeiro site fora do ar, Emerson Rodrigues e Marcelo Mello passaram a criar juntos outros portais pela internet brasileira, entre eles o fórum Dogolachan. Foi nesse último que os dois entraram em contato com Alemão, o perfil falso que passou a coordenar os ataques contra Ricardo Arouxa, por causa de um desentendimento em uma comunidade da finada rede social Orkut chamada Cartola FC.

Fóruns de discussão radicais são usados para atrair audiência para páginas e blogs que usam máquinas e energia na mineração de criptomoedas e dão lucro para chefes
Depois de se desentenderem em mensagens pela internet, Alemão prometeu “acabar com a vida” de Ricardo Arouxa. Em 31 de março de 2017, colocou um anúncio on-line para uma vaga de serviços gerais remetendo ao endereço de Pilares. Seis pessoas apareceram à porta de Arouxa, parte delas sem sequer dinheiro para voltar para casa.

Era só o início do que seria uma escalada de ataques. Arouxa foi contatado por uma criança que tentava lhe enviar mensagens de cunho sexual. Ele desconfiou e rastreou o perfil da mãe do autor. Descobriu que Alemão, novamente se passando por ele, começou a tentar aliciar crianças de uma escola de boxe comunitária da Maré. Oferecia videogames em troca de fotos de conteúdo sexual, que deveriam ser enviadas para o telefone de Arouxa. Para isso, passou o verdadeiro número do celular do analista de sistemas e seu endereço, onde os brindes deveriam ser recolhidos, tentando incriminá-lo.

Em setembro do ano passado, uma postagem da advogada Janaína Paschoal no Twitter afirmava que Arouxa havia ameaçado de morte a ela e a seus filhos. A articuladora do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ficou amedrontada com as mensagens enviadas em nome do analista de sistemas. Um telefonema entre os dois colocou fim à confusão e revelou tratar-se de obra de trolladores.

Numa cafeteria da Tijuca, Ricardo Arouxa disse a ÉPOCA não ter medo de Alemão ou dos diversos membros da comunidade do Dogolachan, mas não escondeu sua ansiedade. Diariamente se divide entre o trabalho e o constante monitoramento das atividades do grupo, tentando “antever o próximo passo”. Não consegue ficar mais de duas horas sem fazer esse tipo de checagem. Disse que nunca procurou psicólogos para lidar com o estresse. Contou ter conseguido estabilizar sua vida, mantendo amizades e o namoro apesar dos ataques de ódio. Seu empregador também está ciente da situação. O tom, porém, é de resignação. “Sei que esse é um câncer em minha vida de que nunca vou me livrar.”


MATÉRIA COMPLETA, em Época