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domingo, 15 de dezembro de 2019

‘Fóssil colossal’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

De líder na proteção do meio ambiente, o Brasil virou alvo de chacota mundial

Definitivamente, não se pode dizer que 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, tenha sido positivo para a imagem do Brasil no exterior. O presidente atribui o mau momento à mídia, às esquerdas, a uma espécie de propaganda negativa sistemática. Mas será que é isso mesmo?  Na sexta-feira, em Madri, a Conferência do Clima da ONU (COP) conferiu ao Brasil o prêmio “Fóssil Colossal”, que, como o próprio nome diz, é uma ironia com os piores desempenhos na proteção do meio ambiente. É dramático, porque o Brasil despencou de um extremo a outro: de líder mundial de proteção para alvo de chacota. [Conferência que o Brasil declinou de sediar - atenção!!! não dispensou o encargo de sediar a COP 25 no governo Bolsonaro e sim no governo Temer.
A tal conferência é tão importante que até agora não conseguiu decidir o que comunicar que decidiu.
Conservar e respeitar o meio ambiente é importante - no mínimo, por ser nele que nossos descendentes irão viver.
Só que sob a liderança atual, que nada lidera, é difícil de chegar a algum caminho útil.
Conservar o meio ambiente não consiste apenas em receber títulos que nada valem e/ou  ser incluído por revistas entre os cientistas.
Isso é mera perfumaria.]

No mesmo dia, a prestigiada revista Nature incluiu o professor Ricardo Galvão entre os cientistas do ano. E quem vem a ser? O presidente do Inpe que foi demitido e humilhado publicamente depois de Bolsonaro achincalhar os dados do instituto sobre desmatamento. E, veja bem, os novos dados coletados pelo próprio governo confirmaram depois o quanto o Inpe estava certo.  Em meio a essa sucessão de vexames, o presidente bateu boca num dia com a ativista adolescente Greta Thunberg – a quem chamou de “pirralha” – e no dia seguinte ela surgiu, toda poderosa, como personagem do ano e da capa da revista Time. O presidente bem poderia ter passado sem mais essa.


Apesar de tudo, os dados que estão para ser consolidados vão confirmar que, em 2019, o Brasil manteve o desempenho nas importações e só perdeu um pouco nas exportações. E por questões pontuais: a má performance da Argentina, um dos maiores parceiros, e a epidemia do rebanho suíno da China, que reduziu muito a necessidade de soja para alimentar os porcos. Descontados esses infortúnios, o desempenho é considerado bom, estável, e pronto a crescer.

E, afinal, o que é melhor para o Brasil? Os Estados Unidos e a China as duas maiores potências manterem o clima de beligerância e os ataques mútuos, ou efetivarem o acordo de paz?  Há controvérsias, mas parece prevalecer a avaliação de que é muito melhor para todo o mundo, literalmente, e para o Brasil, particularmente, que os dois gigantes se entendam, porque isso garante equilíbrio mundial, estabilidade, segurança e estanca a previsão de queda do crescimento global.

Quanto mais economia, desenvolvimento, comércio, melhor, muito melhor do que vantagens eventuais que a agricultura brasileira possa ter com a guerra. Ok. Se a China deixa de comprar produtos agrícolas norte-americanos, a tendência é de que desvie o foco para os brasileiros. Mas isso é pontual, residual, restrito a um único setor.  Ainda no cenário internacional, o Brasil perdeu e os EUA ganharam com o excesso de reverência de Bolsonaro a Donald Trump. E, no regional, o pedido de refúgio do ex-presidente boliviano Evo Morales vai consolidando a Argentina como o novo polo da esquerda sul-americana, depois que a Venezuela virou pó. A Argentina polo da esquerda e o Brasil da direita não é um cenário tranquilizador. [O Brasil segue a tendência mundial da esquerda desaparecer; implodir;
lamentamos pelos 'hermanos', já conseguem se ferrar sozinhos, imagine agora que pretendem se destacar como polo da esquerda = o destino que os aguarda, lamentavelmente, é o da Venezuela piorado.]

Apesar disso, Bolsonaro e Fernández têm trocado recados apaziguadores e promessas de pragmatismo nas relações comerciais e diplomáticas em termos mais abrangentes. Espera-se que sim, mas lembrando que Bolsonaro é Bolsonaro e que o kirchnerismo é o kirchnerismo.


Por fim, 2019 registrou ataques de Bolsonaro a Macron, sua mulher, Fernández, Bachelet, Greta, Leonardo Di Caprio, ONGs e aos povos do Chile e do Paraguai (ao enaltecer Pinochet e Stroessner), além de ter gerado temores, no mundo desenvolvido e nos nossos parceiros tradicionais, sobre as políticas indigenista, ambiental, cultural, educacional e de direitos humanos. Aos olhos do mundo, o Brasil anda para trás.

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Bolívia: licença para matar - Blog do Noblat - VEJA

Situação fora de controle

Foi rápida a resposta do governo interino da Bolívia à denúncia feita ontem por Michelle Bachelet, a Alta-Comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de que “o uso desnecessário e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército pode levar a situação [no país] a sair do controle”.
A autoproclamada presidente da Bolívia, a senadora  Jeanine Añez, divulgou  o Decreto Supremo 4078 assinado por ela que diz no seu artigo 3º:
O pessoal das Forças Armadas que participe das operações de restauração da ordem e da estabilidade pública, ficará isento de responsabilidade criminal quando, em cumprimento de suas funções constitucionais, atuar em legítima defesa ou estado de necessidade”.

O que significa? Que militares e policiais civis da Bolívia destacados para restabelecer a ordem pública receberam licença para matar sem correr o risco de serem responsabilizados criminalmente por isso. Nas últimas 48 horas, entre 10 e 15 pessoas foram mortas e cerca de 120 ficaram feridas.  O ministro da Defesa, Fernando López, apressou-se em justificar o decreto: “Há indicações muito sérias da presença de estrangeiros armados no país. [O decreto] permitirá que possamos cumprir nossa missão, nada mais do que isso.” À fala do ministro seguiu-se uma nota da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

[as forças envolvidas com o restabelecimento da ordem necessitam de uma certa liberdade para agir, sem risco de serem tolhidas  na liberdade para cumprir a missão constitucional.
Não havendo a proteção legal, o restabelecimento da ordem se torna mais dificil, já que parte do efetivo empregado na missão será desviado da função principal = restabelecer a ordem =  para cuidar do respeito aos direitos humanos, criando a cisão entre as tropas.
Natural que eventuais excessos devem ser combatidos com rigor e punidos, mas, sem impedir a consecução do objetivo principal, da missão = RESTABELECER A ORDEM PÚBLICA.]

O decreto, segundo a nota, ignora os padrões internacionais de direitos humanos e “por seu estilo estimula a repressão violenta. O escopo deste tipo de decreto viola a obrigação dos Estados de investigar, processar e punir violações de direitos humanos”. Qualquer ato administrativo nesse sentido seria ilegal.  A preocupação de Bachelet de que a situação na Bolívia possa sair do controle já não faz sentido a essa altura. De fato, a situação já saiu de controle. Partidários do ex-presidente Evo Morales, que se asilou no México, marcham ou sitiam La Paz, a capital do país, e outras cidades importantes. Os conflitos se multiplicam. [fácil perceber que é sempre a esquerda quem perturba a ORDEM PÚBLICA - afinal, quando perdem em um embate democrático, a esquerda, os comunistas, a corja bolivariana, sempre tentam causar tumulto, baderna.
Vejam que no Brasil, apesar da firmeza das instituições, tem um criminoso condenado - temporariamente fora da cadeia - que tenta perturbar a ORDEM PÚBLICA e busca se aliar com a quadrilha dos adeptos do 'movimento social terrorista - mst'.]

Devido ao bloqueio de estradas, começa a faltar comida em vários lugares e a haver racionamento de energia. A Direção Departamental de Educação de La Paz anunciou que as aulas nas escolas fiscais, privadas e de convênio continuam suspensas “até que existam condições adequadas” para serem retomadas.
O Parlamento na Bolívia ainda não aceitou a renúncia de Morales. [A RENÚNCIA É UM ATO UNILATERAL - NÃO CABE A NENHUMA INSTITUIÇÃO ACEITAR OU RECUSAR UMA RENÚNCIA.
Foi por pensar assim que o presidente Jânio Quadros se ferrou.] A autoproclamada presidente do país assumiu o cargo durante uma sessão do Parlamento onde não havia quórum para isso. O MAS, partido de Morales, cobra sua volta. E do México, Morales já mandou dizer que poderá voltar “para pacificar o país”.
Ainda não foi marcada a data para a realização do segundo turno das eleições consideradas fraudulentas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Se os principais partidos políticos não se entenderem, os militares poderão dispensar a presidente interina e assumir as rédeas do país. Não seria a primeira vez.

Entre a independência, em 1825, e o fim da última ditadura militar em 1982, a Bolívia foi vítima de 193 golpes de Estado, incluindo as tentativas frustradas. É o país da América Latina campeão em rebeliões contra governos em exercício. Morales foi o primeiro indígena a governar a Bolívia, e o fez por 13 anos consecutivos.
Desejava governar por 20 anos, conforme admitiu ontem. E diz que não se arrepende de ter tentado.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Enfim, temos governo

Duas boas notícias de Temer: há governo e o presidente fala a nossa língua. Mas elas não bastam..

Alvíssaras, brasileiros! Temos governo. Fazia muito tempo que administração não havia mais, pois, instalada no posto mais alto da República, com legitimidade garantida pela maioria dos votos válidos na eleição presidencial, Dilma Rousseff abusou de sua autoridade tentando forçar a própria permanência.
 
 Por determinação de 367 (71%) dos 513 deputados federais e de 55 (68%) dos 81 senadores, o vice Michel Temer tomou posse interinamente na Presidência e escolheu ministros que já começaram a tomar providências efetivas, anunciando a evidência de que, no mínimo, há uma gestão em marcha.

Com alívio, a Nação ouviu um chefe de governo que fala a língua de todos nós, o português cuidado com engenho e arte por Camões, Eça, Pessoa, Castro Alves e Machado. Pois é: nossa língua materna, em que os gerúndios têm dê, ou seja, andando, e não andano; os pronomes pessoais, mesmo nas formas coloquiais, devem ser usados corretamente (pra eu fazer, em vez de pra mim fazer); e adjetivos têm gênero, com mulheres falando obrigada, não obrigado, reservado apenas para emprego masculino. Ao discursar apresentando-se à Nação, Temer tratou as instituições e quem as ocupa em nome da cidadania com o devido respeito. E deu ao distinto público – escorchado por uma carga tributária indecente e afligido por crise moral, econômica e política como “nunca houve antes na História deste País” – esperança de que os cidadãos sejam tratados com decência. Não tendo de arcar com o ônus da desmoralização desta República desgovernada à matroca.

Dois dos ministros que assumiram autorizam a esperança de que, pelo menos, algo será feito para resgatar a fé e o respeito que o Brasil merece. Tendo presidido uma grande instituição financeira internacional e nosso Banco Central, com gestões que o fizeram gozar de boa fama nos mercados financeiros interno e externo, Henrique Meirelles, ex-tucano e várias vezes sugerido a Dilma por Lula para ocupar o lugar que assumiu, é o que se chama no turfe de pule de dez.

No Itamaraty, o senador José Serra (PSDB-SP) começou com o pé direito. Em plena turbulência causada pelo inconformismo dos derrotados no processo legal do impeachment, ele teve a serenidade e a ousadia de não deixar sem resposta a impertinente tentativa de intromissão em nossos assuntos internos feita por aliados bolivarianos no autoritarismo e no malogro econômico. Com sua tirania de 57 anos, que aprisiona adversários políticos e homossexuais, Cuba não tem autoridade para denunciar o tal “golpe jurídico-parlamentar”. Desde o golpe comunista do clã Castro, a ilha, sustentada antes pelo extinto império soviético e depois pela Venezuela, que não ampara mais ninguém, devia calar-se.
A dura nota do Itamaraty, repetindo o tom utilizado pelo ex-rei de Espanha Juan Carlos quando refutou a molecagem malcriada de Hugo Chávez – “por qué no te callas?” –, pôs em seu devido lugar o sucessor deste, Nicolás Maduro, e os aliados sul-americanos do Partido dos Trabalhadores (PT). Falta a Maduro um espelho no Palácio de Miraflores para ver a falência de sua gestão. E perceber que, tendo a Justiça a seus pés, não tem como criticar decisões do Supremo Tribunal Federal brasileiro. Pois este convalidou, com amplas maiorias e até unanimidade, o afastamento de sua comadre repetidas vezes, tornando lana caprina o uso de chicanas em sua defesa. Isso vale ainda para o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa e o uruguaio José Mujica que já não é presidente nem, ao que se saiba, fala por Tabaré Vázquez.

Atitude corajosa, similar à de Serra, foi tomada pelo ministro da Educação e Cultura, deputado Mendonça Filho (DEM-PE). Ele enfrentou e calou baderneiros que foram desmoralizá-lo e saíram do confronto derrotados por sua argumentação lógica, lúcida, respeitosa à democracia e que deveria ser imitada em enfrentamentos públicos do tipo.

Recriar o Ministério da Cultura (MinC) ou subordinar a secretaria à Presidência seria recuo que dificultaria ao governo adotar as providências necessárias para desmontar o deletério legado da desastrada gestão petista nesses 13 anos e quatro meses e meio. O MinC foi uma má iniciativa de José Sarney para pôr ao menos um amigo no Ministério, então só composto por indicações do titular morto, Tancredo Neves. Um de seus ministros foi o economista Celso Furtado. Mas a biografia impoluta do grande mestre foi maculada por seu injustificável apoio à censura ao filme Je vous Salue, Marie (Ave, Maria[), de Jean-Luc Godard, imposta ao então presidente pela devota mãe, dona Kiola.

À exceção de Ipojuca Pontes, que ousou extinguir a Embrafilme e por isso é hostilizado, Antonio Houaiss e Francisco Weffort, a pasta foi sempre usada para uma ação entre amigos, à nossa custa. Lula e Dilma a aparelharam para servir ao PT e à indústria fonográfica. E a usaram para tungar direitos de nossos autores e aumentar os lucros das multinacionais da cultura e de artistas nativos que se beneficiam da “bolsa show”, sob as bênçãos de Xangô e do Senhor do Bonfim. Enquanto as traças devoram a Biblioteca Nacional e os museus sob sua égide se tornam inaptos para visitas públicas.

A Cultura é um detalhe simbólico, mas também relevante, tendo em vista as dificuldades com imagem do presidente em exercício. Urge ao governo-tampão evitar que Dilma e seus asseclas completem o desmanche do País, sob os aplausos dos decadentes aliados subcontinentais. Para tanto basta que os senadores contra seu afastamento cheguem a 25 (um terço de 81), três a mais do que os obtidos na votação da abertura do processo.

Essa tarefa não é impossível, mas fácil também não é. Dois passos são exigidos: demitir não 4 mil, mas todos os comissionados que for possível, para que não sabotem a gestão; e fazer de tudo para pôr de novo as contas públicas nos eixos. Esta luta terá de ser travada com lisura e na guerra pela paz.
 

Fonte: José Nêumanne - O Estadão