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domingo, 30 de junho de 2019

Bolsonaro conheceu a verdade! Ela o libertará?



Quando confrontado com um problema, Jair Bolsonaro pode não ter a solução. Mas ele tem sempre à mão um versículo multiuso que extraiu do Evangelho de João: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Às vésperas do aniversário de seis meses do seu governo, celebrado neste domingo (30), Bolsonaro conheceu a verdade. Descobriu que pode ser conservador sem ser arcaico. Essa verdade tem potencial libertador. Mas para se livrar dos grilhões do arcaísmo, o presidente teria de se manter fiel à racionalidade que levou ao fechamento do histórico acordo entre Mercosul e União Europeia. O bom senso ensina que dois espetáculos não cabem ao mesmo tempo num só palco. Ou num único governo. Dividida entre um e outro, a plateia não dá atenção a nenhum dos dois. Ou, por outra, acaba privilegiando o mais exótico. Estão aí em cartaz, faz um semestre, duas apresentações. Uma é aquela que o general e ex-ministro Santos Cruz chamou de "Show de besteiras". Outra é a coreografia encenada pelo pedaço da Esplanada que tenta provar que o governo não está sob o domínio da Lei de Murphy, segundo a qual quando algo pode dar errado, dará.  
[O 'show de besteiras' foi consequência da forma informal adotada por Bolsonaro ao  assumir o governo.
Além da sua propensão a informalidade, a autenticidade, Bolsonaro teve contra ele, três ações:
- o 'assessoramento' dos filhos, do aiatolá de Virgínia e de outros aspones do tipo;  
- a opção do Congresso Nacional, especialmente dos presidentes das duas Casas, em desprestigiar o presidente Bolsonaro, preparando-o como vítima até mesmo de um 'impeachment', da mesma forma como foi feito com Fernando Collor - não tiveram êxito, devido principalmente a que contra Collor tinham, também, acusações de corrupção (das quais Collor foi absolvido, posteriormente, pelo Supremo) e já Bolsonaro só tinham a sua independência em relação aos desejos do Poder Legislativo; e,
- a manifesta má vontade de grande parte da Imprensa, que desde a consolidação da candidatura Bolsonaro, tem sempre procurado dar destaque aos aspectos negativos do seu governo, maximizando eventuais erros e tudo que não é favorável à imagem do presidente e minimizando os acertos e pontos favoráveis.

Agora com a assinatura do acordo MERCOSUL  - UNIÃO EUROPEIA, Bolsonaro deixou seus adversários, especialmente a turma do 'quanto pior, melhor' com as calças nas mãos.

Admitimos que teve momentos de grande dificuldade para defender o nosso presidente e foi preciso assumir a postura que ainda mantemos - os eleitores de Bolsonaro o escolheram para presidente da República, não para monarca - especialmente por ser o Brasil uma REPÚBLICA e nas repúblicas não há espaço para familiares do presidente governarem, nem também para filósofos de araque, verdadeiros aiatolás', nem para aspones.
Isso posto, temos convicção de que no governo Bolsonaro, que começou ontem, a Lei de Murphy também não terá espaço.]

Desde que assumiu o trono, Bolsonaro tenta conciliar duas exigências conflitantes: ser Bolsonaro e exibir o bom senso que a Presidência requer. Ao desembarcar no Japão, para a reunião do G20, o capitão sentia-se cheio de tambores, metais e cornetas. Reagiu a uma cobrança da premiê alemã Angela Merkel sobre meio ambiente como se fosse o próprio Hino Nacional. Murphy o espreitava. O presidente francês Emmanuel Macron ecoou Merkel. Vão procurar a sua turma, bateu o general e ministro palaciano Augusto Heleno. Em vez de acalmar o amigo, Heleno revelou-se uma espécie de Murphy em dose dupla. Bolsonaro e seu séquito tinham todo o direito —e até o dever— de responder a Merkel e Macron. O problema é que, considerando-se o timbre, pareciam tomar o partido não do Brasil, mas do pedaço mais atrasado do país, feito de desmatadores  vorazes, trogloditas rurais e toupeiras climáticas. O interesse do moderno agronegócio brasileiro estava longe, em Bruxelas, na reunião em que se discutiam os termos do acordo entre Mercosul e União Europeia. Ali, sabia-se que a insensatez ambiental levaria à frustração do acordo comercial ambicionado há duas décadas.

Súbito, o Evangelho de João iluminou os caminhos do capitão, apaziguando-lhe a alma. Num par de reuniões bilaterais, Bolsonaro soou conservador sem fazer concessões ao atraso. Falou de uma certa "psicose ambiental" que fez Merkel arregalar os olhinhos. Mas declarou que o Brasil não cogita deixar o Acordo de Paris, dissolvendo as resistências de Macron. As palavras de Bolsonaro desanuviaram a atmosfera na sala de reuniões de Bruxelas. Por um instante, o "show de besteiras" saiu de cartaz. [esperamos que este  instante tenha a duração mínima de oito anos - sem implicar em que os valores conservadores, a valorização da família, o combate sem tréguas ao que seja imoral e represente os mais costumes continue e seja exitoso, mas, sem concessões ao atraso.]  E a sensatez pariu um acordo. 

Bolsonaro faria um enorme favor a si mesmo e ao país se aproveitasse o embalo para enganchar nas celebrações do aniversário de seis meses a estreia de um espetáculo novo. Nele, o Planalto deixaria de ser uma trincheira. O presidente trocaria o recrutamento de súditos pela busca de aliados. [aliados confiáveis...]  A ala familiar seria desligada da tomada. O guru de Virgínia perderia sua cota na Esplanada. Ministros cítricos e tóxicos seriam substituídos por gente técnica e limpinha. O problema é que esse conjunto de modificações depende de uma mudança de chave no cérebro do próprio Bolsonaro. Algo que parece condicionado a um milagre. Não basta conhecer a verdade. É preciso querer se libertar do atraso.