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sábado, 6 de novembro de 2021

O mundo precisa aprender com o Brasil - Revista Oeste - Editorial

Vista superior do Rio Amazonas, Brasil | Foto: Gustavo Frazão/Shutterstock
Vista superior do Rio Amazonas, Brasil -  Foto: Gustavo Frazão/Shutterstock

Aos fatos:

No ranking dos países mais poluentes, o Brasil ocupa o 7º lugar. Mas o número de emissões de gases do efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, entre outros) não chega a 3% do total. Na frente estão China (cerca de 26%), Estados Unidos (12%), União Europeia (7,5%), Índia (7%), Rússia (5%) e Japão (2,5%). “Destes menos de 3%, um terço vem da agricultura e pecuária, um terço da indústria e o restante das florestas e terras não produtivas”, esclarece Roberto Castelo Branco, ex-secretário de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente. “Ao mesmo tempo, alimentamos 20% da população do planeta.”

Em 2020, 84% da energia elétrica produzida no Brasil veio de fontes renováveis. Seguem-se o Canadá (65%) e a Suíça (60%). A chave do sucesso está na matriz hidrelétrica, modelo responsável por quase 65% de toda a geração de eletricidade no Brasil. Uma reportagem de Oeste publicada em outubro do ano passado mostrou que, embora não seja livre de impactos ambientais (para a construção das usinas, grandes áreas são alagadas), eles são imediatos. Além disso, os resíduos são muito menos nocivos que os modelos fósseis e nucleares.

As 614 áreas indígenas existentes no Brasil ocupam 14% do território nacional. Caso formassem um país, elas somariam quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Segundo uma reportagem publicada na edição 76 de Oeste, se fosse um Estado, seria o terceiro maior da Federação, atrás apenas de Amazonas e Pará.  
O total dessas terras é maior que a França e a Alemanha juntas.  
Os dois países somam quase 150 milhões de habitantes, o que corresponde a 120 pessoas por quilômetro quadrado. 
“Por aqui, de acordo com o portal Terras Indígenas no Brasil, menos de 680 mil índios vivem hoje em aldeias legalmente reconhecidas”, escreveram Cristyan Costa e Paula Leal. “É como se cada indígena tivesse direito a 2 quilômetros quadrados só para si — área equivalente a 242 campos de futebol.” O Estado de Roraima, por exemplo, tem 46% do seu território reservado a tribos indígenas.[é muita terra para pouco índio e além do mais lhes falta disposição para produzir alguma coisa de útil nas tais terras indígenas - grande parte sequer mora nelas.]

— As áreas preservadas no interior dos imóveis rurais ocupam um terço (33,2%) do mapa nacional. “Nem o Estado Brasileiro preserva mais vegetação nativa do que os produtores rurais”, registra Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial e colunista de Oeste. Ao todo, elas superam a superfície de 186 dos 195 países existentes.

“Há 8 mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje, detém 28,3%”

Em média, os produtores rurais preservam 50% da propriedade — a porcentagem determinada por lei varia de acordo com o Estado: em São Paulo, por exemplo, são 20%; na Amazônia, 80%. “É como se você tivesse um carro, mas só pudesse usar os bancos da frente”, compara Michel Muniz, assessor do projeto Farmun, que estimula pesquisas científicas ligadas ao agronegócio em escolas de Mato Grosso. “Ou como uma casa de quatro cômodos, em que só dois podem ser ocupados. Os outros devem ser arrumados e mantidos em ordem, mas ninguém pode usá-los.”

Um estudo da Embrapa Territorial calculou o preço do patrimônio fundiário imobilizado pelos produtores em cada município. O valor total ultrapassou R$ 2 trilhões. Para preservar essas terras — e também para evitar roubo de madeira, prevenir incêndios, construir cercas e pagar vigias —, estima-se que os agricultores desembolsem cerca de R$ 15 bilhões por ano.

“Outro fato a considerar é a dinâmica da recuperação das florestas e outros tipos de vegetação no mundo rural”, lembra Evaristo. “O balanço entre desmatamento e regeneração florestal na Amazônia pelo Projeto Terraclass mostra que quase 30% das áreas mapeadas como desmatadas nos últimos 30 anos hoje estão ocupadas de novo por vegetação nativa (Terraclass Embrapa/Inpe).

Conjugadas, as áreas protegidas e preservadas do Brasil ocupam mais de 5,6 milhões de quilômetros quadradosou 66,3% do território nacional. “Há 8 mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje, detém 28,3%”, informa Evaristo. “Dos 64 milhões de quilômetros quadrados de florestas existentes antes da expansão demográfica e tecnológica dos humanos, restam menos de 15,5 milhões, cerca de 24%. 
A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas do planeta; hoje, tem apenas 0,1%. 
A África possuía quase 11%, e agora tem 3,4%. 
A Ásia já deteve mais de 23%; agora, possui 5,5% e segue desmatando.” No sentido inverso, a América do Sul saltou de pouco mais de 18% das florestas para cerca de 40%.

Um levantamento realizado em 2019 pela Embrapa Territorial constatou que os restantes 33,7% do território tem a seguinte distribuição: pastagens (21,2%) e lavouras (9%). As áreas urbanas ocupam cerca de 3,5%.

De junho a setembro deste ano, a redução de incêndios e queimadas foi de 13%. Na Amazônia, ficou em 26% a menos, contrastando com o aumento de 2020. “Agricultores não queimam por malvadeza”, explica Evaristo. “São sobretudo os produtores desprovidos de tecnologia suficiente, descapitalizados e marginalizados do mercado que empregam o fogo, ocasionalmente, para renovar pastagens, combater carrapatos ou eliminar resíduos vegetais acumulados. Eles representam menos de 2%.”

A era das fake news
Embora ainda estigmatizado como um pária ambiental, o Brasil surpreendeu a turma do contra já nos primeiros dias da COP26. Como detalha Roberto Castelo Branco em seu artigo publicado nesta edição de Oeste, o país não se limitou a comprometer-se com a contenção em 1,5º Celsius do aumento global da temperatura até 2060. Também antecipou a meta de reduzir a zero o desmatamento ilegal na Amazônia de 2030 para 2028, aumentou de 43% para 50% a redução das emissões de todos os setores da nossa economia em 2030. Confirmou a redução de emissões em 37% para 2025 e formalizou a antecipação, em dez anos, do comprometimento com uma economia neutra para 2050.

Ainda não está claro se tantas concessões serão recompensadas. Em 2015, o Acordo de Paris (consumado durante a COP21) determinou que, a partir de 2020, o Brasil e outros países em desenvolvimento começariam a receber US$ 100 bilhões por ano dos países ricos para ações de proteção ambiental. Até agora, não vimos a cor do dinheiro.

“É preciso não apenas que se cumpram as promessas do Acordo de Paris como que se regulamente no âmbito internacional o mercado de carbono”, observa Rodrigo Justus, conselheiro titular da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Não estamos vendo nada acontecer de concreto desde 2007. Naquele ano, foi proposta uma redução de 25% a 40% nas emissões de gases do efeito estufa até 2020. O ano-base era 1990.

Sem exigir contrapartidas, o Brasil também prometeu reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, o que pode afetar negativamente a pecuária nacional. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que o setor foi responsável por quase 72% das emissões brasileiras de metano em 2020. Apesar disso, uma nota conjunta divulgada neste 3 de novembro pelos ministérios do Meio Ambiente e da Agropecuária afirmou que, ao aderir a esse compromisso global, o país demonstra que já possui projetos que tratam do tema. Entre eles, foram citados o Programa Nacional Lixão Zero, que extinguiu cerca de 20% dos lixões, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Apesar da postura claramente favorável às bandeiras dos ambientalistas, o país ainda não se livrou da desconfiança internacional. “O Brasil quer mais investimento em sua economia, mas, no futuro, não vai ser possível atrair os fundos maiores sem uma política ambiental clara nos níveis federal e estaduais”, diz Peter Wilson, embaixador britânico no Brasil. “Os fundos públicos de outros governos, incluindo os do Reino Unido, vão ser usados onde são mais efetivos.”

Há 30 anos, eu voava até a Europa para falar das mesmas coisas que a gente hoje repete: as queimadas, o desmatamento, etc.”, conta Antônio Cabrera, ministro da Agricultura no governo Fernando Collor. O que mudou é que o Brasil está assumindo uma posição de liderança no agronegócio internacional. E essa liderança incomoda cada vez mais.” Outra transformação, segundo Cabrera, é que hoje o país produz mais utilizando menos recursos naturais.

“Estamos na era das fake news”, lamenta Cabrera. “As maiores notícias falsas, hoje, envolvem a área ambiental, principalmente em relação à Amazônia. O presidente da França, Emmanuel Macron, chegou a publicar uma foto antiga das queimadas na Amazônia como se fosse de hoje. E outras celebridades opinam sobre um assunto que desconhecem, como Cristiano Ronaldo, Lewis Hamilton, Gisele Bündchen ou Leonardo DiCaprio. Temos de começar a combater essas fake news com fatos, com informação. Nenhum outro país, entre as grandes potências agrícolas, tem o ativo ambiental do Brasil.”

Ainda existem, claro, inúmeros problemas a resolver no universo ambiental. O desmatamento ilegal cresce desde 2012, principalmente em decorrência da falta de regularização fundiária e de fiscalização. Se o governo não consegue garantir a segurança nem de uma favela no Rio de Janeiro, por que iria fazer diferente na Amazônia?”, perguntou J.R. Guzzo, colunista de Oeste, num artigo publicado na Gazeta do Povo. Mas os fatos mostram que o país está muito melhor que seus concorrentes. O meio ambiente é tão importante para os seres humanos quanto a agricultura. Nessa matéria, o restante do mundo tem muito a aprender com o Brasil.

Leia também “As elites estão rindo na nossa cara”

Branca Nunes, editorial - Revista Oeste

 

 

terça-feira, 27 de abril de 2021

REUNIÃO DA CÚPULA DO CLIMA. REUNIÃO? - Éricoh Mórbiz

NOTA DO EDITOR: O autor, que enviou o artigo ao site, é de esquerda, como se verá. Isso torna ainda mais significativa sua divergência em relação às esquerdas nesse tema.

Preliminar: não viso a defender o Presidente Bolsonaro.

Ate 20 de janeiro, menos de 100 dias atrás, o presidente americano não apoiava o acordo de Paris, não agredia a Amazônia brasileira.  
Uma eleição, novo presidente e passados, 100 dias, o homem quer ser o líder mundial do meio ambiente. 
Em ano que já tem pautada reunião oficial de organismo mundialmente reconhecido para discutir isso.
 
Convida 49 presidentes/dirigentes para tal reunião digital.E se julga no direito de dizer quem ou qual pais está fazendo a coisa certa. 
Mal educadamente, anfitrião, se ausenta, evita ouvir alguns de seus convidados.
Antes disso, ate 20 de janeiro, ninguém condenou os Estados Unidos, propôs represálias, fez manifestos, até a garota silenciou. Sobre o meio ambiente. Em 100 dias, querem tudo diferente! Pesos e medidas ao gosto!

Antes dessa reunião, 24 de nossos governadores, assinam um documento, criticando nosso Governo, nosso País. A meu ver, clara ação ilegal, ferindo nossa CF. Deviam ser punidos, responsabilizados! [o Brasil possui duas CF, sendo uma para ser usada contra os apoiadores do presidente Bolsonaro e outra para uso dos que apoiam os  outros - ainda que tal apoio seja uma traição  hedionda.]

E pior, entregam oficialmente tal carta ao Embaixador americano, que a recebe e oficialmente diz que entregará ao seu Presidente. Crime internacional. Embaixador não se envolve em atos do país anfitrião! Devia ser expulso de imediato.

Imaginemos o contrário! Nós, que militamos lá no fim de 60, década de 70, contra o regime de exceção (com maior respeito in memoriam aos que ficaram no caminho!) queríamos o retorno da liberdade plena. O que temos agora (bem, menos criticar o STF. Aí dá cadeia.) Que bom que temos isso.

Critiquemos, polemizemos, mostremos nossa revolta, nosso descontentamento. E pelo voto, se escolhemos mal, vamos corrigir na próxima. Não aprovamos a política de meio ambiente? Façamos algo! Nosso território é nosso. Muitos lutaram, morreram, para que ele fosse nosso!  Nós, brasileiros, acertando, errando, é que devemos decidir o que fazer com nossas riquezas (e nossas pobrezas)!

Parcerias, projetos bem intencionados de ajuda, doações,  claro que devemos aceitar. Transparentemente. Pragmaticamente. Sem ameaças! Índios do Brasil devem morar no mato, na selva, na Amazonia. Lá nos Estados Unidos, operam na bolsa de W.Street, possuem ricos cassinos e ricos fundos de investimentos.

Não foram convidados para essa reunião.Daqui foi. Pra falar mal de nós. Afinal, que se passa conosco? 
Perdemos o senso de patriotismo? 
Preferimos nos socorrer da liberdade alheia? 
Há organismos mundiais, Instituições sólidas, que ajudamos a criar,construir. 
Ali devemos atuar, se preciso, talvez, até se submeter a normas coletivas.

Temos Instituições funcionando. Somos livres para votar, escolher, usar nossos representantes para que façam leis, cuidem de nossas matas, rios, minérios. Meu Deus, fiquei velho, veio a Covid e não conheço, não ouço mais   o que aprendi a respeitar!  Defender!

 Em 24/04/2021

Enviado pelo autor, Éricoh Mórbiz ao site Puggina.org

[parabenizamos o autor pela Dignidade e Justiça  demonstrada na apresentação de suas posições - o que mostra que ainda existe esquerdistas dignos.

E o que expõe é uma brilhante defesa das posições que nós, orgulhosamente da extrema-direita, defendemos hoje e sempre.] 

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Uma ponte com o mundo - Fernando Gabeira

In Blog

Na noite das eleições pensei em ver um jogo da Copa do Brasil para não passar a noite em claro, sofrendo com algo que não posso influenciar. Trump ou Biden, Botafogo ou Goiás? Este último duelo tinha funcionado para embalar meu sono na semana anterior. No entanto passei mais uma noite em claro. Afinal, há tanta coisa em jogo. Minha ideia dos Estados Unidos não se alterou. Como nunca fui lá, conecto-me pela cultura, e alguns pontos importantes do mapa são Nova York e a Califórnia. Nesses lugares, Trump foi derrotado de forma acachapante. Continuam, de certa maneira, familiares para mim.

O problema são as decisões tomadas em Washington. No dia anterior, os EUA formalizaram sua saída do Acordo de Paris, deixando os outros países com a enorme tarefa de adaptação ao aquecimento global. Para os estrategistas, uma solução pró-Trump seria interessante para a China, pois acentuaria a decadência americana no mundo. Para mim, ela representaria a perda de esperança na sobrevivência da própria humanidade, deixando-nos com a alternativa de apenas lutar para que isso seja mais lento.

No meu país, seria um estímulo para que Bolsonaro e Salles acelerem a destruição dos recursos naturais e reduzam as chances de encontrarmos nossa moderna vocação econômica: a exploração sustentável da Amazônia, das fontes renováveis de energia, a abertura de milhares de empregos num projeto de recuperação verde. [um pequeno registro: o ilustre articulista é um expert em meio ambiente, o que lhe permite ser sabedor com exatidão que os 22 meses transcorridos desde a posse do presidente Bolsonaro - período que ele tem tentado governar sob um fogo cerrado dos outros Poderes, dos inimigos do Brasil e dos representantes de tudo que não presta - foram insuficientes para o capitão e o ministro do Meio Ambiente tenham tido êxito em causar às florestas brasileiras, os danos que os ongueiros vendidos aos estrangeiros vendidos  e os serviçais dos inimigos do Brasil = insistem em dizer que ocorreram.]

Alguma coisa não funcionou na primeira noite. As pesquisas se equivocaram, e Biden não conquistou uma vitória esmagadora. Aconteceu o que todos anunciavam; Trump tumultuaria o processo e buscaria uma saída no tapetão. Ele, como todo mundo, sabia que a maioria dos democratas votou pelo correio e que esses votos demoraram a ser contados. [votos que demoram a chegar ao destino, à segurança das mesas apuradoras, também são passíveis de fraudes, acréscimos fantasmas, etc.]

Independentemente do resultado, tudo isso me faz pensar no Brasil. Lá como aqui, a polarização domina o país. Lá como aqui, o populismo é muito mais resiliente do que pode parecer quando nos referimos apenas aos círculos intelectuais. Antes de criticar as pesquisas que falharam, é importante registrar que algumas pessoas têm medo de revelar seu voto; outras o escamoteiam porque veem nos institutos de pesquisa um braço do sistema e de dominação, denunciado pelos populistas.

E, antes de criticar os democratas por terem esperado uma onda azul que não arrebentou na praia, é preciso estudar se existem alternativas para certas tendências humanas. 
Como não se importar com os imigrantes ilegais, inclusive centenas de crianças separadas dos pais? [- os imigrantes que concorrem com os nacionais na busca por emprego, sofrem uma normal rejeição; 
- o fato de ser um latino legalizado não constitui razão para se tornar solidário aos que buscam uma legalização;
- da mesma forma, a cor da pele não impõe a obrigação de ser aliado e defensor de um transgressor com a pela da mesma cor. 
Fiquem cientes de que no Brasil um cidadão brasileiro, desempregado e sem teto, é preterido por  um venezuelano que ingressou ilegalmente no Brasil,  nas mesmas condições. 
É mais fácil um venezuelano desempregado e sem teto conseguir emprego a e abrigo do que brasileiro que com ele concorrer.]
Nem sempre os latinos legalizados são solidários com os ilegais. Nem sempre os negros se compadecem dos seus irmãos asfixiados até a morte pela polícia.Na medida em que a vitória de Biden se anunciava de forma mais lenta que o esperado, Trump optou por entrar na Justiça e, de certa forma, tumultuar o processo. Isso preocupa não só pelos Estados Unidos. Trump é uma inspiração para Bolsonaro, que tem uma tendência a questionar resultado das eleições, até mesmo quando as vence.

Há tantas lições a tirar deste momento que ele nos deixa uma tarefa para muito tempo. Mas é claro que o populismo de direita é enraizado na visão de mundo de seus seguidores, e não podemos subestimá-lo, mesmo diante da derrota eleitoral. Aliás, a vitória nesse caso lembra-me a fala de um oficial no filme “A Guerra da Argélia”: “É muito difícil chegar ao governo, mas as dificuldades começam de verdade quando se chega lá”.

Biden é um homem com recursos oratórios modestos, mas realizou a tarefa de ser o candidato mais votado da história americana. [Trump recebeu mais de 70.000.000 de votos, número  que nem o próprio Biden contesta; o democrata recebeu, sob intensa e motivada contestação, pouco mais de 74.000.000 = diferença que não alcança nem 5%.]  = O panorama que encontra diante de si é minado não só pela pandemia, crise econômica, mas também pelo legado do populismo. Desconfiança nas instituições, notícias falsas, teorias conspiratórias, divisão profunda na sociedade, tudo isso modela um caminho muito difícil de transpor.

Muito mais que a paciência e a unidade necessárias para derrotar o populismo de direita, será necessário construir pontes, apesar dos sabotadores que as explodem com frequência. A primeira e grande ponte será com o próprio mundo, voltar ao esforço multilateral, reconhecer a importância do trabalho conjunto para enfrentar o grande desafio planetário. A volta ao Acordo de Paris e a reconstrução verde da economia americana seriam um grande começo. [desde que as contestações judiciais não impeçam a posse do esquerdista, este terá o direito de governar com os interesses dos norte-americanos e lembrando sempre que o Brasil é uma nação soberana e que apesar de muitos brasileiros = maus brasileiros = defenderem o rompimento entre os EUA e o Brasil, o Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA e certamente os irmãos do Norte não querem outro Vietnam.]

Blog do Gabeira -  Fernando Gabeira, jornalista

Artigo publicado no jornal O Globo em 09/11/2020

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? Quando Donald Trump derrotou Hillary Clinton em 2016, fazendo jogo sujo, fazia sentido supor que isso tivesse acontecido por falta de conhecimento. Os americanos conheciam Trump como apresentador de tevê e, digamos, um milionário metido a besta. Era razoável supor também que boa parte dos eleitores estivesse farta da velha política, ali representada pela figura de um clã. Ok, Bill Clinton havia sido um bom presidente, Hillary tinha uma carreira pessoal de muito sucesso, mas de novo?

Também dava para imaginar que depois de Obama, os americanos estariam decididos a experimentar uma virada à direita, como acontecia em outras partes do mundo. Mas tudo isso se pensou depois da eleição. Porque antes era difícil imaginar que depois de eleger o primeiro presidente negro, com o nome Barack Hussein, os americanos passassem para Trump. Passaram, ganharam o benefício da dúvida. 

Mas passados quatro anos e Trump confirmando todo o jogo sujo que se esperava dele, e sendo agora amplamente conhecido como político – admito que me surpreendi com a competitividade dele. E mais ainda com alguns números apanhados nestes primeiros momentos, com dados do NY Times. Por exemplo: em comparação com 2016, Trump perdeu votos entre homens brancos com e sem diploma universitário. Em compensação, ganhou votos entre latinos de Miami (ok, são cubanos, em geral), mas também entre os mexicanos do Arizona. Os mexicanos, aqueles foram simplesmente xingados por Trump.

De outro lado, Biden foi pior que Hilary entre negros (homens e mulheres) e latinos (também homens e mulheres). Era de se imaginar o contrário depois de tudo que Trump e seu pessoal haviam feito. As primárias mostraram um Partido Democrata bastante dividido num amplo espectro político. Sim, há socialistas na esquerda democrata, embora não haja um programa propriamente claro. Não há ninguém propondo a expropriação dos meios de produção, mas há muita gente contra o “grande capital”. Isso até vem de longe: Al Gore, por exemplo, fez campanha contra o “big pharma” e o “big oil”.

Binden, talvez para atender essa esquerda, criticou o “big oil” e propôs algum tipo de controle de preços ou distribuição social de remédios. Tudo na direção de evoluir o Obamacare, que não pode ser chamado de socialista, talvez nem de social-democrata. Mas isso, em parte do eleitorado americano, deu alguma credibilidade às acusações de Trump de que há uma conspiração socialista e anti-cristã que precisa ser varrida dos EUA e do mundo. 

Aliás, Trump voltou à ideia ontem quando se declarou vencedor e que estava sendo roubado – não se importando nem um pouco em criar uma crise institucional de proporções inimagináveis. Por outro lado, há republicanos do bem, gente que quer reorganizar o país. Aliás, Binden foi senador por muitos anos, presidiu o Senado quando foi o vice de Obama, conhece republicanos. Pode, portanto, ser uma fonte de entendimento na direção do centro. Mas tanto os republicanos quanto os democratas também elegeram os seus radicais. Permanecerão nos seus partidos ou haverá divisões?

De todo modo, para o mundo, a quarta-feira terminou melhor do que começou. Binden agora é o favorito e isso muda para melhor o panorama global. Com Binden, os EUA voltam ao Acordo de Paris, à OMS, à aliança atlântica. Claro que continua a disputa com a China pela hegemonia econômica, militar e tecnológica, mas será uma disputa, digamos, mais inteligente e com muito menos chance de descambar para algum conflito.

Mas que há muita confusão política/ideológica nos EUA e no mundo, disso não há dúvida. E para terminar, uma vitória de Binden deixa Bolsonaro inteiramente isolado nas Américas. E será bem feito. A tal amizade com Trump não trouxe nada de significativamente lucrativo para o Brasil. Mas os bolsonaristas continuam por aí. Vão dizer que Trump foi roubado, assim como Bolsonaro acha que foi roubado numa eleição que ganhou. Aliás, tem uma ironia aí. As nossas urnas eletrônicas saíram-se muito bem, obrigado. [Quanto às urnas eletrônicas o que melhorou o seu conceito foi que o presidente Bolsonaro foi eleito em eleição na qual foram utilizadas - e sabemos que a eleição do capitão não foi aceita pelos inimigos do Brasil = adeptos do 'quanto pior, melhor' + mais 'turma do mecanismo' + inimigos da democracia + corja esquerdista - assim, se ele foi eleito não foi por falta de vontade daqueles inimigos de  fraudar as eleições, e sim por impossibilidade.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Desastre anunciado - William Waack

O Estado de S. Paulo

O quadro eleitoral americano parece confirmar as previsões para nossa política externa

Profissional de carreira que é, pode-se assumir que o embaixador brasileiro em Washington já cultive contatos com os democratas que provavelmente vão assumir junto com Joe Biden. Talvez áreas do governo como Economia, Infraestrutura, Agricultura, Minas e Energia, além das pastas militares, possam ajudá-lo. O pessoal da área internacional “pura” do atual governo só tem os números da turma ligada a Trump.

Se as eleições fossem hoje Trump estaria fora, e as relações do Brasil com Washington em precária situação. A opção preferencial pela pessoa do Trump feita por Jair Bolsonaro configura-se um desastre de proporções inéditas na história da nossa política externa. Não há exemplo de “alinhamento automático” tão mal conduzido. Mesmo na Guerra Fria o regime militar brasileiro levou nossos negócios em relação aos EUA de forma mais autônoma.

Cristalizaram-se nos últimos dias dois dilemas geopolíticos que se tornaram ainda piores devido ao apego de Planalto a Trump. O primeiro é o fato de que Joe Biden, o candidato democrata que hoje derrotaria Trump apresentou um ambicioso programa de recuperação econômica dos Estados Unidos baseado na “economia verde”, o que inclui a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris (que o Brasil, macaqueando Trump, maltratou).

Procura jogar a ainda maior economia do mundo numa larga avenida de investimento em energias renováveis, novas tecnologias e provavelmente exercendo ainda maior pressão política e comercial sobre o Brasil e suas políticas ambientais. Biden não vai conseguir fazer o relógio voltar para trás, mas promete retomar muito do “multilateralismo” (“globalismo”, como preferem dizer os bolsonaristas) e restituir parte da importância de agências que Trump fez questão de tentar destruir, como as da ONU (em alguns casos, com implícita colaboração brasileira).

A outra questão geopolítica é a participação da gigante de telecomunicações chinesa Huawei na infraestrutura brasileira do 5G, uma decisão que se aproxima para legisladores e governantes brasileiros, e que já causa notável angústia. O ministro Paulo Guedes resumiu há pouco o problema: “o ideal seria deixar a competição progredir, americanos contra chineses, mas surgiu essa questão geopolítica”. Trata-se da cobrança para o Brasil seguir o mesmo caminho que o Reino Unido, que foi banir a gigante chinesa de telecomunicações.

O 5G vai colocar também a cúpula militar brasileira contra a parede. Nossos militares no momento celebram, e com razão, um entendimento com os americanos que promete aplainar o acesso a tecnologias de ponta na área de defesa. Mas os sinais vindos de Washington são inequívocos: parcerias estratégicas no campo de defesa vão depender do comportamento do Brasil em relação ao uso de tecnologia e equipamentos chineses.

Conter a China é um consenso entre republicanos e democratas nos EUA, com a diferença do mau humor em relação ao Brasil que se pressupõe inicialmente de uma administração democrata – que ainda por cima tem boas chances de conquistar nas urnas em novembro também o Senado. Boa parte do nosso governo acredita que a China precisa comer e não vai retaliar o Brasil, um de seus principais fornecedores de commodities agrícolas. É uma perigosa zona de conforto mental. A China tem condições de nos causar muita dor.

Na figura do general Hamilton Mourão, vice presidente e coordenador das políticas para a Amazônia, o governo brasileiro admitiu no Senado esta semana que a guerra das narrativas está perdida para nós, que o Brasil está na defensiva, e que precisa apresentar resultados ao mundo para “sair das cordas” (Mourão). O que deixa Bolsonaro diante de um problemão formidável de política externa pelo qual só pode culpar a si mesmo. 

William Waack, colunista - O Estado de S. Paulo


sábado, 11 de julho de 2020

Quando o dinheiro fala é melhor ouvir - Míriam Leitão

Dinheiro falou alto e claro; melhor ouvir [será? a fome fala mais claro e com mais urgência.]


A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse ao “Financial Times” que está comprometida com a busca de uma economia mais verde. “Eu quero explorar todas as avenidas disponíveis para combater as mudanças climáticas, porque, no fim das contas, o dinheiro fala.” O dinheiro falou alto e claro ao Brasil nos últimos dias sobre a necessidade do fim do desmatamento da Amazônia. Na resposta, o vice-presidente Hamilton Mourão teve uma boa atitude, mas repetiu alguns velhos equívocos. [O dinheiro pode falar mais alto, até a fome chegar; 
quando ela chega e não se come papel moeda, os alimentos valem mais;
nós temos os alimentos e a 'turma do mecanismo' é competente para roubar dinheiro público, não conseguirão entregar o Brasil aos que se julgam 'donos do mundo'.
Ampliar as áreas agricultáveis não significa destruir patrimônio e quem pode, e deve, decidir o quanto será esta ampliação - sempre cuidando de manter mais do que o necessário para o suposto 'pulmão' mundial - cabe ao Brasil, dono do patrimônio e uma Nação Soberana. 
Destruir patrimônio é o que foi realizado pelos que hoje querem impor regras ao Brasil.
Aliás, de uns tempos para cá, as coisas se invertem: os que ontem cometeram crimes,hoje exigem que  querem que cometamos crimes idênticos para compensar os efeitos dos que praticaram.
É um procedimento idêntico aos que no Brasil, a pretexto de preservar a democracia, cassam direitos dos que deles discordam, direitos assegurados pela democracia que dizem ter interesse em manter.]

A boa atitude é receber os investidores e os empresários e se comprometer com resultados e até, como disse ontem, adotar metas de redução de desmatamento. Isso, se virar realidade, será uma mudança radical na atitude do governo. Será preciso abandonar teses antiquadas.
Não leva a lugar algum repetir o argumento de que a pressão vem de competidores comerciais do Brasil. Sim, o Brasil é um fenômeno agrícola. Deu saltos de produtividade, desenvolveu novas tecnologias, tem água, terra, conhecimento. Sempre haverá competidores rondando. O problema é por que um país com imensas possibilidades facilita tanto a vida dos competidores como faz o governo Bolsonaro? 
Segunda dúvida: por que destruir exatamente esse patrimônio que nos dá vantagens competitivas?

A aliança tem que ser com o moderno agronegócio, e não com a cadeia de crimes que grila e devasta. É irracional não reprimir essa forma truculenta de ocupação de território e de roubo de bens públicos. É do nosso interesse levar o país ao desmatamento líquido zero, como nos comprometemos no Acordo de Paris. O país será o maior ganhador. Dentro do agronegócio há uma luta entre o novo campo e a lavoura arcaica. Por atos e palavras o governo Bolsonaro até agora fortaleceu o passado. Não farei a exaustiva lista dos erros desta administração na área ambiental. Ela não cabe neste espaço. O aumento do desmatamento e as queimadas falam por si.

É um tiro no pé levar o ministro Ricardo Salles para a conversa e ainda fortalecê-lo no cargo. Só se engana com ele quem jamais se aprofundou no tema. Mourão tem tudo para entender profundamente. Morou na Amazônia, viajou na floresta por terra, ar e rios. Em algum ponto do Rio Negro deve ter sentido a força da floresta em pé. Salles é um equívoco. Os financiadores sabem disso. Os empresários atualizados, também.
[O general Mourão, vice-presidente da República e um patriota, por conhecer bem a área cobiçada, não aceitará que os defensores de interesses alienígenas tenham voz ativa e  propiciem a estrangeiros a compensação do que fizeram de errado quando destruíram o que hoje querem que o Brasil preserve aceitando que estrangeiros imponham normas de uso de território soberano do Brasil.]
O vice-presidente convidou os investidores a financiarem a conservação na Amazônia. Mas foi este governo que acabou com o principal instrumento, o Fundo Amazônia, pelo qual dois países amigos, a Noruega e a Alemanha,[amigos? a mesma Noruega que causou desastres ambientais na Amazônia?
mata baleias?
explora petróleo no Ártico? ] deram dinheiro ao Brasil. O dinheiro foi usado para financiar políticas públicas. O que os doadores do Fundo pediam? Governança. Que o Conselho representasse a sociedade, os governos estaduais, a ciência e não apenas o governo federal. Salles desmontou o conselho. Fez outro que só tinha Brasília, não tinha Brasil.

Mourão acertou quando falou em resultados e metas. Só que não pode ser para inglês ver. E para ser real é preciso entender algumas coisas: o Ibama e ICMBio já estavam sem recursos, mas foi o atual governo que os atacou de forma implacável. Os incêndios na Amazônia são majoritariamente criminosos, feitos por grileiros para eliminar o resto de vegetação que fica após o desmatamento. Isso não é palpite. Existem imagens de satélite que podem recuar no tempo e apagar as dúvidas que ainda existam. Não se trata de enfrentar a “narrativa”. E sim de encarar os fatos.

O dinheiro está pressionando por uma economia mais verde porque de repente passou a ter princípios? Não. Porque os fundos reagem à pressão dos seus stakeholders, de todos os envolvidos no negócio. O consumidor pressiona a empresa, que cobra do investidor, que quer saber do fundo se há forma de rastrear o produto. E, na dúvida, o país é vítima de boicote. Os empresários brasileiros ontem disseram que já sentem a queda dos aportes estrangeiros. O ministro das Comunicações não sabe que a floresta amazônica fica na Amazônia. O ministro do Meio Ambiente nunca tinha visitado a floresta quando assumiu o cargo. O governo pode continuar cometendo erros grosseiros ou entender a gravidade do assunto. Este governo tem horror a ambientalista. Tá ok, entendi. Mas agora é o capital que está falando. É melhor ouvir.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo - Com Alvaro Gribel, de São Paulo

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Soberbo isolamento - Nas entrelinhas

Todos os diagnósticos de organismos internacionais e análises econômicas apontam que a globalização, com base em políticas neoliberais, aumentou as desigualdades


O presidente Jair Bolsonaro cancelou mesmo sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos (21 a 24 deste mês), por razões econômicas, de segurança e políticas, segundo o porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros. Realizado há 50 anos, o fórum reúne chefes de Estado, grandes executivos e personalidades, num encontro que procura sempre perscrutar o futuro. Neste ano, as pautas de discussão são “Economias mais justas”, “Como salvar o planeta?”, “Futuros saudáveis” e “Tecnologias para o bem”. Esses temas têm algo a ver com a realidade brasileira? Claro que têm, porém, “o somatório desses aspectos, quando levados à apreciação do presidente, lhe permitiu avaliar que não seria o caso, neste momento, de participar desse fórum”, explicou o general, naquele tom marcial que sempre adota em momentos de certo constrangimento.

A experiência de Bolsonaro na reunião de Davos do ano passado não foi das melhores. Recém-eleito, frustrou expectativas generalizadas, seja porque fez uma intervenção lacônica demais, seja porque sua participação no evento, em termos de projeção do novo governo, foi ofuscada pelo desembaraço do ministro da Economia, Paulo Guedes, que centralizou as atenções com relação às reformas econômicas que os investidores de um modo geral esperavam do Brasil. De lá para cá, a sucessão de declarações polêmicas, desentendimentos com outros chefes de Estado e atitudes do governo, de certa forma, aconselham Bolsonaro a ficar fora do encontro.

Embora possa ser até conveniente para Bolsonaro, para evitar mais problemas, o isolamento não é bom para o Brasil e, de certa forma, expressa o resultado da nova política externa sob comando do chanceler Ernesto Araújo. O porta-voz não entrou em detalhes, mas uma análise da posição do Brasil em relação a cada tema proposto para os debates em Davos revela claramente as nossas contradições quanto ao rumo que as principais lideranças mundiais desejam, com exceção de Donald Trump e seus aliados de primeira hora. [o presidente Bolsonaro agiu corretamente ao decidir não comparecer a Davos - esse tal Fórum só produz conversas que não rendem dividendos e serve de palanque para os inimigos do Brasil.
Tudo que realmente é vantajoso para o Brasil pode ser resolvido sem plateias.]
 
Agenda
Por exemplo, “Economias mais justas”. Todos os diagnósticos de organismos internacionais e análises econômicas apontam que a globalização, com base em políticas neoliberais, aumentou a concentração de renda e as desigualdades. Muitos dos conflitos em curso no mundo ocorrem por essa razão, até em economias que não amargam as consequências do populismo irresponsável, como as da França e do Chile. Mesmo um empresário ultra bem-sucedido, como Steve Jobs, estava preocupado com isso. O smartphone protagonizou uma revolução na economia mundial, como uma matriz global de trocas voluntárias e cooperativas, que gera prosperidade para todos os seres humanos, porém, não será com as pessoas dirigindo o próprio carro ou pedalando a bicicleta que os problemas da concentração de renda e da desigualdade serão resolvidos. Ocorre que a política econômica do governo Bolsonaro não está nem aí para as questões sociais. Segue o modelo neoliberal que está sendo revisto.

“Como salvar o planeta?” Esse também não é um tema muito confortável para Bolsonaro, na contramão do Acordo de Paris, embora o Brasil não tenha dele se retirado, como fizeram os Estados Unidos. Não chamem o presidente da França, Emmanuel Macron, e a jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg para o mesmo jantar com Bolsonaro. Ambos andaram se digladiando pelas redes sociais, num embate desfavorável para Bolsonaro em termos de opinião pública mundial. Mais uma razão para não ir a Davos.

“Futuros saudáveis”, eis um assunto no qual o Brasil pode se destacar conceitualmente, porque o Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Constituição de 1988, é um paradigma mundial em termos de assistência universal à saúde, com resultados impressionantes, em pouco mais de 30 anos. Entretanto, o Brasil vive uma crise de financiamento no setor, porque não conseguiu equacionar satisfatoriamente a relação entre o sistema público, o setor privado e a área dos seguros de saúde. A política de Guedes é francamente a favor do fortalecimento da presença do sistema financeiro no setor de saúde. Também não são satisfatórios os indicadores de saneamento, mas o governo tem a seu favor o novo marco regulatório para privatização de todo o sistema.

“Tecnologia do bem” é outro tema a ser bordado no encontro. Perdão pela ironia, no momento, o assunto é muito mais um problema para os demais líderes mundiais do que para Bolsonaro, principalmente por causa das tensões entre os Estados Unidos e o Irã. Smartphones em zonas de guerra são um alvo fácil para os drones norte-americanos teleguiados por satélites, por pilotos militares confortavelmente instalados em contêineres refrigerados na Califórnia. Para Trump, bastou apertar o botão do joystick para eliminar o general iraniano Qasem Soleimani.


Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Com Brasil sob pressão, Bolsonaro não vai à conferência climática da ONU

Sem a presença de Bolsonaro, tem início hoje a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25). Em meio a recentes polêmicas sobre a Amazônia e a declarações do presidente, o Brasil será representado pelo ministro Ricardo Salles

 Começa nesta segunda-feira (2/12), em Madri, a COP 25, marcada inicialmente para acontecer no Brasil, mas cancelada ainda em dezembro de 2018, pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro, que também não comparecerá à reunião de chefes de Estado que abre o encontro. Transferida há um ano para o Chile, em novembro, a COP acabou mudando novamente para a Espanha, às pressas, devido à instabilidade política no país sul-americano. A presidência do evento, porém, continua com o Chile. 
 
O Brasil chega nesta etapa da Conferência das Partes, órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que se negou a sediar, representado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e com uma sucessão de problemas ambientais e sem perspectivas de cumprimento de metas. O ministro chegará ao encontro disposto a exigir recursos dos países em desenvolvimento para combater a destruição da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.

O objetivo da COP25 é regulamentar o Acordo de Paris, assinado em 2015, que começa a ser implementado em 2020. O encontro vai ocorrer em regime de urgência, principalmente depois da divulgação, na semana passada, do relatório de emissões da ONU Meio Ambiente, segundo o qual, para uma chance de 66% de limitar o aquecimento global em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, será preciso cortar as emissões globais de gás carbônico em 7,6% em todos os anos, daqui até 2030. O acordo de Paris estabeleceu em 2ºC o limite de aquecimento até 2030, ou seja, com reduções de 2,7% ao ano. “A conclusão óbvia dos especialistas é que os compromissos são insuficientes”, disse Diego Araya, da Embaixada do Chile, para quem está claro que os compromissos assumidos até agora não são suficientes para evitar as catástrofes previstas pelos especialistas.
 


No Correio Braziliense, MATÉRIA COMPLETA






segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Cabeça fria, apesar das chamas

O caminho é mostrar a importância da floresta em pé, pelos serviços ambientais e pela riqueza da biodiversidade

Estou na Amazônia para mais uma viagem de aprendizado na região. Ela é vastíssima, e minha capacidade de aprender é lenta e sinuosa. A floresta tem cem mil espécies animais, 43 mil vegetais. As queimadas devem arder até outubro, a julgar pela experiência dos últimos anos. Os ânimos parecem ter se acalmado. Angela Merkel deu o tom no G7 ao afirmar que é preciso fazer alguma coisa, sem dar a impressão de ser contra Bolsonaro. Não se trata de um exercício de psicologia individual. Merkel é uma estadista, tem objetivos maiores, lida com pessoas complicadas como Trump. Percebeu talvez que Trump e Bolsonaro são frutos de uma época e que não podem ser tratados com os mesmos critérios do passado.
Bolsonaro anunciou que apresentaria uma política para a Amazônia. Mas, até o momento, afirmou apenas, em reunião com governadores, que era preciso explorar as terras indígenas. Essa história de Bolsonaro com os índios brasileiros esbarra na Constituição. Para avançar sobre a superfície, precisa de emenda constitucional, e para avançar no subsolo indígena é necessária uma lei complementar, que Romero Jucá não conseguiu aprovar ao longo desses anos. [dificil, mas, possível; conseguindo aprovar uma emenda constitucional, uma lei complementar é bem mais fácil.
Agora alguém por favor explique:
- qual a razão das sumidades que elaboraram a CF 88 - a 'cidadã', cheia de direitos sem a contrapartida de deveres e o presidiário Lula era uma das sumidades - estabelecer imensas áreas territoriais como reservas indígenas? ; dificultar o uso do subsolo pela União Federal? Um dos objetivos é bem claro - transformar o indígena no maior latifundiário do Brasil.
O outro é velado, mas, a localização das reservas facilita em muito (talvez em um futuro próximo - para tanto basta o Brasil descuidar da proteção de seu território, da manutenção da SOBERANIA NACIONAL sobre aquelas áreas) uma ocupação indevida.]
Algumas repercussões negativas ainda estão no horizonte: fundos suecos planejam deixar de investir no Brasil, compradores de couro, como a Timberland, [eles podem comprar couros feitos em laboratório;
ou inventar um plástico, feito com o petróleo que a Noruega extrai no Ártico, que substitua o couro - com a vantagem de levar mais tempo para se degradar.] querem se fechar para a nossa produção. Importante lembrar que boicotes e sanções contra governos —pelo menos é a impressão que tenho ao longo dos anos que acompanhei — atingem as pessoas comuns e acabam fortalecendo os próprios governos visados.

As pessoas vivem grandes paixões políticas. O único caminho é mostrar a importância da floresta em pé, pelos seus serviços ambientais e pela riqueza de sua biodiversidade. Nada contra ninguém, é apenas prioritário divulgar o conhecimento científico sobre a floresta, os serviços ambientais que presta na regulação do clima, na segurança hidrológica, na captura do carbono. No meio da semana, visitei o mercado Ver-o-Peso. É impressionante como convergem para ele os diferentes produtos amazônicos. Há 80 barracas de ervas medicinais e perfumes. Essas propriedades não são ainda comprovadas cientificamente. Mas a verdade é que a floresta e a sabedoria tradicional encontram um caminho suplementar para atenuar sofrimento e oferecer cuidados que nem o SUS pode oferecer.
O Itamaraty seguiu um novo rumo ao cobrar, no contexto do Acordo de Paris, o pagamento pela captura do carbono, já previsto. É muito melhor que pedir ajuda em horas difíceis. Não que a ajuda deva ser rejeitada. Mas, pensando bem nas dimensões do problema, 20 milhões de euros é o preço de dois apartamentos de luxo em Paris. O importante é buscar os caminhos previstos no acordo. O governo Bolsonaro acha que o aquecimento global é uma invenção do globalismo marxista. É um pouco contraditório apoiar-se num acordo internacional de redução de emissões, considerando-a uma tarefa desnecessária.
Mas Bolsonaro decidiu continuar no Acordo de Paris. Por que não buscar também os benefícios que oferece? Um pouco de incoerência não faz mal a ninguém. Trump também não acredita no aquecimento global. Mas quer comprar a Groenlândia porque a região se tornará mais explorável com a temperatura em ascensão. Existe hoje uma hostilidade populista às descobertas da ciência. No entanto, o caminho do conhecimento e da informação é essencial. Mesmo porque a maioria dos corações já deseja a floresta em pé. As manifestações no mundo inteiro demonstram isso. Mas revelam ainda pouca informação.
Os políticos brasileiros viajam muito para o exterior. Mas muito pouco para a Amazônia. A própria imprensa internacional é muito centrada em conflitos e pouco em universos ainda desconhecidos.A sociedade brasileira está diante de um desafio. Certas escolhas, como já mostrou em livro Jared Diamond, podem selar o êxito ou o fracasso de um país. A ideia básica é desenvolver a Amazônia de forma sustentável e inclusiva. O fato de não termos ainda conseguido esse objetivo não pode significar que é um erro. Na verdade, isto está expresso em todos os planos regionais que o país destinou à Amazônia.
Fernando Gabeira - Publicado em O  Globo

domingo, 25 de agosto de 2019

Luxemburgo ameaça Brasil e cogita não assinar acordo com o Mercosul

EFE

França e Irlanda já tinham pressionado o governo Bolsonaro a cumprir os termos do Acordo de Paris, enquanto a Finlândia propôs boicotar a carne brasileira

[Esse Luxemburgo é o técnico de futebol ou algum país? 

se for país, quantos milhares de hectares ele tem destinado ao plantio de grãos? e para criação de bovinos?]

O governo de Luxemburgo não apoiará o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se o Brasil não cumprir de forma imediata as obrigações climáticas impostas pelo tratado e proteger a Amazônia, que há mais de dez dias vem sofrendo com incêndios.

O ministro das Relações Exteriores do país, Jean Asselborn, comunicou que, “diante de um desmatamento da Amazônia que causa incêndios dramáticos”, o governo “espera que os parceiros do Mercosul respeitem, inclusive antes da conclusão do acordo negociado, os compromissos do Acordo de Paris”.
“Luxemburgo não poderá respaldar a assinatura do acordo se o Brasil não se preparar para respeitar a partir de agora as suas obrigações a respeito do Acordo de Paris que estão nas negociações com a UE”, afirmou.
Asselborn e o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, vão propor ao conselho de ministros para que seja paralisada a decisão de assinar o acordo, que foi concluído no final de julho após mais de 20 anos de negociação, mas que precisa da aprovação dos Poderes Legislativos de todos os países envolvidos para entrar em vigor.

O acordo é o primeiro dos tratados de livre comércio envolvendo a União Europeia que inclui a obrigação de respeitar o Acordo de Paris pelo clima.  Luxemburgo considera que o acordo comercial é “uma oportunidade histórica”, mas acredita ser preciso mudar de rumo para garantir o “respeito à floresta amazônica, que é o pulmão do planeta” – embora, de fato, não o seja, já que consome a maior parte do oxigênio que produz.
Além de Luxemburgo, os governos de França e Irlanda também já ameaçaram não assinar o acordo se o Brasil não respeitar os compromissos de proteção do meio ambiente.

[AMEAÇAS VAZIAS:


Essa sucessão de ameaças tem duas razões principais:
- as manifestações realizadas no Brasil além de alguns sem noção que caem na conversa vazia dos organizadores de tais protestos -  são gestos de desespero da corja lulopetista que sem condições de fazer oposição ao governo do presidente Bolsonaro - que, passo a passo, vai realizando ações que melhoram o Brasil - ficam a serviço de interesses alienígenas (não é a primeira vez que a corja da esquerda atraiçoa o Brasil, defendendo interesses estrangeiros) e buscam ressuscitar a fantasia de 'lula livre' - afinal, o presidiário já rompeu a barreira dos 500 dias preso.
- o boicote dos estrangeiros é uma ameaça que não será posta em prática. A razão é simples: sem a carne e  os grãos brasileiros os países estrangeiros estarão em péssima situação e não conseguirão fazer um boicote de longa duração.

A conversa de que não será uma ação do governo e sim dos cidadãos daqueles países, que não comprarão produtos brasileiros que estiverem nas prateleiras, NÃO FUNCIONA. Boicote iniciado por cidadãos só funciona até o momento em que ele chega em uma loja e percebe que os produtos não brasileiros = não boicotados, sumiram das prateleiras.
Entre ficar sem os produtos ou dar um 'esquecida' no boicote será uma alternativa que ele exercerá uma única vez.

Aí irão comprar de quem? BRASIL;  Se seus agricultores tivessem condições imediatas de atendê-los, de há muito não comprariam do Brasil.

Todos tem que comer e diariamente e mais de uma vez por dia  (é um 'hábito' que não pode deixar de ser  cumprido,  até por nós, brasileiros, imagine os europeus e outros.) 

Poder militar não funciona. Bombardear cidades brasileiras e deixar a Floresta Amazônica intacta é algo que pode ser contornado e não garante carne e grãos na mesa dos gringos.

Temos que preservar a Amazônia e todo o meio ambiente, mas, sem aceitar regras impostas pelos estrangeiros e cujo objetivo é: impedir que o Brasil alcance o primeiro lugar no mundo como fornecedor de alimentos.]


Já a Finlândia, que preside atualmente a União Europeia, propôs a possibilidade de impor restrições às importações de carne do Brasil, maior abastecedor mundial, como forma de pressionar o país a preservar a Amazônia e cumprir os acordos ambientais.

Agência EFE

domingo, 30 de junho de 2019

Bolsonaro conheceu a verdade! Ela o libertará?



Quando confrontado com um problema, Jair Bolsonaro pode não ter a solução. Mas ele tem sempre à mão um versículo multiuso que extraiu do Evangelho de João: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Às vésperas do aniversário de seis meses do seu governo, celebrado neste domingo (30), Bolsonaro conheceu a verdade. Descobriu que pode ser conservador sem ser arcaico. Essa verdade tem potencial libertador. Mas para se livrar dos grilhões do arcaísmo, o presidente teria de se manter fiel à racionalidade que levou ao fechamento do histórico acordo entre Mercosul e União Europeia. O bom senso ensina que dois espetáculos não cabem ao mesmo tempo num só palco. Ou num único governo. Dividida entre um e outro, a plateia não dá atenção a nenhum dos dois. Ou, por outra, acaba privilegiando o mais exótico. Estão aí em cartaz, faz um semestre, duas apresentações. Uma é aquela que o general e ex-ministro Santos Cruz chamou de "Show de besteiras". Outra é a coreografia encenada pelo pedaço da Esplanada que tenta provar que o governo não está sob o domínio da Lei de Murphy, segundo a qual quando algo pode dar errado, dará.  
[O 'show de besteiras' foi consequência da forma informal adotada por Bolsonaro ao  assumir o governo.
Além da sua propensão a informalidade, a autenticidade, Bolsonaro teve contra ele, três ações:
- o 'assessoramento' dos filhos, do aiatolá de Virgínia e de outros aspones do tipo;  
- a opção do Congresso Nacional, especialmente dos presidentes das duas Casas, em desprestigiar o presidente Bolsonaro, preparando-o como vítima até mesmo de um 'impeachment', da mesma forma como foi feito com Fernando Collor - não tiveram êxito, devido principalmente a que contra Collor tinham, também, acusações de corrupção (das quais Collor foi absolvido, posteriormente, pelo Supremo) e já Bolsonaro só tinham a sua independência em relação aos desejos do Poder Legislativo; e,
- a manifesta má vontade de grande parte da Imprensa, que desde a consolidação da candidatura Bolsonaro, tem sempre procurado dar destaque aos aspectos negativos do seu governo, maximizando eventuais erros e tudo que não é favorável à imagem do presidente e minimizando os acertos e pontos favoráveis.

Agora com a assinatura do acordo MERCOSUL  - UNIÃO EUROPEIA, Bolsonaro deixou seus adversários, especialmente a turma do 'quanto pior, melhor' com as calças nas mãos.

Admitimos que teve momentos de grande dificuldade para defender o nosso presidente e foi preciso assumir a postura que ainda mantemos - os eleitores de Bolsonaro o escolheram para presidente da República, não para monarca - especialmente por ser o Brasil uma REPÚBLICA e nas repúblicas não há espaço para familiares do presidente governarem, nem também para filósofos de araque, verdadeiros aiatolás', nem para aspones.
Isso posto, temos convicção de que no governo Bolsonaro, que começou ontem, a Lei de Murphy também não terá espaço.]

Desde que assumiu o trono, Bolsonaro tenta conciliar duas exigências conflitantes: ser Bolsonaro e exibir o bom senso que a Presidência requer. Ao desembarcar no Japão, para a reunião do G20, o capitão sentia-se cheio de tambores, metais e cornetas. Reagiu a uma cobrança da premiê alemã Angela Merkel sobre meio ambiente como se fosse o próprio Hino Nacional. Murphy o espreitava. O presidente francês Emmanuel Macron ecoou Merkel. Vão procurar a sua turma, bateu o general e ministro palaciano Augusto Heleno. Em vez de acalmar o amigo, Heleno revelou-se uma espécie de Murphy em dose dupla. Bolsonaro e seu séquito tinham todo o direito —e até o dever— de responder a Merkel e Macron. O problema é que, considerando-se o timbre, pareciam tomar o partido não do Brasil, mas do pedaço mais atrasado do país, feito de desmatadores  vorazes, trogloditas rurais e toupeiras climáticas. O interesse do moderno agronegócio brasileiro estava longe, em Bruxelas, na reunião em que se discutiam os termos do acordo entre Mercosul e União Europeia. Ali, sabia-se que a insensatez ambiental levaria à frustração do acordo comercial ambicionado há duas décadas.

Súbito, o Evangelho de João iluminou os caminhos do capitão, apaziguando-lhe a alma. Num par de reuniões bilaterais, Bolsonaro soou conservador sem fazer concessões ao atraso. Falou de uma certa "psicose ambiental" que fez Merkel arregalar os olhinhos. Mas declarou que o Brasil não cogita deixar o Acordo de Paris, dissolvendo as resistências de Macron. As palavras de Bolsonaro desanuviaram a atmosfera na sala de reuniões de Bruxelas. Por um instante, o "show de besteiras" saiu de cartaz. [esperamos que este  instante tenha a duração mínima de oito anos - sem implicar em que os valores conservadores, a valorização da família, o combate sem tréguas ao que seja imoral e represente os mais costumes continue e seja exitoso, mas, sem concessões ao atraso.]  E a sensatez pariu um acordo. 

Bolsonaro faria um enorme favor a si mesmo e ao país se aproveitasse o embalo para enganchar nas celebrações do aniversário de seis meses a estreia de um espetáculo novo. Nele, o Planalto deixaria de ser uma trincheira. O presidente trocaria o recrutamento de súditos pela busca de aliados. [aliados confiáveis...]  A ala familiar seria desligada da tomada. O guru de Virgínia perderia sua cota na Esplanada. Ministros cítricos e tóxicos seriam substituídos por gente técnica e limpinha. O problema é que esse conjunto de modificações depende de uma mudança de chave no cérebro do próprio Bolsonaro. Algo que parece condicionado a um milagre. Não basta conhecer a verdade. É preciso querer se libertar do atraso.