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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Um basta na pandemia - Bruna Leal

Revista Oeste

Apesar do surto de infecções, a chegada da nova variante pode mudar os rumos da covid-19

Entre trancos e solavancos, o mundo adentra o terceiro ano de pandemia com boas notícias. A descoberta da variante Ômicron, identificada pela primeira vez em novembro na África do Sul, pode significar, enfim, o fim da era covid-19. Não que o coronavírus vá desaparecer do planeta. Não. O vírus detectado em Wuhan, na China, veio para ficar. Mas deverá permanecer sob controle, como tantos outros que circulam invisíveis entre a população mundial há séculos. Uma enquete feita pela revista Nature no começo de 2021 com cem imunologistas, virologistas e epidemiologistas que pesquisavam o novo coronavírus revelou que cerca de 90% deles acreditavam ser improvável que a covid-19 fosse erradicada. Contudo, será bem mais fácil conviver com uma doença que se comporta da mesma maneira que uma gripe comum. Pelo menos, esse é o cenário que se desenha atualmente no mundo com o aumento de infecções pela nova variante.

 

Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock
Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock

A chegada da Ômicron causou uma explosão de novas infecções em velocidade nunca antes vista durante a pandemia. Nesta semana, o mundo registrou pela primeira vez mais de 3 milhões de casos de covid-19 em apenas 24 horas. As mortes causadas pelo coronavírus, no entanto, vão na direção contrária, o que mostra que a nova cepa, apesar de altamente transmissível, é menos letal do que as demais, chamadas “variantes de preocupação” (Alfa, Beta, Gama, Delta). 
A hipótese de que o alto número de contaminações pela Ômicron pode ser a solução para a pandemia se mostra, a cada dia, mais possível: o aumento de pessoas com imunidade natural adquirida pela doença vai acelerar o fim do filme de horror que o mundo presenciou nos últimos dois anos. Ainda faltam, contudo, estudos concretos para validar essa tese — e o momento ainda é de cautela.  
Uma lição aprendida nessa pandemia é que ela pode ser imprevisível — a considerar pela enxurrada de previsões, algumas altamente catastróficas, que felizmente não se confirmaram. No entanto, a menos que surja uma variante brutalmente letal e resistente a vacinas, o destino do novo coronavírus caminha para se tornar endêmico, o que deixará suas taxas de incidência e transmissão previsíveis e aceitáveis. Boa parte do planeta precisa, agora, desapegar do medo e aprender a conviver com a doença.

Apesar da Ômicron, mortes não acompanham alta de casos

A histeria coletiva causada pela Ômicron se mostrou muito pior do que os efeitos da própria variante. Assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificou como “variante de preocupação”, os países acenderam o alerta vermelho. O mercado financeiro desabou, o espaço aéreo foi fechado, as medidas de controle social voltaram a ameaçar a liberdade dos cidadãos. A Ômicron, contudo, “decepcionou” os pandelovers e os fanáticos pelo lockdown e já mostrou que vai passar. A história na África do Sul indica isso. Depois do crescimento galopante de casos de covid, o país anunciou, em dezembro do ano passado, o fim do pico de transmissão. E isso deve se repetir em outras nações. Enquanto o surto não passa e o número de infectados bate recordes no mundo, a boa-nova é que a quantidade de mortes não avança na mesma proporção. A média móvel global de óbitos nos últimos sete dias está em 6,7 mil, mesmo patamar de outubro de 2021, segundo dados da plataforma Our World in Data

No Brasil não é diferente. Apesar do aumento de casos, as mortes continuam em patamares baixos, em comparação com o pico da pandemia. A média móvel de mortes hoje é de cerca de 140. No pior momento da crise, em abril do ano passado, chegou a pouco mais de 3 mil óbitos. Como a circulação da Ômicron já é dominante no Brasil, segundo declaração, na terça-feira 11, do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a tendência é que as contaminações mais brandas não impactem significativamente em hospitalizações graves e mortes. O clínico geral e doutor em imunologia Roberto Zeballos, em entrevista ao programa Direto ao Ponto, da Jovem Pan, fez uma provocação sobre o atual momento da pandemia no país. “Vamos fingir que somos uma avestruz, com a cabeça dentro de um buraco”, disse. “Vamos tirar a cabeça da avestruz do buraco e olhar: as UTIs estão lotadas? Não. As crianças estão morrendo? Não. O nível de mortes está caindo? Está. Estamos em uma situação não emergencial.”

O cenário poderia ser ainda mais favorável por aqui não fosse o surto de gripe que se instalou em várias regiões do país. Mais comum no outono e no inverno, quando as pessoas ficam muito tempo confinadas em ambientes com pouca circulação de ar, o aumento de casos de gripe nesta época do ano está associado a alguns fatores. Um deles é o surgimento da variante H3N2, chamada Darwin, que não entrou na fórmula da vacina contra gripe aplicada em 2021 no Brasil. “Os vírus que circulam agora são como se fossem filhotes de vírus dos anos anteriores”, explica a infectologista Patrícia Rady Muller. “Como no ano de 2020 não havia circulação do H3N2, a vacina do ano passado não tinha essa cepa. Por isso que as pessoas estão mais desprotegidas.” Outra hipótese é que, como muita gente ficou reclusa por longos períodos em 2020 e 2021, os vírus respiratórios pararam de circular. “Para que ocorra uma infecção no organismo, é preciso que o vírus esteja presente e que ocorra a queda da imunidade da pessoa”, disse a infectologista. 

A dupla virótica de H3N2 e coronavírus circulando ao mesmo tempo provocou uma corrida por testes para detectar as doenças. Para quem procura os exames nas farmácias, as filas e a falta de estoque são os principais gargalos. Dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias mostram que cerca de 284 mil testagens foram feitas entre 27 de dezembro e 2 de janeiro: 50% superior ao de 20 a 26 de dezembro. No entanto, o efeito da escalada de testagem em massa está provocando um verdadeiro caos em diversos setores da economia. Bares e restaurantes estão desde dezembro tendo de afastar em torno de 20% dos funcionários, toda semana, por suspeita de gripe ou covid, segundo informação do presidente da Associação Brasileira de Bares, Paulo Solmucci. 

A Ômicron já mostrou que não tem preconceito: contamina vacinados e não vacinados

Na manhã desta quinta-feira 13, a espera para fazer um teste de covid-19 no Hospital Sírio Libanês, por exemplo, era superior a duas horas. Motivo: além do aumento da demanda, um número enorme de funcionários não estava trabalhando por suspeita de gripe ou contaminação pelo coronavírus. A alta em casos e suspeitas de infecções em tripulantes já afeta voos nas maiores companhias aéreas do país. No mundo, só no Natal, 4,5 mil voos foram cancelados. Várias empresas adiaram o retorno ao trabalho presencial, e setores como a construção civil e os bancos também sentiram os impactos do afastamento de funcionários por covid. 

Nesta semana, o Ministério da Saúde seguiu a mesma recomendação das autoridades dos Estados Unidos e reduziu o período de quarentena para pessoas infectadas com a covid-19 de dez para sete dias, caso o paciente não tenha sintomas há pelo menos 24 horas. O período pode cair para cinco no caso de assintomáticos. Apesar de não ser consenso entre especialistas, para o médico médico-cirurgião oncológico com pós-doutorado em epidemiologia estatística Luiz Bevilacqua, a medida é acertada. “O custo financeiro-social de diagnosticar e isolar pessoas assintomáticas está sendo desproporcionalmente elevado, tendo em vista a benignidade da doença”. 

Além disso, a Ômicron já mostrou que não tem preconceito: contamina vacinados e não vacinados. “A vacina não impede a contaminação de vacinados”, observa Bevilacqua. “Então, qual o sentido de afastar pessoas que testaram positivo para a doença e estão assintomáticas?” A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica já alertou para a possibilidade de falta de testes de antígeno e PCR, caso os estoques de insumos não sejam repostos “rapidamente”. Bevilacqua questiona se essa disparada às farmácias em busca de testes é a melhor estratégia neste momento: “Será que pessoas assintomáticas, que já tomaram a vacina, precisam ser testadas?”, indaga.

Atualização das vacinas
Atualmente, o principal foco das vacinas é a spike, a proteína que o vírus usa para invadir a célula. A Ômicron, por exemplo, apresenta 32 mutações só na spike, o que ajuda a explicar a resistência da nova variante aos imunizantes. “As vacinas ajudaram lá trás com outras variantes, mas hoje não estão solucionando o problema no caso da Ômicron”, disse Zeballos, durante a entrevista ao Direto ao Ponto. A primeira morte confirmada pela Ômicron no Brasil ocorreu na semana passada. O paciente, de 68 anos, tinha comorbidades e, de acordo com o Ministério da Saúde, havia recebido três doses de vacina contra a covid-19. É bom lembrar que, antes mesmo da chegada da nova cepa, as vacinas já não se mostravam 100% eficazes para evitar contaminações.

Estudos mostram, contudo, que pessoas vacinadas têm menor risco de contrair a doença e, ainda que sejam diagnosticadas, têm menores chances de evoluir para casos graves e mortes. Hoje, há dez imunizantes sendo aplicados em regime de liberação emergencial no mundo, segundo a OMS. No entanto, a natureza foi mais rápida do que a ciência. Todas essas vacinas desenvolvidas em 2020 foram baseadas na versão “original” do vírus, que praticamente não circula mais no mundo. “A cepa Ômicron é muito diferente das que a antecederam. Ela é quase um novo patógeno”, disse a pneumologista Margareth Dalcolmo, em entrevista para a Band News nesta semana. Mesmo assim, as doses de reforço vacinal continuam sendo aplicadas quase como uma obsessão. Israel e Chile, por exemplo, já chegaram à quarta dose. 

Finalmente, e com algum atraso, a OMS admitiu nesta semana que as vacinas contra a covid precisam ser atualizadas. A organização informou que as atualizações devem provocar respostas imunes “amplas, fortes e duradouras”, a fim de reduzir a aplicação de contínuas doses de reforço. E mais, a OMS orienta que a nova geração de vacinas precisa, além de prevenir contra casos graves e mortes, oferecer proteção maior contra a infecção, “diminuindo assim a transmissão comunitária e a necessidade de medidas sociais e de saúde pública rigorosas”. Nenhuma novidade. As vacinas contra a gripe são atualizadas todos os anos. Para 2022, por exemplo, a OMS já incluiu a variante Darwin em sua fórmula vacinal. 

Diante dos fatos, as justificativas para exigir um passaporte de vacinação ficam ainda mais esvaziadas. Na mesa, o que está em jogo é muito mais um debate sobre poder e liberdades individuais do que sobre ciência. Basta ver o que fizeram com o tenista sérvio Novak Djokovic na Austrália, preso em um quarto de hotel por não estar vacinado. Ou o que aconteceu com os cruzeiros marítimos no final do ano, em que a exigência do comprovante de vacina de toda a tripulação e de passageiros não impediu surtos de covid entre 100% vacinados.  

Enquanto vacinas mais modernas não chegam ao mercado, os cientistas continuam monitorando alterações virais que possam interferir no curso da pandemia. A gripe é controlada dessa maneira. Há 105 anos, uma variante da influenza causou a maior catástrofe sanitária do século passado. A gripe espanhola, como ficou mundialmente conhecida, matou cerca de 50 milhões de pessoas entre os anos de 1918 e 1920. Atualmente, a influenza se tornou endêmica continua em circulação e provoca epidemias sazonais —, mas as autoridades sanitárias estão atentas para identificar variantes prevalentes e, assim, turbinar uma versão de vacina antigripal mais potente e eficaz. Estima-se que, por ano, morram em todo o mundo, em média, 650 mil pessoas devido à gripe sazonal. Essa letalidade passou a ser aceitável, e nem por isso adotam-se medidas rigorosas para evitar o contágio, como lockdowns, trabalho remoto e uso infinito de máscaras. 

O coronavírus deve seguir os mesmos passos. “Acredito que, neste ano, a covid vai atingir o nível endêmico e se tornar uma doença como qualquer outra”, afirma o infectologista Francisco Cardoso. “Não vai haver mais elementos para manter o status de pandemia.” O fracasso das tentativas de lockdown impostas no mundo todo mostra que não há como implantar um plano covid zero. O retorno ao normal depende de como a humanidade vai aprender a conviver com a doença. 

Leia também “A era do pânico”

Bruna Leal, colunista - Revista Oeste

 


terça-feira, 15 de junho de 2021

Variantes do coronavírus: quem são e como se comportam - Medicina

Apesar de terem mutações diferentes, elas guardam semelhanças, como maior capacidade de transmissão da Covid-19. Por enquanto, as vacinas funcionam 

Toda vez que um vírus faz suas cópias nas células humanas, está sujeito a erros que levam a mutações no código genético. No caso do coronavírus, essas mudanças estão sendo acompanhadas praticamente em tempo real. Quando um grupo de descendentes (ou uma linhagem, em termos técnicos) do Sars-CoV-2 reúne mutações distintas em comum, passa a ser chamado de variante.

É natural que isso aconteça, mas as notícias de novas variantes preocupam, deixando dúvidas sobre seu real impacto no curso da pandemia de Covid-19. A mais recente é a Delta, detectada pela primeira vez na Índia, mas já disseminada em outros países. incluindo o Brasil. Para ter ideia, ela foi responsável por um aumento de casos no Reino Unido.

Antes de entrar em detalhes sobre as principais variantes, vale esclarecer que a Organização Mundial de Saúde (OMS) mudou a nomenclatura para facilitar a identificação e reduzir estigmas geográficos. Agora elas se chamam assim:
Variante Alfa: a antiga B.1.1.7, identificada no Reino Unido.
Variante Beta: a antiga B.1.351, identificada na África do Sul.
Variante Gama: a antiga P.1, identificada no Brasil.
Variante Delta: a antiga B.1.617.2, identificada na Índia.

A ideia é seguir o alfabeto grego conforme novas cepas sejam identificadas. Essas que destacamos são as chamadas variantes de preocupação (VOCs, na sigla para o termo em inglês variants of concern), assim classificadas pela OMS porque há evidências de que são mais transmissíveis, podem escapar da imunidade adquirida (via vacina ou infecção natural) e/ou provocar versões mais graves da Covid-19.

Existem ainda as variantes de interesse, que são observadas de perto, mas ainda não ganharam o status de alarmantes. Nessa lista, por enquanto, há seis tipos. Mas vamos a um perfil das variantes de preocupação:
Alfa (antiga B.1.1.7)
Quem é:
A primeira variante de preocupação, anteriormente chamada de B.1.1.7. Surgiu no Reino Unido em setembro de 2020. Mutações: São 22 ao todo, entre as que alteram ou não a estrutura do vírus. As principais estão na espícula, a proteína que recobre o vírus. Uma das mais famosas é a mutação N501Y, que intensifica a ligação entre o vírus e as células humanas.
Comportamento: Transmissibilidade entre 30 e 50% maior do que as linhagens anteriores. Alguns trabalhos apontam para possível aumento no risco de hospitalização e maior mortalidade, mas isso ainda não está confirmado.
Resposta às vacinas: Vacinas funcionam normalmente contra ela. Isso é evidenciado por estudos de neutralização de anticorpos e, principalmente, por meio da observação do que houve nos países onde ela se tornou predominante. Os casos seguem caindo com o avanço da imunização a despeito de sua presença.
Situação epidemiológica: Ela foi a responsável pela segunda onda da pandemia que atacou os países do Reino Unido e boa parte da Europa no início do ano, até atravessar o Atlântico e virar a maior responsável por novos casos nos Estados Unidos. Chegou ao Brasil, mas encontrou aqui uma concorrente e tanto, a variante Gama. Chegaremos lá.

Beta (antiga B.1.351)

Quem é: A variante identificada em dezembro de 2020 na África do Sul.
Mutações: Têm alterações em comum com a Alfa, com destaque para a N501Y. Ainda carrega outras duas, na ponta da espícula, que chamam atenção: K417N, com o mesmo efeito de estimular a ligação nas células humanas, e E484K, que poderia ajudar o vírus a escapar dos anticorpos.

Comportamento: Mais transmissível, mas não tanto quanto a Alfa. É investigada por um aumento de mortalidade em indivíduos já hospitalizados, fato ainda não confirmado. A principal preocupação em relação a ela é o escape da resposta imune, que pode elevar a possibilidade de reinfecção e prejudicar a ação das vacinas.

Resposta às vacinas: As vacinas Ad26.COV 2.5, da Janssen, e Comirnaty, da Pfizer, mantêm sua proteção, em especial para casos severos e moderados de Covid-19 causada pela Beta. Mas há indícios de que a Covishield, da AstraZeneca, não funcione frente a essa variante, o que fez a África do Sul suspender seu uso.

Situação epidemiológica: Alcançou Estados Unidos, Canadá e outros 58 países. O primeiro caso brasileiro foi detectado em abril, graças à rede de vigilância genômica instalada no interior paulista, coordenada pelo Instituto Butantan.

Gama (a famosa P.1)
Quem é: Trata-se da variante descoberta no fim do ano passado em japoneses que voltavam do Amazonas.

Mutações: É muito parecida com a Beta, carregando as mesmas mutações principais na espícula do vírus.

Comportamento: Mais transmissível, tanto que devastou o país entre março e abril e ainda está fazendo estragos. Estudos apontam uma taxa de ataque (quantas pessoas um indivíduo doente infecta) semelhante à da variante Alfa, entre 1,6 e 1,4, ante 0,8 do Sars-CoV-2 “original”. Pode escapar dos anticorpos adquiridos em contatos anteriores com outras linhagens do vírus. A redução da ação deles é considerada moderada, mas já abre caminho para a reinfecção.

Agora, a questão da severidade é um mistério. Dados até apontam que ela pode, sim, ser mais letal e aumentar o risco de internação, mas não dá para saber se é culpa da variante ou de outros fatores.  “Tivemos 70% dos óbitos da pandemia no país nos últimos meses, com a predominância da Gama, mas isso pode ter acontecido mais por conta da combinação de alta transmissibilidade e baixa adesão às medidas restritivas, que permite que mais gente se contamine”, aponta o virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona Ômica, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI).

Resposta às vacinas: Pesquisas indicam que a Coronavac, do Butantan, manteve sua capacidade de proteção em locais onde a Gama já estava disseminada. A Fiocruz anunciou que a Covishield (AstraZeneca) também faz frente à mutante. Ensaios de neutralização (quando os anticorpos são testados in vitro), trazem ainda resultados positivos da Comirnaty (Pfizer), que devem se confirmar no mundo real.

Situação epidemiológica: Calcula-se que seja responsável por nove em cada dez casos de Covid-19 no país. Suas características fazem com que ela até agora vença a concorrência, tanto que ainda não tivemos uma grande penetração das variantes importadas.

Delta (anteriormente B.1.617.2)
Quem é: Detectada em outubro de 2020 na Índia, foi rotulada como variante de preocupação recentemente, em maio.

Mutações: Mais de uma dúzia, mas duas estão no centro das atenções. A E484Q, alteração semelhante à notada nas variantes Beta e Gama, que poderia ajudar o vírus a escapar dos anticorpos; e a L452R, também ligada à resposta imune.

Comportamento: Parece ser a mais contagiosa até agora. Estima-se que ela seja entre 40 e 60% mais transmissível do que a Alfa, tanto que acabou provocando surtos onde esta já era predominante, como o Reino Unido, o que motivou alertas do governo britânico. Um possível risco maior de hospitalizações está em investigação, mas ainda não foi confirmado.

Resposta às vacinas: Estudos mostram redução importante na ação de anticorpos neutralizantes com apenas uma dose das vacinas de Pfizer e AstraZeneca. Com duas doses, porém, a proteção se mantém. Outra pesquisa, do governo do Reino Unido, mostra que elas são altamente eficazes em reduzir hospitalizações mesmo frente a essa nova inimiga: 96% de proteção para Pfizer e 92% para AstraZeneca.

Situação epidemiológica: Se tornou a mais prevalente da Índia enquanto o país vivia uma devastadora segunda onda. Está sendo associada a um aumento de casos no Reino Unido, que já estava em plena reabertura de comércios e serviços. No Brasil, foram confirmados casos no Maranhão e no Paraná.

O que as variantes nos dizem
Primeiro, que as mutações são relativamente poucas, considerando o tamanho do código genético do vírus. “Ele possui uma enzima que corrige erros na hora da replicação. As variantes mais diferentes apresentam 22 nucleotídeos [pares de bases moleculares que formam o RNA viral] alterados entre 30 mil”, ensina Spilki.

O virologista gaúcho vê semelhanças entre a situação atual e a pandemia de influenza, o causador da gripe, em 2009. Primeiro, tivemos o surgimento da nova cepa H1N1, com um primeiro ano de disseminação de um vírus com genoma praticamente inalterado, seguido por um segundo ano com maior diversidade, e depois uma estabilização dos novos casos em um patamar mais aceitável”, comenta.

Outro achado interessante é que as variantes, apesar de surgirem em vários cantos do mundo, guardam semelhanças em comportamento, sugerindo uma tendência de convergência evolutiva. As mutações mais importantes ocorrem nas mesmas regiões da espícula e, na prática, parecem ter os mesmos efeitos.

Para explicar o que isso significa, Spilki faz uma analogia com pássaros que vivem em ilhas diferentes, mas se alimentam da mesma minhoca. “É como se todos fossem se adaptando para ficarem com o bico cada vez mais parecido e melhor, embora possam haver pequenas mudanças na plumagem ou no tamanho dos animais”, compara.

A convergência traz más e boas notícias. Por um lado, sugere que de fato pode ocorrer uma pequena diminuição na resposta à vacina. Por outro, mostra que é possível identificar as mutações mais consistentes e adaptar as doses a todas de uma vez. Para isso, é fundamental manter a vigilância genômica.

E vale um último recado. Embora os imunizantes ainda funcionem, quando o vírus segue em livre circulação, como no Brasil, corremos o risco de ver novas mutações surgirem, não só atingindo com mais gravidade quem ainda está suscetível, como colocando em risco inclusive os vacinados. Estamos correndo contra o tempo.

Saúde - Chloé Pinheiro - VEJA