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sexta-feira, 2 de junho de 2023

Randolfe é alvo de chacota por foto com vacina

Internautas interpelaram posição dos braços do senador

randolfe vacina

 O senador Randolfe Rodrigues, durante a vacinação contra a gripe e a covid-19 - 01/06/2023 | Foto: Reprodução/Randolfe Rodrigues/Twitter

O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chamou atenção de internautas nas redes sociais, depois de se vacinar contra a covid-19 e a gripe.

Uma foto publicada pelo parlamentar mostra um enfermeiro injetando o imunizante no braço esquerdo do congressista. Após o processo, Rodrigues divulgou uma imagem segurando o braço direito. “Viva a ciência, que nos permite hoje conviver socialmente em vida plena”, disse ele, na noite da quinta-feira 1º. “Lutamos muito por isso e vamos continuar lutando contra mentiras e desinformações que tentam descredibilizar a vacina.”

Usuários do Twitter ironizaram o senador amapaense. “Entendi a essência da sua bivalente”, escreveu a página Médicos pela Liberdade. “Ela é bilateral também: você toma a picada num braço e dói no outro.” “A vacina é ambivalente, ou seja, tomou em ambos os braços”, publicou outra pessoa. “Errou o braço, querida”, ironizou outra pessoa.

A foto veio algumas horas depois de Rodrigues passar apuros no Parlamento para a aprovação de medidas provisórias do governo, entre elas, a que redesenhou a Esplanada dos Ministérios. Durante uma entrevista, o congressista prometeu “mais diálogo” com Câmara e Senado.

Leia também: “O tabu sobre as vacinas”, reportagem publicada na Edição 96 da Revista Oeste

 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

O complexo industrial da pandemia não acaba - Revista Oeste

Debbie Lerman

Quem se beneficia dessa covid-19 sem fim? 

A pandemia da covid-19 acabou. O diagnóstico partiu dos especialistas mais confiáveis — aqueles que acertaram suas interpretações dos dados durante a pandemia, em especial John Ioannidis, da Universidade de Stanford.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock 
 
Agora a doença se junta a uma longa lista de patógenos que coexistem com os humanos e com os quais lidamos de modo local e direcionado, quando e se ocorrem surtos. Como a gripe. 
Não fazemos testes para esses patógenos se não temos sintomas. 
Não isolamos pessoas mesmo que elas tenham sintomas. 
Não esperamos que a população inteira se vacine contra esses patógenos. 
Não acompanhamos obsessivamente o aumento ou a diminuição de casos entre a população.

É o estágio no qual deveríamos estar com relação à covid-19 neste momento. Se o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos anunciasse amanhã que a pandemia acabou, aqui estão algumas das grandes mudanças a que deveríamos assistir:

  • não haveria mais testagem de grandes parcelas da população. O resultado desses testes, a menos que se estivesse tentando limitar a proliferação da doença ou localizar áreas de infecção especificamente alta, é insignificante: mesmo que a população tenha resultado positivo nos testes, não é preciso tomar nenhuma atitude. Todo mundo será exposto ao vírus em algum momento, e muitos de nós já fomos. A maioria não vai lidar com sintomas graves nem vai morrer;
  • não haveria mais justificativa para a obrigatoriedade do uso de máscaras em nenhum lugar — nem nos transportes, nem nos serviços de saúde, nem nas escolas. Indivíduos que se sentirem mais protegidos cobrindo o rosto poderiam continuar usando máscara, mas ninguém precisaria fazê-lo por causa da covid-19. Lembrete: a justificativa para a OBRIGATORIEDADE do uso de máscaras é que, quando todos usam máscara, isso supostamente diminui a velocidade de alastramento da doença. Se não estamos mais nos preocupando com a rapidez, a vagarosidade ou até mesmo se a doença está se espalhando, essa obrigatoriedade deixa de fazer sentido. (O que não é a mesma coisa que dizer que as máscaras não funcionam, trata-se de uma questão diferente.);
  • não haveria razão para a obrigatoriedade da vacina, para passaportes de vacinação nem para longas discussões sobre vacinar crianças ou qualquer pessoa. Quem quiser se vacinar ou aos seus filhos pode fazê-lo. E quem não quiser se vacinar não estará colocando ninguém em risco.
O estado louco de limbo
Por que então nenhuma dessas coisas aconteceu ainda? 
Por que, se os dados e os especialistas dizem que a pandemia acabou, o nosso comportamento não reflete essa realidade? 
O que está nos impedindo — a nós de modo geral e às autoridade de saúde em especial — de finalmente dar fim a uma desgastante histeria pandêmica e garantir a todos que podemos tocar a vida? 
Quem se beneficia dessa covid-19 sem fim?

A resposta inclui todos os componentes do complexo industrial pandêmico: políticos, a burocracia da saúde pública, grande parte da mídia, os fabricantes de máscaras, testes e vacinas e o segmento do público cujas ansiedades e sinalização obsessiva de virtude mapeiam perfeitamente o pânico da pandemia.

Nós nos encontramos em um estado louco de limbo: não existe mais uma grave ameaça da covid-19 (como o próprio Anthony Fauci admitiu). No entanto, estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19.

Estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19

A razão, eu argumentaria, é que o complexo industrial da pandemia não pode e não quer ceder. 
 Se deixarmos a pandemia para trás, como ela já está tecnicamente, então…

…os políticos que lidaram com suas bases apoiando as medidas mais draconianas (e demonizando qualquer um que as questionasse, como se fossem assassinos negacionistas de bebês) terão de encontrar novas razões para retratar seus oponentes como monstros. (Sim, estou falando de vocês, da esquerda. Como uma democrata de inclinação esquerdista de longa data, estou horrorizada com o seu pensamento coletivo lamentável e, no fim das contas, desastroso.)

…as autoridades de saúde pública que conquistaram tanta fama e adulação por encontrar ainda mais variantes para monitorar e razões para se manterem vigilantes vão perder os holofotes. Terão de voltar ao seu trabalho anônimo e complicado, em que elas supostamente administram todos os aspectos do que mantém uma população saudável. 
É tão mais fácil se concentrar em apenas uma doença! 
Eles também terão de lidar com as catástrofes de saúde pública em termos de vícios, saúde mental, déficits de escolarização, doenças não tratadas etc. que a devastadora guerra global contra a covid-19 causou.
 
…os veículos de mídia e plataformas on-line não vão mais poder capturar suas audiências e seus públicos-alvo com mapas vermelhos sangrentos, contagens de casos disparadas e previsões apocalípticas. 
A transição de Donald Trump para a covid-19 como um inimigo infalível ajudou toda a imprensa a se manter sensacionalmente relevante. 
Aliás, eu diria que, para um grande segmento da mídia, assim como para parte mais à esquerda do país, combater a covid-19 substituiu quase perfeitamente o combate a Trump. 
Foi como a reação à doença se tornou tão irremediável e destrutivamente politizada.

…os mercados multibilionários de máscaras, testes e vacinas vão diminuir consideravelmente, deixando o que imagino que vão se tornar enormes pilhas de medicamentos e equipamentos sem uso. É provável que os preços de ações e os retornos dos investidores nas indústrias e empresas relacionadas caiam.

…todas as pessoas, a maioria nas cidades costeiras ditas esquerdistas, como a Filadélfia, onde vivo, que passaram dois anos usando mais máscaras, tomando mais vacinas, defendendo mais fechamentos de escolas e se sentindo infinitamente superiores a qualquer um que sugerisse que essas medidas são ruins ou ineficazes, terão de encontrar uma nova causa com que ficar superansiosas e superbravas.

São muitos os interesses fortes que precisam ser combatidos se quisermos voltar ao normal. É muita pressão para as autoridades de saúde pública enfrentarem se quiserem transmitir uma mensagem clara sobre o fim da pandemia.

Como diminuímos a pressão de todos os componentes do complexo industrial da pandemia para podermos voltar de modo pleno a algo minimamente parecido com a normalidade? Eu gostaria de saber. 

Debbie Lerman é formada pelo Departamento de Inglês da Universidade de Harvard. Aposentada, ela escrevia sobre ciências e atualmente é artista na Filadélfia, nos Estados Unidos

Leia também “O constrangimento em detrimento da ciência”

Debbie Lerman - Revista Oeste
 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O mundo se despede da pandemia - Revista Oeste

Artur Piva - Paula Leal

Na Europa, países derrubam restrições e tratam a covid como uma doença comum. No Brasil, casos em queda e máscaras em alta 
Foto: Montagem/Shutterstock
Foto: Montagem/Shutterstock
 
 A Inglaterra se tornou o país mais livre da Europa. Há algumas semanas, os ingleses experimentam a vida livres de máscaras, passaportes sanitários ou restrições de circulação. Até os contaminados pelo coronavírus foram dispensados de fazer isolamento social. O governo do primeiro-ministro, Boris Johnson, pôs em prática o plano “Viver com covid”, antecipando o desfecho dado como certo pela comunidade científica: a covid-19 se tornará uma endemia, ou seja, uma doença comum, como é a gripe. 
A decisão da Inglaterra é acompanhada por outros países que já entenderam, nessa altura do campeonato, que a apresentação de passaportes de vacina e lockdowns rigorosos são incapazes de conter o curso da doença. Com o mundo adentrando no terceiro ano da pandemia, algumas “verdades incontestáveis” simplesmente perderam a “validade científica”. Não dá para seguir em um embate permanente contra a doença, tratando a liberdade como sinônimo de morte e as restrições infinitas como corretas e saudáveis. Parte do planeta já despertou para a realidade.   

Ao menos 20 países já anunciaram a flexibilização de regras no combate à pandemia. A Espanha, no mês passado, propôs classificar a covid-19 como uma doença endêmica. Coube ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fazer o anúncio: “A ciência nos deu a resposta para que consigamos nos proteger”, afirmou Sánchez, em entrevista à rádio Cadena Ser. “Nós temos de começar a avaliar a evolução da covid-19 de uma pandemia para uma doença endêmica.” Desde 29 de janeiro, a Espanha voltou a permitir que as pessoas frequentem bares e restaurantes sem restrições. Nem a comprovação de vacinação é necessária.

A Suíça suspendeu a maioria das medidas restritivas contra a covid-19. O uso de máscaras e a apresentação do certificado de vacinação não serão mais exigidos para entrar em lojas, restaurantes, cinemas e teatros. Não há mais restrições para reuniões privadas nem a necessidade de obter licença para grandes eventos. A Dinamarca liberou geral e derrubou todas as proibições. “Estamos prontos para sair da sombra do coronavírus, nos despedimos das restrições e saudamos a vida que tínhamos antes”, disse a primeira-ministra, Mette Frederiksen

A Polônia vai remover a maioria das restrições à covid-19 a partir de 1º de março. Na Itália, o uso de máscaras ao ar livre tornou-se facultativo. E Israel derrubou a exigência do passaporte sanitário. O primeiro-ministro, Naftali Bennett, justificou a medida afirmando que a onda de contágio da Ômicron está diminuindo rapidamente. O país, que já está na quarta dose de vacina, quer combater o coronavírus por meio da vacinação, sem “bloquear” a economia.

Combinação ideal para acelerar o fim da pandemia
Depois da chegada da Ômicron
, a mais transmissível das variantes do coronavírus, a pandemia perdeu fôlego. No último dia 15, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou pela segunda vez neste ano queda no número de novos casos de covid-19 no mundo. As mortes pela doença estão reduzindo. É verdade que já vivemos outros períodos de trégua do vírus, seguidos de surtos ainda piores. Até agora, a doença já matou cerca de 6 milhões de pessoas no mundo e contaminou aproximadamente 430 milhões. Mas em nenhum momento, desde que a OMS decretou a pandemia, em março de 2020, o planeta reuniu três condições capazes de acelerar o fim de tragédias sanitárias causadas por vírus como agora: a vacinação em massa, um vírus menos letal em comparação com outras variantes e a grande quantidade de pessoas que se imunizaram naturalmente, [a famosa e desejada 'imunidade de rebanho' que o presidente Bolsonaro tanto defendeu e, por isso, foi tão execrado. Mais uma vez os especialistas mostraram as razões de estarem desempregados ou desatualizados - esses pelo longo período de aposentadoria.] por terem contraído a doença.

Assim como outros vírus respiratórios, o coronavírus provavelmente buscará o equilíbrio entre letalidade e sobrevivência. “O vírus só consegue se multiplicar se ele estiver dentro de um organismo vivo”, explica a infectologista Patrícia Rady Muller. “Não é a intenção do vírus sair matando todo mundo, senão ele não vai ter como se multiplicar e sobreviver.” Logo, variantes com alto poder de infecção se tornam dominantes, mas com baixa capacidade de provocar doenças graves e mortes.A alta transmissibilidade faz com que a Ômicron circule com muita rapidez entre suscetíveis, infectando num curto período grande parte da população”, explica José Eduardo Levi, virologista e coordenador de pesquisa da Dasa, uma das maiores redes de saúde integrada do Brasil. “O que também leva à queda rápida pelo esgotamento de suscetíveis e torna a maior parte da população imune.” O médico Christopher Murray, especialista em métricas da saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, escreveu em artigo, publicado no mês passado, na revista científica The Lancet: “O nível de infecções sem precedentes sugere que mais da metade da população mundial terá sido contaminada pela Ômicron entre novembro de 2021 e março de 2022”. 

Somado a isso, já foram aplicados mais de 10 bilhões de injeções anticovid no mundo. Apesar de as vacinas não serem 100% eficazes para evitar contaminações pelo coronavírus, estudos mostram que pessoas vacinadas, quando infectadas, têm menos chances de evoluir para casos graves e mortes. “Embora a Ômicron seja mais competente, tanto em escapar da resposta vacinal quanto da imunidade pós-infecção, já que a taxa de reinfecção por essa variante em quem já teve covid é alta, as vacinas têm evitado quadros mais graves também pela Ômicron”, disse Levi. 

A pandemia no Brasil
No final do ano passado, o surgimento da Ômicron causou uma nova onda de pessimismo global. No Brasil, não foi diferente. As festas de réveillon foram canceladas, governantes recuaram em aliviar medidas como uso de máscaras, o trabalho remoto foi reativado e alguns gestores, como o governador de São de Paulo, João Doria, se apressaram em anunciar doses extras de vacinas para a população. Um novo déjà vu pandêmico se instalou no país. As manchetes voltaram a repercutir recordes de contaminações, alta nas internações hospitalares, a curva de mortes aumentou. De fato, a nova variante impactou o ritmo da crise sanitária no Brasil. Mas os números mostram que o solavanco provocado pela Ômicron, como antecipou reportagem da Revista Oeste, foi bem menos intenso quando comparado com outros períodos da pandemia, e está em desaceleração. 
 
Cenário atual de casos e mortes por covid-19
No Brasil, assim como em outros países em que a Ômicron aterrissou
, o número de casos de covid-19 explodiu. Em 3 de fevereiro, o país registrou recorde de infecções: quase 300 mil em um único dia. No entanto, a média móvel de casos, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, ficou em pouco mais de 90 mil na última quinta-feira, 24, abaixo de 100 mil pela terceira vez desde 19 de janeiro. A redução da taxa ocorre desde 6 de fevereiro, o que também já começa a refletir na diminuição das mortes. O número total de contaminados pelo coronavírus é de pouco mais de 28,5 milhões de brasileiros até agora.

Enquanto boa parte do mundo se despede das restrições impostas por autoridades em razão do coronavírus, o Brasil resiste

Contudo, diferente do que se viu no início de 2021, o índice de mortes não aumentou na mesma proporção que os casos dispararam. A média móvel de mortes registrou queda pelo quarto dia consecutivo, chegando a quase 800, menor número desde 7 de fevereiro. No entanto, levando em consideração o pico da pandemia, em abril do ano passado, quando mais de 3,1 mil pessoas morreram em um único dia, houve redução de cerca de 75% das mortes, considerando a média móvel para sete dias.

A Maquiagem das estatísticas
No período mais trágico da pandemia no Brasil, a ocupação de leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19 no Estado de São Paulo chegou perto de 90%, segundo dados da Seade, fundação vinculada à Secretaria de Governo do Estado. Em 7 de abril de 2021, havia cerca de 13 mil pacientes internados para pouco mais de 14 mil vagas.

Ainda no ano passado, quando a pandemia perdeu força, os hospitais reduziram a quantidade de leitos destinados exclusivamente para pacientes com covid-19. Por exemplo, no Estado de São Paulo, a disponibilidade de leitos de UTI covid caiu de 14 mil para menos de 5 mil (redução de quase três vezes). Nesta semana, em 24 de fevereiro, quase 2,5 mil pacientes ocupavam leitos de UTI covid. No entanto, o governo do Estado registrava lotação acima de 50%. Se a quantidade de UTIs destinadas à covid-19 fosse a mesma de 7 de abril de 2021, a ocupação atual não chegaria a 20%. 

Considerando as mais de 14 mil vagas de UTI reservadas em abril do ano passado para pacientes com covid-19, mesmo em 3 de fevereiro — momento de maior pressão no sistema de saúde depois do surgimento da Ômicron até agora —, a lotação teria ficado abaixo de 30%.

 

Na vanguarda do atraso

Enquanto boa parte do mundo se despede das restrições impostas por autoridades em razão do coronavírus, o Brasil resiste. Por aqui, os gestores não dispensaram o acessório mais simbólico desta pandemia: as máscaras. Elas continuam por toda parte. São usadas ao ar livre, em alguns casos até dentro de piscinas. Máscaras (às vezes duas) cobrem o rosto em academias, parques, na chegada de restaurantes e festas (sentado pode tirar). O uso do equipamento, mais do que evitar a contaminação pelo coronavírus, virou gesto político e ato de resistência. Nesta semana, o Fórum Nacional de Governadores se reuniu para avaliar a flexibilização do uso de máscaras no país a partir de março. O grupo pediu uma análise ao comitê científico para formular um cronograma de transição de medidas restritivas relacionadas à covid.

Outro ponto em que o Brasil patina em relação às nações desenvolvidas é o debate transparente sobre a vacinação infantil. Embora o Ministério da Saúde tenha deixado claro que a vacinação de crianças não é obrigatória, os Estados têm obrigado indiretamente a imunização de menores de 12 anos, sob ameaça de denunciar os pais que optarem por não imunizar seus filhos ao Conselho Tutelar. Para completar o combo do atraso, ainda discutimos a imposição do passaporte sanitário, quando países da Europa já entenderam que a vacinação não impede a transmissão e quem opta por não se vacinar não representa um risco para a humanidade. O retorno à vida como era antes está mais perto do que nunca. O Brasil não pode ficar para trás. 

Leia também “As inúmeras contradições da pandemia”

Artur Piva - Paula Leal, jornalista - Revista Oeste


sábado, 8 de janeiro de 2022

Ômicron, gripe ou resfriado? Conheça os sintomas mais comuns das três doenças - O Globo

 
Evelin Azevedo
 
Diagnóstico definitivo deve ser feito a partir de testes, iniciando pelo de Covid-19 
 
Diante do comportamento que a Ômicron tem apresentado no mundo, com sintomas menos graves e diferentes da variantes anteriores, é comum ficar em dúvida em relação a sintomas como febre, dor de cabeça, mal estar e coriza. Isso porque as doenças respiratórias, que também incluem resfriado e gripe, costumam apresentar sinais bem parecidos, por afetarem as mesmas regiões do corpo. A diferença é que alguns deles tendem a aparecer com mais frequência ou ter maior intensidade, a depender da doença.

Covid-19:  Anvisa aprova insumo feito pela Fiocruz para produção de vacina 100% nacional

— A Covid-19 e a gripe "derrubam". Já o resfriado só "atrapalha" a rotina — afirma Salmo Raskin, médigo geneticista e diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba.

Sintomas da Covid-19 - Ômicron
É e muito provavelmente a causa principal do aumento de infecções no mundo e no Brasil, associada ao relaxamento das medidas de distanciamento por conta das festas de fim de ano. A nova variante costuma provocar sintomas com menor intensidade em comparação com as demais cepas que já se espalharam até então.

O estudo ZOE COVID vem fazendo constantes levantamentos sobre os sintomas que pacientes diagnosticados com a doença costumam relatar.

  • Coriza
  • Dor de cabeça
  • Cansaço
  • Espirros
  • Dor de garganta

Os sintomas costumam ser leves, já que estudos apontam que a Ômicron se reproduz mais rápido nas vias aéreas e poupa o pulmão. Os sintomas melhoram, em média, 5 dias após o início. A febre também pode surgir, mas com menos frequência.

Leia também:  Médicos recomendam que pacientes com sintomas gripais leves não devem procurar hospitais

Sintomas da influenza (gripe) 

A febre pode ser um sintoma diferencial entre a gripe, na qual ela é comum. Diante de um quadro febril, é provável, portanto, que o paciente esteja com gripe, desencadeada pelo vírus influenza. Mas a febre, por si só, não garante o diagnóstico da doença. 

De acordo com o Instituto Butantan responsável por produzir a vacina da gripe usada no Brasil —, os principais sintomas da gripe são:

  • Febre súbita
  • Tosse (geralmente seca)
  • Dor de cabeça
  • Dores musculares e articulares
  • Mal-estar
  • Dor de garganta
  • Coriza

Os sinais da gripe costumam durar de cinco a sete dias, sendo que a tosse pode levar duas semanas ou mais para desaparecer. 

Veja:  Ministério da Saúde prevê iniciar vacinação de crianças entre os dias 14 e 15 de janeiro

Sintomas do resfriado
Tem sintomas mais leves que a gripe, e se parece bem mais com os sinais dados pela Ômicron, por também afetar mais as vias aéreas superiores. Os principais sintomas do resfriado são:
  • Coriza (nariz escorrendo com secreção aquosa e transparente)
  • Nariz entupido
  • Espirros
  • Dor de garganta
  • Febre baixa (mais comum em crianças — adolescentes e adultos não costumam apresentar)

Os sinais costumam durar de três a quatro dias, mas podem se prolongar em fumantes, chegando a até 10 dias. 

 
(...)

Há medidas que ajudam a prevenir as três doenças, como uso de máscaras, higienização recorrente das mãos e distanciamento social. Com os estudos apontando a maior transmissibilidade da Ômicron, especialistas recomendam o uso de máscaras mais filtrantes, como a PFF2 ou N95. Caso não seja possível, a orientação é usar duas máscaras: a cirúrgica por baixo e a de pano por cima, ou usar uma máscara de pano com camada dupla.

 


Em Saúde - O Globo - MATÉRIA COMPLETA

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA PODE ABRIR CAMINHO PARA OUTRAS POLÍTICAS SOCIAIS COERCITIVAS: DR. AARON KHERIATY - Ella Kietlinska e Joshua Philipp

Epoch Times

Segundo o Dr. Aaron Kheriaty, ex-professor de psiquiatria e diretor do Programa de Ética Médica da Universidade da Califórnia, Irvine (UCI), uma vez que a vacinação obrigatória é introduzida na sociedade e as pessoas se acostumam a mostrar seu certificado de vacina COVID-19 para participar da vida social, as autoridades podem usar essa infraestrutura para outras políticas coercitivas,

A vacinação obrigatória anula o direito de fornecer consentimento informado quando se trata de intervenção médica, não permitindo que pacientes ou pais de crianças tomem suas próprias decisões a esse respeito, disse Kheriaty, que foi recentemente demitido de seu cargo na UCI por contestar a política de vacinação contra COVID-19 na Universidade.

Para muitas pessoas, mostrar um comprovante de vacinação para poder viajar, ir a um restaurante, uma arena esportiva, comprar comida ou fazer outras coisas pode parecer trivial, pois tomar a vacina COVID-19 faz com que alguns se sintam mais seguros, especialmente aqueles que são mais velhos ou têm comorbidades, disse Kheriaty ao programa “Sacrossantos” da EpochTV. [mais uma vez, fazemos o que neste Blog é recorrente: ratificar nossa posição favorável ÀS VACINAS = uma opção
que recomendamos de forma enfática.
Mas, tornar obrigatória uma prática que deveria ser uma escolha, em nossa opinião,  não está correto sendo perigoso e até abusivo. Sabemos que incrustados em posições de importância no Poder Judiciário e mesmo no Legislativo temos pessoas, algumas sequer foram eleitas, com ideias autocráticas, ditatoriais e a cada vez que criam algo e tornam obrigatório, sua sede de poder só aumenta e logo agirão de forma tirânica, no estilo EU QUERO, EU POSSO, EU FAÇO.
Para contê-los, pensem nesse poema:

No caminho, com Maiakovski, adiante transcrito:
"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."

Talvez o momento da corda arrebentar,  seja  quando alguém disser NÃO.
LEIA MAIS.]

No entanto, “uma vez que a infraestrutura está pronta, e as pessoas se acostumaram, isso se tornou normal. Essa infraestrutura pode ser facilmente usada para todos os outros fins”, disse o especialista em ética, chamando-a de “um desenvolvimento muito nefasto”.

Não há vacinas esterilizantes para COVID-19, pois os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) admitiram que essas vacinas não impedem a infecção e a transmissão, ao contrário da imunidade natural, continuou Kheriaty. De acordo com o CDC, “as pessoas vacinadas ainda podem ser infectadas e têm o potencial de espalhar o vírus para outras pessoas, embora a taxas muito mais baixas do que as pessoas não vacinadas”. “É por isso que a ética tradicional de consentimento livre e informado é tão importante manter com essas intervenções”, disse Kheriaty.

Outra consequência da vacinação obrigatória sem consentimento informado é “o problema de as pessoas se acostumarem com as coisas sob o pretexto de uma emergência de saúde pública ou em uma situação na qual foram submetidas a propaganda que induz ao medo por dois anos, [e] aceitando coisas que eles nunca teriam aceitado em circunstâncias normais ”, observou ele. “Estou muito preocupado com o uso das liberdades civis comuns como incentivos e castigos para fazer as pessoas se comportarem da maneira que as autoridades de saúde pública querem que você se comporte”, continuou Kheriaty.

“Lançar isso com uma vacina que muitas pessoas queriam faz com que pareça mais benigno e inócuo do que realmente é. … Isso concentra muito poder nas mãos, não apenas de funcionários do governo, mas também de pessoas com interesses econômicos que podem querer nos empurrar nessa ou naquela direção. ”

Por exemplo, quem está no poder pode usar essa infraestrutura para desligar a capacidade de uma pessoa de comprar gasolina porque a pegada de carbono dessa pessoa é muito alta, disse o ex-professor. A nova tecnologia avançada, especialmente a tecnologia do smartphone, que permite rastrear onde as pessoas estão e se estão próximas a outras pessoas, foi "ligada a objetivos médicos e de saúde pública de maneiras que são novas" e não era vista há 10 a 15 anos atrás, disse Kheriaty.

Nos últimos 10 anos, os governos se envolveram no tipo de cenários de planejamento de pandemia que envolveram não apenas médicos e epidemiologistas tentando encontrar a melhor resposta à gripe, gripe aviária ou outros surtos, mas também muitas vezes envolveram agências de segurança, como a CIA ou aspectos dos militares, ele explicou. “Sob o pretexto de [uma] emergência de saúde pública, houve uma enorme mudança de poder durante a pandemia e, na verdade, uma enorme mudança para cima da riqueza durante a pandemia que considero muito preocupante”.

O especialista em ética médica está particularmente preocupado com a falta de definição do que constitui uma emergência de saúde pública. O governo federal ou os governos estaduais prorrogaram o estado de emergência a cada 90 dias nos últimos dois anos, mas os critérios para determinar o que é uma emergência de saúde, como o número de casos, o número de hospitalizações, percentual da população infectada, ou outros métricas nunca foram definidas, ele explicou.  “[Isso] significa que não temos como saber quando a emergência acabou... Tipos comuns de proteção e limites constitucionais comuns foram colocados de lado por dois anos, e não sabemos, e não temos nenhuma medida para saber quando isso vai parar. ”

“Isso me parece altamente problemático apenas de uma perspectiva social e política, porque significa que essas pessoas receberam poderes enormes. Quero dizer, nunca antes em minha vida os governadores exerceram tanto poder sobre aspectos muito pessoais e íntimos de nossas vidas. ”

“Cidadãos comuns, pessoas comuns ao redor do mundo, eu acho, precisam começar a exigir de seus líderes definições claras, limites claros sobre quem pode declarar este estado de emergência, por quanto tempo ele pode durar.”

Conflito de interesses
A pesquisa científica é frequentemente financiada pelo governo federal, explicou Kheriaty, acrescentando que agências como o National Institutes of Health, o CDC, a Food and Drug Administration (FDA), todas reportando ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) “tornaram-se estreitamente alinhadas ao longo dos anos, com os interesses das empresas farmacêuticas de formas muito concretas e tangíveis”.

Por exemplo, o NIH “projetou e fez os testes clínicos para a vacina Moderna e, na verdade, copossui a patente da vacina Moderna”, disse o especialista em ética. Os dólares do contribuinte foram usados??como subsídios para financiar estudos científicos e o desenvolvimento da vacina, disse Kheriaty observando que "como o [NIH] tem copropriedade dessas patentes, eles lucram quando a vacina é vendida".

“Para mim, seria um claro conflito de interesses”, acrescentou.

O FDA autoriza o uso da vacina e o CDC faz a recomendação sobre como usar a vacina, disse Kheriaty. “E essas recomendações são normalmente traduzidas hoje em dia em vacinação obrigatória.” O Epoch Times entrou em contato com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Institutos Nacionais de Saúde, CDC, FDA e Moderna para comentários.

Um assessor de imprensa do FDA disse em um e-mail para o Epoch Times que “o FDA não exige vacinações. Se um estado, governo local ou empregador, por exemplo, pode exigir ou exigir a vacinação contra COVID-19 é uma questão de estado ou de outra lei aplicável”. “A outra questão importante é que as empresas farmacêuticas são totalmente indenizadas contra qualquer responsabilidade pelas vacinas”, disse Kheriaty.

Como resultado, os medicamentos passam por testes de segurança mais rigorosos do que as vacinas, porque os fabricantes de produtos farmacêuticos são os únicos responsáveis?? por quaisquer danos causados?? por um medicamento, observou ele.

("As empresas farmacêuticas] convenceram o governo federal, há vários anos, de que as vacinas não eram suficientemente lucrativas e os custos de pesquisa e desenvolvimento eram muito altos se fossem responsáveis?? por danos.”)

Outra maneira pela qual as empresas farmacêuticas podem exercer influência indevida sobre a opinião pública é a publicidade direta de produtos farmacêuticos aos consumidores, disse Kheriaty. Ele foi originalmente proibido pela lei federal, então as empresas farmacêuticas costumavam comercializar seus produtos apenas para médicos, explicou ele. No entanto, essa lei foi alterada no final dos anos 90 para permitir que as empresas farmacêuticas anunciassem seus medicamentos diretamente aos pacientes, o que deu a essas empresas influência sobre muitos meios de comunicação e redes de TV, acrescentou.

“Para que os interesses econômicos não ultrapassem os interesses da saúde pública, provavelmente precisamos de algumas das proteções antigas em vigor que foram reduzidas nas últimas duas décadas. E precisamos de uma separação mais rígida entre as agências encarregadas de regulamentar as empresas farmacêuticas e seus produtos e as próprias empresas”, concluiu Kheriaty.

Ele também aconselhou as pessoas a buscarem muitas fontes diferentes de informação, avaliá-las cuidadosamente e pensar sobre sua credibilidade. “Embora seja verdade que você pode não ser um virologista, ou pode não ser um epidemiologista, você é um ser humano racional que pode reconhecer uma contradição aberta, que pode reconhecer quando algo é completamente ilógico e não faz sentido . ... Então, uma suspeita saudável de um especialista que não está disposto a explicar as coisas, citar evidências, responder perguntas, acho que é saudável para as pessoas comuns nos dias de hoje. ”

“Acho que todos precisam realmente examinar suas próprias convicções e se perguntar: ‘Ok, onde está minha linha na areia?’”.

 

*      Ella Kietlinska é repórter do Epoch Times em Nova York.

**   Joshua Philipp é um repórter investigativo premiado do Epoch Times e apresentador do programa "Crossroads" da EpochTV. Ele é um especialista reconhecido em guerra irrestrita, guerra híbrida assimétrica, subversão e perspectivas históricas sobre as questões de hoje. Seus mais de 10 anos de pesquisas e investigações sobre o Partido Comunista Chinês, subversão e tópicos relacionados lhe dão uma visão única da ameaça global e do cenário político.

***   Texto original de 5 de janeiro de 2022, em Epoch Times .

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Queiroga diz que vai recomendar vacinação de crianças contra Covid só com prescrição - Folha de S. Paulo

Imunizante da Pfizer já foi autorizado pela Anvisa para faixa de 5 a 11 anos

O Ministério da Saúde recomendará que crianças de 5 a 11 anos sejam vacinadas contra a Covid-19, desde que mediante a apresentação de prescrição médica e consentimento dos pais. O imunizante da Pfizer já foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para essa faixa etária.

A informação foi dada pelo titular da pasta, ministro Marcelo Queiroga, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (23) à noite. "A nossa recomendação é que essa vacina não seja aplicada de forma compulsória. Ou seja, depende da vontade dos pais. E essa vacina estará vinculada a prescrição médica, e a recomendação obedece a todas as orientações da Anvisa", disse Queiroga.

De acordo com o ministro, a decisão final será dos pais, prática que já ocorre hoje. "Os pais são livres para levar os seus filhos para receber essa vacina", afirmou. O ministro explicou que será recomendada a vacina da Pfizer. A indicação será submetida a consulta pública, medida que especialistas consideram desnecessária. "O documento que vai ao ar [na consulta pública] é um documento que recomenda o uso da vacina da Pfizer nessa versão aprovada pela Anvisa", disse. Queiroga afirmou ainda que o Brasil tem condições de começar a vacinação dentro de um "prazo bastante curto". 

De acordo com ele, até o dia 5 de janeiro deve ocorrer a aprovação do documento com as regras para vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A data coincide com o prazo estabelecido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), para o governo prestar informações sobre a vacinação infantil. Lewandowski é relator de um pedido do PT relacionado ao assunto.

Queiroga disse que o modelo a ser adotado pelo Brasil para a vacinação do público infantil se assemelha ao de países como a Alemanha. "Dada a sensibilidade do caso, nosso entendimento é muito parecido do que acontece na Alemanha, onde há recomendação médica, onde se contempla os casos que têm comorbidades e se respeita a decisão dos pais", disse.

Mais cedo, também em Brasília, Queiroga disse que as mortes de crianças por Covid-19 estão em um patamar baixo. Com isso, a seu ver, não são necessárias "decisões emergenciais", como autorizar vacinas para crianças. "Os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais", disse o ministro. "Particularmente, o Ministério da Saúde tem de tomar suas decisões com base em evidências científicas."

De acordo com dados do SIVEP-Gripe (Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe), desde o começo da pandemia até 6 de dezembro deste ano, foram registrados 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19. Em 2020, 2.978 crianças tiveram síndrome respiratória aguda grave em decorrência do coronavírus -156 delas morrem. Neste ano, foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145 mortes.  O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, chamou os 301 óbitos infantis de "estatística macabra" em entrevista o jornal O Globo. "Entendo que o ministério precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra", disse Barra Torres.[nos parece que o presidente da Anvisa começa a ceder à tentação de uma possível candidatura - está sempre procurando chamar atenção, prática a qual parecia avesso.]

A proposta de consulta pública foi publicada no Diário Oficial da União, com data de início nesta quinta e término no dia 2. "A consulta pública visa ouvir a sociedade. Isso não é uma eleição. Isso não é para opinião de grupos de 'zap', como estão falando por aí. Queremos ouvir a sociedade, incluindo especialistas", disse Queiroga.

O ministro defendeu também o fato de a consulta ouvir leigos, ainda que se trate de um tema técnico, porque esses leigos são pais e mães, disse.  "Não podemos ouvir especialistas nos canais de televisão. O Ministério da Saúde não se guia por opiniões que são exaradas em canais de televisão, embora respeitemos a imprensa", disse o ministro. "O lugar para se debater isso com especialistas é em uma audiência pública no Ministério da Saúde."[a opinião de leigos com alguma noção é melhor do que esses especialistas quando que quando vão dar uma entrevista, pedem ao entrevistador que forneça indicações do que devem responder.]

Na segunda (20), Queiroga havia dito que "a pressa é inimiga da perfeição", e que a prioridade seria "segurança", ao ser questionado se não seria possível antecipar o processo para as últimas semanas deste ano. O Consems-SP (Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo) divulgou nota nesta quinta-feira em que classifica como "desnecessária e inaceitável" a abertura da consulta pública.[nos parece que bem mais desnecessária é a nota emitida pelo tal Consems-SP.]

Desde que a Anvisa aprovou a vacinação para crianças, foram registradas mais de 100 emails com ameaças aos técnicos da agência.Na mesma data da aprovação, durante sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que havia solicitado extraoficialmente o nome dos técnicos da agência envolvidos no tema e que iria divulgá-los. A proposta foi interpretada internamente na Anvisa como uma tentativa de intimidação.

No início desta semana, Queiroga afirmou não ver problema na divulgação de nomes de técnicos da Anvisa como sinalizou Bolsonaro."Não há problema em se ter publicidade dos atos da administração. Acredito que isso é até um requisito da Constituição", disse a jornalistas na frente do ministério.

Saúde - Folha de S. Paulo


domingo, 21 de novembro de 2021

O fim da segunda onda - Revista Oeste

Fábio Matos/Paula Leal 

De volta à vida

Com números em queda, a pandemia perde força e os brasileiros, enfim, voltam ao normal

 Boa parte dos brasileiros duvidou que a realidade tétrica enfrentada pela então desconhecida cidade chinesa de Wuhan chegaria aqui.  
Ruas desertas, rostos cobertos por máscaras faciais, médicos vestindo roupas de astronauta, comércio de portas fechadas, bares e restaurantes lacrados. O cenário apocalíptico parecia distante do Ocidente
No entanto, com a negligência da China e a conivência da Organização Mundial da Saúde em admitir a gravidade do Sars-Cov-2 quando os primeiros casos começaram a brotar, não demorou muito para a doença se espalhar pelos quatro cantos do planeta. 
Cada país escreveu sua própria história no enfrentamento da maior pandemia do século. No Brasil, o primeiro caso de covid-19 foi registrado em 26 de fevereiro de 2020. 
A primeira morte, em 17 de março. De uma hora para outra, o medo paralisou as pessoas, modificou rotinas, rompeu vínculos. Entramos em modo “pandêmico”.
Jogo do Brasileirão entre São Paulo e Flamengo, no Morumbi, em 14 de novembro de 2021 | Fotos: Paulo Pinto/saopaulofc.net
Jogo do Brasileirão entre São Paulo e Flamengo, no Morumbi, em 14 de novembro de 2021 | Fotos: Paulo Pinto/saopaulofc.net

Entre erros e acertos, os brasileiros viveram uma montanha-russa de emoções, agravada pela imposição de medidas autoritárias de políticos e gestores que desafiaram a lógica e a ciência. Chegamos a ser o epicentro do coronavírus no mundo. Mas não há mal que sempre dure. Depois de mais de 600 dias de angústia, a queda constante no número de casos e mortes por covid e o som pulsante das ruas dão sinais de mais uma vitória. Aos poucos, a vida retorna ao normal.

Há cerca de um ano, a pandemia deu uma trégua. Depois de um primeiro surto, o Brasil atravessou um período de aparente calmaria, com declínio de casos e de mortes pela doença. Parecia que tudo estava sob controle. Então os números dispararam e o país enfrentou uma crise sanitária ainda pior do que a primeira. O panorama, contudo, era outro. A vacinação ainda engatinhava quando o Brasil deparou com a P.1 (Gama) — uma variante do coronavírus que surgiu em Manaus e causou uma catástrofe, provocando colapso no sistema de saúde em várias cidades. A cepa é altamente transmissível e muito agressiva. Para ter ideia, ainda no mês de abril o Brasil ultrapassou o ano inteiro de 2020 no número total de mortes em razão do coronavírus.

Quando o país se recuperava do baque, aterrissou por aqui a Deltavariante originária da Índia —, responsável por uma avalanche de novos casos em países da Europa, Ásia e também nos Estados Unidos. Apesar de muito contagiosa, a Delta, comparativamente, é menos letal, e, no Brasil, não provocou uma piora nas contaminações, internações e mortes. Os números, ao contrário, não param de cair. Para o clínico geral Roberto Zeballos, doutor em imunologia, a P.1 pode ter oferecido um bloqueio biológico à Delta. “A cepa Gama fez um estrago, mas imunizou muita gente. Isso é algo que não ocorreu na Europa”, diz Zeballos. Ele ressalta que a imunidade natural da doença é mais longa e duradoura do que a oferecida pelas vacinas. “Enfrentamos dois surtos fortes e isso tem um ganho”, disse. “Toda vez que um paciente vence a doença, ele se imuniza. Quanto mais pessoas imunizadas, maiores as chances de alcançar a imunidade coletiva.” 

A circulação explosiva da variante Gama no início do ano, que resultou em um alto número de imunizados pela doença, somada ao avanço da vacinação ajudam a explicar por que a cepa Delta está se comportando de forma diferente no país. Nesta semana, o Brasil registrou cerca de 130 milhões de pessoas com o ciclo de vacinação completo o que corresponde a pouco mais de 60% da população brasileira — e já superou os Estados Unidos na proporção de pessoas totalmente vacinadas
A taxa de transmissão do coronavírus está no menor patamar desde abril de 2020. No Rio de Janeiro, o hospital de referência no tratamento da covid-19 deu alta ao último paciente internado com a doença — é a primeira vez desde o início da pandemia que a unidade não registra pessoas com covid. Algumas cidades já decretaram o fim da exigência do uso de máscaras. 
 
Doze Estados brasileiros não tiveram mortes relacionadas à covid-19 desde o último domingo, 14. Desde abril de 2020, a covid-19 era a principal causa de mortes no Brasil. Já não é mais.  
A doença foi superada por AVC (acidentes vasculares cerebrais), infartos e doenças cardíacas, segundo dados da Associação de Registradores de Pessoas Naturais referentes ao período de 16 a 31 de outubro. 
A média móvel para sete dias de óbitos, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, ficou em 246. É o 15º dia seguido que o número fica abaixo de 300.

Novo fôlego para a economia
Se a ciência revela que a covid-19 caminha para ser controlada no país, o dia a dia cada vez mais próximo do normal é um dado da realidade perceptível a quem circula pelas cidades brasileiras. O movimento intenso em bares e restaurantes, a retomada das viagens, a reabertura de salas de cinema, teatros e casas de espetáculo e os preparativos para grandes eventos como o Réveillon e o Carnaval descortinam uma nova atmosfera — muito mais próxima daquela em que vivíamos antes de março de 2020. 

Os voos domésticos do país recuperaram cerca de 80% dos passageiros

Com a flexibilização das medidas restritivas, o setor de shopping centers registrou um crescimento expressivo nas vendas em outubro. Pela primeira vez em um ano e meio, as maiores operadoras de shoppings do Brasil venderam mais do que antes do início da pandemia. No mês passado, Multiplan e Iguatemi registraram altas de 10% e 15%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2019. E as perspectivas para o período de festas de fim de ano são animadoras. “Há uma expectativa mais positiva de vendas, com base nas últimas datas especiais do varejo, em que tivemos números acima do esperado”, afirma o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, Luis Augusto Ildefonso. “Isso deve trazer um Natal muito melhor do que o do ano passado, porque naquela época estava tudo fechado, com circulação pequena de pessoas.”

A crise provocada pelas restrições começa a ser superada também pelo setor de turismo. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo, 36% das agências de viagem já alcançaram, em setembro deste ano, pelo menos 75% do rendimento obtido no mesmo período de 2019. Os voos domésticos do país recuperaram cerca de 80% dos passageiros em relação aos números de antes da pandemia. Os cruzeiros, por exemplo, estarão de volta, gerando 35 mil empregos e R$ 2,5 bilhões em receitas, segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos. 

Sem limitações, os bares e restaurantes voltaram a todo vapor. Estimativas da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) projetam um crescimento de até 3% neste segundo semestre, com a recuperação de 600 mil de mais de 1,3 milhão de postos de trabalho perdidos desde o ano passado. “Existe um cenário de confiança na retomada. Com os números da pandemia melhorando dia a dia e a vacinação avançando, há a volta da confiança do consumidor. Isso faz toda a diferença”, conta José Eduardo Camargo, líder de Inteligência e Conteúdo da Abrasel. 

Durante os quase dois anos de pandemia, o circuito de shows e eventos foi duramente afetado. Em São Paulo, a partir deste mês, já não há mais restrições para a lotação de público em casas de shows e são permitidos espetáculos ao vivo com as pessoas em pé. Nas grandes capitais, já há preparativos para as festas de Réveillon e Carnaval. A maior festa popular do país deve atrair 15 milhões de pessoas às ruas de São Paulo — até agora, mais de 860 blocos carnavalescos se inscreveram para desfilar entre janeiro (no “pré-Carnaval”) e março do ano que vem. No Rio, há mais de 600 inscritos. Os organizadores do “maior Carnaval do mundo” projetam um investimento de mais de R$ 45 milhões, entre dinheiro público e privado. Outro sinal emblemático de que, aos poucos, a covid-19 vai ficando para trás é a volta do público aos estádios de futebol. Em São Paulo, 100% da capacidade está liberada. Cada Estado tem autonomia para definir critérios de reabertura: além de São Paulo, a lotação máxima já é permitida em capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Goiânia. 
A pandemia também comprometeu a educação de milhares de jovens que ficaram à deriva durante o isolamento. A duras penas — e muito tardiamente —, as escolas voltaram ao ensino presencial depois de meses fechadas.

Quarta onda na Europa e o dilema das vacinas

Mesmo diante das perspectivas animadoras de retomada, a pandemia ainda exige cautela. “O Brasil atravessou a segunda onda e ruma para o fim do ciclo pandêmico, exceto se surgir alguma nova variante atípica”, afirma o infectologista Francisco Cardoso. Estamos bem distantes do quadro devastador registrado em abril, quando o Brasil chegou a perder mais de 4 mil vidas para a covid-19 em 24 horas. Ao longo dos meses, os médicos aprenderam que a doença tem controle e tratamento, ainda mais quando feitos precocemente, como qualquer outra enfermidade cuidada pela medicina. 
 
No entanto, se vivemos uma onda de otimismo, não se pode dizer o mesmo da Europa que voltou a ser o epicentro da covid-19. A situação do Velho Continente acende uma luz amarela e mostra que o vírus continua entre nós.  
A explosão de casos em países europeus intriga especialistas e põe em xeque a eficácia da vacinação. A Alemanha, com quase 70% da população vacinada, bateu recorde de contaminações. A Holanda, com 73% de vacinados, vive um retrocesso com a volta de medidas restritivas e o aumento no número de mortos pela doença neste mês. O que se observa depois de cerca de 7,5 bilhões de injeções aplicadas no mundo é que as vacinas não são 100% eficazes para evitar contaminações pelo coronavírus. Mesmo assim, estudos indicam que pessoas vacinadas têm menor risco de contrair a doença e, ainda que sejam diagnosticadas, têm menos chances de evoluir para casos graves e mortes. “Um problema que vivemos é a ilusão de que as pessoas vacinadas não têm mais covid”, explica Raissa Soares, médica de família. “Muitos pacientes vacinados com duas doses contraem a covid e só buscam ajuda na fase mais grave da doença, pois eles têm a falsa sensação de que estão protegidos. Só que aí o tratamento é mais difícil.” Além do dilema das vacinas, segundo o médico Roberto Zeballos, na Europa as pessoas ficaram confinadas por mais tempo e, com o relaxamento das medidas de restrição, passaram a ter maior contato com o vírus, o que pode justificar o aumento de casos. “Lá, os lockdowns foram mais rígidos, não teve muita exposição”, lembra. “No Brasil, não houve lockdown de fato, as pessoas ficaram mais expostas ao vírus e foram mais contaminadas.”

É bom lembrar que as vacinas desenvolvidas no ano passado foram baseadas na versão “original” do coronavírus, quando ainda não havia novas cepas em circulação. Quando o vírus sofre mutação, algumas variantes podem escapar à proteção vacinal. “Um definidor para 2022 é quanto a gente vai conseguir atualizar as vacinas disponíveis para efetivamente combater melhor as variantes que se formaram ao longo desse tempo”, disse o virologista Fernando Spilki, coordenador da rede Corona-ômica do Ministério da Ciência e Tecnologia, em entrevista recente ao jornal Valor Econômico. É bem provável que o novo coronavírus tenha vindo para ficar. Teremos de conviver com ele assim como vivemos com a influenza, o vírus da gripe. “Acredito que, a partir do próximo ano, a covid vai atingir o nível endêmico e se tornar uma doença como qualquer outra. Não vai haver mais elementos para manter o status de pandemia”, afirma Cardoso. Tomara. Enquanto a ciência continua buscando respostas para dúvidas que só serão respondidas com o tempo, o normal está de volta à vida dos brasileiros. 

Leia também “Mauro Ribeiro: ‘Estão tentando nos calar'”

Fábio Matos/Paula Leal  - Revista Oeste


segunda-feira, 26 de julho de 2021

A doença do medo - Revista Oeste

Dagomir Marquezi
 

A ameaça da covid serviu para camuflar o vazio de quem foi criado numa redoma emocional de privilégios e justificativas rasas

O paranaense Mário era o tipo de pessoa que viajava todos os fins de semana para percorrer trilhas ou passear em alguma praia. Estava sempre pronto a rechear a mochila e cair na estrada. Até que veio a pandemia de covid-19. Apavorado com o que via na TV, Mário se trancou no apartamento. Por quase um ano. Amigos e parentes traziam comida e remédios e deixavam os pacotes do lado de fora. Quando partiam, Mário colocava a máscara, abria cuidadosamente a porta, empunhando a garrafinha de álcool como uma arma. Antes de levar as encomendas para dentro do apartamento, borrifava cada embalagem, e cada produto. Quando abria as janelas, procurava não respirar muito fundo. Um ano depois de se trancar, pegou covid — a qual, por sua vez, se revelou uma gripe chata. Mas Mário ainda não teve coragem de voltar a suas trilhas.

Mário é um nome fictício que representa muitos casos reais. Afinal, além daquela bolinha vermelha cheia de farpas conhecida como Sars-CoV-2, outra pandemia se alastrou pelo Brasil e pelo mundo:  
- um surto de pânico que em muitos casos se revelou tão perigoso e prejudicial quanto a própria covid. 
A hashtag #ficaemcasa, a campanha de terror de boa parte da mídia, a indecente exploração política da doença, os relatos (verdadeiros ou não) que se espalhavam nas redes sociais pariram um monstro. Quem escapou da covid quase morreu de medo.

O psiquiatra Giovani Missio ficou particularmente interessado pelo fenômeno do isolamento. Observando seus pacientes, percebeu que todas as questões de ordem emocional — transtornos de estresse pós-traumático, de ansiedade generalizada, do pânico, hipocondria, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão — pioraram muito com o isolamento forçado por prefeitos e governadores querendo “salvar vidas”.

“Se considerarmos ainda que apenas uma em cada nove pessoas com problemas de saúde emocional busca atendimento”, declarou o doutor Missio a Oeste, “poderemos concluir que existe uma quantidade enorme de pessoas sofrendo mais com as consequências do isolamento do que diretamente com a pandemia.” Situações surpreendentes começaram a surgir no seu consultório. “Me marcou o caso de um casal de idosos, sem nenhuma história prévia pessoal ou familiar de problema emocional e que passou a apresentar sintomas graves de depressão, após 90 dias de total isolamento, no início da pandemia. Houve uma dificuldade muito maior que a esperada em conseguir uma melhora com o tratamento, dado que eles mantinham o isolamento absoluto, sem contato com nenhum conhecido, vizinho ou familiar. Outra paciente, que já estava bem, com dois anos sem precisar de tratamento, voltou a apresentar um quadro de transtorno do pânico depois de oito semanas de home office e isolamento social”.

Um caso exemplar desse clima de histeria ocorreu na redação do Jornal Nacional, na Rede Globo. Em 9 de julho a apresentadora Renata Vasconcellos tossiu no estúdio. Foi imediatamente mandada para casa. Era uma “forte gripe”, declarou Renata. Uma semana depois, ela ligou para o âncora e editor William Bonner avisando que estava pronta para voltar. E, na ligação, tossiu de novo.

William Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional 
/ Foto: Reprodução

“Não pode”, declarou Bonner a jornalistas. “O resfriado não passou totalmente. A gente tem um protocolo aqui segundo o qual, enquanto tiver sintoma do resfriado, da gripe, o que for, você não volta. Você pode passar para alguém.” A partir de agora, aparentemente, quem soltar um mísero espirro na redação do Jornal Nacional poderá ser imediatamente isolado por uma equipe de descontaminação e mandado em carro lacrado para casa.

O Brasil parece ter sido especialmente atingido por esse pânico. Um ano atrás uma equipe da Universidade Federal do Paraná participou de uma pesquisa internacional sobre o grau de medo provocado pela covid-19. Concluiu-se que 53% dos 7.430 brasileiros entrevistados revelavam “alto nível de medo”. Como comparação, o estudo mostrou que esse “alto nível de medo” tinha alcançado 22,7% dos pesquisados em Cuba e apenas 16,6% na Bielorrússia.

Algumas pessoas passaram a desenvolver um tipo de culto inconsciente à covid-19

No Brasil, a parcela etária mais afetada estava entre os 18 e os 29 anos, assustados com a possibilidade da morte prematura e de infectarem os pais. O estudo registrou que, quando pensavam em covid-19, a grande maioria dos entrevistados relatava que sentia “medo, desconforto, ansiedade e sensação de morte”. Outros, em menor número, desenvolviam reações psicossomáticas — “suor nas mãos, taquicardia e insônia”.

Ninguém pode negar que toda a experiência da covid-19 foi e é assustadora. É normal que causasse muito medo. Mas existiram outros fatores que potencializaram a pandemia de pavor e se alimentaram dele. O medo é, como sabemos, uma arma fundamental para qualquer tirania. A psicóloga Adriana de Araújo, autora de O Segredo para Vencer o Medo, garante que a sensação em si pode ser muito útil. “O medo é um sentimento natural, quando está em proporção adequada dentro de nós, e com isso consegue nos proteger”, diz Adriana. Mas, quando foge ao controle, pode nos prejudicar de duas maneiras importantes: 1) impedindo-nos de “fazer uma leitura saudável da vida e dos fatos” e 2) “privando-nos profundamente da capacidade de ação e tomada de escolhas”.

Uma parcela mais elitista da população foi além do simples medo. Algumas pessoas passaram a desenvolver um tipo de culto inconsciente à covid-19. Foram apelidadas de “coronalovers” nas redes sociais. A pandemia serviu para que projetassem alguns sonhos ocultos e revelassem suas reais condições psicológicas.

1) Imaturidade A geração “floco de neve” está assumindo seu papel na sociedade, o de se esconder debaixo da cama e esperar a chuva passar. O sociólogo britânico Frank Furedi, autor de A Cultura do Medo, define muito bem a situação: “Vivemos numa cultura em que o medo está sempre no ar. Somos avisados a todo momento: não seja um herói. Não se permite mais que crianças saiam de casa para brincar. Toda alegria e aventura que existe em brincar fora de casa, onde as crianças começam a aprender sobre suas forças e fraquezas e interagir umas com as outras, já não é possível sem a supervisão de adultos. Que tipo de mensagem estamos passando aos jovens quando eles imaginam que qualquer pessoa acima dos 17 ou 18 anos é uma ameaça em potencial à sua vida?”. Para essa turma snow flake, a pandemia se tornou uma capa para a falta de coragem e de vontade. A ameaça da covid serviu para camuflar o vazio de quem foi criado nessa redoma emocional de privilégios e justificativas rasas. Mas a grande maioria dos jovens brasileiros teve de frequentar ônibus lotados, rezando para não perder o emprego. Para esses, o fantasma da covid ficou de um tamanho mais próximo ao real.

2) Ideologia — Coronalovers, em geral, definem-se “de esquerda”. E a esquerda, especialmente a brasileira, imagina o socialismo como um regime no qual ninguém precisa trabalhar, pois o Estado dá tudo aquilo de que a gente precisa. É a imaginária fábrica estatal de leite e mel que nunca acabam, alimentada pela magia das boas intenções. Mas o Brasil real continua capitalista. E o capitalismo só cresce e distribui riqueza na insegurança do risco e do esforço individual. Prossegue Frank Furedi: “‘Risco’ se tornou sinônimo de perigo. Em outros tempos, as pessoas se arriscavam, sorriam e comemoravam ter-se arriscado, como uma maneira de ganhar maturidade. Hoje, arriscar-se é quase sempre associado a um ato de irresponsabilidade”. A pandemia despertou essa fantasia insustentável — a de um país inteiro em casa, de pijamão, assistindo a filmes no streaming, ganhando ajuda emergencial ou salário em troca de nada, só se levantando do sofá para gritar na janela “Bolsonaro genocida” nos momentos combinados pelo Instagram. É uma fantasia frágil, parte de uma estratégia política tosca que poderá enfrentar momentos difíceis quando a pandemia estiver sob controle.

A covid-19 continua solta, é perigosa, e as medidas básicas para que seja controlada devem continuar sendo levadas a sério. É uma doença que pode matar ou deixar sequelas graves. 
Mas sentir pavor paralisante de um vírus justificava-se na miséria abjeta de 1350, durante a peste negra (que também se originou na China e durou quatro anos). Agora o medo não pode ter o mesmo tamanho. Temos o que não havia na Idade Média: ambulâncias, respiradores, antibióticos, comunicação instantânea, redes de médicos e hospitais, máscaras cirúrgicas, laboratórios, anestésicos, equipamentos para avaliação clínica. Mortes por covid ocorrem, como também ocorrem em acidentes, nos crimes e nas doenças ainda sem cura. Mas não temos mais cadáveres em decomposição empilhados no meio da rua ou fome generalizada como nos tempos medievais. No conforto do século 21, esse apego exagerado ao medo não mais se justifica.

Não se trata aqui de enviar adolescentes para lutar contra a máquina nazista na 2ª Guerra. Ou de arriscar a vida combatendo um surto de ebola no coração da África. Ou de se alistar na primeira onda de colonização de Marte. Contra a covid-19, nossas lutas e vitórias serão bem mais simples: voltar a abraçar nossos amigos e parentes, comer um pastel na feira, torcer por nosso time num estádio de futebol, dançar numa festa. Para que essas coisas voltem a acontecer um dia, temos de nos vacinar contra o medo antes mesmo de vencer o vírus.

Leia também “O novo totalitarismo”

Revista Oeste