Análise Política
Não chega a ser tática
arriscada, pois há elementos factuais a sustentar. Aliás era uma linha
anunciada por senadores da liderança da CPI. Talvez haja alguma
dificuldade para carimbar em Jair Bolsonaro formalmente uma acusação
criminal, mas o objetivo político está à mão: desembarcar no processo
eleitoral de 2022 lançando na conta dele o débito das mortes. [o dolo não está, nem será provado - já que não houve - além do que com o fim da pandemia (com as BÊNÇÃOS DIVINAS, a peste está indo embora e sem volta) e com a normalidade econômica, as mortes,sempre lamentáveis e inevitáveis, serão atribuídas a única razão verdadeira: a PANDEMIA, que só em meados de 2021 começou a se tornar controlável.
Agora mesmo, MAIO 2021, a existência e disponibilidade das vacinas não é total, não é plena - registrando-se que a da Pfizer, que dizem, foi oferecida ao Brasil em meados de 2020, em condições extorsivas, só agora começa a aparecer e a Sputinik V, continua um mistério, que só não veio para o Brasil (ainda que apenas virtualmente) pela insistência do presidente Bolsonaro em só aceitar vacinas autorizadas pela Anvisa.]
Já
do lado do governismo, também previsivelmente, tratou-se de tentar
desmoralizar o ex-ministro, inclusive opondo as convicções atuais dele
às declarações e ações do passado. Mandetta, pré-candidato a presidente
pelo Democratas, buscou esquivar-se, e acabou colhendo algumas situações
úteis para serem exibidas em vídeo e áudio numa eventual disputa
eleitoral. E tem a vantagem de navegar a favor do vento.
O
oficialismo procurou também arrastar o ex-ministro para a
correponsabilidade diante da coisa toda. Dois são os fatos a que o
governismo apelou:
1) por que não se fecharam as fronteiras
precocemente, quando ainda não havia casos de Covid-19 no Brasil e
2)
por que se manteve o Carnaval de 2020, no final de fevereiro daquele
ano?
A CPI está só começando, mas no primeiro
dia não chegou a haver pelo lado dos senadores alinhados ao Palácio do
Planalto propriamente uma defesa das atitudes e ações presidenciais,
preferiu-se, como dito, enfraquecer a palavra do acusador. Tirá-lo para
dançar no triste concurso de para quem lançar a contabilidade das
vítimas fatais da epidemia.
Na conta da
política, o dia inicial de depoimentos terminou como começou:
- com seis
senadores críticos ao presidente, quatro a favor e um presidindo (e que
está alinhado àqueles seis). No frigir dos ovos, a não ser que a CPI
faça aparecer uma "bala de prata", essa conta é que vai definir o que
dirá o relatório final. Para o governo, portanto, trata-se de virar dois
votos. Para melhorar suas chances nesse jogo, o
Planalto só não pode ver naufragar suas linhas de defesa junto à
opinião pública. Tentou evitar isso hoje.
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Alon Feuerwerker, jornalista e analista político