É verdade que não estamos sós no subcontinente sempre em desvario. Há muito tempo os que não demitiram a sensatez desconfiam que basta mudar as inscrições nas placas para que toda a América do Sul se transforme, sem mudar rigorosamente nada e sem que o resto do mundo estranhe, no que Dilma Rousseff qualificaria de maior hospício da galáxia.
Nenhuma tribo escapa. Ao sul,
a saga argentina compõe o mais extenso, dramático e enlouquecido dos
tangos. Num trecho da letra escrita em pouco mais de dois séculos, os hermanos canonizam a
Ao norte, há o país mais pobre da América Latina onde houve no fim do século 20 a Venezuela Saudita, assim batizada por assentar-se num oceano de petróleo comparável ao que continua garantindo a gastança da família que domina o reino árabe. O que foi o latifúndio de Hugo Chávez e agora é o fazendão de Nicolás Maduro precisou de apenas 22 anos para, neste fim de 2021, superar o Haiti no ranking dos miseráveis que sobrevivem no centro e na parte meridional do continente americano.
Enquanto percorria em alta velocidade a trilha da falência, Chávez
bancou o abastecimento de Cuba, vendeu barris a preços de pai para filho
aos parceiros bolivarianos, arrendou a alta oficialidade do Exército e
exumou a ossada de Simón Bolívar para conferir a suspeita: o Herói da
Independência morreu envenenado ou não? Decepcionado com a resposta
negativa, Chávez renu
Toffoli acaba de informar durante um passeio em Lisboa que o regime estabelecido pela Constituição foi substituído pelo semipresidencialismo
A
vizinhança, como se vê, vive tentando provar que o Brasil não é tão
diferente assim. Mas a realidade do País do Carnaval anda superando com
perturbadora constância as páginas mais delirantes do realismo mágico. O
coronel Aureliano Buendia comb
O STF se tornou bem mais impetuoso com a entrada em campo do centroavante rompedor Alexandre de Moraes, artilheiro do Timão da Toga. E as divergências sumiram com a rendição de antigos desafetos de Gilmar. Edson Fachin trabalha de cócoras desde que implodiu a Lava Jato com a anulação, por motivos geopolíticos, dos processos que instalaram Lula na gaiola. Luís Roberto Barroso, que via no Maritaca de Diamantino uma figura horrível, agora parece achar que, dependendo do cenário e do ângulo de visão, o Juiz dos Juízes pode exibir até uma faceta sedutora. Nesta semana, chegou a vez do presidente Luiz Fux, único integrante do Supremo que foi juiz de carreira.
No discurso de posse, entre outras promessas, Fux garantiu que decisões importantes seriam decididas no plenário, pelos votos dos 11 ministros. A medida reduziria os poderes das duas turmas e, sobretudo, erradicaria a praga do voto monocrático, que confere a uma única toga o direito de remover as fronteiras que separam os três Poderes, legislar em territórios alheios ou espancar impunemente a Constituição.
No último dia de novembro, Fux valeu-se do voto
monocrático para revogar a decisão do Tribunal de Justiça do Rio que
anulou um decreto do prefeito Eduardo Paes sobre a obrigatoriedade do
passaporte sanitário. Deve ter achado pouco. No texto em que tenta
justificar a arbitrariedade, o presidente do Supremo comunicou aos
juízes da primeira e segunda instâncias do Poder Judiciário que estão
todos proibidos de contrariar o prefeito. Fux revogou
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Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste