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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Quem colocou o porteiro na tuba? eis o mistério - UOL



Blog do Josias

[as provas de que o então deputado federal estava em Brasília são indiscutíveis, baseadas em documentos oficiais da Câmara dos Deputados e também em meios eletrônicos da mesma origem.

O 'destempero' do presidente Bolsonaro é fácil de explicar. Afinal, não é todo dia que alguém, sabidamente inocente, é acusado de assassinato.

Uma acusação que teve por objetivo tentar afastar do presidiário de Curitiba a acusação do assassinato de Celso Daniel, feita ao mesmo por Marcos Valério - a tentativa fracassou.] 

Está entendido que a voz do "seu Jair" não pode ter soado no interfone da casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, no Rio, no dia 14 de março de 2018. Proprietário do imóvel, o então deputado Jair Bolsonaro dava expediente na Câmara, em Brasília. Não teria como autorizar a entrada de Élcio Queiroz, hoje preso sob a acusação de matar Marielle Franco. A voz que soa no sistema de áudio da portaria, atesta a perícia, é a do morador da casa 65, Ronnie Lessa, outro suspeito preso pelo mesmo crime. Falta esclarecer o seguinte: Quem colocou na tuba do inquérito um porteiro capaz de inventar em dois depoimentos à polícia que falou com "seu Jair”?

Afora os depoimentos, o áudio da portaria e os rastros de Bolsonaro em Brasília há sobre a mesa a planilha com os lançamentos feitos pelo porteiro naquele fatídico 14 de março do ano passado, dia da execução de Marielle Franco. Nesse documento, está anotado o nome de Élcio Queiroz e o número da casa 58 de Bolsonaro, não do imóvel 65 de Ronnie Lessa. Supondo-se que o porteiro não fosse um vidente capaz de antecipar a futura conversão de Bolsonaro de deputado em presidente da República, cabe perguntar: por que meteu o capitão na encrenca?

Há outro mistério no lance da irritação do presidente da República com a reportagem em que o Jornal Nacional levou os depoimentos do porteiro ao ventilador, sem sonegar à plateia a informação de que seu relato não ornava com os registros de presença do "seu Jair" na Câmara. Numa live improvisada na madrugada da Arábia Saudita, o capitão perdeu a linha: "Patifaria", "porra", "canalhas", "imprensa porca", "jornalismo podre"…

Entende-se que uma resposta era necessária. Mas isso poderia ter sido feito organizadamente, sem a teatralização bizarra que apequenou o ofendido. O próprio Bolsonaro declarou que o governador fluminense Wilson Witzel lhe informara 20 dias antes sobre as menções que o porteiro fizera ao seu nome. O caso subiu para o Supremo, disse o governador ao presidente. Por que Bolsonaro esperou a encrenca chegar à vitrine do Jornal Nacional para tomar providências? Para que todo o mistério seja esclarecido, é essencial que os investigadores e a lógica comecem a caminhar na mesma direção.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL


 
 

Linhas cruzadas - Nas entrelinhas

Bolsonaro está convencido de que Witzel lidera uma conspiração para inviabilizar sua reeleição a qualquer preço. O governador pretenderia incriminá-lo no caso Marielle”

[tudo indica que a TV Globo, caiu em uma FAKE NEWS. Nada sabemos de jornalismo, mas, tudo indica que a ansiedade por um 'furo' pode comprometer o processo de apurar a veracidade do 'furo'.]


Não convidem para a mesma solenidade Jair Bolsonaro e o governador fluminense Wilson Witzel (PSC). A relação entre os dois desandou de vez depois da divulgação, pela TV Globo, do depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra — onde mora o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o sargento da PM reformado Ronnie Lessa —, onde o presidente e seu filho Carlos têm casa. O porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato, em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e disse que iria para a casa de Bolsonaro. E que alguém na casa dele, a de número 58, liberou a entrada. Ocorre que, naquele dia, na mesma hora, o então deputado federal estava em Brasília, e os registros da portaria mostram que Élcio, na verdade, interfonou para Lessa.

Bolsonaro acusa o governador de ter vazado o depoimento para prejudicá-lo: “Dia 9 de outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval no Rio de Janeiro. O governador Witzel chegou perto de mim e falou o seguinte: ‘o processo está no Supremo’. Eu falei: ‘que processo?’ ‘O processo da Marielle.’ ‘O que eu tenho a ver com a Marielle?’ ‘O porteiro citou teu nome.’ Quer dizer: Witzel sabia do processo que estava em segredo de Justiça. Comentou comigo”, afirmou o presidente. “No meu entendimento, o senhor Witzel estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação, que eu poderia estar envolvido na morte da senhora Marielle”, completou o presidente da República.

Witzel nega envolvimento no caso: “Jamais vazei qualquer tipo de informação, seja como magistrado, seja como governador. Eu lamento que o presidente tenha, num momento, talvez, de descontrole emocional, no momento em que ele está numa viagem, não está, talvez, no seu estado normal, tenha feito acusações contra a minha atividade como governador”. E completa: “Não manipulo o Ministério Público, não manipulo a Polícia Civil. Isso é absolutamente inadequado, contrário às instituições democráticas. A Polícia Civil, no meu governo, tem independência. O MP tem e sempre terá independência e, infelizmente, eu recebi com muita tristeza essas levianas acusações.”

Não procede
Em vídeo gravado quando ainda estava na Arábia Saudita, Bolsonaro criticou a Globo e ameaçou não renovar a concessão da emissora, em 2022, se o processo não estiver “enxuto”. A emissora reagiu com o argumento de que apenas cumpriu seu dever de informar. Ontem, a procuradora Simone Sibilio, do Grupo de Combate ao Crime Organizado, disse que o áudio obtido na investigação “comprova que no dia do crime, por volta das 17h07, Élcio entra no condomínio de Ronnie Lessa e pede autorização para entrar”, mas não foi como havia dito o porteiro: “A pessoa que está na cabine [porteiro] liga para casa 65, e isso está comprovado pelas gravações. E a pessoa que atende na casa 65 é Ronnie Lessa. Com base na pessoa que atende, precisava comprovar: essa voz é de quem? O Ministério Público, com base na voz de Lessa obtida no depoimento, fez um confronto com a voz da cabine – e o confronto deu positivo. Portanto há prova pericial de que quem atende e quem autoriza a entrada de Élcio de Queiroz é Ronnie Lessa.

Bolsonaro está convencido de que Witzel lidera uma conspiração para inviabilizar sua reeleição a qualquer preço. O governador fluminense, para o presidente da República, pretenderia incriminá-lo nos assassinatos de Marielle e Anderson com objetivo de desestabilizar seu governo e inviabilizar sua reeleição. Witzel articula sua candidatura à Presidência em 2022, e isso está incomodando Bolsonaro, muito mais do que outros adversários, por causa do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O caso é investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense