Blog do Josias
[as provas de que o então deputado federal estava em Brasília são indiscutíveis, baseadas em documentos oficiais da Câmara dos Deputados e também em meios eletrônicos da mesma origem.
O 'destempero' do presidente Bolsonaro é fácil de explicar. Afinal, não é todo dia que alguém, sabidamente inocente, é acusado de assassinato.
Uma acusação que teve por objetivo tentar afastar do presidiário de Curitiba a acusação do assassinato de Celso Daniel, feita ao mesmo por Marcos Valério - a tentativa fracassou.]
Está
entendido que a voz do "seu Jair" não pode ter soado no interfone da
casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, no Rio, no dia 14 de março de 2018.
Proprietário do imóvel, o então deputado Jair Bolsonaro dava expediente na
Câmara, em Brasília. Não teria como autorizar a entrada de Élcio Queiroz, hoje
preso sob a acusação de matar Marielle Franco. A voz que soa no sistema de
áudio da portaria, atesta a perícia, é a do morador da casa 65, Ronnie Lessa,
outro suspeito preso pelo mesmo crime. Falta esclarecer o seguinte: Quem
colocou na tuba do inquérito um porteiro capaz de inventar em dois depoimentos
à polícia que falou com "seu Jair”?
Afora os
depoimentos, o áudio da portaria e os rastros de Bolsonaro em Brasília há sobre
a mesa a planilha com os lançamentos feitos pelo porteiro naquele fatídico 14
de março do ano passado, dia da execução de Marielle Franco. Nesse documento,
está anotado o nome de Élcio Queiroz e o número da casa 58 de Bolsonaro, não do
imóvel 65 de Ronnie Lessa. Supondo-se que o porteiro não fosse um vidente capaz
de antecipar a futura conversão de Bolsonaro de deputado em presidente da
República, cabe perguntar: por que meteu o capitão na encrenca?
Há outro
mistério no lance da irritação do presidente da República com a reportagem em
que o Jornal Nacional levou os depoimentos do porteiro ao ventilador, sem
sonegar à plateia a informação de que seu relato não ornava com os registros de
presença do "seu Jair" na Câmara. Numa live improvisada na madrugada
da Arábia Saudita, o capitão perdeu a linha: "Patifaria",
"porra", "canalhas", "imprensa porca",
"jornalismo podre"…
Entende-se
que uma resposta era necessária. Mas isso poderia ter sido feito
organizadamente, sem a teatralização bizarra que apequenou o ofendido. O
próprio Bolsonaro declarou que o governador fluminense Wilson Witzel lhe
informara 20 dias antes sobre as menções que o porteiro fizera ao seu nome. O
caso subiu para o Supremo, disse o governador ao presidente. Por que Bolsonaro
esperou a encrenca chegar à vitrine do Jornal Nacional para tomar providências?
Para que todo o mistério seja esclarecido, é essencial que os investigadores e
a lógica comecem a caminhar na mesma direção.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL
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