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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Até o pedido de perdão é fake. - Percival Puggina

Em entrevista para o The Economist, Lula afirmou que “o petista está cansado de pedir perdão”. Atribuir os nunca ouvidos pedidos de perdão a um coletivo designado como “o petista” é um legítimo lero-lero.

A propósito dessa entrevista, a Gazeta do Povo publicou um excelente editorial que pode e deve ser lido. Dele extraio o seguinte trecho:

O petismo não se desculpou pelo mensalão, não se desculpou pelo petrolão e não se desculpou pela crise de 2015-16 – pelo contrário, sempre negou tudo, alegou perseguição ou defendeu suas políticas. Não se desculpou pelo apoio incondicional a ditaduras carniceiras como a cubana, a venezuelana e a nicaraguense. 
Não se desculpou pela hostilidade à imprensa livre demonstrada em episódios como o vandalismo na sede da Editora Abril, não se desculpou pela violência política protagonizada por seus membros – pelo contrário: o ex-vereador que atirou um empresário contra um caminhão em movimento em 2018 foi recentemente elogiado por Lula
Ao dizer que “o petista está cansado de pedir perdão”, Lula apenas comprova que ele não se cansa mesmo é de mentir.

Enquanto o arrependimento, o pedido de perdão e o empenho em reparar o mal feito compõem um quadro de conduta moralmente elevado, o perdão fake é molecagem, encenação, corruptela da consciência, como a do falso penitente que sai do confessionário feliz porque “enganou” o padre.

Lula, cada vez que abre a boca, proporciona uma torrente de razões para que as pessoas de bom senso se apartem dele. É um Rolando Lero com péssimas motivações e sem graça alguma.

Percival Puggina  - Empresário e escritor

 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Victor Civita e a VEJA

Estão maltratando VC

Victor Civita, o VC, foi um grande empresário, daqueles que ajudam a mudar a cara do negócio em que entram

Quando chegou ao Brasil, vindo de Nova York, Victor Civita tinha algumas centenas de milhares de dólares e uma licença para imprimir revistas de quadrinhos de Walt Disney. O Pato Donald e Mickey eram bons parceiros. Isso foi em 1949. São Paulo ainda não tinha o Parque do Ibirapuera, a Avenida Paulista era uma alameda de palacetes e no bairro de Pinheiros havia um incinerador de lixo.

Civita morreu em 1990, aos 83 anos. Em quatro décadas, transformou uma pequena empresa na maior editora de revistas do país, revolucionou a relação dos brasileiros com os livros, levando-os para as bancas de jornais, ajudou a redesenhar as relações do mercado publicitário com as publicações que recebiam seus anúncios e deu aos jornalistas um grau de independência pouco comum na época. Em 2008, a área onde funcionava o incinerador de lixo de Pinheiros foi transformada num espaço cultural e se chama Praça Victor Civita.

Na década de 50, as grandes agências de publicidade ficavam no Rio, administrando seus anúncios sob forte influência de relações pessoais. Civita rolava com sua pasta, mostrando que sua editora paulista batia de longe a circulação dos rivais. Em 1961, quando foi criado o Instituto Verificador de Circulação, IVC, havia quem o chamasse de Instituto Victor Civita.

Sua principal iniciativa foi o lançamento, em 1968, da revista “Veja”, que circulou durante anos no prejuízo. (Ao contrário das lendas contemporâneas, se ela não fechou, foi porque ele não deixou.) Nessa época, como Tio Patinhas, Civita nadava em dinheiro. Fascículos de receitas culinárias vendiam como pão. Foi dado por louco quando decidiu vender semanalmente em bancas de jornais uma coleção clássicos da literatura universal. 

Começou com “Os irmãos Karamazov”, de Dostoiévski. Se a coleção vendesse menos de 50 mil exemplares, iria a pique. Vendeu 270 mil. Seguiram-se “Os pensadores” e “Os economistas”. Platão vendeu 250 mil. Nas traduções e notas desses livros trabalhavam 300 professores, muitos desempregados pela ditadura. Jacob Gorender, por exemplo, traduzia na prisão.

Civita viveu sempre no mesmo apartamento de Higienópolis e dirigia o próprio carro (nacional). Dava-se ao luxo de hospedar-se no Sherry Netherlands de Nova York, mas tinha sempre à mão o kit com que fazia seu café da manhã. Limusine? Nem pensar.

A manutenção da Praça Victor Civita custa R$ 2 milhões anuais e até bem pouco tempo foi bancada pela Editora Abril com uns poucos patrocinadores. A editora, que neste ano viveu duas reestruturações e desde 2014 passou adiante pelo menos 17 títulos, desistiu do mecenato.

A Praça Victor Civita é hoje um dos melhores pontos de encontro de jovens paulistanos em busca de cultura. A retirada dos patrocínios mistura encrencas burocráticas, mas sua essência é só uma: faltam R$ 2 milhões anuais para mantê-la. Isso é uma fração mínima do que “VC” deixou para seus descendentes. Como o dinheiro é deles, ninguém tem nada com isso.

O que Victor Civita deixou para a imprensa e a cultura nacionais vale muito mais que esse pixuleco. Um lugar aonde se vai atrás de um bom show, palestra ou filme vale muito mais. Não se trata de parar de maltratar “VC”, mas de não maltratar quem está vivo.


Fonte: O Globo - Elio Gaspari,  jornalista

quinta-feira, 7 de maio de 2015

SUSPEITOS DE SEMPRE: Condenar primeiro, julgar depois.



As diferenças são monumentais: Lula, mesmo para o mais fanático de seus admiradores, não tem a menor semelhança com Humphrey Bogart; Beto Richa, por mais que se admire no espelho e repita orgulhoso a pergunta da madrasta de Branca de Neve, jamais poderia ser confundido com o galã Claude Reins. Dilma, definitivamente, não é Ingrid Bergman – embora Ingrid Bergman tenha dito que “felicidade é boa saúde e má memória”. Ninguém espera que, ao contrário do que ocorreu no filme Casablanca, esteja se iniciando uma bela amizade entre os personagens.

Mas há coisas em comum entre o filme de 1942 e o Brasil de 2015. Primeiro, a Casablanca do filme é uma cidade dividida entre os cidadãos em dificuldades (lá, por causa da guerra) e os que têm dinheiro e prestígio para frequentar os melhores lugares, onde flui a boa bebida e a elite dos derrotados confraterniza com os vencedores, apenas com uma ou outra divergência. Segundo, as rusgas entre os bem-nascidos, mesmo quando terminam em morte, se resolvem de maneira socialmente adequada: sejam quem forem os envolvidos, quem leva a culpa são os suspeitos de sempre.

No Brasil, nós, jornalistas, somos os culpados de sempre. Na opinião dos políticos, claro: Lula já disse que juntando todos os jornalistas de Veja Época não chegam a 10% da ética dele (ambas as revistas, completa, “são um lixo e não valem nada” – embora Veja fosse ótima e válida quando estava a seu lado nas denúncias contra Fernando Collor). Em compensação, abra as redes sociais e há duras críticas ao Grupo Globo por seu apoio aos petistas (ao lado de duras críticas ao Grupo Globo por seu ódio aos petistas). Acusa-se a Folha de S.Paulo de ser tucana e de ser antitucana.  

Os petistas acusam a imprensa por dar pouco espaço à pancadaria policial contra manifestantes em Curitiba, os tucanos dizem que a imprensa só divulgou uma parte da história, evitando mostrar quem iniciou a guerra, e que a Globo não leva as imagens que comprovariam este fato para o Jornal Nacional (naturalmente, de seu ponto de vista, quem provocou o problema todo foram agitadores infiltrados na multidão, e a polícia só liberou seus pitbulls, todos mansos, em legítima defesa).

Engraçado? Em termos lógicos, é engraçado. Em termos práticos, é perigoso: fanáticos convencidos de que grupos de imprensa são poderosos o suficiente para barrar seus planos para o futuro do país podem repetir a besteira que fizeram não há muito tempo, de depredar o prédio da Editora Abril, ou de agredir repórteres durante manifestações de rua. A demonização dos jornalistas, especialmente nas redes sociais, chega a delírios pessoais, como acusar William Waack, profissional de primeira linha, de ser espião, por ter almoçado com diplomatas americanos (e, esquecem-se, russos, chineses, alemães, franceses, argentinos, israelenses, cubanos). E de atribuir a outro profissional de primeiríssimo time, Ali Kamel, o poder de comandar os proprietários dos maiores grupos de comunicação do Brasil e levá-los a uma ação conjunta contra o governo.

É importante, para quem não está interessado na divisão do país entre bons e maus, entre nós e eles, entre Fla e Flu, rejeitar esse tipo de acusação. A informação tem de ser difundida da melhor maneira possível, da maneira mais honesta possível, doa a quem doer. Que as posições ideológicas e partidárias se reflitam, mas não a ponto de distorcer a informação e difamar os adversários, pelo simples motivo de serem adversários. Ponto final.

Um grande escritor americano, John dos Passos, definiu bem a questão: “Não nos convidem para condenar meia guerra. Unam-se a nós para condenar a guerra inteira”.

 Fonte:  Carlos Brickmann é jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação - http://www.brickmann.com.br/