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domingo, 17 de setembro de 2017
Joesley tenta enganar
O empresário Joesley Batista ainda não entendeu o que fez de errado e o que o levou à prisão. Ele disse na sexta-feira que está preso porque delatou o poder. Joesley está preso por corrupção, por ter comprado políticos para usufruir de vantagens. Se não confessasse, quando o fez, seria preso de qualquer maneira porque estava sendo investigado em cinco operações.
Além disso, ele teve ganhos indevidos até com a delação, o que levou seu irmão Wesley à prisão. Só se explica isso por alguma compulsão de querer levar vantagem em tudo, inclusive na tormenta em que o país entrou após a sua delação. Eles sabiam que o dólar subiria e que as ações iriam cair. E fizeram suas apostas no cassino em que sempre estiveram acostumados a jogar. O Ministério Público e a Polícia Federal calculam que eles ganharam US$ 100 milhões com as operações. Para eles, isso é ninharia, mas está cobrando um alto preço.
Joesley dizia que a hipótese de sua prisão ou do seu irmão iria ser uma tragédia para a empresa, porque sem eles não seria possível administrar a companhia. O mercado financeiro reagiu com alta nas ações quando eles foram presos, derrubando a ideia de serem insubstituíveis. Eles continuaram ganhando fortunas mesmo no meio dessa confusão. A decisão de vender os ativos é correta porque essa é a forma de tirar a empresa do risco. Mas é curioso pensar na origem dos bens que estão sendo negociados.
Recentemente, o grupo fechou negócio para a venda da Eldorado para o grupo indonésio Paper Excelence. Ela foi um investimento feito com pouco capital próprio, e muito empréstimo do BNDES, compra de debêntures pelo banco, e crédito do FI-FGTS. Esse último, sabe-se agora, o grupo conseguiu da forma mais tortuosa. O valor total da empresa no negócio foi de R$ 15 bilhões, mas foi vendida apenas a parte do JBS. A família Batista recebeu o valor inicial de pelo menos R$ 2,2 bilhões. Nada mal para um empreendimento alavancado principalmente com recursos públicos, pelos quais, aliás, ele confessou que pagou propina.
Na semana passada, com Joesley já preso, foi feita uma operação em que a Pilgrim’s Pride, uma das maiores processadoras de frango dos Estados Unidos, e do grupo JBS, comprou a operação do grupo na Europa, a Moy Park. Eles compraram a si mesmos para melhorar a sinergia e a estrutura do endividamento. Quando foi comprada, a Pilgrim’s Pride foi um ativo adquirido integralmente com o dinheiro do BNDES, conseguido através da venda de debêntures. Não houve capital próprio. E assim eles ficaram ainda mais ricos do que já eram. Mas a ganância desmedida fez os irmãos Batista irem cada vez mais fundo no negócio da corrupção que os levou à prisão.
O grupo está sendo reestruturado e sairá de tudo isso bem menor. Pelo menos, há uma boa chance de que sobreviva a essa vendaval. O economista Fábio Astrauskas, professor do Insper e CEO da consultoria Siegen, especializada em reestruturação de empresas no Brasil, avalia que a resposta da JBS à crise de confiança que se abateu sobre a empresa foi rápida e eficiente. O grupo foi ágil em vender os bons ativos para fazer caixa, e, na visão de Astrauskas, terá condições de seguir o negócio mesmo com o afastamento da família Batista do comando da empresa.
— Acho que a JBS teve uma visão muito pragmática, profissional, muito similar ao que aconteceu com o BTG. Hoje, ninguém mais se lembra do banco como sinal de problemas. Acho que pode acontecer o mesmo com a JBS daqui a alguns meses. Estar no segmento de varejo também ajuda. É diferente do que vejo, por exemplo, com as grandes construtoras investigadas na Lava-Jato, que dependem de obras e contratos públicos — afirmou.
A empresa pode ter uma nova chance se a resposta continuar ágil. Em relação aos irmãos Batista, o futuro imediato é mais opaco. Uma coisa já se sabe: a dissimulação não os levará a lugar algum. Frases como “estou pagando por ter delatado o poder” ou “estou preso porque mexi com os donos do poder” não convencem ninguém. Esse tipo de defesa, de se fazer de inocente perseguido por poderosos, não tem qualquer credibilidade, porque o país que eles enganaram durante tanto tempo já não se deixa mais enganar.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo
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domingo, 5 de julho de 2015
Consultor ligado ao PT ajudou a Odebrecht em disputa de contrato
A troca de e-mails usada pela Justiça para prender o empresário Marcelo
Odebrecht escondia a conexão da empreiteira com uma figura da
engrenagem da CUT e do PT: André Luiz de Souza, investigado por
irregularidades em investimentos feitos com recursos do FGTS, de acordo
com informações divulgadas pela Folha.
Segundo o jornal, nas mensagens, executivos da Odebrecht relatam a
Marcelo conversas com um certo André e chegam a mencionar um sobrepreço
no contrato de operação de sondas da Petrobras. Por conta desta citação,
o juiz Sérgio Moro concluiu que o empresário sabia do suposto esquema
de corrupção na estatal e mandou prendê-lo.
Para a Polícia Federal, o tal André seria um funcionário da própria
empreiteira. Especulou-se também que poderia ser o banqueiro André
Esteves, do BTG Pactual, sócio da empresa de sondas de petróleo Sete
Brasil.
A Odebrecht disse à publicação que o sujeito do e-mail é André Luiz de
Souza, dono da Ask Capital. Essa consultoria, na versão da empreiteira,
representava grandes empresas interessadas em se instalar num polo
industrial na Bahia ao redor do estaleiro Enseada Paraguaçu, que
pertence a Odebrecht, UTC e OAS.
No entanto, de acordo com a Folha, em março de 2011, quando os e-mails
foram escritos, André tinha dupla militância. De um lado, negociava a
criação do polo industrial com as empreiteiras do Enseada. De outro,
fazia parte do comitê de investimentos do FI-FGTS, o bilionário fundo
que aplica recursos do trabalhador em projetos de infraestrutura.
Naquela época, o Enseada tentava que o FI-FGTS colocasse dinheiro no
estaleiro. Chegaram a assinar um acordo de confidencialidade para
discutir a operação. Segundo a Folha apurou, André defendia o projeto
dentro do fundo. Ele e a Odebrecht negam.
Na Caixa Econômica, que administra o FI, o negócio não avançou porque
meses depois houve uma troca de diretoria. Oficialmente, o banco informa
que o acordo não podia prosperar porque o regulamento do fundo não
prevê investimento em estaleiros.
Quatro meses depois da troca de mensagens entre os executivos da
Odebrecht, André deixou o FI-FGTS. Renunciou sob acusação de ser o pivô
de um esquema de favorecimento de empresas nos investimentos do FGTS.
Uma dessas empresas é subsidiária da Odebrecht. O caso ainda está sendo
investigado.
André Luiz de Souza, 51, fez carreira no movimento sindical e
prefeituras do PT. Coordenador do projeto Moradia do Instituto da
Cidadania, do ex-presidente Lula, chegou ao conselho curador do FGTS
indicado pela CUT e participou da criação do FI-FGTS, que hoje tem R$ 36
bilhões em infraestrutura.
Nos e-mails apreendidos pela polícia, os executivos da Odebrecht
discutem segredos comerciais e mencionam, por siglas, o então governador
da Bahia Jaques Wagner (PT) e a presidente Dilma Rousseff. Ele é JW e
ela, DR, segundo a Odebrecht.
Numa das mensagens, Marcelo pede aos executivos cuidado com o que falam
para André porque iria "chegar ao ouvido de JW". Disse também que a
conversa com DR tinha sido postergada.
Interessado em ter um polo naval na Bahia, Wagner acompanhava o assunto
de perto. Por isso, ficou enfurecido quando o Enseada perdeu o leilão
do primeiro lote de sondas da Petrobras para o estaleiro Atlântico Sul,
em Pernambuco.
O então governador já tinha tomado providências para garantir a rápida
liberação de licenças ambientais tanto para o estaleiro quanto para o
polo industrial, que também teriam incentivos fiscais.
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