Em reestruturação, Correios têm valor de mercado que chega a R$ 5 bi
A privatização da estatal, que detém o monopólio de correspondências, pode atrair investidores do porte das americanas Fedex e DHL, gigantes em remessas e logística
Os Correios passam por um processo de reestruturação que prevê
cortes de gastos e até privatização. Analistas avaliam que o preço de
mercado da estatal oscila entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões. “As
estimativas levam em conta inclusive passivos, como o rombo de R$ 1,5
bilhão do Banco Postal. Mas o montante pode variar muito, a depender do
apetite do governo, que vai definir o tamanho da ingerência política”,
destacou o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora
OpenInvest.
Da receita dos Correios, 54,3% são com serviços exclusivos (carta,
telegrama e correspondência agrupada). A quebra do monopólio, segundo
Bergo, atrairá investidores internacionais do porte das americanas Fedex
e DHL (as maiores do mundo em remessas e logística). “O negócio é bom.
Se for gerido com eficiência, o retorno é certo. O mercado está de
olho”, destacou.
A privatização é uma estratégia a ser levada a sério para a
sustentabilidade dos Correios, no entender do economista Gil Castello
Branco, presidente da Consultoria Contas Abertas. Segundo ele, a
companhia investiu apenas R$ 309,5 milhões em 2016, quando a dotação
prevista era de R$ 800 milhões. Ou seja, apenas 38,7%. “Além disso, o
valor representa menos da metade do investido em 2013, de R$ 724,7
milhões. De lá para cá, os investimentos foram caindo ano a ano”,
calculou.
Surpresa
O presidente dos Correios, Guilherme
Campos, foi incisivo: “Ou a empresa entra no azul este ano, ou fecha”.
Por meio de nota, os Correios informaram que o corte de despesas tem
como objetivo uma economia de, pelo menos, R$ 1,6 bilhão este ano. “O
Plano de Desligamento Incentivado (PDI) — com a adesão de 5,5 mil
trabalhadores — prevê economia anual com a folha de pagamento de
aproximadamente R$ 800 milhões”, informou. Hoje, os Correios têm 111 mil
funcionários, mas 250 agências serão fechadas no país, em municípios
acima de 50 mil habitantes, oito no Distrito Federal.
O
fechamento de agências pegou de surpresa alguns clientes. Vaneise
Nogueira, 49 anos, secretária de um escritório de advocacia, vai todo
dia à agência do Setor de Autarquia Sul protocolar processos. “Vai ser
um horror. As lojas vão ficar sobrecarregadas. É mais perda de tempo”,
reclamou.
Para Wellington Nunes, 20,
estagiário, seu serviço vai ficar complicado. “Hoje, vim enviar uma
cartilha sobre Previdência. São três mil cartas. Não dá para imaginar
como conviver com a mudança”. Já Paulo Amaral, 46, assistente do
Conselho Federal de Contabilidade (CFC), disse não entender o fechamento
da agência. “Essas mudanças repentinas são só para fazer a gente andar
mais”, assinalou.
Ontem, os trabalhadores dos
Correios tiveram uma reunião com o presidente da companhia. Segundo Suzy
Cristiny da Costa, secretária de comunicação da Federação Nacional dos
Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares
(Fentect), os funcionários preparam uma greve, por tempo indeterminado, a
partir de 26 de abril. “Os funcionários não são culpados. A empresa
repassou para a União R$ 6 bilhões nos últimos dois anos. E pagou R$ 2
bilhões ao Banco do Brasil pelo distrato do Banco Postal, um erro de
gestão”, lamentou.
Segundo Campos, em números ainda preliminares, do prejuízo total de cerca de R$ 2 bilhões apurado pelos Correios em 2016, R$ 1,8 bilhão referem-se ao plano de saúde
O
presidente dos Correios, Guilherme Campos, afirmou que o plano de saúde
oferecido aos funcionários está "matando" a estatal. Segundo Campos,
nos moldes que opera hoje, o sistema é inviável e não cabe no orçamento
da instituição. Ele participou nesta quarta-feira (29/3) de uma
audiência pública no Senado com o ministro Gilberto Kassab (Ciência e
Tecnologia, Inovações e Comunicações), que apresentou as metas e
desafios do setor nos próximos anos.
Segundo
Campos, em números ainda preliminares, do prejuízo total de cerca de R$
2 bilhões apurado pelos Correios em 2016, R$ 1,8 bilhão referem-se ao
plano de saúde. Do total de custos do plano, a estatal paga 93% e os
funcionários, 7%. "É impossível manter isso no orçamento da empresa. A
empresa não quer acabar com o plano, mas nos moldes que está hoje é
impossível ser mantido", afirmou. Ele disse
ainda que está negociando com sindicatos mudanças no sistema de saúde
dos funcionários. Além disso, acrescentou que a empresa continuará
empenhada no corte de gastos com despesas e pessoal e deverá concentrar
esforços na logística de encomenda, serviço com demanda crescente em
tempos de comércio eletrônico.
Fonte: Correio Braziliense