Movimentações bancárias e patrimônio milionário da
irmã do senador viram alvo do Conselho
Movimentações
financeiras suspeitas e a manutenção do próprio patrimônio em nome de
familiares colocaram o senador Romário (Podemos-RJ), pré-candidato ao
governo do Rio, na mira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf). O órgão do Ministério da Fazenda responsável por ações de combate à
lavagem de dinheiro vai rastrear o destino de milhões de reais que passaram
atipicamente pela conta da irmã do senador e por uma empresa cujos sócios são
os pais de Romário.
Desde o
ano passado, a Justiça do Rio está levantando os bens da família do
pré-candidato a pedido de um credor. Em abril, um despacho judicial sustentou
que ele e seus familiares “ocultam patrimônio e/ou dissimulam valores”. Em fevereiro, O GLOBO deu detalhes da apuração:
revelou que o senador tinha omitido de sua declaração de bens dois apartamentos
e uma casa na Barra da Tijuca avaliados em R$ 9,6 milhões. Agora, a Justiça
rastreou e acaba de penhorar uma lancha de Romário, avaliada em R$ 1,8 milhão.
A
embarcação está registrada em nome da sua irmã, Zoraidi de Souza Faria. A
lancha All Mare, de 54 pés, já foi usada pelo senador no Lago Paranoá, em
Brasília, e em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio. Ultimamente, ela estava
na Marina da Glória, Zona Sul do Rio. Uma fonte que circula no local disse ao
GLOBO que nunca viu Zoraidi embarcar na lancha e que ela é usada frequentemente
por Romário, filhos e amigos mais próximos.
O lastro
de Zoraidi para ter tamanha evolução patrimonial será analisado pelo Coaf, por
determinação da Justiça do Rio. Ela também aparece como a proprietária de um
Porsche em que Romário circula e é quem paga o IPTU da casa da Barra do senador
que até hoje não está em seu nome. Recentemente, chamou a atenção da Justiça do
Rio o saldo milionário em um plano de previdência privada mantido no Banco do
Brasil por Zoraidi. A aplicação, que tinha um saldo de pouco mais de R$ 700 no
fim de 2015, foi turbinada após um empréstimo de Romário à irmã e alcançou R$
4,8 milhões.
ZORAIDI
ESTUDANTE
Além da
doação, outro dado reforça as suspeitas de que Romário usa a irmã para ocultar
patrimônio. O senador tem uma procuração fornecida por Zoraidi para movimentar
os valores mantidos por ela exatamente nesta agência do Banco do Brasil, que
fica em Brasília, no prédio da Câmara dos Deputados. Além do plano de
previdência, Romário pode manusear os recursos de Zoraidi no banco. Em
novembro, contudo, a conta corrente da irmã tinha apenas R$ 64,15.
O órgão
do Ministério da Fazenda vai produzir ainda um relatório detalhado sobre outra
operação financeira envolvendo Zoraidi. Entre 2015 e 2016, ela recebeu R$ 6
milhões em empréstimos da RSF Empreendimentos, empresa cujos sócios são a mãe
do senador, Manuela Ladislau Faria, e seu pai, Edevair de Souza, que ainda
aparece formalmente na sociedade apesar de ter morrido em 2008.
Em
documentos firmados em cartórios, Zoraidi se apresenta como estudante ou “do
lar”. A irmã de Romário já trabalhou na Organização Social Ecos, que
administrava uma vila olímpica da Prefeitura do Rio no período em que a
Secretaria Municipal de Esporte e Lazer era comandada por Marcos Braz, indicado
por Romário. O Coaf
vai apurar ainda o destino de um depósito de R$ 6,8 milhões feito pelo Flamengo
na conta da RSF em novembro de 2016. O montante foi recebido por Romário após
um acordo judicial, em função de dívidas do período em que atuou no clube. Em
julho do ano passado, quando a Justiça bloqueou a conta da RSF em busca do montante
depositado pelo Flamengo, restavam apenas R$ 1.228.
Em outra
frente da investigação sobre os bens ocultos, a Justiça determinou a
indisponibilidade do Porsche, de um Land Rover, um Audi — em nome da mãe do
senador —, um Peugeot e um Hyundai. A frota automotiva está avaliada em R$ 1,3
milhão, segundo a tabela Fipe. A lancha e os carros poderão ser leiloados para
saldar uma parcela das dívidas milionárias de Romário.
BENS
OCULTOS
CASA NA
BARRA
Romário
nega ser o dono de uma casa na Barra da Tijuca avaliada em R$ 6,4 milhões. A
antiga proprietária, no entanto, disse ao GLOBO ter vendido o imóvel para o
senador. As cotas do IPTU de 2017 foram pagas por Zoraidi de Souza Faria, irmã
de Romário.
APARTAMENTOS
LEILOADOS
Dois
apartamentos de Romário em um condomínio na orla da Barra foram leiloados por
R$ 2,8 milhões no fim do ano passado para saldar parte das dívidas. Os imóveis
só foram descobertos após a construtora que aparecia formalmente como
proprietária ter informado à Justiça que havia vendido as unidades ao senador.
ROMÁRIO
NÃO RESPONDE
Em
dezembro do ano passado, dois apartamentos que pertenciam ao senador, mas que
estavam ainda em nome da construtora que vendera os imóveis a ele, já foram
vendidos para diminuir o passivo. Um levantamento feito em processos em que
Romário figura como réu estima em R$ 36,7 milhões as suas dívidas já
reconhecidas pela Justiça — o saldo com um dos credores, uma empresa de
engenharia, chega a R$ 18,5 milhões
Zoraidi
foi procurada na quinta-feira por telefone, mas desligou quando o repórter se
identificou e não atendeu mais as ligações. Na quarta-feira, O GLOBO enviou
nove perguntas a Romário, via assessoria de imprensa, mas até a noite de sábado
o o senador não havia respondido. Em março, depois de lançar a pré-candidatura
ao governo do Rio, ele deixou o evento, em um clube da Zona Norte do Rio, sem
falar com a imprensa.
O Globo