Jovem preso na Papuda injustamente, há quase três anos, é
libertado e reencontra a família em Ceilândia. Agora, Lucas Moreira
pretende recomeçar a vida: retomar os estudos e a convivência com o
filho de 5 anos
“Foram dois anos, 10 meses e oito dias” de espera pela soltura de Lucas
Moreira Souza, 27 anos, conta a mãe do jovem, a vendedora Maridalha
Moreira, 47. “Agora é só alegria, uma nova história vai começar, vamos
comemorar”, diz ela, aliviada. O
rapaz foi preso injustamente em 2017 e, desde então, a família lutava
na Justiça para provar a inocência dele. Depois de muita espera, o alvará de soltura
foi expedido, ontem, pela Vara de Execuções Penais
(VEP). “Errar a gente erra na vida, mas eu estava preso por uma
coisa que não fiz. Acho que eu não merecia estar lá por uma coisa que
não cometi”, diz Lucas. “Presente melhor não podia receber”, comemora o
rapaz, que faz aniversário no próximo dia 31. (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
A família não sabia que ele seria libertado durante a
madrugada, a previsão era de que fosse solto no início da manhã de
quinta. A mãe, a ex-mulher e o filho foram bem cedo ao Complexo
Penitenciário da Papuda para encontrá-lo, mas ele já tinha saído. “Andei
do Jardim Botânico até a Rodoviária, foram quase três horas. É longe
demais. Primeiro, pensei que era até melhor eu dormir lá (na Papuda),
mas foi um alívio sentir que estava chegando na Rodoviária e não tinha
nenhum homem de preto me vigiando com cara feia…”, relata o rapaz, que
entrou num ônibus rumo à Ceilândia Sul.
A tia Vera Lúcia Moreira, 57, não esperava a chegada
dele em casa: “Pegou a gente de surpresa”, afirma, cheia de alegria.
Cansado, mas leve, Lucas esperou a chegada da família. “Perdi a infância
do meu filho”, diz ao abraçar Kauã Souza, 5. Um reencontro emocionante,
antes de um café da manhã improvisado com a família.
Lucas mora no mesmo endereço onde ocorreu a prisão, há
quase três anos. A tia lembra o dia: “De manhã, nós tomamos café e eu
fui trabalhar, quando cheguei à noite, nada dele”. No começo, a família
pensou que Lucas estivesse desaparecido e procuraram por ele em
hospitais e delegacias. “A gente ficou estarrecida quando soube”,
destaca Vera. Enquanto empinava pipa na rua, Lucas foi abordado por
policiais civis que procuravam homens suspeitos de roubar um carro em
Ceilândia. O veículo também havia sido utilizado numa série de outros
assaltos e latrocínios em várias regiões do DF. Na delegacia, vítimas
apontaram Lucas como um dos autores.
[Nossos dois leitores são sabedores que somos e sempre seremos, favoráveis a punição severa para bandidos - já para os inocentes = JUSTIÇA.
Superlotação de cadeia é algo que todos sabem que existe e só vão para as prisões os que cometem crimes - não cometeu crime não será 'vítima' da superlotação.
Castração química, no mínimo, para estupradores = reincidência, castração física por esmagamento testicular; uso de drogas, cinco anos por unidade de droga em poder do 'noiado' e um ano por cada unidade adicional; tráfico de drogas dez anos para começar - tudo com direito a só pensar em semiaberto após cumprir 4/5 da pena. E, por aí vai.
No caso do Lucas, o processo que ele respondia por tráfico privilegiado deveria ser respondido com o acusado preso = o tráfico privilegiado deveria ser punido com rigor total, igual a qualquer tráfico não privilegiado = aliás, não acreditamos que o individuo seja traficante e não esteja ligado ao crime organizado.
Agora quanto a ser condenado e preso por crimes que não cometeu LUCAS merece ser indenizado com um valor substancial, buscando reparar, ainda que em parte, todos os erros cometidos que ensejaram sua condenação.
E, para servir de exemplo, todos os agentes que contribuíram por omissão, desídia, má fé, para concretização da injustiça deveriam ser responsabilizado por ressarcir, parcialmente, o ente federativo - não ficando apenas com o DF = nós, contribuintes. O todos inclui sem limitar, agentes e delegados da Polícia Civil, promotores - apesar de caber aos membros do MP acusar, eles são antes de tudo fiscais da lei, também o advogado contratado que tudo indica enrolou, defensores públicos que atuaram no processo até o julgamento. A multa tem que ser exemplar, atingir a todos os envolvidos, incluindo o juiz que conduziu o processo e prolatou a sentença.]
“Cada um tem que pagar pelo que faz, e não porque você
parece uma pessoa ou algo do tipo”, desabafa ele. Na época da prisão,
Lucas respondia em liberdade por desacato e por tráfico privilegiado
(sem ligação com facções criminosas). “Só quem acreditou que eu era
inocente foi minha família mesmo. Porque, pelo fato de ser negro e morar
na periferia, você é suspeito sempre”, diz.
Nos três processos aos quais respondeu, em um deles foi
absolvido e em outros dois, condenado a 67 anos. Por conta da sentença,
nem os companheiros de cela acreditavam que ele fosse inocente e
zombavam dele. Revoltado com a situação, a mãe lembra que ele chorava
com frequência. “Eu pensei que eu ia ficar lá”, relata Lucas. “Quando
cheguei na triagem eram 56 (detentos) para oito camas, daí você já tira
ideia de como era lá (na cadeia)”.
Mudança de rumoQuando o rapaz foi preso, a família contratou um advogado para representá-lo, mas o processo não andou.
“Foi aí que recorremos aos defensores e tudo se encaminhou”, lembra a mãe.
Um policial civil que acompanhou o caso, à época,
procurou a Defensoria Pública e afirmou que a prisão foi um erro. Ele relatou que, mesmo depois da prisão de Lucas, os roubos continuaram.
Além disso,
um dos suspeitos seria manco e teria tatuagens, o que não correspondia à descrição do rapaz. Mas, agora, com o alvará de soltura, a condenação e a pena foram extintas.
“O inocente está de volta à sua casa de onde nunca deveria ter saído”, comemora o defensor público Daniel Oliveira.
Lucas diz que quer recuperar o tempo perdido. “Penso em
terminar o ensino médio e trabalhar”. Os defensores públicos vão
ingressar com uma ação judicial para que o jovem seja indenizado. “Vamos
pedir algo para reparar pelo menos o mínimo da dor sofrida, porque tudo
é irreparável, o que ele passou vai ficar para sempre na memória dele”,
destaca a defensora pública Antônia Carneiro.
Correio Braziliense