Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Grande Sucessor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Grande Sucessor. Mostrar todas as postagens

domingo, 26 de novembro de 2017

Reino do terror: Desertores relatam a vida sob o regime de Kim Jong-un




Poucos escapam do país mais isolado do mundo. Mas quem foge revela uma rotina sob vigilância, na qual as ilegalidades tentam contornar o que o Estado já não oferece

Quando Kim Jong-un se tornou o líder do país, há quase seis anos, muitos norte-coreanos pensaram que suas vidas melhorariam. Ele ofereceu a esperança de uma mudança geracional na dinastia comunista mais longeva do mundo. Além disso, era um millennial com experiência no mundo exterior.


Porém, o Grande Sucessor, como é chamado, acabou sendo tão brutal quanto o pai e o avô. Apesar da maior liberdade econômica, Kim tentou fechar a nação mais do que nunca, reforçando a segurança na fronteira com a China e intensificando os castigos para os que se atrevem a tentar atravessá-la. Na Coreia do Norte, a liberdade de expressão e de pensamento ainda é miragem.


O “Washington Post” entrevistou mais de 25 norte-coreanos que escaparam. Eles contaram sobre a vida no país e como ela mudou, ou não, desde que Kim assumiu o poder em 2011. Muitos moravam perto da fronteira com a China — onde a vida é mais difícil e o conhecimento do exterior mais difundido — e são parte de um pequeno grupo pronto para assumir os riscos de uma fuga.

  • Dinheiro fala mais alto
  • Repressão e desilusão
  • Relatos de quem fugiu
  • O vendedor de drogas
  • Construtor na Rússia
  • O telefonista clandestino
  • A universitária
  • A menina rica
  • O magnata em silêncio
  • O vendedor de feijões
  • O médico

Ao relatar suas experiências pessoais, que incluem a tortura e a cultura de vigilância, os refugiados pintam um quadro de um Estado outrora comunista em que tudo está quebrado, e a economia estatal paralisada. Hoje, os norte-coreanos fazem seu próprio caminho, ganhando dinheiro de forma empreendedora e frequentemente ilegal. Há poucos problemas hoje na Coreia do Norte que o dinheiro não pode resolver.

Assim como a vida no país mudou, também mudaram as razões para fugir. Cada vez mais, as pessoas deixam o país não pela miséria, como faziam após a fome nos anos 1990. Agora, escapam por desilusão. A atividade do mercado está explodindo, e com isso vem o fluxo de informação, seja com comerciantes que atravessam a China ou com novelas salvas em pendrives, o que leva muitos a sonharem como não sonhavam antes. Alguns deixam o país porque querem que os filhos tenham uma educação melhor. Há aqueles que escapam porque seus sonhos de sucesso e riqueza são frustrados pelo sistema. Outros fogem porque querem falar.

Na teoria, a Coreia do Norte é um bastião do socialismo, onde o Estado dá casa, saúde, educação e emprego. Na prática, a economia estatal raramente opera. As pessoas trabalham em fábricas ou campos, mas há pouco a fazer, e elas não recebem quase nada. Uma vibrante economia privada surgiu por necessidade, na qual os norte-coreanos encontram meios de faturar por conta própria, seja vendendo drogas ou tofu caseiro, através de suborno ou contrabando de pequenos DVD players.
  

A população aprendeu a empreender com a fome. Enquanto os homens iam trabalhar nas fábricas, as mulheres faziam macarrão, ficavam com um pouco e vendiam o restante para comprar mais milho no outro dia. Crianças sem casa roubavam tampas de bueiro para vender como sucata. Os mercados começaram a aparecer e se fortalecer. Das grandes cidades aos pequenos vilarejos, há algum mercado onde as pessoas vendem suas mercadorias e ganham dinheiro. Alguns são estatais, outros independentes.

O dinheiro agora é necessário para quase tudo — até para o que o regime se vangloria de dar, como casa e escola. O suborno e a corrupção são endêmicos, enfraquecendo o governo, afrouxando os controles e criando incentivos que nem sempre estão de acordo com as prioridades de Kim. A capacidade de ganhar dinheiro levou a uma visível desigualdade num país que se promovia como socialista e igualitário. Aqueles que trabalham só em empregos oficiais ganham pouco por mês e provisões para complementar os salários.

É impossível exagerar o culto ao redor da família Kim. O fundador da dinastia, Kim Il-sung, seu filho, Kim Jong-il, e seu neto, Kim Jong-un, formam uma santíssima trindade no país. Não há críticas a eles ou questionamentos ao sistema — ao menos sem arriscar a sua liberdade e a da família inteira. Até a vida pode correr jogo.  A Coreia do Norte opera num estado de vasta vigilância, com um Departamento de Segurança ameaçador. Seus agentes estão por todos os lados e trabalham impunes. O regime também tem um sistema de observação entre vizinhos. Os distritos de cada cidade são divididos em grupos de até 40 famílias, cada um com um líder que coordena a vigilância local e incentiva as pessoas a delatar.

Para aqueles que se afastam do regime de uma forma que dinheiro não consegue resolver, a punição é dura. Os fugitivos das prisões políticas relatam tratamento brutal, como tortura medieval com grilhões e fogo, forçados até a abortos sob métodos cruéis. Ativistas dizem que isso teria diminuído levemente com Kim. Porém, ataques e tortura são comuns, assim como execuções públicas. A fome é parte da punição, até para crianças. Um adolescente de 16 anos perdeu cinco quilos na prisão, pesando 39 quilos ao ser libertado.

São as prisões, campos de concentração e ameaças que impedem as pessoas de falar. Não há dissidência e nem oposição. Alguns fogem, mas não são tantos. Milhares cruzam a fronteira com a China. Alguns continuam lá, quase sempre mulheres vendidas para chineses pobres que não conseguem esposas. Outros são mandados de volta. Porém, a cada ano, mais de mil chegam à Coreia do Sul. Nos últimos 20 anos, apenas 30 mil conseguiram ir para o lado sul da península.
 

Sobrinho da ex-mulher do líder norte coreano Kim Jong-il, Lee Han-young foi morto a tiros em frente ao seu apartamento em Seul, na Coreia do Sul, em 1997. Desertor, ele era um crítico ferrenho ao tio e ao seu país. As investigações apontaram que Lee foi morto por agentes norte-coreanos, que fugiram antes que pudessem ser capturados.


Detida e forçada a trabalhar, adolescente que agora tem 22 anos fugiu de Heysan em 2013:
“Fui interrogada pela polícia. Eles queriam saber sobre o trabalho de minha mãe. Eles estapearam meu rosto e me empurraram tão forte contra a parede que minha cabeça sangrou. Enquanto estava lá, me faziam sentar com pernas cruzadas, braços e cabeça abaixados. Se eu me movesse, me batiam. Tinha que ficar assim por horas. Eu acordava às 6h todos os dias e dormia às 23h, trabalhando. Não queria mais viver.”
 

Um fazendeiro de Hoeryong, de 46 anos, escapou em 2014. Ele exercia várias atividades ilegais:
“Meu trabalho era vender metanfetamina. Mais de 70% da cidade usava, até minha mãe de 76 anos, pois tinha pressão baixa e melhorava. Muitos policiais vinham fumar na minha casa, o chefe da polícia secreta quase vivia lá. Fazia conexões com a Coreia do Sul e a China, e vendi antiguidades e aves do meu país. Criei uma fantasia sobre Kim. Ele era jovem e pensei que abriria as portas, mas a vida ficou mais difícil.”