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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A política aperta a tecla "pause..." em janeiro



A crise tirará férias oficialmente. Mas não haverá descanso. Fora de Brasília, as articulações em torno do impeachment seguirão
Na noite de segunda-feira, dia 21 de dezembro, a presidente Dilma Rousseff ofereceu no Palácio da Alvorada um coquetel de final de ano para ministros, auxiliares mais próximos e um restrito grupo de aliados no Congresso. Numa clássica blusa de renda preta, acompanhada de colar de pérolas, Dilma circulou com o semblante aliviado. Permitiu-se inclusive uma piada inusual com o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, a quem chamou de “crítico de arte”, depois que o petista lhe presenteou com um quadro da artista plástica mineira Gri Alves.

O jeito mais leve que Dilma tem mostrado nos últimos dias é de quem acredita que a ameaça do impeachment, pelo menos por ora, não pesa tanto sobre seus ombros. A presidente acredita, assim como os principais assessores no Palácio do Planalto, que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que fez retroagir a denúncia por crime de responsabilidade que corre na Câmara, enfraqueceu o processo de afastamento. “Eu mesmo acho que terminamos o ano melhor do que prevíamos”, diz um dos ministros mais próximos de Dilma.

A crise política terá uma pausa forçada e desejada em janeiro – não por obra de algum talento ou melhora súbita na situação, mas devido à inércia da obrigação legal do recesso parlamentar e da vontade de ambos os lados, governo e oposição, de interromper a disputa. Será apenas uma parada técnica. As articulações só deixarão de ocorrer no palco central, em Brasília, e acontecerão em outros palcos ou coxias – espalhados por todos os Estados. Em encontros longe dos refletores, com o país em “pause”, governo e oposição se armarão para o que virá em fevereiro.

Nesse cenário, Dilma abdicou da temporada na praia e fará apenas uma pequena pausa para passar as festas de fim de ano com a família, em Porto Alegre. Dilma crê que terá condições de esboçar alguma reação em janeiro para começar a tirar sua administração das cordas
. [a única forma de Dilma tirar sua administração das cordas é enrolando as cordas em seu pescoço.] O entorno de Dilma não quer desperdiçar a trégua.  

Sem dinheiro, sem a oposição do Congresso e sem o Judiciário para tornar operacional a Lava Jato, o Planalto espera colocar em ação em janeiro o que mais gosta de fazer: uma ofensiva midiática para tentar reverter a péssima imagem do segundo mandato de Dilma entre os brasileiros. A massa de propaganda tentará vender a mensagem de que a administração não está totalmente paralisada. O Planalto acredita que, ao falar sozinho, conseguirá reduzir um pouco seu sufoco. 

Trata-se, no entanto, de uma verdade parcial. Se é unânime a avaliação de que Dilma ganhou um surpreendente respiro no fechar das cortinas de 2015, também é certo que a reviravolta do jogo pouco ou em nada se deveu a ações dela e de seu governo. Não fosse o Supremo em uma ponta da Praça dos Três Poderes e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em outra, o mandato de Dilma continuaria por um fio. Renan enxergou na fraqueza de Dilma um porto seguro para escorar-se depois da última etapa da Operação Lava Jato, que atingiu pessoas próximas a ele. 

Frequentador dos mais privilegiados corredores do poder em Brasília desde os tempos de líder do governo Fernando Collor no Congresso, Renan foi, fora do mundo jurídico, o principal responsável pela operação que reanimou Dilma. O senador adotou um discurso de paz e mandou recados claros ao vice-presidente, Michel Temer, de que não quer mais conflitos no PMDB e nem pretende discutir impeachment com as várias alas da legenda. “Não há mais conversa”, afirma um aliado de Renan. “Agora, ele espera um gesto do Temer para unificar o partido.” Ao contrário de seu vizinho de corredor, Eduardo Cunha, igualmente na mira da Lava Jato, a ordem de Renan é pacificar, em vez de partir para o embate. 


Renan passará os próximos dias entre sua casa de praia de Barra de São Miguel, perto de Maceió, e em Murici, no interior de Alagoas, seu berço político. O refúgio, no entanto, não o afastará das articulações. É comum que políticos façam uma peregrinação até Alagoas para pedir sua bênção. Com o impeachment em suspenso e com eleições à vista, neste janeiro a peregrinação será ainda mais intensa. Renan também conversará com aliados sobre o que se fará em Brasília a partir de fevereiro. Em seu caso, não se trata apenas de estratégia, mas de sobrevivência.

A regra para os líderes e parlamentares mais graduados será a mesma: trabalhar bastante em janeiro – mas, ao contrário de Dilma, sem estratégia de marketing e longe dos holofotes. Se há a desvantagem de cada um estar em um Estado diferente, há a enorme vantagem de haver tempo livre das obrigações regimentais das sessões – além da discrição dos encontros fora de Brasília, longe das atenções. Ninguém acredita que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um workaholic assumido, entusiasta do impeachment e acossado pelo medo de perder o cargo e o mandato devido a seu envolvimento no petrolão e a um processo no Conselho de Ética, passará o mês de férias sem articular com seus aliados

Cunha já planeja como procrastinar ainda mais seu processo no Conselho. Planeja também como a Câmara colocará sob teste as novas regras prescritas pelo Supremo para o impeachment.

Fonte: Revista Época