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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Instituições insultadas

Interesse pessoal leva poderosos a tentarem dificultar a atuação do Estado de Direito

Por:  José Nêumanne - Jornalista, poeta e escritor

A série de insultos às instituições republicanas culminou ontem com o sequestro da Mesa do Senado por uma horda de bandalheirasas senadoras Fátima Bezerra (PT-RN) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM,) à frente para impedir a votação da reforma trabalhista. Ao mandar apagar as luzes do plenário, o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), fez a metáfora típica de membro do baixo clero num cargo do qual não está à altura.

Essa submissão da coisa pública às mesquinhas ambições pessoais da baixa política teve início após o impeachment de Dilma Rousseff (PT-RS), quando seus sequazes percorrerem o Brasil e o mundo a denunciar o “gópi” (da lavra da acima citada Fátima Bezerra), garantindo que a democracia havia sido interrompida por uma intervenção ilegítima. Agora que o governo Temer se assemelha cada vez mais a um zumbi assombrando um Brasil espoliado e intranquilo, os mesmos pregoeiros da desgraça garantem que o eventual substituto provisório e, quem sabe, provável sucessor até 2018, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estaria protagonizando o golpe do golpe. Mas as instituições parecem funcionar e Deus queira que as aparências não nos enganem.

O que não falta desde então, entretanto, são tentativas insidiosas de desmoralizá-las em proveito próprio. O Partido dos Trabalhadores (PT) foi o primeiro a entrar nesse cordão dos “arrasa-instituições”. Defenestrada em processo constitucional normalíssimo, a mineira dos Pampas não perde uma oportunidade de maldizer os Poderes Legislativo e Judiciário, que a depuseram para punir crimes de responsabilidade que ela cometeu, como as famigeradas “pedaladas fiscais”. Sua narrativa da deposição ilícita de uma “presidenta” honesta, sem contas no exterior, pelo vingativo e corrupto inimigo, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que presidia a Casa que a destituiu, com o voto de mais de dois terços do total dos seus membros, correu o mundo para macular o seu afastamento definitivo, satanizando o sistema que a deserdou.

Responsável por sua insensata e inesperada ascensão ao posto máximo da República, o antecessor e padrinho dela, Luiz Inácio Lula da Silva, recorreu a idêntico expediente ao tentar transferir para investigadores, acusadores e julgadores de seus crimes as penas que lhe cabem. Após constatar, em telefonema a um comparsa, que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, seria “ingrato”, incapaz de ser minimamente leal a benfeitores que o promoveram, abusa de ataques insanos ao Ministério Público (MP), à Polícia Federal (PF) e ao juiz federal Sergio Moro, responsáveis pelos cinco processos a que responde. E, dizendo-se vítima de ditadura inexistente, avisou que, se condenado, apelará a Cortes no exterior.

Na guerra de vaidades e por poder nem todos os chefes dessas instituições têm agido de forma incontestável no uso de suas atribuições. Rodrigo Janot, que se jacta de enfrentar, de forma imparcial e sobranceira, os mais poderosos varões nada impolutos da República, escorregou na baba da própria ambição. Em busca de um lugar no pódio da corrida do combate à corrupção, autorizou uma negociação nefasta para o interesse público com os marchantes da família Batista de Anápolis, propiciando-lhes impunidade absurda por sua participação numa ação programada de que a principal vítima foi o presidente da República. A obra-prima dele, a delação premiada de Joesley Batista, seu irmão e seus empregadinhos, resultou num desastre de relações públicas. A troca de 2 mil anos de pena por uma gravação do chefe do governo em flagrante delito [???] empata em desconfiança e impopularidade com a desastrada atuação no comando do Executivo do mais poderoso de seus acusados. Comparar a troca com a “escolha de Sofia”, referência à opção entre dois filhos, salvando um em troca da morte do outro, da protagonista de William Styron, é a metáfora que sai pior do que a tentativa de correção.

A desastrada estratégia do tudo ou nada de Janot terminou por prejudicar muito mais a ação dos procuradores, incluindo os da força-tarefa da Operação Lava Jato, do que todas as tentativas de barrar suas iniciativas feitas pelos suspeitos de corrupção que ocupam cargos de mando na República. Sua sucessora, Raquel Dodge, terá uma missão árdua para corrigir isso, ao mesmo tempo que terá de esgarçar a teia de cumplicidade em que Temer e aliados pretendem enredá-la.

Impossível ainda será deixar o presidente de fora dessa tentativa malfazeja de desmoralizar as instituições da República para tentar safar-se dos próprios erros. Por mais inepta e frágil que seja a peça da acusação da lavra de Janot, que deu entrada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ela tem como núcleo um fato incontestável: o encontro injustificável de Temer com Joesley na calada da noite, no porão do Jaburu, para tratar de assuntos pra lá de suspeitos e da forma mais inconveniente.

Desde que a reunião foi divulgada, a expectativa de delação de ex-parceiros, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o contador Lúcio Funaro, desafia a reputação impecável alegada pelo morador do Jaburu. Nada disso, contudo, viria à baila se ele não tivesse permitido a constatação lógica de que pode ter cometido delitos de corrupção passiva, obstrução à investigação e formação de organização criminosa no único prazo em que não poderia tê-lo feito: os dois anos e meio em que completaria o mandato reduzido de Dilma Rousseff.

Sem fatos que possam socorrê-lo, o presidente contratou seu amigo fiel e conviva semanal Antônio Cláudio Mariz de Oliveira para enxovalhar a reputação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e de um órgão técnico em cuja boa-fé repousam inquéritos criminais da maior relevância, o Instituto Nacional de Criminalística. Mas o Estado de Direito depende do funcionamento de instituições que a defesa de Temer tem enxovalhado para garantir o bom emprego dele.

Fonte: O Estado de S. Paulo


 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

‘Um ato de provocação’, diz advogado de Temer sobre intimação da PF por telefone


Antônio Claudio Mariz de Oliveira afirma que presidente só vai depor no inquérito sobre corrupção por escrito ou perante ministro do Supremo Edson Fachin

A Polícia Federal tentou intimar por telefone, o presidente Michel Temer, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal. Segundo o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, defensor do presidente, uma escrivã da PF o procurou por telefone no fim da manhã comunicando a intimação de Temer.  “Uma escrivã me ligou dizendo que o delegado do inquérito (Josélio Azevedo) havia pedido para marcar uma data para o depoimento do presidente. Eu disse a ela que isso não poderia ocorrer. O presidente será ouvido pelo ministro relator (Edson Fachin) ou responderá as questões por escrito.”, relatou Mariz. “É uma prerrogativa da Presidência da República.”
 
Temer é investigado na Operação Patmos, deflagrada na quinta-feira, 18. O presidente foi gravado numa conversa com o empresário Joesley Batista, acionista da JBS. O próprio Joesley gravou o diálogo com Temer que o recebeu na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu.  O áudio – agora sob o crivo de uma perícia no Instituto Nacional de Criminalística da PF – mostra Joesley narrando a Temer uma série de atos ilícitos, inclusive pagamento de mensalinho a um procurador da República e mesada milionária a Eduardo Cunha, em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara, preso desde outubro na Lava Jato.

A Procuradoria-Geral da República requereu inquérito contra Temer por suspeita
de corrupção passiva, obstrução de investigação e participação em organização criminosa.
“Considero esse ato de ouvir o presidente antes da perícia (do áudio) ficar pronta, logo no início da instauração do inquérito, como um ato verdadeiramente de provocação, absolutamente ilegal, desnecessário, que apenas tenta desestabilizar a ordem institucional”, disse Mariz.

Em petição a Fachin, o criminalista comunicou a tentativa da PF em intimar o presidente. Mais tarde, Mariz foi informado que o ministro determinou que o presidente só poderá ser ouvido depois de concluída a perícia no áudio.  O advogado argumentou que o presidente está à disposição do ministro para depor ou para responder por escrito.

Mariz demonstrou indignação com o fato de a Procuradoria ter escolhido um delegado da PF – Josélio Azevedo – para conduzir o inquérito contra Temer.
“A Polícia Federal é uma instituição de Estado, tem autonomia e, portanto, pode designar qualquer delegado para qualquer tipo de inquérito ou de diligência. É um ato próprio da Polícia Federal, pelos seus meios normais, e não um ato que deva ser tomado ou uma providência que deva ser tomada pela Procuradoria.”
Na avaliação de Mariz, ‘isso é absolutamente inaceitável’.
“Daqui a pouco, a Procuradoria vai escolher o advogado do presidente da República e também o juiz que irá julgá-lo.”
 
Fonte: Blog do Fausto - O Estado de S. Paulo