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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Temer manipula ideia do ‘abuso de autoridade’

Na solenidade de posse da nova procuradora-geral, presidente se coloca ao lado do grupo que manobra no Congresso para conter combate à corrupção
Por mais protocolares que fossem, os discursos feitos na posse da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, seriam lidos nas entrelinhas, devido às circunstâncias. Estava à mesa de honra da solenidade, segunda-feira, além da própria Dodge, é claro, o presidente da República, Michel Temer, denunciado duas vezes pelo antecessor de Dodge, Rodrigo Janot. Sendo que a segunda acusação, já encaminhada ao Supremo, presidido pela ministra Cármen Lúcia, sentada ao lado direito de Temer, será remetida, como a primeira, à Câmara dos Deputados, representada, na mesma mesa, pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Para completar a cena que reuniu personagens centrais do momento político, faltou Rodrigo Janot, ausente com a justificativa de problemas protocolares. Não gostou de ter sido convidado à solenidade de transmissão do seu cargo por um burocrático e-mail.  Pode-se sempre pinçar passagens de discursos, em momentos como este, para interpretações. Dodge omitir a Lava-Jato não indica que a guerra contra a corrupção será suspensa, mas ficou claro, no discurso da nova procuradora-geral, que a pauta da PGR será ampliada, para abranger temáticas como o meio ambiente.

A participação do presidente Temer foi mais substantiva. Ao dizer, quase com todas as letras, que as denúncias contra ele ultrapassam limites legais, e por isso se tratam de um “abuso de autoridade”, Temer confirmou estar ao lado daqueles que no Congresso levantaram esta bandeira para evitar avanços da Lava-Jato: Renan Calheiros, Romero Jucá, Eunício Oliveira, entre outros, muitos do grupo do presidente no PMDB.

A nova procuradora defendeu, e fez bem, o equilíbrio entre os poderes. Mas o que pensam Temer e seu grupo é ir contra a Carta naquilo em que ela estabelece prerrogativas para o Ministério Público. Não gostam do atual equilíbrio entre os poderes, que permitiu a investigação do mensalão e do petrolão, para citar os esquemas de roubalheira na política mais conhecidos, e nos quais a pilhagem de dinheiro do contribuinte foi pluripartidária, da situação e oposição.

Foi elucidativo que o advogado de defesa de Temer, Antônio Claudio Mariz, defendesse no Supremo que a Corte impedisse o MP de denunciar o presidente, diante de um estupefato Marco Aurélio Mello. Afinal, registrou de forma oportuna o ministro, o MP age independentemente do Executivo e do Judiciário. E cabe a este aceitar ou não o mérito das denúncias dos procuradores, mas nunca barrá-los de forma liminar, como gostaria o advogado de Temer e, por suposto, o seu cliente.

A tese do abuso de autoridade para tolher órgãos de investigação do Estado não tem prosperado no Congresso como gostariam. Mas está visível a todos que, independentemente do que aconteça com a segunda denúncia contra Temer, manobras para tolherem o MP continuarão. Mais um problema para Raquel Dodge.

Fonte: Editorial - O Globo

 Clique aqui, para saber que não se trata de conter o Ministério Público e,  sim, colocá-lo sob o domínio da Lei, já que, os eventos mostram que também os procuradores erram.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

‘Um ato de provocação’, diz advogado de Temer sobre intimação da PF por telefone


Antônio Claudio Mariz de Oliveira afirma que presidente só vai depor no inquérito sobre corrupção por escrito ou perante ministro do Supremo Edson Fachin

A Polícia Federal tentou intimar por telefone, o presidente Michel Temer, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal. Segundo o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, defensor do presidente, uma escrivã da PF o procurou por telefone no fim da manhã comunicando a intimação de Temer.  “Uma escrivã me ligou dizendo que o delegado do inquérito (Josélio Azevedo) havia pedido para marcar uma data para o depoimento do presidente. Eu disse a ela que isso não poderia ocorrer. O presidente será ouvido pelo ministro relator (Edson Fachin) ou responderá as questões por escrito.”, relatou Mariz. “É uma prerrogativa da Presidência da República.”
 
Temer é investigado na Operação Patmos, deflagrada na quinta-feira, 18. O presidente foi gravado numa conversa com o empresário Joesley Batista, acionista da JBS. O próprio Joesley gravou o diálogo com Temer que o recebeu na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu.  O áudio – agora sob o crivo de uma perícia no Instituto Nacional de Criminalística da PF – mostra Joesley narrando a Temer uma série de atos ilícitos, inclusive pagamento de mensalinho a um procurador da República e mesada milionária a Eduardo Cunha, em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara, preso desde outubro na Lava Jato.

A Procuradoria-Geral da República requereu inquérito contra Temer por suspeita
de corrupção passiva, obstrução de investigação e participação em organização criminosa.
“Considero esse ato de ouvir o presidente antes da perícia (do áudio) ficar pronta, logo no início da instauração do inquérito, como um ato verdadeiramente de provocação, absolutamente ilegal, desnecessário, que apenas tenta desestabilizar a ordem institucional”, disse Mariz.

Em petição a Fachin, o criminalista comunicou a tentativa da PF em intimar o presidente. Mais tarde, Mariz foi informado que o ministro determinou que o presidente só poderá ser ouvido depois de concluída a perícia no áudio.  O advogado argumentou que o presidente está à disposição do ministro para depor ou para responder por escrito.

Mariz demonstrou indignação com o fato de a Procuradoria ter escolhido um delegado da PF – Josélio Azevedo – para conduzir o inquérito contra Temer.
“A Polícia Federal é uma instituição de Estado, tem autonomia e, portanto, pode designar qualquer delegado para qualquer tipo de inquérito ou de diligência. É um ato próprio da Polícia Federal, pelos seus meios normais, e não um ato que deva ser tomado ou uma providência que deva ser tomada pela Procuradoria.”
Na avaliação de Mariz, ‘isso é absolutamente inaceitável’.
“Daqui a pouco, a Procuradoria vai escolher o advogado do presidente da República e também o juiz que irá julgá-lo.”
 
Fonte: Blog do Fausto - O Estado de S. Paulo