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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

MST: A “não notícia” e o perigo real sob uma falsa retórica

Passado mais de um ano da realização do Jogos Olímpicos Rio 2016, faço um balanço do que vi e do que vejo hoje em dia, do tal celebrado “legado”. Abundam as reportagens sobre o abandono de instalações olímpicas, caos e corrupção na segurança pública do Rio de Janeiro, escândalos dentro e fora do comitê olímpico com a suspeita da compra de votos pelas cidades sede e as denúncias dos casos de doping da equipe russa desde os anos 60 (na época não apenas russa, mas soviética), manchando o espírito olímpico e colocando em cheque a integridade da instituição, seus membros e dos custos de produção do evento. Problemas que mais se parecem com um padrão infinito de geometria fractal ou com a Hidra de Lerna: corta-se uma cabeça, surgem duas novas em seu lugar. 

Acampamento ou manifestação do MST = movimento social terrorista = maior concentração de bandidos por metro quadrado;
Nos governos Lula e Dilma eram apoiados, já Temer optou por mantê-los sem grande apoio quando o correto, o melhor para o Brasil é eliminá-los.

A mídia, principalmente a chamada mainstream, se farta e ordenha o quanto pode cada um dos tópicos acima. Minha indignação e estranhamento hoje em dia, como cidadão já anestesiado com tanta desgraça, vem não do que é noticiado, mas do que não o é.
Trabalhei durante o Revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016, percorrendo o Brasil inteiro em uma caravana gigante com diferentes equipes dedicadas ao sucesso da missão de levar o fogo olímpico aos quatro cantos do país. Missão cumprida (e comprida!) e a tocha foi entregue sem nunca ter sido apagada, apesar das inúmeras tentativas em vários protestos ao longo da jornada. À noite, as equipes se encontravam durante o jantar, geralmente nos próprios hotéis onde estávamos hospedados. Era um momento de congraçamento e também de assistir os telejornais, arrancando gritos, gargalhadas e aplausos quando um de nós era flagrado nas matérias jornalísticas transmitidas para todo o Brasil e o mundo. Os meios de comunicação, dependendo de sua vertente política (declarada ou não), davam a ênfase que lhes convinham ao evento, muitos apoiando, outros detratando a passagem da tocha que indiscutivelmente despertava emoções variadas por onde percorreu.

Além das inúmeras amizades que se sedimentaram ou nasceram dentro das equipes que compunham o comboio (Patrocinadores, Cerimônias Cariocas, Polícias Militares Estaduais, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal, etc), ou das belezas naturais já alardeadas desde Pero Vaz de Caminha, algo que saltou aos olhos de vários companheiros de viagem foi a presença do MST – Movimento dos Sem-Terra – por todo o Brasil. Bandeiras vermelhas, algumas novas em folha, outras muitas vezes improvisadas com um pedaço de pau e camisetas velhas do MST, eram avistadas na beira da estrada. Gradualmente o número de bandeiras se intensificava, um sinal de que poucos quilômetros à frente havia algum acampamento.

O comboio passou por inúmeros acampamentos, todos praticamente vazios, invariavelmente com apenas dois ou três homens conversando entre si (nunca vi mulheres, crianças ou animais). Todos os acampamentos, pelo menos os que pude ver, têm uma disposição peculiar: não avançam mais que algo em torno de cinquenta metros adentro dos terrenos em que se encontram, sendo a aparente preferência deles construí-los ao longo de rodovias, margeando os dois lados da mesma por cinquenta, duzentos, trezentos metros, dependendo do tamanho do acampamento. Barracos, paupérrimos, muitas vezes feitos de lona e papelão, suscitavam comentários entristecidos em nossos veículos e nos rádios do comboio sobre as condições precárias em que era possível se viver, e sobre como isso é admissível em um país rico como o Brasil. Muitas vezes, a expressão no olhar de nossos companheiros de viagem e o silêncio dentro de nossos carros, micro-ônibus e caminhões era mais perturbador que qualquer comentário. O cenário era desolador, similar ou pior aos documentados em fotos e filmes da crise de 1929 ou da Segunda Guerra Mundial. O único fato que destoava da paisagem eram uma ou duas pick-ups razoavelmente novas (Hylux, Amarok e similares) frequentemente, mas não sempre, estacionadas em uma das extremidades dos acampamentos. Talvez de alguma forma as pick-ups fossem o ganha-pão deles. Ou como transportavam as pessoas, mesmo sendo uma infração no Código Nacional de Trânsito transportar pessoas em uma caçamba aberta, “quem liga para ‘pontos na carteira’ ou uma multa quando o que se está em jogo é a sobrevivência?” – ponderei.

Percorríamos quatro, cinco, seis cidades por dia em uma jornada que começava às 5 da manhã e se estendia por até dezoito horas. Muita adrenalina, mas muito cansaço. Ou melhor, muito cansaço, mas mais adrenalina ainda. Ao passar pelas primeiras cidades perto de acampamentos, muitas vezes indagávamos sobre os integrantes do MST. Afinal de contas, onde estavam aquelas pessoas sofridas que até então só conhecíamos pelo filtro da mídia? Mesmo na correria (literal) da tocha entrando e saindo das cidades, patrocinadores distribuindo brindes para a população que prestigiava o evento e nós de olho no GPS e no relógio, a curiosidade era grande e muitas vezes insistíamos para descobrir se estavam trabalhando em alguma fazenda que havia sido invadida. A resposta típica era uma risadinha, seguida de uma coçadinha na cabeça e desconversavam. Quando tive a sorte de encontrar alguém mais disposto a falar sobre o assunto rapidamente “aprendemos” que o termo certo não era “invadida” e sim “ocupada”. “É que falar ‘invadida’ pega mal, né?” – nas palavras do próprio homem. 

Revelou ainda, sem se aguentar e em meio a risadas, com uma inocência Mazzaropiana de um verdadeiro Jeca Tatu: “Ô, seus bobo [sic]! Aquilo lá é igual PROJAC, é tudo falso. Esse povo mora tudo [sic] no IBIS (cadeia de hotéis).” E continuou: “Dia de protesto, passa o ‘coordenador do protesto’ com alguns ônibus aqui, dá vinte ou trinta reais para cada um e a ordem é fechar a estrada até mandar parar [sic]”. Para quem não conhece a sigla, o PROJAC era o nome dado aos estúdios da Rede Globo de Televisão, onde são construídas cidades cenográficas. Não posso afirmar se o que foi dito é verdade ou não, mas posso afirmar que, a naturalidade daquele homem humilde descrevendo a situação era tão grande que a cara de duas gurias da equipe da tocha olímpica foi ao chão. Se aquilo era um teatro, sabe-se lá por que razão, o Jeca Tatu da vida real era tão convincente que colocaria Fernanda Montenegro ou Antônio Fagundes no chinelo na arte de representar.

A viagem continuou e as relações se estreitaram. Os homens e mulheres de uniforme das forças policiais tornaram-se amigos e revelaram-se bem mais humanos do que são retratados na maioria das coberturas jornalísticas. Durante as refeições, todas realizadas em grupo, ou reunidos para uma merecida cerveja após nosso extenuante expediente, ouvíamos suas aventuras, muitas perigosas, outras inusitadas e engraçadas. Ao passarmos por estados que fazem fronteira com os países vizinhos, o assunto envolvendo casos de tráfico de drogas e armas era recorrente. Além dos relatos policiais, a impressão que nossas fronteiras são mais furadas que um queijo suíço se confirmou na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu, no Brasil, à Ciudad del Este, no Paraguai. Vários integrantes de nossa caravana olímpica se animaram a fazer compras e, dentre eletrônicos, perfumes e equipamento esportivo, alguns relatos de amigos me chamaram a atenção, quando mencionaram a facilidade em se adquirir armas de fogo, munição e acessórios bélicos. O que chocou os amigos, que creio eu não terem comprado nada do tipo, foi a ausência absoluta da exigência de documentação ou pré-requisitos para adquirir uma arma de fogo no país vizinho, bem como do trânsito livre sem a exigência de qualquer documento para deixar ou sair do país.  

A verdade é uma só: seria impossível, com base nos recursos e contingente observados na região e descritos pelos colegas de farda, revistar todos os veículos que atravessam a ponte. A pá de cal em qualquer ilusão de controle da entrada de armas no Brasil reside no fato dos próprios comerciantes do Paraguai oferecerem a “comodidade” de entregar armas, munições e acessórios no endereço do comprador, geralmente hotéis em Foz do Iguaçu. Dessa forma, o comprador não corre o risco, se é que há algum, de ser pego atravessando a fronteira e ser enquadrado como traficante internacional de armas de acordo com o Código Penal brasileiro.

Após tomar conhecimento do fato, averiguei junto a colegas das Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal se eles tinham conhecimento de tal situação. A resposta, além de afirmativa, foi mais longe. Relatos e intercâmbio entre as inteligências das polícias facilitados atualmente pelas redes sociais e aplicativos de mensagens como o whatsapp, indicam que caminhões com contrabando de madeira, motosserras, drogas, armas e munições entrando e saindo do Brasil são muito frequentes, e é impossível prever o volume do tráfico ilegal que tem sucesso com base no que é apreendido. Para cada caminhão apreendido com contrabando ilegal, quantos outros passam pelos postos de controle alfandegário ou da Polícia Rodoviária Federal sem serem sequer parados? 10? 
100? 1000? 

Sabe-se, entretanto, que muitos caminhões com armas e drogas apreendidos tinham como destino acampamentos do MST. A aquisição e a posse de armas são, em termos práticos, proibidas no Brasil. Pode-se dizer, munido de malabarismo retórico, que não são “proibidas”, mas “proibitivas”. Ou seja, são acessíveis a quem é “amigo do Rei-Estado” que emite (ou não) as autorizações exigidas pela lei, e ainda deve-se ter recursos financeiros para pagar pela burocracia e pelo equipamento (arma e munição) em si, que por ser rara, é cara. A outra opção é a de quem se propõe a andar à margem da lei, seja tal indivíduo um bandido com óbvias intenções criminosas ou um pai de família, disposto a proteger sua família e propriedade, ainda que marginalizado pela lei.

O MST tem acampamentos estrategicamente posicionados como peças de xadrez por todo o Brasil, e por algumas vezes foi citado por lideranças políticas como sendo um “exército”. Qualquer site de buscas apontará matérias divulgadas na mídia com as palavras-chave “contrabando”, “armas” e “drogas” orbitando o MST. Contrabando é uma violação da lei. Drogas também, e convertem-se em dinheiro. Armas traduzem-se em poder. Uma tríade perigosa e nociva à sociedade.

Como diz o famoso adágio: Ter cérebro é obrigatório, usá-lo é opcional.  Convido-os à uma reflexão com base no que vi e no relato de amigos e do “povo de verdade”, não de pessoas fictícias que o marketing ou a mídia em geral, salvo raras exceções, colocam diante de vossos olhos. 2018 já bate à porta e a temperatura social e política tende a subir, e muito, com as eleições gerais. Meu legado olímpico foi o de retirar uma venda que me impedia de ver a realidade, ou ao menos um recorte dela, sem intermediários. Se tu, caro leitor, acompanhastes até aqui essa mera exposição de fatos que mais se parece um quadro surrealista de Dali com pitadas rodriguianas de um “Óbvio  Ululante” mais contemporâneo que nunca, pergunto: a chama olímpica se apagou ao término dos jogos, como é de praxe, mas pode-se ignorar que o MST – Movimento dos Sem-Terra, em tese, pode ter o contingente e o poderio bélico para “colocar fogo” em todo o Brasil?
O MST e principalmente seus dirigentes são a “não-notícia” que só ganha o noticiário quando já é tarde demais para alguns. Ruim será quando for tarde demais para todos.
Esperemos o melhor, mas preparemo-nos para o pior.

Marcos Whittaker - Editoria MSM


domingo, 10 de julho de 2016

Este não foi a Lei Rouanet que pagou

Casamento ostentação: este não foi a Lei Rouanet que pagou

O goiano Djalma Rezende, noivo do casamento que custou 8 milhões de reais, nasceu na roça e era chamado de Jeca Tatu na escola. Transformou-se no advogado número 1 das multimilionárias causas agrárias e, mais recentemente, em protagonista de um vídeo ostentação que virou hit na internet

Quando o advogado Djalma Rezende estacionou sua Ferrari vermelha com o capô aberto em frente ao salão em Goiânia onde 1 200 pessoas o aguardavam, dois drones já sobrevoavam o carro. Convidados e fotógrafos se aglomeraram em torno dele. Diante da plateia, dos drones e dos flashes, Djalma acionou o mecanismo que faz a parte traseira da Ferrari abrir-se e liberar a capota do conversível, que deslizou suavemente para baixo: zzzzzzzip, zzzzzzip, clique. Breve silêncio. Aplausos ruidosos. 
 Vídeo: "Save The Date" casamento Djalma Pereira de Rezende e Priscila Maura de Carvalho 

O noivo, então, desembarcou do carro sorrindo, com os dentes branquíssimos e um lírio na lapela do terno Armani - feliz da vida (e mais feliz ainda estaria se pudesse ter estacionado a Ferrari DENTRO do salão, como era seu desejo, gentilmente desestimulado pelo cerimonialista de Brasília que ele contratou). Djalma Rezende, 62 anos, goiano, especialista em multimilionárias causas agrárias, casou-se no último dia 1º com Priscila Maura de Carvalho, 24 anos, goiana, bacharel em direito, numa festa que custou os olhos da cara e virou assunto nas redes sociais mesmo antes de acontecer, graças a um vídeo que caiu na internet e do qual se falará aqui mais adiante. Antes, uma descrição do casamento, superlativo em cifras, brilhos e repercussão.

Os padrinhos foram 48, alguns trazidos por um dos três jatos que o noivo pôs à disposição dos convidados de outros estados. A noiva, com seu véu de 8 metros de comprimento, entrou com uma tiara de diamantes e um vestido bordado com fios de pérolas. No salão de festas, decorado com 20 000 orquídeas, 93 lustres (incluindo dez Baccarats) e teto coberto por 3 000 metros de tecido que reproduziam os afrescos do Castelo Real de Versalhes (a noiva queria uma "decoração palaciana"), foram servidas 960 garrafas de champanhe Veuve Clicquot, 300 de uísque Royal Salute 21 anos e 380 de vinho Brunello Barbi DOCG, safra 2004 (os padrinhos tiveram direito a seis garrafas de Château Petrus - safras 1974 e 1979).

De Brasília, vieram 257 garçons e um jantar pantagruélico, que, se não primou pela unidade, tampouco pela coerência, impressionou pelo ecletismo. Foram servidos bacalhau, bobó de camarão, ravióli, filé com risoto de funghi, lagosta à thermidor, ragu de cordeiro, rosbife, torta de salmão, ossobuco, codorna recheada, sushi, temaki, caviar e nhoque. De sobremesa, um bolo de 2,5 metros de altura (preço já com desconto pelo pagamento à vista: 40 000 reais), 12 000 docinhos vindos de São Paulo e Brasília e shows de Tiago Abravanel e Anitta. Pelo casamento ostentação, Djalma foi elogiadíssimo - e apanhou muitíssimo também.

O advogado nasceu na zona rural de Mineiros, no interior de Goiás, e foi alfabetizado pela mãe, já que a escola mais próxima ficava a 50 quilômetros do sítio onde morava com os pais e cinco irmãos. Quando entrou numa sala de aula pela primeira vez, já tinha 12 anos. Era grande, desengonçado e falava com sotaque da roça, o que fez com que os colegas o apelidassem de Jeca Tatu. Apesar de estudar de manhã e trabalhar no resto do dia como oleiro e carvoeiro (foi também engraxate e servente de pedreiro), sempre passou de ano em primeiro lugar, no que o ajudou a memória extraordinária, que, colegas garantem, faz com seja capaz de citar de cor o número das páginas em que estão trechos importantes de processos.

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