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domingo, 31 de dezembro de 2023

Intolerância religiosa - A perseguição extrema de cristãos na Nigéria, um grito silenciado por liberdade religiosa

Vozes - Gazeta do Povo

Crônicas de um Estado laico

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.| Foto: Samuel Alabi/EFE/EPA

Há uma crença equivocada segundo a qual apenas minorias podem ser alvo de perseguição, uma lógica que desconsidera a perseguição religiosa, especialmente contra cristãos, um povo pacífico por sua própria teologia. Além da perseguição educada que atinge os cristãos, como o cancelamento e a mordaça, tão presentes atualmente no Brasil e denunciadas nesta coluna, ocorrem também lamentáveis episódios de perseguição extrema em diversas partes do mundo, destacando-se o caso da Nigéria.

A perseguição religiosa extrema na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo. 
Com uma população de pouco mais de 200 milhões – semelhante, portanto, à do Brasil – dos quais 100,5 milhões são cristãos, a Nigéria subiu da nona para a sexta posição na lista dos 50 países onde os cristãos enfrentam maior perseguição nos últimos dois anos, de acordo com os dados fornecidos pelo Portas Abertas.
No mais recente capítulo dessa tragédia, ocorrido durante as celebrações natalinas entre os dias 23 e 25 de dezembro, grupos islâmicos atacaram pelo menos 20 aldeias cristãs no estado de Plateau. 
Enquanto o mundo celebrava o nascimento de Jesus Cristo, nossos irmãos nigerianos foram brutalmente massacrados por causa de sua fé. Segundo relatório da ONG nigeriana Intersociety, mais de 40 mil cristãos foram mortos nos últimos anos por causa de sua fé, enquanto 18,5 mil cristãos desapareceram permanentemente. 
Além disso, 17,5 mil igrejas foram atacadas e 2 mil escolas cristãs foram destruídas. 
Nesse contexto, 6 milhões de cristãos foram forçados a fugir do país, e 4 milhões são deslocados internos.


    A perseguição religiosa extrema de islâmicos contra cristãos na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo

Na situação ocorrida neste Natal, os relatos de cristãos residentes na Nigéria revelam que os ataques resultaram na morte de 160 pessoas e deixaram mais de 300 feridos, muitos dos quais foram encaminhados para tratamento em hospitais. 
Entre as vítimas, predominam mulheres, crianças e idosos, grupos vulneráveis que enfrentam maiores dificuldades para escapar desses ataques brutais. 
A organização Portas Abertas aponta que a perseguição extrema enfrentada pelos cristãos na Nigéria está relacionada a uma agenda organizada de islamização forçada, que tem se intensificado ao longo dos anos. Desde a adoção da sharia, em 1999, essa islamização, utilizando meios tanto violentos quanto não violentos, agravou-se, com ataques de grupos militantes islâmicos aumentando desde 2015. 
Boko Haram e ISWAP são alguns dos grupos liderando essas ações violentas, resultando em mortes, danos físicos, sequestros e violência sexual, impactando principalmente os cristãos. 
Nos estados onde a sharia foi implementada, os cristãos enfrentam discriminação e exclusão, enquanto os convertidos enfrentam rejeição familiar e pressões para abandonar o cristianismo, muitas vezes acompanhadas de violência física.
 
O contexto à luz dos direitos humanos universais
Neste contexto, é imperativo recordar os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
A perseguição religiosa, tanto extremada quanto educada, viola diretamente o artigo 18, que proclama o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião.  
No mesmo artigo, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos garante o direito de ter, manter e mudar de crença, bem como de exercê-la, enquanto o artigo 12 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos traz a mesma garantia.

Em nossa obra Liberdade Religiosa: 
- fundamentos teóricos para proteção e exercício da crença, defendemos que a liberdade religiosa ordena e estrutura o próprio sistema político em que se encontra: 
1. garantindo o pluralismo de ideias emanado de um ecossistema variado de crenças, fundamento de qualquer democracia plural e inclusiva; 
2. é um princípio de organização social e de configuração política, porque contém uma ideia de Estado oriunda da cosmovisão e dos sistemas de valores das confissões religiosas; 
3. potencializa o exercício e o gozo dos direitos civis e políticos. A pessoa religiosa que possui os âmbitos de sua crença e o exercício protegidos exerce os direitos civis e políticos com a tranquilidade de que aquilo que é mais sagrado não será tolhido nem violado pelo Estado; e 
4. é a pedra nodal do sistema de liberdades, visto que, se o ser humano tem negado pelo Estado seu direito mais íntimo de crer e de exercer sua crença, todas as outras liberdades serão prejudicadas, seja diretamente pelo Estado, seja pela aniquilação da autonomia da vontade da pessoa religiosa de exercê-los.

Assim, a defesa da liberdade religiosa é um dos pilares fundamentais para quem pretende proteger a dignidade e os direitos humanos. A liberdade religiosa é a base para a construção de sociedades pluralistas e inclusivas, onde a diversidade de crenças não é apenas tolerada, mas valorizada como um componente enriquecedor do tecido social.

Situações como a vivenciada pelos nigerianos devem ser enfrentadas pelas Nações Unidas e por todas as entidades que atuam com direitos humanos, e devem ser denunciadas pela mídia internacional – aliás, alguém viu alguma matéria de jornalões do eixo Rio-São Paulo sobre os ataques? 
Reportagens sobre a necessidade de um olhar eficaz das Nações Unidas sobre a Faixa de Gaza são constantes, enquanto denúncias em face da política de apartheid contra os cristãos na Nigéria e em outros países dominados pelo Islã, assim como as perseguições que ocorrem em regimes totalitários como Coreia do Norte e China, passam incólumes.

A União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos e o Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) emitiram importante nota denunciando esse lamentável fato ocorrido na Nigéria, conclamando todos à oração pelos cristãos que vivem em situações de perseguição extremada e “para que a comunidade internacional, bem como o governo brasileiro, tenha uma posição firme contra a perseguição religiosa ocorrida na Nigéria e em qualquer outro país do mundo, adotando medidas eficazes para rechaçar qualquer discriminação e perseguição aos cristãos e pessoas de qualquer religião que querem apenas viver suas vidas em paz, seguindo suas doutrinas religiosas e adorando a Deus”.

Diante dessa realidade, é urgente que a comunidade internacional se una em solidariedade e aja para proteger a liberdade religiosa, promovendo um mundo onde a crença de cada um seja respeitada e celebrada como um elemento vital da riqueza cultural da humanidade. 
Os autores dessa coluna reforçam seu compromisso em denunciar essas atrocidades, clamar por justiça e promover a liberdade religiosa como um direito humano fundamental. 
Que a luz da solidariedade ilumine o caminho daqueles que enfrentam a escuridão da perseguição, e que a esperança prevaleça sobre a intolerância, construindo um futuro em que todos possam viver e adorar livremente, sem temer pela própria fé.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Thiago Rafael Vieira,
colunista  Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 21 de agosto de 2021

Enfim, a crise - Alon Feuerwerker

Análise Política

A palavra “crise” vem sendo vulgarizada há décadas entre nós, a ponto de a psique nacional ter normalizado a sensação de estarmos sempre em crise. O que costuma ser exagero retórico. Mas desta vez parece que vamos para uma crise mesmo, pois esboça-se um cenário inédito nos últimos quase sessenta anos: não há consenso sobre o método e as circunstâncias que vão decidir a luta pelo Planalto.

A aceitação consensual das normas que orientam e regulamentam a alternância no governo é talvez o pilar fundamental da paz política em regimes como o nosso. Ou seja, se os jogadores e os times não estão de acordo sobre as regras, ou sobre quem pode jogar ou não, é difícil o jogo acabar bem. Não é obrigatório que acabe mal, mas a chance é grande. Exatamente a situação agora do processo político brasileiro, a caminho da desestabilização.

A existência desse consenso fez o edifício resistir com certa estabilidade ao impeachment de Fernando Collor. Aí vieram Itamar Franco, que não podia se candidatar à reeleição, e em seguida dois nomes do “mainstream”, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Que resistiram às turbulências também por aceitar um fato: o poder não é um espaço vazio à espera do vencedor da eleição, é um prédio ocupado que troca de zelador.

Essa realidade não havia sido respeitada por Collor, nem foi em boa medida por Dilma Rousseff. Nem na largada por Jair Bolsonaro. Não significa que ele vá ter o destino dos dois, pois fez ajustes a tempo e conta, até o momento, com proteções que certa hora faltaram a ambos. Por exemplo a presidência e a maioria da Câmara dos Deputados (onde começam os impeachments), e apoio militar. E a crise agora escalou quando falta pouco para a eleição.

Este último aspecto deveria, teoricamente, oferecer a possibilidade de uma desanuviada no ambiente, e fazer os políticos voltarem-se para a preparação da disputa eleitoral. Costuma funcionar como válvula de escape. E por que não está funcionando agora? Precisamente porque falta o acordo essencial de que todos disputarão, e com as regras de agora, e quem tiver mais votos assume a cadeira no Palácio do Planalto em janeiro de 2023. [esse 'detalhe' que foi esquecido pelos inimigos do Brasil é que atrapalha e cria a crise, já que pela vontade deles já teria sido desrespeitado em 2018 - por eles, o capitão seria impedido antes de tomar posse.]

Daí que a política esteja enredada num novelo de difícil desembaraço. Hoje, Bolsonaro iria ao segundo turno e perderia de Lula.[sic]  E a chamada terceira via teria os cerca de 20% que Marina Silva teve em 2010 e 2014, exatamente por ser a única “terceira via”. Num país mais próximo da normalidade, os insatisfeitos com esse cenário estariam cuidando de buscar alianças e de fixar imagens programáticas favoráveis. Não no Brasil de 2021.

Um novo impedimento de Lula tornou-se possibilidade remotíssima, após as decisões do Supremo Tribunal Federal a respeito. [o petista, caso se candidate, será impedido pelo POVO, da mesma forma que Dilma foi. O ministro Lewandowski em criativa interpretação adaptou o 'impeachment' da engarrafadora de vento, de modo que ela se candidatou ao Senado, por Minas, em 2018. Só que o eleitor mineiro, sabiamente, corrigiu a suprema interpretação e Dilma perdeu = cassada por falta de votos.] Resta, portanto, hoje, uma vaga na decisão. Bolsonaro, enfraquecido pelos erros na condução da pandemia, mas ainda apoiado por um terço, resiste ao cerco, alimentando, por convicção ou conveniência, dúvidas sobre a higidez do processo eleitoral. Se perder mesmo a eleição, parece visualizar aí uma trincheira de resistência.

Entre os adversários, o PT e Lula começam a se movimentar, nos périplos e nas alianças. Na esquerda, o grande problema é que falta muito tempo para as urnas, mas se até lá nada mudar estará tudo bem [só que vai mudar e com ventos favoráveis ao nosso presidente Bolsonaro.]. O difícil é nada mudar até lá, pois todos estão vendo o mesmo jogo.

Já para a terceira via é imperioso criar um fato novo, que lipoaspire ou impeça um dos dois favoritos. E quem está agora na situação mais vulnerável é Bolsonaro. Que, como se sabe, talvez tenha cometido um equívoco complicado, na política e na guerra: errar na identificação do inimigo principal, e também no diagnóstico de onde vai vir o ataque mais perigoso. Pois ele está vindo, como era previsível e foi previsto, exatamente dos companheiros de viagem no auge da glória da Lava Jato, das jornadas de rua pela derrubada de Dilma e das decisões estratégicas na eleição de 2018.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


segunda-feira, 10 de maio de 2021

O Brasil que a imprensa não vê - Revista Oeste

Silvio Navarro

A mídia tradicional ignora os brasileiros nacionalistas que estão descontentes com o STF, condenam o discurso pró-lockdown e querem voltar ao trabalho 

Ao longo de décadas pelo mundo, o feriado de 1º de Maio, batizado de Dia do Trabalhador, originário de um movimento nos Estados Unidos pela redução da jornada diária de trabalho — eight-hour day with no cut in pay (diária de oito horas sem redução no pagamento) —, foi apropriado pela esquerda como uma data para promover manifestações nas ruas. 

No Brasil, durante os anos do PT no poder, os atos se transformaram em verdadeiras festas que custavam milhões de reais, com shows populares e distribuição de prêmios. Os atos da Força Sindical e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras centrais, ficaram famosos pelos comícios de políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, o Psol que nascia e os demais satélites. Em 2009, por exemplo, ano pré-eleitoral para Dilma Rousseff, a tradicional Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da capital paulista, foi palco do sorteio de 20 carros para a plateia, intercalados com uma geladeira ou tevê de 42 polegadas. Do outro lado da cidade, na zona sul, a CUT oferecia tratamentos de limpeza de pele, massagens e cortes de cabelo.

O ano agora é 2021 e algo mudou nas esquinas do país. À míngua desde o fim do chamado imposto sindical, sem dinheiro público para bancar eventos de grande porte nem poder de barganha nas máquinas governamentais tanto a federal quanto a dos principais Estados —, as centrais sindicais não reúnem mais ninguém. Do outro lado, no último fim de semana, mesmo com as restrições impostas por governadores e prefeitos, uma multidão resgatou as camisas verde-amarelas das gavetas para protestar contra as medidas arbitrárias de lockdowns e seus sinônimos, respaldadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). As passeatas, especialmente as maiores concentrações na Avenida Paulista (São Paulo), em Copacabana (Rio de Janeiro) e na Esplanada dos Ministérios (Brasília), apoiaram o presidente Jair Bolsonaro, crítico do confinamento e das portas fechadas no comércio.

“Historicamente, essa data pertencia à esquerda. De repente, por fortes motivos, o povo toma as ruas pedindo o direito de trabalhar, e tudo isso é muito simbólico. O STF desautorizou o presidente a agir na pandemia e, nas manifestações, o povo disse em massa: ‘Eu autorizo'”, afirma a deputada Carla Zambelli (PSL), ligada ao movimento Nas Ruas, que promoveu atos no último sábado, dia 1º.

O presidente ainda citou cenas ocorridas em diferentes cidades de pessoas que terminaram algemadas e detidas por se recusarem a deixar áreas públicas ao ar livre, como praças e  praias. “Estamos assistindo a cenas de pessoas serem presas em praça pública, mulheres sendo algemadas e ninguém fala nada, a nossa imprensa. Cadê os meios de comunicação e não colaborar para denunciar isso? […] Por que a imprensa trabalha 24 horas por dia? Fica em casa também.”

Para além do poder da caneta para assinar ou não um decreto desse tipo e as implicações políticas e jurídicas que isso causaria, num ponto o presidente tem inequívoca razão: obstinada em manter sua cruzada contra o Palácio do Planalto, a imprensa tradicional não só tenta camuflar as arbitrariedades e a truculência empregada em nome da pandemia, como fingiu que não viu as passeatas de 1º de Maio — os raros editoriais ou articulistas que as citaram falaram em “manifestações a favor do vírus”, “fascistas” em defesa do “genocida” e de um golpe militar.

A pecha de “gado bolsonarista”, aliás, é a favorita dos haters na internet e nas colunas da própria imprensa. Nesta semana, o cantor sertanejo Eduardo Costa comentou em entrevista à rádio Jovem Pan: “O que chateia, inclusive por jornalistas que têm lado, é achar que nós sertanejos somos burros porque estamos no interior do Brasil, não estudamos, então eles olham para a gente e [sic] ‘nos tiram’ de babacas e sem cultura”.

Também nesta semana, Bolsonaro apontou o alcance de suas contas nas redes sociais como contraponto à artilharia do mainstream. “A população precisa ter informações de verdade na ponta da linha, saber o que acontece por intermédio das mídias sociais, que têm um papel excepcional no Brasil e, inclusive, na minha eleição. O meu marqueteiro não ganhou milhões de dólares fora do Brasil. O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá do Rio de Janeiro. É o Tercio Arnaud [assessor especial da Presidência], aqui que trabalha comigo, é o Matheus [José Matheus Sales Gomes, também assessor].”

Terceira via
Em meio ao silêncio diante das manifestações democráticas que voltaram às ruas — há ainda a possibilidade de atos de caminhoneiros e do setor agrícola a favor do presidente neste mês e circulam na redes sociais diversos vídeos de convocações —, a mídia tenta desde janeiro de 2019 dar musculatura a uma candidatura capaz de impedir a reeleição de Bolsonaro. [presidente Bolsonaro, somos seus apoiadores, mas antes de tudo somos BRASIL e não entendemos conveniente que manifestações,inclusive envolvendo pessoas sem compromisso com o Brasil (ninguém esqueceu os danos causados ao Brasil e aos brasileiros, especialmente aos menos favorecidos, pelos caminhoneiros em sua última greve, lock-out, paralisação ou como chamem.]
O presidente da República tem o DEVER de se manter longe de manifestações ou atos do gênero - na época oportuna, a dos comícios, sendo o presidente Bolsonaro candidato à reeleição, tem o direito de participar, mas sem se misturar  aos candidatos de araque, os escalados para perder. A LITURGIA do cargo antes de tudo, capitão.
Sua condição de neutro, tendo em conta ser o responsável primeiro, se necessário,  pela execução de atos de manutenção da ORDEM PÚBLICA precisa ser preservada.]
A lista de nomes já percorreu todos os caminhos da esquerda ao centro, com malabarismos que testaram até apresentadores de televisão, humoristas e youtubers.[os testadores esqueceram que o objetivo é eventuais candidaturas ao cargo de Presidente da República Federativa do Brasil e não a  artistas de circo mambembe.
Esqueceram que só o capitão tem as condições necessárias de reverter, inclusive no voto,  os efeitos da suprema tentativa de reviver,politicmaente, o petista.]

O fato é que nem o PSDB nem o Novo, por exemplo, conseguiram produzir um candidato que avançasse sobre o eleitorado conservador de Bolsonaro nem herdasse o que seria o espólio lulista até que o STF mudasse as regras do jogo e recolocasse o próprio petista no páreo. Foi assim com os governadores João Doria (SP), Eduardo Leite (RS), o senador Tasso Jereissati (chamado de “Joe Biden brasileiro” por um importante jornal paulista) e João Amoêdo (Novo). Somado a isso, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro submergiu na cena política — o que inclui um duro revés no mesmo Supremo —, arrumou um emprego rentável e dá sinais de que esse tende a ser mesmo seu caminho.

“Não acredito em terceira via. É uma posição política semelhante ao centrismo, que tenta conciliar duas visões antagônicas: direita e esquerda; uma estratégia criada dentro de movimentos progressistas. Esse divórcio entre o que a imprensa apresenta e a realidade das ruas, os cidadãos experimentam desde o início da pandemia”, avalia Roberto Motta, ex-conselheiro do Banco Mundial e fundador do Novo — hoje crítico dos rumos que a legenda tomou.

Motta cita, por exemplo, a abordagem dada pelos mesmos veículos de comunicação sobre protestos promovidos pelo grupo radical Black Lives Matter em Washington. Em suma, o duplo padrão: atos do Black Lives Matter não causaram disseminação da covid; já os atos pró-Bolsonaro devem provocar alta de casos da doença.

A jogada mais recente de setores da imprensa foi tentar apresentar Ciro Gomes, do PDT, agora turbinado pelo marqueteiro do Petrolão, João Santana, com uma nova roupagem — alguém de centro-esquerda com envergadura para furar o duelo entre Lula e Bolsonaro. Na prática, trata-se de uma jogada que beira o desespero pela escassez de alternativas contra o correr do calendário. Caso ela não se viabilize, é enorme a probabilidade de que Lula será mesmo o destino final para a mídia tradicional — e alguns jornalistas já vislumbraram isso e anteciparam a guinada num revisionismo histórico para os crimes cometidos pelo petista. Tudo indica que 2022 poderá ser mais uma corrida polarizada entre o candidato das ruas e o das manchetes. 

Silvio Navarro, editorial - Revista Oeste

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

MST: A “não notícia” e o perigo real sob uma falsa retórica

Passado mais de um ano da realização do Jogos Olímpicos Rio 2016, faço um balanço do que vi e do que vejo hoje em dia, do tal celebrado “legado”. Abundam as reportagens sobre o abandono de instalações olímpicas, caos e corrupção na segurança pública do Rio de Janeiro, escândalos dentro e fora do comitê olímpico com a suspeita da compra de votos pelas cidades sede e as denúncias dos casos de doping da equipe russa desde os anos 60 (na época não apenas russa, mas soviética), manchando o espírito olímpico e colocando em cheque a integridade da instituição, seus membros e dos custos de produção do evento. Problemas que mais se parecem com um padrão infinito de geometria fractal ou com a Hidra de Lerna: corta-se uma cabeça, surgem duas novas em seu lugar. 

Acampamento ou manifestação do MST = movimento social terrorista = maior concentração de bandidos por metro quadrado;
Nos governos Lula e Dilma eram apoiados, já Temer optou por mantê-los sem grande apoio quando o correto, o melhor para o Brasil é eliminá-los.

A mídia, principalmente a chamada mainstream, se farta e ordenha o quanto pode cada um dos tópicos acima. Minha indignação e estranhamento hoje em dia, como cidadão já anestesiado com tanta desgraça, vem não do que é noticiado, mas do que não o é.
Trabalhei durante o Revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016, percorrendo o Brasil inteiro em uma caravana gigante com diferentes equipes dedicadas ao sucesso da missão de levar o fogo olímpico aos quatro cantos do país. Missão cumprida (e comprida!) e a tocha foi entregue sem nunca ter sido apagada, apesar das inúmeras tentativas em vários protestos ao longo da jornada. À noite, as equipes se encontravam durante o jantar, geralmente nos próprios hotéis onde estávamos hospedados. Era um momento de congraçamento e também de assistir os telejornais, arrancando gritos, gargalhadas e aplausos quando um de nós era flagrado nas matérias jornalísticas transmitidas para todo o Brasil e o mundo. Os meios de comunicação, dependendo de sua vertente política (declarada ou não), davam a ênfase que lhes convinham ao evento, muitos apoiando, outros detratando a passagem da tocha que indiscutivelmente despertava emoções variadas por onde percorreu.

Além das inúmeras amizades que se sedimentaram ou nasceram dentro das equipes que compunham o comboio (Patrocinadores, Cerimônias Cariocas, Polícias Militares Estaduais, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal, etc), ou das belezas naturais já alardeadas desde Pero Vaz de Caminha, algo que saltou aos olhos de vários companheiros de viagem foi a presença do MST – Movimento dos Sem-Terra – por todo o Brasil. Bandeiras vermelhas, algumas novas em folha, outras muitas vezes improvisadas com um pedaço de pau e camisetas velhas do MST, eram avistadas na beira da estrada. Gradualmente o número de bandeiras se intensificava, um sinal de que poucos quilômetros à frente havia algum acampamento.

O comboio passou por inúmeros acampamentos, todos praticamente vazios, invariavelmente com apenas dois ou três homens conversando entre si (nunca vi mulheres, crianças ou animais). Todos os acampamentos, pelo menos os que pude ver, têm uma disposição peculiar: não avançam mais que algo em torno de cinquenta metros adentro dos terrenos em que se encontram, sendo a aparente preferência deles construí-los ao longo de rodovias, margeando os dois lados da mesma por cinquenta, duzentos, trezentos metros, dependendo do tamanho do acampamento. Barracos, paupérrimos, muitas vezes feitos de lona e papelão, suscitavam comentários entristecidos em nossos veículos e nos rádios do comboio sobre as condições precárias em que era possível se viver, e sobre como isso é admissível em um país rico como o Brasil. Muitas vezes, a expressão no olhar de nossos companheiros de viagem e o silêncio dentro de nossos carros, micro-ônibus e caminhões era mais perturbador que qualquer comentário. O cenário era desolador, similar ou pior aos documentados em fotos e filmes da crise de 1929 ou da Segunda Guerra Mundial. O único fato que destoava da paisagem eram uma ou duas pick-ups razoavelmente novas (Hylux, Amarok e similares) frequentemente, mas não sempre, estacionadas em uma das extremidades dos acampamentos. Talvez de alguma forma as pick-ups fossem o ganha-pão deles. Ou como transportavam as pessoas, mesmo sendo uma infração no Código Nacional de Trânsito transportar pessoas em uma caçamba aberta, “quem liga para ‘pontos na carteira’ ou uma multa quando o que se está em jogo é a sobrevivência?” – ponderei.

Percorríamos quatro, cinco, seis cidades por dia em uma jornada que começava às 5 da manhã e se estendia por até dezoito horas. Muita adrenalina, mas muito cansaço. Ou melhor, muito cansaço, mas mais adrenalina ainda. Ao passar pelas primeiras cidades perto de acampamentos, muitas vezes indagávamos sobre os integrantes do MST. Afinal de contas, onde estavam aquelas pessoas sofridas que até então só conhecíamos pelo filtro da mídia? Mesmo na correria (literal) da tocha entrando e saindo das cidades, patrocinadores distribuindo brindes para a população que prestigiava o evento e nós de olho no GPS e no relógio, a curiosidade era grande e muitas vezes insistíamos para descobrir se estavam trabalhando em alguma fazenda que havia sido invadida. A resposta típica era uma risadinha, seguida de uma coçadinha na cabeça e desconversavam. Quando tive a sorte de encontrar alguém mais disposto a falar sobre o assunto rapidamente “aprendemos” que o termo certo não era “invadida” e sim “ocupada”. “É que falar ‘invadida’ pega mal, né?” – nas palavras do próprio homem. 

Revelou ainda, sem se aguentar e em meio a risadas, com uma inocência Mazzaropiana de um verdadeiro Jeca Tatu: “Ô, seus bobo [sic]! Aquilo lá é igual PROJAC, é tudo falso. Esse povo mora tudo [sic] no IBIS (cadeia de hotéis).” E continuou: “Dia de protesto, passa o ‘coordenador do protesto’ com alguns ônibus aqui, dá vinte ou trinta reais para cada um e a ordem é fechar a estrada até mandar parar [sic]”. Para quem não conhece a sigla, o PROJAC era o nome dado aos estúdios da Rede Globo de Televisão, onde são construídas cidades cenográficas. Não posso afirmar se o que foi dito é verdade ou não, mas posso afirmar que, a naturalidade daquele homem humilde descrevendo a situação era tão grande que a cara de duas gurias da equipe da tocha olímpica foi ao chão. Se aquilo era um teatro, sabe-se lá por que razão, o Jeca Tatu da vida real era tão convincente que colocaria Fernanda Montenegro ou Antônio Fagundes no chinelo na arte de representar.

A viagem continuou e as relações se estreitaram. Os homens e mulheres de uniforme das forças policiais tornaram-se amigos e revelaram-se bem mais humanos do que são retratados na maioria das coberturas jornalísticas. Durante as refeições, todas realizadas em grupo, ou reunidos para uma merecida cerveja após nosso extenuante expediente, ouvíamos suas aventuras, muitas perigosas, outras inusitadas e engraçadas. Ao passarmos por estados que fazem fronteira com os países vizinhos, o assunto envolvendo casos de tráfico de drogas e armas era recorrente. Além dos relatos policiais, a impressão que nossas fronteiras são mais furadas que um queijo suíço se confirmou na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu, no Brasil, à Ciudad del Este, no Paraguai. Vários integrantes de nossa caravana olímpica se animaram a fazer compras e, dentre eletrônicos, perfumes e equipamento esportivo, alguns relatos de amigos me chamaram a atenção, quando mencionaram a facilidade em se adquirir armas de fogo, munição e acessórios bélicos. O que chocou os amigos, que creio eu não terem comprado nada do tipo, foi a ausência absoluta da exigência de documentação ou pré-requisitos para adquirir uma arma de fogo no país vizinho, bem como do trânsito livre sem a exigência de qualquer documento para deixar ou sair do país.  

A verdade é uma só: seria impossível, com base nos recursos e contingente observados na região e descritos pelos colegas de farda, revistar todos os veículos que atravessam a ponte. A pá de cal em qualquer ilusão de controle da entrada de armas no Brasil reside no fato dos próprios comerciantes do Paraguai oferecerem a “comodidade” de entregar armas, munições e acessórios no endereço do comprador, geralmente hotéis em Foz do Iguaçu. Dessa forma, o comprador não corre o risco, se é que há algum, de ser pego atravessando a fronteira e ser enquadrado como traficante internacional de armas de acordo com o Código Penal brasileiro.

Após tomar conhecimento do fato, averiguei junto a colegas das Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal se eles tinham conhecimento de tal situação. A resposta, além de afirmativa, foi mais longe. Relatos e intercâmbio entre as inteligências das polícias facilitados atualmente pelas redes sociais e aplicativos de mensagens como o whatsapp, indicam que caminhões com contrabando de madeira, motosserras, drogas, armas e munições entrando e saindo do Brasil são muito frequentes, e é impossível prever o volume do tráfico ilegal que tem sucesso com base no que é apreendido. Para cada caminhão apreendido com contrabando ilegal, quantos outros passam pelos postos de controle alfandegário ou da Polícia Rodoviária Federal sem serem sequer parados? 10? 
100? 1000? 

Sabe-se, entretanto, que muitos caminhões com armas e drogas apreendidos tinham como destino acampamentos do MST. A aquisição e a posse de armas são, em termos práticos, proibidas no Brasil. Pode-se dizer, munido de malabarismo retórico, que não são “proibidas”, mas “proibitivas”. Ou seja, são acessíveis a quem é “amigo do Rei-Estado” que emite (ou não) as autorizações exigidas pela lei, e ainda deve-se ter recursos financeiros para pagar pela burocracia e pelo equipamento (arma e munição) em si, que por ser rara, é cara. A outra opção é a de quem se propõe a andar à margem da lei, seja tal indivíduo um bandido com óbvias intenções criminosas ou um pai de família, disposto a proteger sua família e propriedade, ainda que marginalizado pela lei.

O MST tem acampamentos estrategicamente posicionados como peças de xadrez por todo o Brasil, e por algumas vezes foi citado por lideranças políticas como sendo um “exército”. Qualquer site de buscas apontará matérias divulgadas na mídia com as palavras-chave “contrabando”, “armas” e “drogas” orbitando o MST. Contrabando é uma violação da lei. Drogas também, e convertem-se em dinheiro. Armas traduzem-se em poder. Uma tríade perigosa e nociva à sociedade.

Como diz o famoso adágio: Ter cérebro é obrigatório, usá-lo é opcional.  Convido-os à uma reflexão com base no que vi e no relato de amigos e do “povo de verdade”, não de pessoas fictícias que o marketing ou a mídia em geral, salvo raras exceções, colocam diante de vossos olhos. 2018 já bate à porta e a temperatura social e política tende a subir, e muito, com as eleições gerais. Meu legado olímpico foi o de retirar uma venda que me impedia de ver a realidade, ou ao menos um recorte dela, sem intermediários. Se tu, caro leitor, acompanhastes até aqui essa mera exposição de fatos que mais se parece um quadro surrealista de Dali com pitadas rodriguianas de um “Óbvio  Ululante” mais contemporâneo que nunca, pergunto: a chama olímpica se apagou ao término dos jogos, como é de praxe, mas pode-se ignorar que o MST – Movimento dos Sem-Terra, em tese, pode ter o contingente e o poderio bélico para “colocar fogo” em todo o Brasil?
O MST e principalmente seus dirigentes são a “não-notícia” que só ganha o noticiário quando já é tarde demais para alguns. Ruim será quando for tarde demais para todos.
Esperemos o melhor, mas preparemo-nos para o pior.

Marcos Whittaker - Editoria MSM