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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Uma pistola de ouro na guerra do Rio e Um candidato como Haddad é o mesmo que nada

A apreensão de uma arma recém-lançada pela Glock torna ainda mais evidente a assimetria das batalhas travadas entre os bandidos e as forças de segurança

Foram 15 fuzis, 32 pistolas, uma granada, 106 carregadores e 40 mil munições de calibres diversos. Mas não foi o tamanho do arsenal o que chamou a atenção dos policiais rodoviários federais que pararam o veículo que o transportava no quilômetro 207 da BR-116 na manhã desta segunda feira. A atração maior foi a presença de uma pistola Glock último modelo banhada em ouro. “A arma foi lançada pela Glock em 22 de janeiro deste ano”, contou Flávio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal. “A polícia nem pensa em ter um modelo parecido”.
Pistola Glock de último modelo apreendida no Rio de Janeiro em 26 de fevereiro de 2018 (Divulgação/Divulgação)

Werneck informa que para uma pistola ser banhada em ouro sem que esse requinte afete o funcionamento da arma é preciso contar com os conhecimentos de um especialista. “Tudo indica que o banho em outro foi dado na cidade paraguaia de Ciudad del Este, que faz fronteira com Foz do Iguaçu”, disse. A dedicatória na arma — “RB da Clínica Nova Holanda”seria uma referência a algum chefe do tráfico na favela da Nova Holanda, no Complexo da Maré.
 Arsenal apreendido na BR-116, no Rio de Janeiro, em 26 de fevereiro de 2018 (Divulgação/Divulgação)
Uma reportagem do Globo revelou que a última compra de fuzis para a Polícia Militar do Rio ocorreu em 2013, quando o Batalhão de Operações Especiais recebeu 600. As armas utilizadas pelo restante da tropa têm cerca de dez anos de uso.  A descoberta torna ainda mais evidente a assimetria da guerra travada entre os bandidos e as forças de segurança no Rio de Janeiro. Nem a iminência do confronto com o Exército nas ruas e morros inibiu a arrogância dos criminosos, que continuam investindo na sofisticação do seu armamento.

 Branca Nunes - Coluna do Augusto Nunes - Veja

Um candidato como Haddad é o mesmo que nada

A agonia do PT será acelerada pelo raquitismo das bancadas no Senado, na Câmara e nas Assembleias Legislativas

Ainda atordoado com a suspensão de Lula, punido por vigorosos pontapés no Código Penal, o PT teve de engolir nesta segunda-feira a expulsão de Jaques Wagner, eliminado do jogo da sucessão presidencial pela Operação Cartão Vermelho. E a curtíssima fila de possíveis candidatos do PT ao Palácio do Planalto passou a ser liderada por Fernando Haddad.

É o mesmo que nada. Em 2012, o ministro da Educação incapaz de organizar com eficácia um exame do ENEM virou prefeito de São Paulo porque Lula ainda conseguia tapear multidões de incautos com os postes que fabricava. Quatro anos depois, ao disputar um segundo mandato, Haddad foi destroçado por João Doria já no primeiro turno.

Se não chegou sequer à etapa final do duelo pela prefeitura paulistana, como acreditar que o ex-prefeito escapará da votação de candidato nanico? Há dois anos, desmoralizado pela ladroagem sem precedentes, a seita da missa negra foi massacrada em todos os municípios importantes. Com um candidato desses, estará condenada a um fiasco monumental nas eleições de outubro. O partido que virou bando terá a agonia acelerada pelo raquitismo das bancadas no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas. A goleada reservada a uma nulidade política como Fernando Haddad vai escavar a cova rasa em que o PT merece ser enterrado.

Augusto Nunes - Veja

 

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Traficantes brasileiros levam violência da fronteira para a capital do Paraguai



Grupos criminosos tentam controlar parte dos 80% da produção do país que é vendida no Brasil

 A hora da sesta foi interrompida por 30 segundos de disparos num dos bairros residenciais mais caros de Assunção, no Paraguai, em 25 outubro. Rajadas de tiros entre as picapes sacudiram a tranquilidade da rua. O veículo agressor fugiu. No outro, que continuava acelerando contra uma árvore quando a polícia chegou, morreram um homem de 28 anos e seu filho de cinco. “Há uma criança ali”, disse, com as mãos na cabeça, o primeiro que chegou ao lugar. O incidente foi um ajuste de contas entre facções de traficantes rivais. O alvo era William Giménez Bernal, que escapou dos tiros mas se matou com um tiro na têmpora, com sua própria pistola, ao ver o filho morto, segundo a investigação.

A Polícia disse que Bernal havia visitado na prisão, em cinco ocasiões, o brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, apontado como um dos principais chefes do narcotráfico na fronteira com o Brasil. Em janeiro deste ano, um casal de brasileiros que também visitara Pavão foi alvejado por assassinos em Assunção. “Nem os criminosos nem os grupos armados vão decidir o que temos de fazer”, disse o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, num dos primeiros atos oficiais após assumir o mandato, em agosto de 2013. Quatro anos depois dessas declarações, o presidente tem motivos para estar preocupado.

O índice de homicídios no estado paraguaio de Amambay, situado na fronteira do Brasil e por onde escoa grande parte do tráfico de drogas da América do Sul, foi de 66,73 casos para cada 100.000 habitantes em 2014, cifra próxima da registrada em Honduras, líder do ranking mundial. A taxa é muito superior à média do Paraguai, que em 2016 esteve na faixa dos 7,89 homicídios para cada 100.000 habitantes, segundo informou na época o Ministério do Interior. As cidades paraguaias localizadas na fronteira com o Brasil, como Pedro Juan Caballero, Capitán Bado e Ciudad del Este, já eram palcos habituais desses ajustes de contas. A novidade é que agora o banho de sangue chega a Assunção, a capital do país.

Fronteira violenta
O país do tereré, como os paraguaios chamam o chimarrão preparado com água fria, é também o principal produtor sul-americano de outra erva: a maconha. Há várias décadas, abastece o mercado negro do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e até Uruguai com milhares de hectares de cultivos ilegais. O quilo de maconha, que pode custar 1.000 euros (3.850 reais) no Chile ou no norte do Brasil, sai por cinco euros (19 reais) em qualquer plantação paraguaia, segundo a Secretaria Antidrogas do Paraguai (Senad). Cerca de 80% da produção é direcionada aos mais de 200 milhões de habitantes do Brasil. Assim, há muito interesse na fronteira por parte dos grupos criminosos que dominam sua venda no Rio, São Paulo e outras grandes cidades brasileiras.

Facções como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital disputam o controle das rotas do tráfico e dos centros de distribuição, aproveitando a mão de obra semiescrava de camponeses paraguaios que produzem maconha, explicou ao EL PAÍS o promotor adjunto contra o sequestro e o terrorismo do Paraguai, Alejo Vera. “A maioria desses criminosos são foragidos de penitenciárias do Brasil que cruzam a fronteira porque ela é muito permeável. É uma fronteira seca. Em muitos casos, é apenas uma rua ou uma estrada. Não há um controle muito rígido, de forma que é muito fácil atravessá-la, tanto do Paraguai para o Brasil como do Brasil para o Paraguai”, diz Vera.

A fronteira é também a zona de passagem habitual da pasta base da cocaína boliviana e de precursores químicos, que são transportados a laboratórios da redondeza e aos portos. A droga é então transformada em cocaína e enviada para a África e a Europa. “O PCC e o Comando Vermelho estão obcecados com o controle dessa fronteira. É a zona onde estão os maiores cultivos de maconha e um corredor das cocaínas boliviana, peruana e colombiana”, afirma Cándido Figueredo Ruiz, correspondente do jornal paraguaio ABC Color em Pedro Juan Caballero.

Guerra entre facções

Figueredo prevê o início de uma guerra mais violenta entre as duas facções, que esperam que Jarvis Chimenez Pavão seja extraditado para o Brasil para assassiná-lo no país. “Mesmo na prisão, Jarvis ainda tem muito peso aqui. Os narcos estão convencidos de que ele será irremediavelmente levado ao Brasil. E que, possivelmente, não demore nem dois meses para ser morto na cadeia por seus inimigos, que já estão eliminando homens de seu entorno.”

Em abril passado, houve um gigantesco assalto contra a empresa de segurança e transporte de valores Prosegur em Ciudad del Este, com a participação de cerca de 60 homens com metralhadoras. Eles roubaram o equivalente a 42 milhões de reais (em valores atuais), no maior golpe da história do Paraguai. Os partidos da oposição denunciam que o último assassinato em Assunção mostra que essas organizações migraram agora à capital e controlam cada vez mais zonas do país.

O governista Partido Colorado e o ministro do Interior, Lorenzo Lezcano, não concordam com os sinais de alarme. Dizem que sua luta contra o crime organizado dá cada vez mais resultados e que as denúncias da oposição não passam de uma “campanha de oportunismo político antes das [eleições] internas”. Em 17 de dezembro, os partidos paraguaios realizam primárias para escolher seu candidato presidencial.

El País

 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

MST: A “não notícia” e o perigo real sob uma falsa retórica

Passado mais de um ano da realização do Jogos Olímpicos Rio 2016, faço um balanço do que vi e do que vejo hoje em dia, do tal celebrado “legado”. Abundam as reportagens sobre o abandono de instalações olímpicas, caos e corrupção na segurança pública do Rio de Janeiro, escândalos dentro e fora do comitê olímpico com a suspeita da compra de votos pelas cidades sede e as denúncias dos casos de doping da equipe russa desde os anos 60 (na época não apenas russa, mas soviética), manchando o espírito olímpico e colocando em cheque a integridade da instituição, seus membros e dos custos de produção do evento. Problemas que mais se parecem com um padrão infinito de geometria fractal ou com a Hidra de Lerna: corta-se uma cabeça, surgem duas novas em seu lugar. 

Acampamento ou manifestação do MST = movimento social terrorista = maior concentração de bandidos por metro quadrado;
Nos governos Lula e Dilma eram apoiados, já Temer optou por mantê-los sem grande apoio quando o correto, o melhor para o Brasil é eliminá-los.

A mídia, principalmente a chamada mainstream, se farta e ordenha o quanto pode cada um dos tópicos acima. Minha indignação e estranhamento hoje em dia, como cidadão já anestesiado com tanta desgraça, vem não do que é noticiado, mas do que não o é.
Trabalhei durante o Revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016, percorrendo o Brasil inteiro em uma caravana gigante com diferentes equipes dedicadas ao sucesso da missão de levar o fogo olímpico aos quatro cantos do país. Missão cumprida (e comprida!) e a tocha foi entregue sem nunca ter sido apagada, apesar das inúmeras tentativas em vários protestos ao longo da jornada. À noite, as equipes se encontravam durante o jantar, geralmente nos próprios hotéis onde estávamos hospedados. Era um momento de congraçamento e também de assistir os telejornais, arrancando gritos, gargalhadas e aplausos quando um de nós era flagrado nas matérias jornalísticas transmitidas para todo o Brasil e o mundo. Os meios de comunicação, dependendo de sua vertente política (declarada ou não), davam a ênfase que lhes convinham ao evento, muitos apoiando, outros detratando a passagem da tocha que indiscutivelmente despertava emoções variadas por onde percorreu.

Além das inúmeras amizades que se sedimentaram ou nasceram dentro das equipes que compunham o comboio (Patrocinadores, Cerimônias Cariocas, Polícias Militares Estaduais, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal, etc), ou das belezas naturais já alardeadas desde Pero Vaz de Caminha, algo que saltou aos olhos de vários companheiros de viagem foi a presença do MST – Movimento dos Sem-Terra – por todo o Brasil. Bandeiras vermelhas, algumas novas em folha, outras muitas vezes improvisadas com um pedaço de pau e camisetas velhas do MST, eram avistadas na beira da estrada. Gradualmente o número de bandeiras se intensificava, um sinal de que poucos quilômetros à frente havia algum acampamento.

O comboio passou por inúmeros acampamentos, todos praticamente vazios, invariavelmente com apenas dois ou três homens conversando entre si (nunca vi mulheres, crianças ou animais). Todos os acampamentos, pelo menos os que pude ver, têm uma disposição peculiar: não avançam mais que algo em torno de cinquenta metros adentro dos terrenos em que se encontram, sendo a aparente preferência deles construí-los ao longo de rodovias, margeando os dois lados da mesma por cinquenta, duzentos, trezentos metros, dependendo do tamanho do acampamento. Barracos, paupérrimos, muitas vezes feitos de lona e papelão, suscitavam comentários entristecidos em nossos veículos e nos rádios do comboio sobre as condições precárias em que era possível se viver, e sobre como isso é admissível em um país rico como o Brasil. Muitas vezes, a expressão no olhar de nossos companheiros de viagem e o silêncio dentro de nossos carros, micro-ônibus e caminhões era mais perturbador que qualquer comentário. O cenário era desolador, similar ou pior aos documentados em fotos e filmes da crise de 1929 ou da Segunda Guerra Mundial. O único fato que destoava da paisagem eram uma ou duas pick-ups razoavelmente novas (Hylux, Amarok e similares) frequentemente, mas não sempre, estacionadas em uma das extremidades dos acampamentos. Talvez de alguma forma as pick-ups fossem o ganha-pão deles. Ou como transportavam as pessoas, mesmo sendo uma infração no Código Nacional de Trânsito transportar pessoas em uma caçamba aberta, “quem liga para ‘pontos na carteira’ ou uma multa quando o que se está em jogo é a sobrevivência?” – ponderei.

Percorríamos quatro, cinco, seis cidades por dia em uma jornada que começava às 5 da manhã e se estendia por até dezoito horas. Muita adrenalina, mas muito cansaço. Ou melhor, muito cansaço, mas mais adrenalina ainda. Ao passar pelas primeiras cidades perto de acampamentos, muitas vezes indagávamos sobre os integrantes do MST. Afinal de contas, onde estavam aquelas pessoas sofridas que até então só conhecíamos pelo filtro da mídia? Mesmo na correria (literal) da tocha entrando e saindo das cidades, patrocinadores distribuindo brindes para a população que prestigiava o evento e nós de olho no GPS e no relógio, a curiosidade era grande e muitas vezes insistíamos para descobrir se estavam trabalhando em alguma fazenda que havia sido invadida. A resposta típica era uma risadinha, seguida de uma coçadinha na cabeça e desconversavam. Quando tive a sorte de encontrar alguém mais disposto a falar sobre o assunto rapidamente “aprendemos” que o termo certo não era “invadida” e sim “ocupada”. “É que falar ‘invadida’ pega mal, né?” – nas palavras do próprio homem. 

Revelou ainda, sem se aguentar e em meio a risadas, com uma inocência Mazzaropiana de um verdadeiro Jeca Tatu: “Ô, seus bobo [sic]! Aquilo lá é igual PROJAC, é tudo falso. Esse povo mora tudo [sic] no IBIS (cadeia de hotéis).” E continuou: “Dia de protesto, passa o ‘coordenador do protesto’ com alguns ônibus aqui, dá vinte ou trinta reais para cada um e a ordem é fechar a estrada até mandar parar [sic]”. Para quem não conhece a sigla, o PROJAC era o nome dado aos estúdios da Rede Globo de Televisão, onde são construídas cidades cenográficas. Não posso afirmar se o que foi dito é verdade ou não, mas posso afirmar que, a naturalidade daquele homem humilde descrevendo a situação era tão grande que a cara de duas gurias da equipe da tocha olímpica foi ao chão. Se aquilo era um teatro, sabe-se lá por que razão, o Jeca Tatu da vida real era tão convincente que colocaria Fernanda Montenegro ou Antônio Fagundes no chinelo na arte de representar.

A viagem continuou e as relações se estreitaram. Os homens e mulheres de uniforme das forças policiais tornaram-se amigos e revelaram-se bem mais humanos do que são retratados na maioria das coberturas jornalísticas. Durante as refeições, todas realizadas em grupo, ou reunidos para uma merecida cerveja após nosso extenuante expediente, ouvíamos suas aventuras, muitas perigosas, outras inusitadas e engraçadas. Ao passarmos por estados que fazem fronteira com os países vizinhos, o assunto envolvendo casos de tráfico de drogas e armas era recorrente. Além dos relatos policiais, a impressão que nossas fronteiras são mais furadas que um queijo suíço se confirmou na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu, no Brasil, à Ciudad del Este, no Paraguai. Vários integrantes de nossa caravana olímpica se animaram a fazer compras e, dentre eletrônicos, perfumes e equipamento esportivo, alguns relatos de amigos me chamaram a atenção, quando mencionaram a facilidade em se adquirir armas de fogo, munição e acessórios bélicos. O que chocou os amigos, que creio eu não terem comprado nada do tipo, foi a ausência absoluta da exigência de documentação ou pré-requisitos para adquirir uma arma de fogo no país vizinho, bem como do trânsito livre sem a exigência de qualquer documento para deixar ou sair do país.  

A verdade é uma só: seria impossível, com base nos recursos e contingente observados na região e descritos pelos colegas de farda, revistar todos os veículos que atravessam a ponte. A pá de cal em qualquer ilusão de controle da entrada de armas no Brasil reside no fato dos próprios comerciantes do Paraguai oferecerem a “comodidade” de entregar armas, munições e acessórios no endereço do comprador, geralmente hotéis em Foz do Iguaçu. Dessa forma, o comprador não corre o risco, se é que há algum, de ser pego atravessando a fronteira e ser enquadrado como traficante internacional de armas de acordo com o Código Penal brasileiro.

Após tomar conhecimento do fato, averiguei junto a colegas das Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal se eles tinham conhecimento de tal situação. A resposta, além de afirmativa, foi mais longe. Relatos e intercâmbio entre as inteligências das polícias facilitados atualmente pelas redes sociais e aplicativos de mensagens como o whatsapp, indicam que caminhões com contrabando de madeira, motosserras, drogas, armas e munições entrando e saindo do Brasil são muito frequentes, e é impossível prever o volume do tráfico ilegal que tem sucesso com base no que é apreendido. Para cada caminhão apreendido com contrabando ilegal, quantos outros passam pelos postos de controle alfandegário ou da Polícia Rodoviária Federal sem serem sequer parados? 10? 
100? 1000? 

Sabe-se, entretanto, que muitos caminhões com armas e drogas apreendidos tinham como destino acampamentos do MST. A aquisição e a posse de armas são, em termos práticos, proibidas no Brasil. Pode-se dizer, munido de malabarismo retórico, que não são “proibidas”, mas “proibitivas”. Ou seja, são acessíveis a quem é “amigo do Rei-Estado” que emite (ou não) as autorizações exigidas pela lei, e ainda deve-se ter recursos financeiros para pagar pela burocracia e pelo equipamento (arma e munição) em si, que por ser rara, é cara. A outra opção é a de quem se propõe a andar à margem da lei, seja tal indivíduo um bandido com óbvias intenções criminosas ou um pai de família, disposto a proteger sua família e propriedade, ainda que marginalizado pela lei.

O MST tem acampamentos estrategicamente posicionados como peças de xadrez por todo o Brasil, e por algumas vezes foi citado por lideranças políticas como sendo um “exército”. Qualquer site de buscas apontará matérias divulgadas na mídia com as palavras-chave “contrabando”, “armas” e “drogas” orbitando o MST. Contrabando é uma violação da lei. Drogas também, e convertem-se em dinheiro. Armas traduzem-se em poder. Uma tríade perigosa e nociva à sociedade.

Como diz o famoso adágio: Ter cérebro é obrigatório, usá-lo é opcional.  Convido-os à uma reflexão com base no que vi e no relato de amigos e do “povo de verdade”, não de pessoas fictícias que o marketing ou a mídia em geral, salvo raras exceções, colocam diante de vossos olhos. 2018 já bate à porta e a temperatura social e política tende a subir, e muito, com as eleições gerais. Meu legado olímpico foi o de retirar uma venda que me impedia de ver a realidade, ou ao menos um recorte dela, sem intermediários. Se tu, caro leitor, acompanhastes até aqui essa mera exposição de fatos que mais se parece um quadro surrealista de Dali com pitadas rodriguianas de um “Óbvio  Ululante” mais contemporâneo que nunca, pergunto: a chama olímpica se apagou ao término dos jogos, como é de praxe, mas pode-se ignorar que o MST – Movimento dos Sem-Terra, em tese, pode ter o contingente e o poderio bélico para “colocar fogo” em todo o Brasil?
O MST e principalmente seus dirigentes são a “não-notícia” que só ganha o noticiário quando já é tarde demais para alguns. Ruim será quando for tarde demais para todos.
Esperemos o melhor, mas preparemo-nos para o pior.

Marcos Whittaker - Editoria MSM


domingo, 25 de junho de 2017

PCC "compra" militares estrangeiros na fronteira

Investigações revelam que a facção nascida em São Paulo cooptou integrantes das forças de segurança de países vizinhos, como o Paraguai

Fundado ainda em 1993, o grupo paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) foi o responsável pelo maior assalto da história do Paraguai em abril deste ano. Ali, atuou a 1.044km de São Paulo, mais precisamente em Ciudad del Este. Pelo menos 30 homens com armamento de guerra, como metralhadoras, fuzis e explosivos, roubaram US$ 40 milhões de uma empresa de transporte de valores. Isso foi a parte exposta até aqui. O que não se sabia até agora era que a facção — que, dentro de prisões, desafia autoridades brasileiras com execuções a sangue frio e rebeliões cada vez mais violentas — também passou a comprar o apoio de policiais e militares de países vizinhos para garantir o sucesso das violentas ações.

“A maior dificuldade da Polícia Federal no Paraguai é com o exército local, porque o PCC corrompeu boa parte desses militares”, revelou uma fonte de alta patente do Ministério da Defesa ao Correio. A maior vulnerabilidade na fronteira do Brasil está nos estados do Rio Grande do Sul até o Mato Grosso, em que a divisa é com países como o Uruguai, Paraguai e Bolívia. “Nessas regiões, os países se confundem. As cidades viram uma só, são muito vivas e mescladas. Nesse cenário, as atividades criminosas têm facilidade em ultrapassar a fronteira e se associar com outros grupos”, explicou o general Santos Cruz, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

O crescimento dessas facções tem uma simples e única explicação: o lucro. “O crime organizado, principalmente as duas maiores facções do país, o PCC e o Comando Vermelho (CV), nada mais são do que uma empresa”, classificou o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Marco Antônio Severo. O diretor explica que o objetivo dessas facções não é acabar com rivais. “O conflito começa quando alguém oferece resistência para que ele estabeleça comércio de droga no local, por exemplo.”

Severo relembra a morte do traficante paraguaio Jorge Rafaat no ano passado na região de fronteira no Mato Grosso do Sul. Rafaat morreu com tiros de fuzil, em uma emboscada, em decorrência de uma guerra do tráfico na região com o PCC e o CV. “Isso aí é uma evolução comercial, se virmos isso pela ótica empresarial. O PCC só vendia, mas depois passou a ser o primeiro recebedor da droga para distribuir para o Brasil e para Europa”, destacou.

“Existe essa tentativa de expansão, de domínio territorial. Assim como o combate tem que ser permanente, eles também têm essa tendência de expansão permanente. Sabe-se que uma parte da droga entra pela fronteira, assim como armamento. Em todo esse ambiente criminoso, eles têm tentativa de domínio”, exemplificou o general Santos Cruz.

Atualmente, o sistema penitenciário federal hospeda a grande maioria das lideranças de facções criminosas. Mas isso não impede que esses grupos cresçam “Porque é aquela história: não tem vácuo no poder. Quando se tira de circulação o líder de uma facção de alto nível, logicamente outro vai assumir o lugar dele do lado de fora”, argumentou Marco Antônio. De dentro dos presídios federais, há cuidado para que lideranças não se comuniquem ou até mesmo estejam na mesma vivência, além de serem acompanhadas. No entanto, o controle nem sempre ocorre em presídios estaduais, resultando em rebeliões, chacinas e até refletindo na segurança pública fora das grades, em grandes centros urbanos.

Sem dúvida nenhuma, o crime organizado tem ligação com a violência externa e as atividades dentro de presídios. Existe uma disputa territorial. Tem-se conhecimento nítido disso. Tem que haver integração de inteligência de todos os órgãos”, defendeu Santos Cruz. Para ele, é necessária uma integração entre o governo federal, estados e municípios para que essas facções não interfiram na segurança dos grandes centros urbanos. “O governo federal precisa participar de maneira mais intensa em segurança pública. Há uns anos, o crime não era tão organizado. Precisamos evoluir principalmente em tecnologia e criar uma base nacional de dados”, defendeu.

Antes de assumir a Depen, Marco Antônio Severo ocupava o cargo de Comandante da Polícia Militar de São Paulo e lembra das ondas de ataque do PCC à cidade. “Aqueles episódios foram, em boa parte, respostas, retaliações às próprias ações da polícia, no endurecimento no combate ao tráfico, nas ações ao crime. A cada tentativa de intimidação ao poder público, a resposta tem que ser forte, cada vez mais firme, enfatizou.

No entanto, a demora do governo em dar uma resposta efetiva ao crime organizado resulta em números impressionantes, de uma guerra urbana que assola a nação e invade cada vez mais estados com a segurança ainda mais vulnerável. Dados do Atlas da Violência, que registra o número de crimes como homicídios, estupros e danos ao patrimônio, apontam que, após tomar capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, a violência avança nos estados do Norte e Nordeste. A situação mais grave é no Rio Grande do Norte, onde a taxa de homicídios avançou 220% em 10 anos.
 
Fonte: Correio Braziliense
 
 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

União precisa assumir seu papel na segurança

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio de Janeiro 

Quem observasse do alto as colunas de fumaça preta que se erguiam de pontos da Avenida Brasil e da Rodovia Washington Luís, na manhã de anteontem, poderia pensar que testemunhava um bombardeio na Síria. Mas era só mais uma batalha da guerra cotidiana do Rio. Traficantes haviam ateado fogo a nove ônibus e dois caminhões em represália a uma ação da polícia na Cidade Alta, em Cordovil, onde facções rivais se enfrentavam. Em consequência, algumas das vias mais importantes da Região Metropolitana tiveram de ser bloqueadas, enquanto motoristas e passageiros ficavam reféns da situação, alguns em meio a tiroteios. Para completar o caos, ainda houve saques às cargas dos caminhões incendiados.

São vários os motivos que contribuem para esse descontrole da segurança no Rio. A começar pela grave situação fiscal do estado, que praticamente paralisou a administração, impactando setores essenciais — o governo chegou a admitir que a polícia corria o risco de parar este mês por falta de combustível. Soma-se a isso a fragilidade do governo Pezão, que tem se mostrado incapaz de reagir à crise, ficando à espera do socorro da União na medida em que a situação só se agrava. 

Acrescente-se ainda o enfraquecimento das UPPs. Reportagem do GLOBO com base em pesquisa da FGV mostrou que, embora o número de homicídios não tenha voltado a patamares pré-UPP, houve um aumento de 23% entre 2012 e 2016. E já há crimes que se situam nos mesmos níveis de 2006. É mais um sinal de alerta para as autoridades. O projeto das UPPs, de retomada de territórios dominados pelo tráfico, representou m ganho importantíssimo para a sociedade. Por isso, é fundamental que o programa seja recuperado, dentro dos princípios que o nortearam, como o policiamento de proximidade que desestimularia ações desastradas da PM em comunidades.

Mas, acima de tudo, o controle da segurança depende do governo federal. E não apenas para enviar a Força Nacional ou contingentes das Forças Armadas em situações de emergência, como agora. A União precisa assumir o protagonismo na segurança. Não só no Rio, porque hoje a atuação das quadrilhas ultrapassa os limites dos estados e mesmo do país. Isso ficou comprovado nas sangrentas rebeliões em presídios do Norte-Nordeste com participação de facções do Sudeste. Ou no roubo a uma transportadora de valores em Ciudad del Este, Paraguai, por bandidos brasileiros.

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio. Durante a operação na Cidade Alta, anteontem, a polícia apreendeu 32 fuzis, quantidade maior do que a que foi recolhida em todo o mês de março. Nenhum deles foi fabricado no estado. O problema demanda ações coordenadas de inteligência. Sem que União e estados resolvem essas questões, cidadãos continuarão reféns dos bandidos, vivenciando cenas que estão mais para Aleppo do que para o Rio.


Fonte: Editorial - O Globo 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sites no Brasil e Paraguai vendem armas abertamente na internet

Vendedores prometem sigilo e entrega por transportadora; armas são comercializadas a partir de R$ 600

Em uma rápida busca pela internet, O GLOBO encontrou mais de cinco sites brasileiros e paraguaios que garantem vender armas de fogo provenientes do Paraguai. Algumas das páginas prometem ao interessado total sigilo e entrega por transportadoras. 
 
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse nesta quinta-feira que um dos envolvidos no grupo preso suspeito de terrorismo teria entrado em contato com um site no país vizinho para comprar um fuzil AK 47.

Nas páginas identificadas pela reportagem, os vendedores afirmam que as armas são de lojas do Paraguai, em sua maioria na Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. Segundo um dos sites, a compra é feita no Paraguai, mas o envio é realizado já em território brasileiro. Outra página dá um passo-a-passo de como comprar as armas no Paraguai e atravessar as fronteiras.

Os preços são a partir de R$ 600 e os vendedores fornecem endereços de e-mail para negociação, assim como formas de pagamento. As páginas utilizam formas diferentes para burlar a fiscalização. Algumas entregam com notas fiscais do Paraguai, outras com uma nota fiscal brasileira de um produto legal, com impostos tributados.

No ano passado, uma equipe do GLOBO comprou uma réplica de um fuzil em Ciudad del Este e conseguiu entrar no Rio de Janeiro sem fiscalização das polícias do Brasil, do Paraguai ou da Receita Federal. Nas páginas, os responsáveis divulgam seus endereços de e-mail, número de contas bancárias e até telefones celulares.

Dimitrius Dantas, Estagiário, com supervisão de Flávio Freire