Desde já, avaliação é de que os EUA são o grande vitorioso da queda iminente de Maduro
Os gravíssimos problemas da Venezuela foram afunilando para uma única
cara, uma única voz: as do presidente ilegítimo Nicolás Maduro, incapaz
de admitir a obviedade de que suas condições de governabilidade se
esgotaram e agarrado a uma lasca de poder como cão faminto, quando
faminta de fato está a população. Como disse ontem o vice Hamilton Mourão, que participou da reunião do
Grupo de Lima, na Colômbia, não existe a possibilidade de intervenção
militar e a estratégia é manter uma ação conjunta e a pressão financeira
e econômica, até asfixiar o regime. O resto, quem tem de fazer são os
próprios venezuelanos.
Depende da opinião pública, das lideranças políticas, do comando do
Judiciário e das Forças Armadas do país garantir a deposição do ditador,
que impediu a entrada de remédios e alimentos que aliviariam a dor de
seu povo e perde os apoios que lhe restam. Maduro é um cadáver político e
deve acordar de sua insanidade, antes que um tresloucado transforme a
metáfora em realidade. Uma tragédia dessas não está fora do horizonte. Os inimigos e
adversários de Maduro não suportam mais sua audácia e podem estar a um
passo de “mandar às favas os escrúpulos de consciência”, o que não seria
inédito na história do continente. Do outro lado, os ainda aliados dele
sabem que não há luz no fim do túnel e podem passar a preferir um
Maduro “mártir” a um Maduro podre e fora de si.
Seja como for, por renúncia ou ação institucional, a queda parece
iminente e já começa uma outra etapa: a da avaliação de perdas e ganhos.
Quem mais lucra são os Estados Unidos, que voltam com tudo para a
América do Sul, agora “saneada” dos regimes de esquerda e embalando a
direita, como no Brasil. O vice americano, Mike Pence, postou-se ao lado do autoproclamado
presidente Juan Guaidó e tornou-se a estrela do Grupo de Lima em Bogotá.
Ameaçou os militares venezuelanos – “Vocês serão responsabilizados” – e
incitou as outras nações a seguirem o exemplo dos EUA, congelando
ativos dos líderes chavistas e da petroleira PDVSA em seus países.
Enquanto Pence brilhava na Colômbia, a subsecretária de Estado para o Hemisfério Sul, Kimberly Breier, desembarcava no Brasil para encontros
com o presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e... o
deputado Eduardo Bolsonaro. Em pauta, a Venezuela. Por que o deputado? Porque ele não é só filho do presidente da
República, como também “o cara” da política externa da “nova era”, que sabatina os candidatos a chanceler, bate o martelo no de sua
preferência, foi o primeiro enviado do novo governo à Casa Branca. Não satisfeito em meter na cabeça um boné da campanha de reeleição de
Donald Trump, Eduardo Bolsonaro acaba de divulgar um vídeo dele próprio
apoiando ardorosamente, ao microfone, um muro entre os EUA e os
mexicanos.
Seria ótimo saber o que Forças Armadas, os grandes diplomatas, os
nacionalistas e os simplesmente de bom senso pensam disso no Brasil.
Inclusive o vice Mourão, que teve uma participação devidamente prudente
em Bogotá. Aliás, essa é a palavra-chave: prudência.
O Grande Irmão. A colega Renata Cafardo informa que o MEC enviou e-mail a escolas públicas e particulares, exigindo, ops!, recomendando que elas
leiam diante da Bandeira, gravem e enviem ao ministério o vídeo da
leitura de uma mensagem do ministro Vélez Rodrigues para alunos,
professores e funcionários, que termina com o lema bolsonarista: “Brasil
acima de tudo, Deus acima de todos!” Uso das crianças para fins
políticos, seja para que lado for, é o fim da picada.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo