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terça-feira, 7 de abril de 2020

Por que bancos privados fazem tão pouco contra a pandemia? Veja - Blog

O total de lucro dos três bancos no ano passado é equivalente ao volume de recursos que o ministro Paulo Guedes citou como patamar de partida dos gastos para aliviar problemas dos trabalhadores informais sufocados pela paralisia na economia. Com R$ 63 bilhões é possível comprar 900 mil respiradores iguais aos que o governo da Bahia encomendou na China e perdeu quando foram retidos no aeroporto de Miami. O valor também permitiria comprar equipamentos e kits de análise rápida desenvolvidos pelas universidades britânicas de Surrey, Brunel London e Lancaster suficientes para testar toda a população brasileira – talvez por duas vezes. É claro, porém, que o lucro dos bancos referentes a 2019 têm de ser distribuído aos acionistas e não podem ser usados para financiar programas contra a pandemia.

Quando o assunto são as contribuições para esse desafio, os três bancos não têm muita coisa a mostrar. Quase nada, na verdade. Juntos, eles racharam com a Vale uma contribuição de R$ 80 milhões para a compra de 5 milhões de testes rápidos e há notícia de que estão investindo outros R$ 50 milhões em máscaras de tecido adquiridas junto a microempresários do Brasil. O dinheiro para financiar a aquisição de testes foi dado apenas depois que o quase ex-ministro Luiz Henrique Mandetta fez um apelo pela doação.

O Itaú anuncia na sua página na internet ter reservado R$ 150 milhões para compra de equipamentos médicos como respiradores, cestas de alimentação e kits de higiene para comunidades vulneráveis. Esse dinheiro, na verdade, sai dos cofres da Fundação Itaú, onde entra carimbado para ações sociais e tem contrapartida de incentivos fiscais. O valor equivale a 0,56% do que o banco lucrou no ano passado.

Quanto a Bradesco e Santander, não há notícia de outras doações. Pelo contrário, buscando informações sobre as instituições bancárias, acha-se o texto publicado pelo site de Exame no dia 16 de março revelando que os juros que vinham sendo praticados em 2020 para cheque especial e capital de giro de empresas são maiores do que há dois anos, quando a Selic era o dobro do que é hoje. No dia 20, o Banco Central permitiu que as instituições resgatassem R$ 49 bilhões de seus depósitos compulsórios para aumentar a oferta de crédito no mercado e criar condições de socorro diante da semi-paralisia econômica. Também houve redução de meio ponto na taxa Selic.

Itaú e Bradesco informaram que repassariam a diminuição para suas operações de crédito. Como as taxas cobradas pelos bancos dependem dos chamados perfis dos clientes e do nível de relacionamento – que significa gasto com seguros, cartões, pacotes de conta corrente, emissão de boletos e diversas outras maneiras de faturar com recursos que são do próprio correntista -, descobrir a tal redução é um mistério inextricável. Enquanto empresas estão fechando acordos para bancar parte dos salários de funcionários mesmo com paralisação de suas atividades, têm queda de até 100% no seu faturamento e amargam cancelamentos de vendas e formação de estoques que em alguns casos são perecíveis e vão para o lixo, os bancos oferecem em suas páginas de internet dedicadas ao coronavírus “soluções e iniciativas” (Itaú) “para cuidar de todos” (Bradesco) e “superar esse momento” (Santander).

Na prática, há uma parte de agências fechadas, embora existam operações que têm de ser feitas presencialmente; o horário de atendimento foi reduzido, incluindo nos serviços telefônicos, que passaram ainda por diminuição de pessoal; e foi criada uma hora de atendimento exclusiva para idosos, que costumam ser maioria nas agências e agora se alinham na fila logo cedo para usufruir do “benefício”.

Em Veja, MATÉRIA COMPLETA Marcos Emílio Gomes


sábado, 26 de setembro de 2015

O Contran e a mulher de César

Arejar a composição do Contran com participação da sociedade civil pode ajudar a reduzir o que parece ser seu empenho em provocar a desconfiança alheia 

Ficou parecendo pirraça. No exato dia em que eu o elogiava aqui pela escolha do tema da Semana Nacional de Trânsito para este ano, o Contran se reunia para protagonizar um dos episódios mais bizarros de sua história. A ponto de merecer do Jornal Nacional da TV Globo a comparação com as tristemente anedóticas decisões sobre o kit de primeiros socorros. É que data do mesmo dia 17 sua Resolução no. 556/2015, que torna opcional o extintor de incêndio para automóveis particulares, item que considerava essencial até a véspera.

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A mesma matéria do Jornal Nacional traz a declaração do presidente do conselho, Alberto Angerami, de que todas as decisões do órgão são sopesadas e fundamentadas em estudos técnicos. Não duvido. Aliás, mais que não duvidar, confirmo a seriedade do processo de decisão do Contran, que é assessorado por seis câmaras temáticas formadas por técnicos representantes de órgãos federais estaduais e municipais de trânsito e especialistas indicados por entidades ligadas aos respectivos campos de trabalho e conhecimento. Meu testemunho tem lastro nos dez anos em que pertenci à Câmara Temática de Educação para o Trânsito e Cidadania, representando a Anpet – Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes.

Testemunhos como este, porém, nunca serão suficientes para neutralizar a desconfiança que a população tem das reais motivações de quem elabora normas. Por isso, caberia muito bem ao caso aplicar a lógica que o imperador romano usou para justificar sua separação da mulher Pompeia, embora nada tenha sido provado contra ela – não lhe bastava ser honesta, era preciso também parecer ser.

Idas e vindas são comuns em estudos técnicos e científicos, inclusive com consequências econômicas e para a saúde (também no dia 17 minha nutricionista me contou o diálogo em que o ovo tentava consolar o glúten, mostrando com seu próprio caso como a vida é feita de altos e baixos). Como disse em editorial o jornal gaúcho Zero Hora, é legítimo que o Contran experimente e aperfeiçoe suas deliberações. No caso presente, o jornal até considera que a nova decisão foi acertada. Mas o que não se conseguiu até agora explicar – nem o jornal cobrou é por que, se havia um estudo em curso, isso não foi tornado público e a decisão anterior não foi suspensa até a conclusão das análises.

Talvez a resposta esteja em um aspecto que a matéria do Jornal Nacional até abordou, mas não explorou: o Contran só tem representantes dos ministérios. A sociedade civil não tem assento lá. Esse debate já aconteceu algumas vezes no âmbito do Sistema Nacional de Trânsito, terminando sempre com a justificativa de que a sociedade está representada nas câmaras temáticas (que efetivamente têm representantes dos órgãos estatais em só metade de sua composição). O problema é que nelas o debate não flui para a sociedade, porque os membros das câmaras são orientados a não se manifestarem sobre os assuntos antes de eles virarem resoluções..
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Por: Paulo Cesar Marques da Silva, Engenheiro, doutor em estudos de transportes pela University College London... - Blog do Noblat