O noticiário sobre padrinhos de Segóvia não é animador, mas, se cumpridas promessas feitas em entrevistas, o necessário combate à corrupção será preservado
Sem nunca
ter sido um cargo menor na alta burocracia estatal, a direção da Polícia
Federal ganhou mais importância à medida que organismos públicos receberam
musculatura e passaram a flexioná-la no enfrentamento à corrupção nas elites
políticas e empresariais. Foi dessa
forma que o Ministério Público, fortalecido institucionalmente pelos
constituintes da Carta de 88, entrou no radar das preocupações dessas elites.
Assim como a PF, parceira do MP em ações que, em especial, desde março de 2014,
com a ida às ruas da Lava-Jato, passaram a tentar virar o jogo neste
enfrentamento, em que nunca o princípio republicano da lei valer para todos
valia de fato. Ocorrera antes o histórico desbaratamento do mensalão petista,
quando o Supremo, contra as expectativas, condenou poderosos a sentenças de
reclusão. Mas a Lava-Jato tem sido o marco mais visível desta mudança.
É pelo
fato de este avanço de instituições que vigiam a aplicação de princípios
republicanos inscritos na Constituição ainda não estar consolidado que a
transferência do cargo de diretor-geral da PF de Leandro Daiello para Fernando
Segovia, previsto para amanhã em Brasília, se constitui em bem mais que um ato
protocolar. Segovia,
já empossado, aterrissa em um cenário inóspito para ele. Isso, devido às
diversas manobras para emparedar a Lava-Jato ou qualquer outra operação do tipo
que avance contra esquemas de corrupção que se cristalizaram no país com a
participação de políticos, parlamentares ou não, e grande fornecedores de bens
e serviços ao Estado.
As
pressões contra a repressão à corrupção deixaram de ocorrer no varejo e
passaram a se dar no Congresso e em outros ambientes acarpetados da burocracia
estatal. Não apenas no Legislativo. Idêntico ao que aconteceu na Itália das
Mãos-Limpas, operação semelhante à Lava-Jato, estrangulada afinal por
movimentos como os que estão em curso em Brasília. A escolha
de Segovia é parte deste enredo, pelas especulações que a envolvem. É
desaconselhável adjetivar-se uma gestão que mal começa. Mas pairam sobre ela
preocupações. Segovia e auxiliares dão declarações positivas nas primeiras
entrevistas — acelerar inquéritos na instância do Supremo, não proteger
políticos, apoiar a Lava-Jato, etc. É mesmo o que se espera deles.
Em
contrapartida, há o noticiário sobre o apoio ao novo diretor da PF por parte do
ministro Eliseu Padilha, alvo da Lava-Jato, e de Sarney, símbolo do núcleo do
PMDB que trabalha para, por ações legislativas, conter organismos de vigilância
do Estado na defesa do dinheiro do contribuinte. O prejulgamento é um erro. O antecessor de
Segovia, Leandro Daiello, assumiu com Lula, trabalhou no governo Dilma e,
assim, demonstrou que é possível exercer com seriedade funções de Estado tendo
sido nomeado por um governo. Confirmar isso é o que se espera de Segovia.
Editorial - O Globo