Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador diretor-geral da PF. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador diretor-geral da PF. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Empoderamento do STF alimenta paranoia de militares ligados a Bolsonaro - Veja

As recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) de garantir a governadores e prefeitos o direito de arbitrar sobre políticas de isolamento social, de determinar o depoimento de três generais – ainda de ‘debaixo de vara’ – nas investigações sobre possível interferência na Polícia Federal e a ordem para barrar a posse do diretor-geral da PF alimentaram em setores militares a convicção de que juízes da mais alta Corte do país querem enfraquecer os poderes do presidente Jair Bolsonaro.
Conforme revela a edição de VEJA desta semana, o presidente está mesmo convencido de que existe uma conspirata em curso para desidratá-lo politicamente. Entre os militares, há a convicção de que o empoderamento do STF pode estimular juízes de primeira instância a se voltar contra assuntos afeitos à caserna, como a promoção de oficiais-generais. “A paranoia de empoderamento do Judiciário inclui a interpretação de que a qualquer hora um juiz de primeira instância vai impedir a promoção de um general. Os militares pensam isso e, de certa forma, a projeção do Judiciário também os ameaça”, disse a VEJA um importante interlocutor dos militares.

No entorno do presidente, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), é o principal artífice da tese de que existe um complô de juízes e tribunais para enfraquecer Bolsonaro. A teoria conspiratória também é compartilhada pelo general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Na cabeça de Bolsonaro, toda decisão judicial busca encurralá-lo. “É uma confusão de gente que não entende o que é democracia constitucional, que pressupõe um poder sob limite. O entendimento do presidente e de alguns setores que o apoiam é o de que ele está eleito e de que, por isso, pode exercer poderes imperiais. Isso não existe”, afirmou a VEJA um ministro do STF, sob a condição de anonimato.

Eleito sob o manto da antipolítica e sem uma base parlamentar que defenda as pautas do governo no Congresso e, em um cenário limite, trave o andamento de um processo de impeachment, a avaliação é a de que o presidente perdeu o controle da agenda e passou a adotar como forma de sobrevivência de seu governo uma postura binária de ameaça. Primeiro via espada – com discursos de que as Forças Armadas estão “ao lado do povo” – depois, com ameaças por meio de uma política de massas calcada na suposta vontade popular de não ser tutelada por outras instituições. Foi assim quando ele acompanhou um protesto pela volta do AI-5 em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, há poucas semanas. Foi assim quando promoveu, no domingo, 3, uma aglomeração na rampa do Palácio do Planalto e acusou instituições de lhe tolherem o poder de presidente da República.

Veja - Política

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Sem Bolsonaro e Moro — e com Witzel — novo chefe da PF no Rio toma posse - O Globo

Bela Megale



O delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Sousa


Nomeado novo superintendente da Polícia Federal do Rio, o delegado Carlos Henrique Oliveira de Sousa, tomará posse nesta terça-feira (10) sob os olhos do governador Wilson Witzel, mas longe do presidente Jair Bolsonaro e do ministro Sergio Moro.

Bolsonaro chegou a mostrar interesse em participar da cerimônia, mas não comparecerá. O gesto foi lido na PF como mais um sinal de que a relação entre órgão e o presidente está pacificada. Hoje, a avaliação da corporação é que a ausência de Bolsonaro pode se dar tanto pela agenda cheia quanto pela presença de Witzel, desafeto declarado do presidente.

O ministro Sergio Moro também não poderá ir à posse por motivos de agenda, segundo sua assessoria.

Sousa era o nome preferido do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, para substituir Ricardo Saadi, que saiu do posto após críticas do presidente Jair Bolsonaro. O episódio culminou na maior crise que a corporação viveu com o governo até agora. Valeixo estará presente na posse. [a presença do diretor-geral da corporação é mais que suficiente, não significando demérito para a corporação nem para o empossando a ausência do Presidente da República e do ministro da Justiça.]

Bela Megale, colunista - Blog em O GLOBO


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Um xerife trapalhão

Ao sugerir o arquivamento de uma investigação em andamento contra o presidente Michel Temer, o diretor-geral da PF, Fernando Segovia, extrapola suas funções, provoca uma desnecessária crise interna e fica ameaçado até de perder o posto





FALOU DEMAIS O diretor-geral da PF, Fernando Segovia, contraria seus antecessores, para os quais a discrição sempre foi a alma da investigação (Crédito: Jorge William)
 

Terminada a folia de carnaval, recheada de figurinos de protesto, eis que o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, decidiu vestir a indumentária de xerife trapalhão. “Botou a fantasia de Absolvedor-Geral da República”, resumiu o procurador Fabio Seghese. Segovia podia ter dormido sem essa. Em novembro de 2017, assumiu o cargo prometendo “trabalhar em silêncio”. Não cumpriu o próprio desígnio. Discrição é a alma da atuação de toda PF que se pretenda eficiente e séria. Toda vez que desviou desse prumo, o trabalho da instituição virou alvo de questionamentos. Não seria diferente com Segovia. A mais recente pérola do comandante da PF o levou para o epicentro de uma crise que pode até lhe custar o emprego. Em entrevista, ele falou mais do que devia e sugeriu o arquivamento de uma investigação em andamento contra o presidente Michel Temer. O inquérito tramita no STF, sob relatoria do ministro Luis Roberto Barroso, e apura se Temer recebeu propina para favorecer uma empresa na prorrogação de contratos no porto de Santos.

Relator do inquérito do Porto de Santos, o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso intimou o diretor-geral da PF a prestar esclarecimentos

Na polêmica entrevista, Segovia disse não ver indícios de crimes de corrupção. Mesmo não sendo o responsável pela investigação, o diretor-geral falou abertamente sobre um inquérito ainda em andamento, ou seja, há diligências a serem realizadas antes de uma conclusão definitiva sobre eventuais práticas de crimes. Ou seja, além da tentativa de blindar o governo, Segovia abusou da autoridade ao atropelar os próprios subordinados. A declaração não poderia ter repercutido de forma mais negativa. Foi uma verdadeira trapalhada do diretor-geral. Internamente, gerou revolta de delegados e agentes, principalmente entre os que atuam no inquérito contra Temer. “Foi um desastre completo”, resumiu à ISTOÉ um investigador da PF. As críticas vieram até mesmo dos delegados que atuam nos inquéritos da Lava Jato. Em dura carta, os delegados disseram que não vão admitir interferência em qualquer investigação em andamento. Se isso acontecer, prometem recorrer ao STF para “obtenção de medidas cautelares”. Não bastasse a polêmica fala em defesa de Temer, Segovia ainda cometeu um grave erro, afinal não é de competência da PF pedir o arquivamento de inquéritos que tramitam no STF. O pedido deve ser feito unicamente pela Procuradoria-Geral da República e a decisão sobre o arquivamento cabe ao ministro-relator no Supremo. Vladimir Aras, da equipe do antigo PGR, ironizou: “O Sr. Segovia tem tanta autoridade para fazer isso (arquivar o inquérito) quanto o Rei Momo tem sobre o destino da Inglaterra”.

Desde 2003, ocupantes do mais alto posto da PF em geral primaram pelo recato. Alguns até faziam questão de evitar os holofotes, deixando o protagonismo para os delegados responsáveis pelos inquéritos. Pelo menos até 2007, as equipes da inteligência policial de Brasília procuravam preservar seus segredos até o ato das prisões dos investigados. A participação dos Estados era apenas marginal. Cediam pessoal para cumprir os mandados de prisão e de busca e apreensão, organizavam as celas para acomodar os presos, cediam e preparavam os carros policiais, entre outros detalhes burocráticos. Era uma forma encontrada pela gestão do então diretor-geral, Paulo Lacerda, de reforçar o sigilo das investigações. Sucessor de Lacerda, Luiz Fernando Corrêa alterou a rotina das operações, ao descentralizar as ações especiais consideradas mais sensíveis. 

A descentralização gerou debate na PF. Setores da polícia apontaram esvaziamento das funções de algumas diretorias, maior risco de vazamentos e aumento das disputas internas. Mesmo assim, jamais houve espalhafato por parte do diretor-geral. Espetaculares eram as operações. Leandro Daiello, no cargo de 2011 até novembro do ano passado, manteve a mesma toada. Sua voz pouco era ouvida, talvez por isso tenha se tornado um dos diretores-gerais mais longevos. Contrariando o que prometera na posse, Fernando Segovia preferiu mudar o estilo. Boquirroto, acabou inserido na célebre frase cunhada pelo ex-atacante e hoje senador Romário (PSB) para se referir a Pelé: “Segovia calado é um poeta”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP). O senador foi além da poesia. Entrou com uma ação popular na 22ª Vara Federal Cível do Distrito Federal que, caso prospere, pode fazer com que Segovia deixe o posto. [Não surpreende a decisão do senador da Rede. A especialidade desse senador é entrar com ações na Justiça contra isso, aquilo e mais aquilo; 
seu DEVER, imposto pelo cargo para o qual foi eleito, que é apresentar projetos em prol do seu Estado e do Brasil, ele NÃO CUMPRE; 
não tem um único projeto aprovado;
se espera que os ingênuos que votaram nele, desconfiem que o senador em termos de competência legislativa é um ZERO a esquerda.
Ele é líder do seu partido no Senado mas não por competência e sim por ser o único senador da Rede = líder de si mesmo.]

As reações desaguaram no STF. Relator do inquérito do porto de Santos, Luís Roberto Barroso intimou o diretor-geral a prestar esclarecimentos. Como ainda há diligências em andamento, Barroso afirmou que Segovia não poderia fazer comentários públicos sobre o assunto. E disse que tal conduta, se confirmada, seria “manifestamente imprópria” e poderia “caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”. O ministro também não gostou de Segovia ter sugerido a abertura de uma sindicância interna contra o delegado Cleyber Lopes, responsável por investigar Temer e pediu esclarecimentos. “O delegado deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”, afirmou. Um constrangimento para o diretor-geral – para dizer o mínimo. Na segunda-feira 19, Segovia vai ter de se explicar pessoalmente ao ministro.

Nos últimos dias, cresceram as pressões para que Temer demitisse o xerife da PF. O Palácio do Planalto resiste. A nomeação de Segovia foi apadrinhada por dois políticos de peso do PMDB: o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-senador José Sarney. Ninguém confessa, mas no fundo Segovia é visto como um possível freio sobre as denúncias caciques do PMDB. Sob comando de Segovia, as investigações da Lava Jato contra políticos não têm avançado na velocidade que se esperava. São mais de 200 procedimentos em aberto. Muitos deles envolvem ministros do governo, como Eliseu Padilha e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, identificados, respectivamente, como “primo” e “angorá” nas planilhas da Odebrecht.

IstoÉ
 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Cabral acorrentado se torna um emblema da Lava Jato: é a suposição estúpida de que o fascismo dos meios levaria a um bom fim

A imagem de Sérgio Cabral em Curitiba, com os pés acorrentados, cercado de agentes federais com o rosto coberto, atinge o paroxismo da violência moral, da ilegalidade, do ato atrabiliário, do fascismo dos meios para a suposta virtude dos fins.

Há quanto tempo tenho chamado a atenção para os abusos praticados pela operação Lava Jato? Infelizmente, importantes setores da imprensa têm sido coniventes com eles. Já nem se diga a OAB nacional, rotineiramente de uma omissão escandalosa. Quando protesta, o faz de maneira tão frágil e covarde que melhor seria calar-se

Tanto bati que fui eu mesmo vítima daquilo que denunciava: como sabem, ou Ministério Público Federal ou Polícia Federal ambos em conluio? vazou uma conversa minha, ao telefone, com uma fonte, Andrea Neves. O intuito, obviamente, era me ligar a alguém que tinha tido a prisão preventiva decretada — em si, outro abuso, cumpre notar —, embora o diálogo nada tivesse a ver com a investigação nem sugerisse algo ilegal. Agredia-se, de forma desassombrada, uma garantia constitucional: o sigilo da fonte. Assim, a Lava Jato mandava um recado: “Não ousem discordar de nós ou nos criticar. Isso poderá custar caro”.

Ou o senhor ministro da Justiça, Torquato Jardim, determina que a Polícia Federal abra imediatamente uma investigação para apurar os abusos ou pode pedir demissão. Ou o delegado-geral da PF, Fernando Segóvia, toma ele mesmo providências ou também pode pegar o caminho da roça. E podem esperar coisa pior. Infelizmente, a troca de guarda na PF e no Ministério Público Federal foi irrelevante para fazer com que esses entes do Estado voltassem aos limites estritos da lei. Raquel Dodge, a procurador-geral, já é uma decepção. E não porque ela está deixando de fazer o que eu quero. Mas porque está permitindo, sem reação, que a corporação que comanda, por intermédio de alguns de seus próceres, jogue no lixo as leis, o decoro, o bom senso. Ainda volto a esse tema em particular. Estamos num caminho ruim e perigoso.

Não seja idiota, leitor amigo! Aplaudir a humilhação a que foi submetido Cabral corresponde a dar ao guarda do bafômetro a licença de lhe dar uns petelecos.
ATENÇÃO! INEXISTE PAÍS QUE MALTRATE SEUS PRESOS E TRATE BEM OS CIDADÃOS COMUNS.
ATENÇÃO! INEXISTE PAÍS QUE DISPENSE TRATAMENTO DIGNO A SEUS PRESOS E INDIGNO A SEUS CIDADÃOS.

Nas sociedades, o preso é um indicador do estado geral da saúde democrática. A razão é simples: aquele que está sob a guarda do Estado perdeu parte importante de sua autonomia, da capacidade de se autogerir, de tomar decisões sobre o próprio destino. O Estado toma para si tais atribuições — e assim tem de ser se houve a transgressão. Por isso mesmo, avaliar o que faz tal Estado com quem está sob a sua guarda corresponde a saber o tratamento que ele dispensa ao conjunto da população.

“Tá com peninha de Cabral?”, vomitam os idiotas. Não! Estou preocupado justamente é com esse fascismo dos meios que tem constituído a pedra de toque da Lava Jato. Ora, bolas! Fui ou não o primeiro a apontar que pelo menos quatro das dez medidas de Deltan Dallagnol contra a corrupção não faziam inveja a um regime fascista ou comunista? Fui ou não fui o primeiro na imprensa a bradar contra as prisões preventivas em avalanche, tornadas instrumentos de pressão para a delação premiada? Fui ou não fui o primeiro a protestar contra as conduções coercitivas, inclusive a de Lula, que, também elas, buscavam antes o ritual de humilhação do que a eficiência da operação?

Ao repetir aqui o “fui ou não fui o primeiro”, não estou reivindicando primazias e heroísmos. É que sei bem o que isso tudo me custou e me custa. Ou também não é sob saraivada de balas que escrevo sobre as aberrações da sentença de Sérgio Moro na condenação de Lula? Afinal, não sou de direita? Não sou anti-esquerdista? Não sou um dos mais antigos críticos do PT na grande imprensa? Sim, é tudo verdade! Mas a minha repulsa a esse partido deriva do fato de ser eu um liberal, um defensor incondicional da democracia e do estado de direito. Por essa razão, pouco me importa se a vítima da agressão é Sérgio Cabral, uma figura política pela qual sinto profundo desprezo, ou Luiz Inácio Lula da Silva, que pensa e encarna boa parte das coisas que repudio em política.

Ocorre que não são os meus adversários — e as vicissitudes que os colhem — a decidir o que penso ou deixo de pensar. O que penso ou deixo de pensar não muda a depender dos alvos da ação dos entes estatais. Em qualquer caso, eles têm, de se ater os limites da legalidade. E isso vale para todo mundo.  Ocorre que o país está se acostumando à violência institucional. Pergunta-se antes “quem” para depois procurar saber o “quê”. Uma das coisas que sempre repudiei no petismo, inclusive no curto período em que lá estive, é o relativismo moral; é a noção — para citar lateralmente um texto clássico das esquerdas — de que existem “a nossa moral” (que serve à “nossa luta”) e a “deles”. Segundo essa concepção, “nós, de esquerda, podemos fazer coisas contra eles que eles jamais fariam contra nós; afinal, devemos tirar vantagens dos pruridos morais de nossos adversários, de sorte que, se a honra deles não permite o ataque pelas costas, então a nossa vantagem comparativa está em atacar pelas costas”…

Infelizmente, o pouco que havia ou se desenvolveu de pensamento liberal e conservador no país se deixou sequestrar por essa lógica incivilizada, bruta — no limite, homicida —, amoral. Alguns sinais de conteúdo ideológico estão invertidos, é claro!, mas os valores que animam uns e outros são os mesmos.

De volta a Cabral
Nessa sexta e neste sábado, todos os partidos, grupos de rua, militantes e afins que juram de pés juntos seu amor pela democracia liberal deveriam estar indignados com a imagem de Sérgio Cabral acorrentado. Por quê? Qual era o propósito de tal prática senão a humilhação do preso? Você gostou, amigo? Acha que é assim mesmo que se faz? Vamos ver a quem você vai reclamar quando o guarda da esquina resolver exercer sobre você a sua (dele) autoridade…

Eis aí. É assim que a Lava Jato está nos preparando um futuro melhor: violando leis, garantias constitucionais, direito dos presos a um tratamento digno etc. E tudo isso para quê? Para nada!  Como escrevi anteontem, os motivos alegados para transferir Cabral já são de uma fragilidade escandalosa. Se ele recebeu alguma regalia indevida no presídio do Rio, que se coibisse a prática e que se abrisse uma investigação para punir os responsáveis. Em vez disso, o juiz Sérgio Moro preferiu transferi-lo para “o sistema prisional do Paraná”, como a dizer: “aqui, no olho do furacão da Lava Jato, não tem mole, não! Aqui a gente humilha mesmo os poderosos. Aqui, eles não terão os direitos que lhes faculta a lei e que só servem à impunidade”.

Estamos começando a nos aproximar do abismo legal. Ainda vou trazer aqui um momento patético, vocês verão, em que um procurador da República se revolta contra o direito que tem um investigado de não responder a uma questão — capítulo da máxima das democracias no terreno penal, segundo a qual ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Isso é pilar da democracia, não instrumento da impunidade. Acontece, vocês verão, que o procurador não gostou. E nós sabemos que, com raras exceções, procuradores acreditam poder construir a sua própria República oligárquica, à qual todos nós, incluindo os Poderes da República, estaremos subordinados, unidos pelo “direito de obedecer”.

O alarde com os tais “artigos de luxo” de Cabral já era um óbvio exagero, no qual a imprensa embarcou gostosamente, fazendo o barulho demagógico e populista que a Lava Jato queria que fizesse. Ora, com a população, então, pilhada contra o ex-governador, por que não oferecê-lo ao linchamento? E foi o que se fez.

Apenas um exemplo E que se note: Cabral é apenas um exemplo de algo bem mais grave. O desrespeito aos limites legais passou a ser prática corriqueira de setores abrigados na PF e no MPF. Lembro de novo: eu mesmo tive violada uma proteção constitucional sem ter, como é sabido, cometido crime nenhum. Agrediram um dos pilares da minha profissão. Só para mostrar quem manda. Nesta sexta, nas redes sociais, Deltan Dallagnol pregava abertamente o impeachment do ministro Gilmar Mendes e incentivava as pessoas a assinar uma petição em favor do impedimento. O quer vai acontecer com ele? Nada obviamente. Mas que ousasse um ministro do Supremo sugerir a exoneração, a bem do serviço público, de um procurador. O mundo viria abaixo.

O caso de Cabral é tão chocante que gerou a reação negativa mesmo em setores que vivem de joelhos para a Lava Jato. Em certa medida, a crítica nesses nichos é farisaica. Sua síntese: “Ao exagerar, a Lava Jato fornece um pretexto para seus críticos”, como se a operação, na sua essência, não estivesse eivada de violações legais e de agressões à institucionalidade.

Cadê Cármen Lúcia? A propósito, cadê Cármen Lúcia, presidente do Supremo, que responde pelo STF durante o recesso? Ela tem o hábito de se manifestar de moto próprio sobre isso e aquilo — geralmente causas que caíram, vamos dizer, no gosto dos defensores do populismo judicial. E sempre é muito sentenciosa a respeito. Quero saber o que pensa a ministra sobre a decisão deliberada de humilhar um preso.
“Ah, está reclamando porque é Cabral, né?” Não. Se você clicar aqui, lerá um texto deste blog, escrito no dia 8 de janeiro de 2014, em que bato duramente nas esquerdas porque elas se ocuparam apenas de combater a tortura a presos políticos, dando de ombros para o tratamento dispensado a presos comuns. Lá está escrito: A persistência da tortura e da violência nos presídios brasileiros — praticadas por autoridades ou pelos próprios presos — se deve ao apreço seletivo de nossos bem-pensantes pelos direitos humanos. A sua raiz, no fim das contas, é ideológica. A ditadura acabou em 1985. De Itamar Franco a esta data, o país está sob o comando de forças políticas ditas “progressistas”. A situação, no período, não fez senão se agravar.
Em suma, já não se trata de um problema da ditadura. É um problema da democracia.”

Não! O cara que condescende com a barbárie não sou eu. Eu sou um cara que a combate, venha de onde vier.
Com a palavra as entidades que congregam advogados.
Com a palavra os grupos defensores dos direitos humanos.
Com a palavra o diretor-geral da Polícia Federal.
Com a palavra o ministro da Justiça.
Com a palavra a procuradora-geral da República.
Com a palavra o juiz Sérgio Moro, que resolveu dividir “o preso e a presa Cabral” com o também juiz Marcelo Bretas.
Com a palavra os ditos movimentos de rua, que se colocaram como animadores de torcida da Lava Jato. Era para isso? É a essa a democracia que têm em mente, com esses valores?

Os responsáveis por aquele espetáculo deprimente têm de ser punidos.
Ah, sim: a PF informa que a corrente nos pés de Cabral segue “protocolo de segurança”. 
Bem, então que se exibam os protocolos. Ainda que existissem, eles não poderia estar, como estariam, acima da lei e da Constituição. 
A propósito: quantos outros passaram pela mesma humilhação? Um ato vergonhoso só poderia ser justificado com palavras também vergonhosas.

Blog do Reinaldo Azevedo


domingo, 19 de novembro de 2017

O que se espera do novo diretor-geral da PF

O noticiário sobre padrinhos de Segóvia não é animador, mas, se cumpridas promessas feitas em entrevistas, o necessário combate à corrupção será preservado

Sem nunca ter sido um cargo menor na alta burocracia estatal, a direção da Polícia Federal ganhou mais importância à medida que organismos públicos receberam musculatura e passaram a flexioná-la no enfrentamento à corrupção nas elites políticas e empresariais.  Foi dessa forma que o Ministério Público, fortalecido institucionalmente pelos constituintes da Carta de 88, entrou no radar das preocupações dessas elites. 

Assim como a PF, parceira do MP em ações que, em especial, desde março de 2014, com a ida às ruas da Lava-Jato, passaram a tentar virar o jogo neste enfrentamento, em que nunca o princípio republicano da lei valer para todos valia de fato. Ocorrera antes o histórico desbaratamento do mensalão petista, quando o Supremo, contra as expectativas, condenou poderosos a sentenças de reclusão. Mas a Lava-Jato tem sido o marco mais visível desta mudança.

É pelo fato de este avanço de instituições que vigiam a aplicação de princípios republicanos inscritos na Constituição ainda não estar consolidado que a transferência do cargo de diretor-geral da PF de Leandro Daiello para Fernando Segovia, previsto para amanhã em Brasília, se constitui em bem mais que um ato protocolar.  Segovia, já empossado, aterrissa em um cenário inóspito para ele. Isso, devido às diversas manobras para emparedar a Lava-Jato ou qualquer outra operação do tipo que avance contra esquemas de corrupção que se cristalizaram no país com a participação de políticos, parlamentares ou não, e grande fornecedores de bens e serviços ao Estado.

As pressões contra a repressão à corrupção deixaram de ocorrer no varejo e passaram a se dar no Congresso e em outros ambientes acarpetados da burocracia estatal. Não apenas no Legislativo. Idêntico ao que aconteceu na Itália das Mãos-Limpas, operação semelhante à Lava-Jato, estrangulada afinal por movimentos como os que estão em curso em Brasília. A escolha de Segovia é parte deste enredo, pelas especulações que a envolvem. É desaconselhável adjetivar-se uma gestão que mal começa. Mas pairam sobre ela preocupações. Segovia e auxiliares dão declarações positivas nas primeiras entrevistas — acelerar inquéritos na instância do Supremo, não proteger políticos, apoiar a Lava-Jato, etc. É mesmo o que se espera deles.

Em contrapartida, há o noticiário sobre o apoio ao novo diretor da PF por parte do ministro Eliseu Padilha, alvo da Lava-Jato, e de Sarney, símbolo do núcleo do PMDB que trabalha para, por ações legislativas, conter organismos de vigilância do Estado na defesa do dinheiro do contribuinte. O prejulgamento é um erro. O antecessor de Segovia, Leandro Daiello, assumiu com Lula, trabalhou no governo Dilma e, assim, demonstrou que é possível exercer com seriedade funções de Estado tendo sido nomeado por um governo. Confirmar isso é o que se espera de Segovia.

Editorial - O Globo